Só pode ser deformação profissional esta obsessão que me empurra à análise mais aprofundada do tema portáteis dos 150. Mas aconteceu tropeçar em mais uma peça de propaganda. E esta é a palavra adequada quando se procura fazer passar uma ideia manipulada. Ora vamos lá a isto.
Portáteis integrados no e-Escola têm valor de mercado acima dos 700 euros http://tek.sapo.pt/4I0/771148.html As configurações [...] têm um valor de mercado acima dos 700 euros, já sem considerar a inclusão das placas de acesso à Internet, que suportam já a tecnologia HSDPA, com velocidades até 3,6 Mbits por segundo, acima do máximo de 356 Kbits do UMTS que estava pré-definido. [...] A Optimus e a Vodafone avançam ambas, nesta primeira fase, com a Toshiba, mas não afastam a hipótese de alargarem a parceria a outros fornecedores. Em ambos os casos o modelo escolhido é o Satellite L40, com processador Pentium Dual Core, ecrã de 15,4 polegadas, memória RAM de 1 GB, disco de 80 GB, gravador de DVD, sistema operativo Vista e Office 2007. O serviço de banda larga é o Kanguru.
É propaganda porque:
* «valor de mercado acima dos 700 euros» - mentira. Basta consultar a oferta da FNAC para ver que o preço de venda ao público é de 499€ (Fujitsu Siemens Amilo Pro V3515, link). Os três operadores agora também vendem este Toshiba Satellite Pro L40-12R, que corresponde exactamente à configuração no programa e-escola (apenas o encontrei no mercado inglês por €514.00).
Se não houver interesse na Internet móvel, adquirir o portátil pelo programa e-escola é, sem réstia para dúvidas, má opção pois pagar-se-ão 780€ (150 + 36*17.50, devido ao contrato de fidelização).
Se considerarmos a Internet móvel, há que ter em atenção que a largura de banda disponibilizada é de cerca de dez vezes menos do que a actual oferta de topo e apenas sofrível para navegar em páginas web baseadas em texto e imagens. Melhor será esquecer música e vídeo online, bem como as diversas formas de interactividade da web 2.0 (o que é isso? link). Ou seja, é muito questionável se esta é uma escolha a considerar, já que se tem Internet, sem na verdade a ter.
* placas de acesso à Internet [...] até 3,6 Mbits por segundo - verdade irrelevante. O equipamento permite esta velocidade mas a "velocidade" real é estipulada pelo fornecedor de acesso à Internet. A informação disponibilizada até ao momento é escassa mas os indícios apontam para que seja disponibilizado um acessos de 384 Kbps e de 640 Kbps, respectivamente 0.375 e 0.625 Mbits por segundo ( tarifários TMN; programa e-escola - entrar e ir ao menu "oferta").
Se admitirmos que aderir a este programa é algo assim tão apetecível, porque está a máquina governamental tão empenhada em nos convencer disso, havendo mesmo envio sistemático de emails para as escolas? Haverá receio que a adesão não seja maciça, tornando o negócio menos apetecível?
Feitas todas e mais algumas comparações, o que dizer enfim deste programa dos portáteis?
A leitura que faço da situação é que se procurou apresentar um número bombástico que causasse grande impacto na opinião pública. Só assim se percebem certas opções de compromisso como a opção pela Internet móvel quando esta ainda é pouco fiável; como ter-se optado pelas velocidades mais baixas da Internet móvel; ou como a inclusão dum custo escondido, o contrato de fidelização.
Tecnicamente, os portáteis disponíveis correspondem aos de entrada de gama, o que nem outra coisa seria de esperar, atendendo ao patamar de custo que se pretende atingir. Dêem-se as voltas que se der, o valor dum portátil destes rondará os 500 euros, eventualmente chegando aos 600 e isto para preços de compra individual. A maquina governativa encontram-se em campanha para fazer passar a mensagem de que o valor de mercado é superior a 700 euros. Mesmo aceitando este valor, para aqueles que têm um contrato de fidelização de 36 meses, o valor pago no fim será superior.
