PROVINCIANISMOS
Para Sócrates, a imprensa portuguesa é um clube de futilidades que pratica a conspiração ao serviço dos interesses instalados.
Primeiro foi a entrevista ao El País. Agora é o retrato em confidência ao Libération.
No entanto, o primeiro-ministro não é tão generoso com a imprensa portuguesa.
Seria até de bom tom e democrático que os portugueses pudessem conhecer o pensamento do primeiro-ministro em prosa comum e em jornal nacional.
Mas não.
Para Sócrates, a imprensa portuguesa é um clube de futilidades que pratica a conspiração ao serviço dos interesses instalados.
Na verdade, talvez Sócrates evite a excessiva proximidade daquilo que é familiar.
Ao optar por um orgão de imprensa internacional, a distância e a relativa novidade protegem o primeiro-ministro dos efeitos indesejáveis de uma entrevista aberta sobre a realidade do País e da governação.
Mas a confidência ao Libération revela a alma do primeiro-ministro. E a alma exibe o velho mito da política portuguesa – o jovem da província, de origem humilde, que subiu na vida pelo mérito do trabalho e que chegou à política para ser o homem providencial.
Salazar vinha da província e de um meio povoado por gente humilde. Cavaco Silva deixou a província e reinventou o mito da humildade e da competência na política democrática.
Em cada época histórica, Salazar e Cavaco foram homens providenciais que prometeram a salvação nacional ou a tão desejada modernização. Na galeria dos homens providenciais, Sócrates é o herdadeiro político de Cavaco Silva.
O programa político de Sócrates também ambiciona a modernização de Portugal. Em nome da humildade e da competência, Sócrates imagina-se um prodígio e reclama uma autoridade que o País hesita em compreender.
Separados pela família política, unidos pela história de vida, Sócrates e Cavaco são o mais genuíno produto da tradição política nacional.
Percebe-se pois a confissão do primeiro-ministro ao afirmar que não tem aliados entre os intelectuais portugueses, nem apoiantes na aristocracia de esquerda.
Ao confessar a sua admiração pelo trabalhismo britânico e pela renovação socialista de Blair, ao afirmar o socialismo à la française como ultrapassado, Sócrates ostiliza a grande intelectualidade de Esquerda, demasiado conservadora, demasiado francesa, demasiado empenhada.
Ao adicionar a origem provinciana e arrancada à miséria, Sócrates separa-se da velha aristocracia de Esquerda, demasiado instalada, demasiado burguesa, demasiado elitista.
No lamento de Sócrates reside a força de Sócrates.
C.M.A.
Primeiro foi a entrevista ao El País. Agora é o retrato em confidência ao Libération.
No entanto, o primeiro-ministro não é tão generoso com a imprensa portuguesa.
Seria até de bom tom e democrático que os portugueses pudessem conhecer o pensamento do primeiro-ministro em prosa comum e em jornal nacional.
Mas não.
Para Sócrates, a imprensa portuguesa é um clube de futilidades que pratica a conspiração ao serviço dos interesses instalados.
Na verdade, talvez Sócrates evite a excessiva proximidade daquilo que é familiar.
Ao optar por um orgão de imprensa internacional, a distância e a relativa novidade protegem o primeiro-ministro dos efeitos indesejáveis de uma entrevista aberta sobre a realidade do País e da governação.
Mas a confidência ao Libération revela a alma do primeiro-ministro. E a alma exibe o velho mito da política portuguesa – o jovem da província, de origem humilde, que subiu na vida pelo mérito do trabalho e que chegou à política para ser o homem providencial.
Salazar vinha da província e de um meio povoado por gente humilde. Cavaco Silva deixou a província e reinventou o mito da humildade e da competência na política democrática.
Em cada época histórica, Salazar e Cavaco foram homens providenciais que prometeram a salvação nacional ou a tão desejada modernização. Na galeria dos homens providenciais, Sócrates é o herdadeiro político de Cavaco Silva.
O programa político de Sócrates também ambiciona a modernização de Portugal. Em nome da humildade e da competência, Sócrates imagina-se um prodígio e reclama uma autoridade que o País hesita em compreender.
Separados pela família política, unidos pela história de vida, Sócrates e Cavaco são o mais genuíno produto da tradição política nacional.
Percebe-se pois a confissão do primeiro-ministro ao afirmar que não tem aliados entre os intelectuais portugueses, nem apoiantes na aristocracia de esquerda.
Ao confessar a sua admiração pelo trabalhismo britânico e pela renovação socialista de Blair, ao afirmar o socialismo à la française como ultrapassado, Sócrates ostiliza a grande intelectualidade de Esquerda, demasiado conservadora, demasiado francesa, demasiado empenhada.
Ao adicionar a origem provinciana e arrancada à miséria, Sócrates separa-se da velha aristocracia de Esquerda, demasiado instalada, demasiado burguesa, demasiado elitista.
No lamento de Sócrates reside a força de Sócrates.
C.M.A.
Etiquetas: José Sócrates, Partido Socialista
4 Comments:
Num almoço de Natal com os deputados do PS, José Sócrates acusou de provincianismo todos os que o criticaram por se ter dedicado tanto à presidência da União Europeia.
