terça-feira, 16 de outubro de 2007

AO ESTADO QUE ISTO CHEGOU...

Há dois milhões de pobres em Portugal

Um quinto dos portugueses vive com menos de 360 euros por mês. E 32% da população activa entre os 16 e os 64 anos seria pobre se dependesse só do seu trabalho”. Refere o Diário Económico, com base em estatísticas ontem divulgadas pelo INE.

São, sem dúvida, números alarmantes, que colocam Portugal na lista negra dos países com uma taxa de pobreza superior à média europeia.
Sem perspectivas de melhoria desta triste realidade, não admira a descrença e o desânimo que atinge hoje a maioria dos portugueses.

M.

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6 Comments:

At 16 de outubro de 2007 às 15:51, Anonymous Anónimo said...

Os portugueses têm uma visão hierárquica da culpa, o culpado de tudo é sempre do que está por cima, se alguém não faz o que deve, desde o cantoneiro ao enfermeiro, o culpado é o chefe superior e assim sucessivamente até ao primeiro-ministro, excluindo-se desta selecção o Presidente da República de quem se espera que confirme que sim senhor, o culpado é mesmo o primeiro-ministro. Os culpados de tudo foram os que sucessivamente ocuparam São Bento, Salazar, Marcelo, Palma Carlos, Vasco Gonçalves, Pinheiro de Azevedo, Mário Soares, Sá Carneiro, Cavaco Silva, António Guterres e Sócrates são os culpados de todos os males que nos aconteceram. Tivemos ditadores que não ousamos derrubar e governos que elegemos, mas os culpados foram sempre os que nos governaram.

O empresário faliu? A culpa foi do gestor, no dia seguinte o gestor junta-se aos trabalhadores na afirmação de que a culpa foi do ministro que não ajudou. A produtividade era baixa? A culpa é do ministro do Trabalho que não promoveu a formação profissional. A qualificação profissional não era grande coisa? A culpa é da ministra da Educação. Os produtos chineses são mais baratos? A culpa é do ministro da Economia que não soube impor barreiras tarifárias em Bruxelas.

E como os governos são constituídos pelas elites a culpa é das elites. Somos incultos? A culpa é das elites culturais. Somos mal governados? A culpa é das elites políticas. Temos maus resultados desportivos? A culpa é das elites desportivas. O partido perde eleições? A culpa é das elites do partido. As elites são as culpadas de todos os males, tornam-se o alvo das nossas frustrações.

Somos um povo de cidadãos inimputáveis, ninguém é culpado de nada, as elites é que nos tramam. Ninguém foge ao fisco, a DGCI é que não cobra. Ninguém leva o cão a defecar na rua, a câmara é que não limpa, ninguém se balda no trabalho, o gestor é que é incapaz. Ninguém se esquece de acompanhar os filhos na escola, o professor é que é fraco. O PSD não sobe nas sondagens? A culpa é do Marques Mendes. O BE aproxima-se do PCP? A culpa era do Carlos Carvalhas que era mole.

A verdade é que os portugueses têm as elites que merecem e de pouco lhes vai valer vingarem-se nelas. Somos contra elites até porque temos inveja de todos os que são bem sucedido, descobrimos sempre uma boa razão para os que falham e um comportamento criminoso para justificar o sucesso alheio, se não tivermos argumentos recorremos ao azar se formos ateus e à determinação divina se formos crentes.

Não só temos as elites que merecemos como temos as elites que promovemos. Somos um país onde os bons alunos são acusados de marrões, onde os que defendem a mudança são acusados de excesso de protagonismo, onde os mais criativos são apelidados de doidos. Somos um país onde temos medo que o vizinho progrida, tudo fazemos para impor a mediania colectiva.

No fim chegamos sempre à conclusão de que a culpa são das elites. É verdade, temos umas elites da treta, mas são as elites que desejámos, são, portanto, as elites que merecemos.

 
At 16 de outubro de 2007 às 15:56, Anonymous Anónimo said...

Este é o mesmo país dos "investimentos" milionários, das "plataformas" tecnológicas", das "novas oportunidades", em suma, dos "novos pobres".
Pobreza não apenas material - um verdadeiro terrorismo social e cultural - mas pobreza sobretudo espiritual, falta daquela "condição humana" de que falava Malraux. Portugal é uma realidade virtual dirigida, a todos os níveis, por umas elites tagarelas ditas democráticas.
Este Portugal não cabe na sua visão solipsista da realidade porque é um Portugal redondo, de pescada de rabo na boca, em que os mesmos - sejam eles de que partido forem - falam apenas e exclusivamente para os mesmos.
Estão hoje no governo, amanhã num gabinete, depois numa empresa de capitais públicos, a seguir num jornal ou numa televisão, posteriormente "montam" uma empresa de "consultadoria" que mais não é que um centro de apresentações às pessoas certas pelas quais cobram uma choruda comissão e por aí fora. Reproduzem-se como coelhos porque o bezerro de ouro não tem pátria, não tem filiações, não tem, em suma, uma ética.
Cada vez haverá mais "novos pobres" - reais e de espírito - e mais cínicos que dizem andar nisto justamente por causa dos "novos pobres".
São todos democratas e, a grande maioria, socialistas democráticos, social-democratas ou democratas cristãos.
Os comunistas praticamente não contam, só berram e não mamam na teta do bezerro apenas porque estão excluídos pelos outros.
Por natureza.
De resto, participam no circo institucional.
Tenho pena que o meu país seja dirigido por este bezerro de ouro e que o bezerro de ouro pastoreie, como tanta impunidade e alarvidade, tanto bezerro.
Se calhar não temos mais do que aquilo que merecemos.