Há ainda a questão destes portáteis terem a Internet móvel incluída neste preço. Para um número considerável de pessoas a qualidade do serviço prestado será muito baixa devido à fraca cobertura de sinal. Além disso as velocidades máximas oferecidas são ridículas. Com tanto marketing político à volta do assunto e com as consequentes expectativas criadas, há-de haver desapontamento q.b. por aí. Lembram-se do WAP?
Sinceramente, esta situação parece aquela em que os operadores turísticos ofereciam por 600 euros viagem+hotel+pensão completa em Porto Galínhas, Brasil, mas chegada a hora de comprar descobriam-se mais uns detalhes (custos!) que não haviam sido anunciados!
Considero a ideia boa mas foi toldada pelos objectivos de propaganda. Em termos de resultados de adesão a esta campanha, certamente que uma atitude de honestidade total não produziria resultados inferiores. Agora em termos de parangonas noticiosas...
«Microsoft justifica imposição de upgrades recentes com actualização do Windows Update As actualizações que a Microsoft tem vindo a fazer de forma automática, mesmo para os utilizadores que têm esta opção inactiva, foram justificados pela Microsoft como actualizações à ferramenta Windows Update. mais... 2007-09-14 14:33:00» in Tek.Sapo
Digamos que esta atitude explica-se pelo abuso de posição dominante. Quem desliga a opção de actualização é porque... não quer actualizações! E se o fez, certamente que terá as suas razões. Esta empresa demonstra total ausência de respeito pelo computador e software que o utilizador comprou.
Finalmente percebi porque é que por vezes chego ao trabalho e, logo depois de desbloquear a estação de trabalho, o Windows encerra, re-iniciando o computador. Fechado todas as aplicações que deixara a trabalhar de noite, claro! E isto apesar de ter as actualizações automáticas desligadas para que... o Windows não decida re-iniciar o computador quando bem lhe apetece!
E é com empresas destas que o nosso querido governo faz acordos estratégicos.
«Passado um ano, não temos notícia de pais insatisfeitos com a solução encontrada, mesmo quando ela não foi a ideal. Encerrámos cerca de 1500 escolas e todas as reacções foram de simpatia.» Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação do Governo do Partido Socialista, Jornal de Letras, nº 964, suplemento JL/Educação, p. 3
Ja agora este governo de seguida pode comecar a encerrar as bibliotecas e todas as Universidades, parece que etsamos a voltar aos tempos do Torquemada e da santa Inquisiçao, ou como dizia Salazar o povo quer e diversao e nao cultura. Este negocio dos computadores foi um mana para a Microsoft portuguesa que foi a subsidiaria que mais lucros deu. Temso computadores mas somos o povo mais atrasado da Europa culturalmente, na saude, em tudo, graças a stes incultos
Uma das mais conhecidas empresas do mundo, a norte-americana United Fruit, ficou na história por dois motivos: doou ao mundo não apenas bananas uniformizadas como também as saborosas "repúblicas das bananas". A United Fruit dominou durante décadas a política e a economia de muitos países latino-americanos, criando e destronando ditadores fantoches que actuavam como seus capatazes.
Tudo em nome da produção de bananas. Portugal nunca produziu bananas sobre a batuta da United Fruit, mas o Estado comporta-se como uma república das bananas quando se trata de fazer as célebres reformas que tantos aplaudem.
O Governo de Sócrates nos últimos tempos tem sido fértil no corte aos sectores onde pensa que há excesso de consumo de bananas: a saúde e a educação, desde logo.
As reformas reduzem-se a cortar nas despesas possíveis e a ir ao baú em busca dos impostos incobráveis. O combate ao défice tem sido outra das bandeiras do executivo, que está farto de comemorar o caso com cálices de champanhe.
É caso para se ficar enternecido com o esforço reformista: o investimento levou um corte brutal (e com os aumentos das taxas de juro que estão a asfixiar as famílias portuguesas, o melhor ainda está para vir...) e a recolha de impostos disparou. Como reforma do Estado é exemplar. Até porque as despesas com pessoal continuaram a crescer.
A república pode dormir descansada ao som da sua versão da "chiquita banana". A receita é segura: o Governo come a banana e continua a engordar e o contribuinte escorrega na casca.