Para mim, não foi tanto a dedicação à presidência que critiquei, mas sim a forma como sacrificou os interesses do país aos da União. Mesmo assim não me importava que me incluísse no pacote dos provincianos.
Chateado fiquei, quando soube que recentemente o Engenheiro se definiu a si como um provinciano, numa entrevista ao jornal Libération.
Oh Sr. Engenheiro, eu não quero ter nada em que nos possamos confundir ou comparar.
Ou você se retrata e diz que afinal não é nada provinciano, que esteve a mentir ao jornalista só para se dar ares de ser mais popularucho, e aí tudo bem, eu não me importo de ser provinciano, ou se você realmente é provinciano então, desculpe lá, eu não sou.
Ou será que há o bom provincianismo e o mau provincianismo.
Sócrates não é Salazar: tem atrás de si 30.000 comensais e micro-carreiristas. Sócrates não é Salazar, pois esse tinha, para bem e para mal, uma visão do mundo, do ordenamento social e das constantes do complexo geopolítico português. Sócrates é, positivamente, o gestor de um regime que nada pode mudar, pois que vive apenas virado para dentro e para a satisfação do apetite de uma parentela extensa de devoristas incapazes da menor assunção daquilo que é o interesse nacional. Com esta gente por mais vinte anos no poder não estaremos, por volta de 2027, 50 anos atrasados em relação à Europa: estaremos 70 !
O salazarismo económico está de boa saúde e recomenda-se. A maioria dos grupos económicos prospera à sombra do Estado e depende deste. A rapaziada sai destes grupos para fazer a sua comissão de serviço no Estado e regressa às empresas como se fosse a coisa mais normal do mundo: em Janeiro negoceia-se em nome do Estado uma qualquer concessão e em Fevereiro regressa-se à empresa. Existem, com certeza, contratos entre o Estado e empresas privadas que só por vergonha não têm a mesma assinatura nos dois lados do documento. Promiscuidade já não é a palavra indicada: indecência é a palavra certa.
José Sócrates teve um bom desempenho na Uniao Europeia.
Mas para esse "bom desempenho" teve a ajuda da Chanceler Alemã, verdadeiro motor e "almofada" para as iniciativas de José Sócrates.
Podemos concluir que José Sócrates não passou de um "emigrante" português.Sem o apoio alemão nada teria conseguido. Porque não tem força para nada.
Ou seja, na Presidência do Conselho Europeu José Sócrates só "conseguiu" só "fez" o que a chanceler Alemã quis.
Se a Chanceler Alemã não fosse o suporte de José Sócrates ,este nada teria conseguido.
Mas interessava à Chanceler Alemã que fosse aprovada a reforma do Tratado Europeu.
Tudo o que José Sócrates realizou aconteceu porque os alemães quiseram.
Lá no fundo José Sócrates nada conseguiu por mérito próprio. Teve sempre a Chanceler Alemã como apoiante, como "almofada". Acabou por ser o "mandatário" da Alemanha. Fez o que a Alemanha queria.Realizou os interesses alemães.
O sistema é o mesmo dos emigrantes portugueses. Estes saiem de Portugal, passam a estar inseridos em economias superiores, com métodos de gestão superiores, trabalhando por objectivos e triunfam.
Passam a ser peças da máquina , oleada, dos sistemas estrangeiros, onde perder não consta das "regras".
Agora, depois da "Presidência Portuguesa", José Sócrates tem de trabalhar num Estado periférico, verdadera colónia espanhola, e sem o apoio, sem a "almofada" alemã.
O Partido Socialista deixou Portugal na cauda da Europa. Desemprego, desertificação, salários baixos, fome ,miséria, subdesenvolvimento. Um Estado omnipotente e sem controlo.
José Sócrates vai ter a mesma realidade que Churchil depois da II Grande Guerra Mundial a que com a "almofada" americana conseguiu sobreviver, mas depois perdeu as eleições.
O cenário está traçado. É o cenário do BCP Millennium, o "chico espertismo" português, o fartar vilanagem,o sacar o máximo, o passar sobre todas as regras.
José Sócrates vai estatelar-se ao comprido sem o apoio alemão.
Porque é o pior Primeiro Ministro desde o 25 de Abril de 1974.
É fácil trabalhar quando os outros países apoiam e querem um determinado resultado. Porque José Sócrates trabalhou com o apoio alemão, com regras impostas por outros e não podia falhar , porque seriam os "outros" a falhar.
Mas agora, só, com um Portugal paupérrimo, onde as desigualdades são gritantes, o custo de vida galopante, os salários miseráveis, a educação a nível da Etiópica, a corrupção minando o aparelho de Estado, sem Justiça , com o compadrio e o tráfico de influências cada vez mais pujantes, José Sócrates vai estatelar-se ao comprido.
E nem Cavaco Silva lhe vale.
A situação está podre.
Tão podre como os "políticos" portugueses, verdadeiros "marajás" a lidarem com o exército de escravos, que somos todos nós.
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