 
At 16 de outubro de 2007 às 16:00, Anonymous Anónimo said...

Pobres continuam a aumentar em Portugal

(…)
Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelados pelo jornal «Diário Económico», em 2004, a percentagem de pobres era de 38 por cento em 2004, em 2005 subiram para 42 por cento. São pessoas que sobrevivem com cerca de 360 euros ou pouco mais de 4300 euros por ano.

No outro extremo, os portugueses mais ricos são geralmente casais sem crianças ou famílias com apenas um filho.

Portugal tem uma «nova classe» de pobres (…)

Isabel Jonet, presidente da Federação dos Bancos Alimentares contra a Fome, diz constatar que há cada vez mais pessoas a pedirem ajuda alimentar do que em anos anteriores.Ouvida pela TSF, aquela responsável diz mesmo existir uma «nova classe» de «novos pobres» em Portugal, «pessoas que, embora auferindo de um salário, não têm no final do mês todos os rendimentos de que necessitam para fazer face às necessidades do seu agregado familiar».

Isabel Jonet salienta também o facto de muitos jovens trabalharem a recibos verdes, sem possibilidade de pagar a Segurança Social, «que se vêem a braços com situações dramáticas e que muitas vezes têm de pedir apoio a estruturas sociais para poderem sobreviver»

Que tal se, antes de falarem em abandono escolar e fracasso do sistema educativo nos últimos 20 ou 30 qanos, começassem por analisar o fracasso de toda uma sociedade ou de uma classe política que, apesar de todas as ajudas comunitárias, falhou por completo um modelo de desenvolvimento?

Não é a falta de qualificações que, por si, explica a estagnação económica, quando a maior parte do emprego disponível se dirige aos sectores não-qualificados da população activa e força ao desemprego, à ocultação das habilitações ou mesmo à emigração muitos daqueles que têm qualificações acima da média.

O problema, como inúmeros estudos internacionais demonstram, é que as famíias tomam decisões em matéria de prolongamento da escolaridade, por oposição a uma entrada precoce no mercado de trabalho dos seus jovens, com base nas expectativas de retorno do investimento feito. Ou, de forma mais premente, com base nas necessidades materiais imediatas.

Ora neste momento as necessidades imediatas são evidentes para muitas famílias e a aposta no prolongamento dos estudos (mesmo que do 9º ara o 12º ano) um investimento com vantagens incertas.

Porque temos 3% de défice e 2% de inflacção (não sei como fazem essas contas), mas em contrapartida temos as prestações para aquisição de casa e os combustíveis brutalmente mais elevados. Qualquer aumento salarial de 2-3% para uma família de poucos (ou mesmo médios) rendimentos é engolido rapidamente só pela subida dos h«juros no crédito à habitação.

E perante o desemprego de muito pessoal qualificado em muitos dos cursos superiores mais “baratos” (tanto para as instituições como para os próprios futuros diplomados), a aposta educativa das famílias mais carenciadas fica comprometida porque não se afigura como uma vantagem competitiva clara no mercado de trabalho.

Não porque esses jovens não tenham capacidades, não porque o sistema educativo reproduza necessariamente todas as desigualdades, mas sim porque o contexto envolvente condiciona sobremaneira muitas das decisões que se tomam.

E isto não é a rendição à crença num determinismo social insuperável; é apenas a constação dos factos que nos rodeiam e estão à nossa vista. Pelo menos de uma parte de nós, pois acredito que a muitos isto só chegue por via das estatísticas e das notícias e, qual evangelista americano, acreditem que o fracasso e a vulnerabilidade é apenas culpa dos próprios.

 
At 16 de outubro de 2007 às 19:05, Anonymous Anónimo said...

Mas o que é que isso interessa se conseguimos alcançar os 3% do déficit?

 
At 16 de outubro de 2007 às 21:39, Anonymous Anónimo said...

Agora percebo onde a SIC foi buscar a ideia da Floribela, inspirot-se nos nossos politicos " pobres de espirito mas ricos no Banco"

 
At 17 de outubro de 2007 às 17:03, Anonymous Anónimo said...

................e só não há mais pobres em Portugal, porque alguns ainda tiveram forças para emigrar e procurar sustento noutros Paises.

Espanha e Andorra estão cheios de novos trabalhadores portugueses.

 

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