6 Comments:
Portáteis dos 150 e outros preços
Só pode ser deformação profissional esta obsessão que me empurra à análise mais aprofundada do tema portáteis dos 150. Mas aconteceu tropeçar em mais uma peça de propaganda. E esta é a palavra adequada quando se procura fazer passar uma ideia manipulada. Ora vamos lá a isto.
Portáteis integrados no e-Escola têm valor de mercado acima dos 700 euros
http://tek.sapo.pt/4I0/771148.html
As configurações [...] têm um valor de mercado acima dos 700 euros, já sem considerar a inclusão das placas de acesso à Internet, que suportam já a tecnologia HSDPA, com velocidades até 3,6 Mbits por segundo, acima do máximo de 356 Kbits do UMTS que estava pré-definido.
[...]
A Optimus e a Vodafone avançam ambas, nesta primeira fase, com a Toshiba, mas não afastam a hipótese de alargarem a parceria a outros fornecedores. Em ambos os casos o modelo escolhido é o Satellite L40, com processador Pentium Dual Core, ecrã de 15,4 polegadas, memória RAM de 1 GB, disco de 80 GB, gravador de DVD, sistema operativo Vista e Office 2007. O serviço de banda larga é o Kanguru.
É propaganda porque:
* «valor de mercado acima dos 700 euros» - mentira. Basta consultar a oferta da FNAC para ver que o preço de venda ao público é de 499€ (Fujitsu Siemens Amilo Pro V3515, link). Os três operadores agora também vendem este Toshiba Satellite Pro L40-12R, que corresponde exactamente à configuração no programa e-escola (apenas o encontrei no mercado inglês por €514.00).
Se não houver interesse na Internet móvel, adquirir o portátil pelo programa e-escola é, sem réstia para dúvidas, má opção pois pagar-se-ão 780€ (150 + 36*17.50, devido ao contrato de fidelização).
Se considerarmos a Internet móvel, há que ter em atenção que a largura de banda disponibilizada é de cerca de dez vezes menos do que a actual oferta de topo e apenas sofrível para navegar em páginas web baseadas em texto e imagens.
Melhor será esquecer música e vídeo online, bem como as diversas formas de interactividade da web 2.0 (o que é isso? link). Ou seja, é muito questionável se esta é uma escolha a considerar, já que se tem Internet, sem na verdade a ter.
* placas de acesso à Internet [...] até 3,6 Mbits por segundo - verdade irrelevante. O equipamento permite esta velocidade mas a "velocidade" real é estipulada pelo fornecedor de acesso à Internet.
A informação disponibilizada até ao momento é escassa mas os indícios apontam para que seja disponibilizado um acessos de 384 Kbps e de 640 Kbps, respectivamente 0.375 e 0.625 Mbits por segundo ( tarifários TMN; programa e-escola - entrar e ir ao menu "oferta").
Se admitirmos que aderir a este programa é algo assim tão apetecível, porque está a máquina governamental tão empenhada em nos convencer disso, havendo mesmo envio sistemático de emails para as escolas?
Haverá receio que a adesão não seja maciça, tornando o negócio menos apetecível?
Os portáteis dos 150: conclusão
Feitas todas e mais algumas comparações, o que dizer enfim deste programa dos portáteis?
A leitura que faço da situação é que se procurou apresentar um número bombástico que causasse grande impacto na opinião pública. Só assim se percebem certas opções de compromisso como a opção pela Internet móvel quando esta ainda é pouco fiável; como ter-se optado pelas velocidades mais baixas da Internet móvel; ou como a inclusão dum custo escondido, o contrato de fidelização.
Tecnicamente, os portáteis disponíveis correspondem aos de entrada de gama, o que nem outra coisa seria de esperar, atendendo ao patamar de custo que se pretende atingir.
Dêem-se as voltas que se der, o valor dum portátil destes rondará os 500 euros, eventualmente chegando aos 600 e isto para preços de compra individual.
A maquina governativa encontram-se em campanha para fazer passar a mensagem de que o valor de mercado é superior a 700 euros.
Mesmo aceitando este valor, para aqueles que têm um contrato de fidelização de 36 meses, o valor pago no fim será superior.
Há ainda a questão destes portáteis terem a Internet móvel incluída neste preço.
