segunda-feira, 28 de abril de 2008

ESCOLA, AUTORIDADE E HIPOCRISIA

Uma das consequências mais nefastas do salazarismo foi a identificação, na alma lusa, do conceito de autoridade com repressão fascista que, para o cidadão comum, passaram a ser sinónimos. Por essa razão, toda a gente hoje se queixa de falta de autoridade mas não há ninguém que consiga dar substância a esse conceito porque todos rejeitam liminarmente o uso da força. Ora, não existe autoridade sem que esteja subjacente o exercício da força.

Durante muitos anos, a autoridade dos professores era, em boa verdade, uma autoridade delegada. Para que um aluno obedecesse ou respeitasse o professor, bastava, em regra, a ameaça de chamar o pai. O medo do pai era, pois, suficientemente dissuasor. Além disso, a escola tinha as portas abertas. Quem não se portasse bem, era, pura e simplesmente, expulso da escola.

Acontece que, neste momento, não vale a pena fazer apelo aos pais. Durante os últimos trinta anos, desestruturámos completamente as famílias. Pais, no sentido de um casal que, em conjunto, tem por desígnio educar e criar os filhos, é uma espécie em vias de extinção. Hoje o único cimento da maior parte das famílias são os avós. Não tarda muito que o Estado tenha de assumir por inteiro a responsabilidade de educar as crianças, porque os pais (biológicos e afectivos) são já, na maior parte dos casos, uns indivíduos avulsos que transitam pela vida dos menores sem nunca aí se fixarem.

Por outro lado, a escolaridade obrigatória impede os indesejados de serem atirados para fora do sistema. E os indesejados (uma doença altamente contagiosa) constituem um grupo em crescimento, que detesta a escola, muitos deles não querem sequer lá andar e cujos pais ou são piores do que os filhos ou têm medo dos filhos. Aliás, hoje são já os professores que têm medo que certos filhos chamem os pais e não o contrário. Ora, como é que se lida com esta gente? Estou a falar de jovens até aos 12/13 anos porque, quando eles chegam aos 14 anos, sem qualquer orientação, já só se lá vai com a polícia.

Deviam ser obrigados a fazer trabalho cívico nas escolas, como limpar as casas de banho, etc., sugerem uns, sem explicar como se obriga esta gente a fazer trabalho cívico. Com chicote? Em regime de trabalhos forçados? Ou pede-se-lhes por favor e de joelhos?

A solução para resolver este problema teria de passar necessariamente pela coragem de expulsar da escola todos os alunos que tivessem condutas anti-sociais graves, remetendo-os para escolas especiais criadas para o efeito. A expulsão teria, ainda, o mérito de funcionar como medida disciplinar altamente dissuasora, levando muito jovens a esforçarem-se para não serem tão indesejados. Mas isso seria assim se não vivêssemos numa sociedade que tem por trave mestra a hipocrisia.

Por esta razão, direita e esquerda procuram tornear a questão, cada um a seu modo: a direita, defendendo o cheque-ensino e a liberdade de escolha (ou seja, já que eu não posso expulsar os indesejados da escola do meu filho, então quero ter o direito a escolher a escola do meu filho); a esquerda, defendendo a escola inclusiva, ao mesmo tempo que opta por colocar os seus filhos nos colégios privados.

REXISTIR

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