Para um número considerável de pessoas a qualidade do serviço prestado será muito baixa devido à fraca cobertura de sinal.
Além disso as velocidades máximas oferecidas são ridículas.
Com tanto marketing político à volta do assunto e com as consequentes expectativas criadas, há-de haver desapontamento q.b. por aí.
Lembram-se do WAP?
Sinceramente, esta situação parece aquela em que os operadores turísticos ofereciam por 600 euros viagem+hotel+pensão completa em Porto Galínhas, Brasil, mas chegada a hora de comprar descobriam-se mais uns detalhes (custos!) que não haviam sido anunciados!
Considero a ideia boa mas foi toldada pelos objectivos de propaganda.
Em termos de resultados de adesão a esta campanha, certamente que uma atitude de honestidade total não produziria resultados inferiores. Agora em termos de parangonas noticiosas...
«Microsoft justifica imposição de upgrades recentes com actualização do Windows Update
As actualizações que a Microsoft tem vindo a fazer de forma automática, mesmo para os utilizadores que têm esta opção inactiva, foram justificados pela Microsoft como actualizações à ferramenta Windows Update. mais...
2007-09-14 14:33:00»
in Tek.Sapo
Digamos que esta atitude explica-se pelo abuso de posição dominante. Quem desliga a opção de actualização é porque... não quer actualizações! E se o fez, certamente que terá as suas razões. Esta empresa demonstra total ausência de respeito pelo computador e software que o utilizador comprou.
Finalmente percebi porque é que por vezes chego ao trabalho e, logo depois de desbloquear a estação de trabalho, o Windows encerra, re-iniciando o computador.
Fechado todas as aplicações que deixara a trabalhar de noite, claro! E isto apesar de ter as actualizações automáticas desligadas para que... o Windows não decida re-iniciar o computador quando bem lhe apetece!
E é com empresas destas que o nosso querido governo faz acordos estratégicos.
«Passado um ano, não temos notícia de pais insatisfeitos com a solução encontrada, mesmo quando ela não foi a ideal. Encerrámos cerca de 1500 escolas e todas as reacções foram de simpatia.»
Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação do Governo do Partido Socialista, Jornal de Letras, nº 964, suplemento JL/Educação, p. 3
Ja agora este governo de seguida pode comecar a encerrar as bibliotecas e todas as Universidades, parece que etsamos a voltar aos tempos do Torquemada e da santa Inquisiçao, ou como dizia Salazar o povo quer e diversao e nao cultura.
Este negocio dos computadores foi um mana para a Microsoft portuguesa que foi a subsidiaria que mais lucros deu.
Temso computadores mas somos o povo mais atrasado da Europa culturalmente, na saude, em tudo, graças a stes incultos
Uma das mais conhecidas empresas do mundo, a norte-americana United Fruit, ficou na história por dois motivos: doou ao mundo não apenas bananas uniformizadas como também as saborosas "repúblicas das bananas". A United Fruit dominou durante décadas a política e a economia de muitos países latino-americanos, criando e destronando ditadores fantoches que actuavam como seus capatazes.
Tudo em nome da produção de bananas. Portugal nunca produziu bananas sobre a batuta da United Fruit, mas o Estado comporta-se como uma república das bananas quando se trata de fazer as célebres reformas que tantos aplaudem.
O Governo de Sócrates nos últimos tempos tem sido fértil no corte aos sectores onde pensa que há excesso de consumo de bananas: a saúde e a educação, desde logo.
As reformas reduzem-se a cortar nas despesas possíveis e a ir ao baú em busca dos impostos incobráveis. O combate ao défice tem sido outra das bandeiras do executivo, que está farto de comemorar o caso com cálices de champanhe.
É caso para se ficar enternecido com o esforço reformista: o investimento levou um corte brutal (e com os aumentos das taxas de juro que estão a asfixiar as famílias portuguesas, o melhor ainda está para vir...) e a recolha de impostos disparou. Como reforma do Estado é exemplar. Até porque as despesas com pessoal continuaram a crescer.
A república pode dormir descansada ao som da sua versão da "chiquita banana". A receita é segura: o Governo come a banana e continua a engordar e o contribuinte escorrega na casca.
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