Numa versão caseira do estilo americano de fazer campanha política, José Sócrates brindou o país, no passado fim de semana, com o seu último anúncio, o do slogan com que o Partido Socialista e o Governo vão matraquear a comunicação a partir de agora: a força da mudança.
Em duas palavras, o Partido Socialista pretende criar, para o futuro, a expectativa que a história dos quase quatro anos do governo se encarrega de desmentir: a de que tem a força e a capacidade para concretizar as mudanças de que o país precisa para se reencontrar com a sua auto-estima, que, simultaneamente, constitua a mola impulsionadora do desenvolvimento criador de oportunidades. A realidade demonstra que não obstante a maioria absoluta, um pacto de estabilidade e crescimento distendido e flexibilizado, uma legislatura alargada e uma trégua eleitoral sem precedentes, a força do governo quedou-se pelo discurso e as verdadeiras mudanças esgotaram-se no seu mero anúncio.
Na hora do balanço, o saldo da governação traduz-se, entre várias outras situações, numa classe média mais empobrecida, num país mais endividado, num maior fosso entre ricos e pobres, num crescimento económico divergente com o da União Europeia, numa sociedade mais insegura e receosa, numa justiça persistentemente morosa e descredibilizada, numa assimetria demográfica agravada, num mais difícil acesso a cuidados de saúde, numa asfixia fiscal acentuada, numa menor exigência de qualificação dos nossos estudantes, numa ausência total de iniciativas culturais, numa sociedade mais tensa e conflituosa e numa incapacidade para reduzir sustentadamente o peso do estado na nossa economia.
Por muito profissionais e dispendiosas que sejam as estratégias de comunicação e de propaganda do governo, é esta a realidade: os portugueses estão descrentes e pessimistas em relação ao seu futuro.
As mudanças estruturantes, que alinhassem o rumo do país com os objectivos de crescimento e de bem estar, afinal, não aconteceram.
À falta de força para concretizar estas mudanças, o governo despendeu as suas energias na realização de outras, que, não aumentando a qualidade de vida dos portugueses, poderão, no seu entender, ajudar à manutenção do poder. É a lógica do poder pelo poder. Dos vários exemplos em que se traduz esta "manus longa" invisível do governo, podemos destacar a criação da figura do secretário geral do sistema de segurança interna, na dependência directa do Primeiro Ministro, enquadrado numa nova estrutura organizativa em que se corre o risco de se confundirem os conceitos de Justiça e de Segurança e as necessidades específicas de cada um deles, apontando para uma perniciosa governamentalização das políticas de investigação criminal decorrentes, com perda de autonomia da Magistratura do Ministério Público face ao poder político. Mais recentemente, e, agora, em relação ao votos dos emigrantes, a alteração introduzida na lei eleitoral, com o que se reduziram os meios disponíveis para o exercício do direito de voto. Numa época em que as novas tecnologias se colocam ao serviço da democracia, em que se faz apelo à participação cívica de todos os cidadãos e em que o mundo é cada vez mais global, com milhares de portugueses espalhados por vários cantos deste, o governo, em simultâneo com o encerramento de várias representações diplomáticas, retirou a possibilidade dos emigrantes votarem por correspondência, com o que se de poderá diminuir, "na secretaria" e drasticamente, o universo eleitoral. Curiosamente, uma medida que afecta círculos eleitorais onde o Partido Socialista tem sido, sistematicamente, minoritário…
Ou seja, em vez da força da mudança o governo fez, onde não devia, mudanças à força, usando e abusando da sua maioria absoluta, em prejuízo de um mais saudável regime democrático.
A propósito do lançamento do “Magalhães” o Governo decidiu fazer uma mega distribuição do PC de nome nacional, vamos ver ministros numa correria para mais uma mega operações de computadores. Não é nada de novo, há uns tempos atrás José Sócrates decidiu acumular as funções de primeiro-ministro com a de distribuidor de computadores das Novas Oportunidades.
Não sou contra o facto de os ministros nada terem que fazer e optarem por emprestar o seu sorriso, que, em regra, é de beleza duvidosa, à distribuição de computadores ao preço da uva mijona. Até acho a produção do “Magalhães” uma excelente ideia, não estando preocupado em saber se a máquina é portuguesa ou se português só tem o nome e a montagem, aliás, acho mesmo ridículos que alguns tenham reflectido sobre o assunto, tanto quanto sei são raras as máquinas cuja produção possa ser atribuída a um país.
Dinamizar o acesso à sociedade da informação foi uma das opções mais meritórias deste governo e uma boa parte das críticas que por aí se ouvem devem-se à conhecida “dor de corno”, designada pelos mais bem-educados por dor de cotovelo, uma doença que em Portugal é endémica e infelizmente ainda não foi descoberta uma vacina para a tratar. Mas convenhamos que ver ministros armados em vendedores da Taparware a galgar quilómetros para distribuir as caixas aos putos perante o ar de caso dos pais e professores é um pouco ridículo.
Faz todo o sentido uma cerimónia de lançamento, desde que não se lembrem de contratar umas criancinhas, que antes passam por um casting para escolher aquelas cuja cor do cabelo condizem mais com a gravata de José Sócrates. Mas dar um feriado a meia dúzia de ministros investindo-os neste papel ridículo é pura parolice nacional. Esperemos, que Sócrates não opte, como já o fez, por nos enjoar com dezenas destas cerimónias ridículas.
Preferira antes ver os ministros a reunir com algumas das nossas empresas com o objectivo de promover o desenvolvimento da sociedade da informação, já que não basta ter computadores, serão necessários programas e conteúdos para que estes se revelem úteis. Por isso seria mais importante que o ministro com a tutela das comunicações reunisse com as empresas do sector para discutir a forma de tornar barato o acesso à Web ou a forma de criar condições para que se generalize a instalação de servidores em território nacional com custos de colocação de conteúdos competitivos. Ou ver o ministro da Economia reunir com a banca para discutir a constituição de capitais de risco ou a facilidade no acesso ao crédito para promover a criação de empresas no domínio da sociedade da informação, para que os nossos licenciados fossem estimulados a criar empresas em vez de ambicionarem ser funcionários públicos, acabando muitos deles por irem para repositores dos hipermercados.
O “Magalhães” é uma excelente ideia, o problema é saber se vai haver oceano para navegar.
a força da mudança não é o "engenheiro" mais os seus espectáculos encenados, nem o discurso vazio, sem ideias e mentiroso, nem a manada que é enfiada nas camionetas para o ir aplaudir! e também não é com a ferreira 'citygroup' leite, nem com os seus "silêncios", nem com a sua fidelidade canina às determinações do parolo de boliqueime! já tivemos 34 anos dessas "forças de mudança". já sabemos o que fazem para aniquilar a democracia, o estado social,a economia produtiva e imbecilizar a população. por isso, a força da mudança, somos nós, cidadãos que não pactuam com a corja que vai alternando o poder e destruindo o rectângulo. e não é necessário esperar pelas eleições - com uma votação maciça na verdadeira esquerda - para mostrar aos malfeitores o nosso desagrado e a nossa revolta. resistir e desobedecer são armas legítimas e eficazes!
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Numa versão caseira do estilo americano de fazer campanha política, José Sócrates brindou o país, no passado fim de semana, com o seu último anúncio, o do slogan com que o Partido Socialista e o Governo vão matraquear a comunicação a partir de agora: a força da mudança.
Em duas palavras, o Partido Socialista pretende criar, para o futuro, a expectativa que a história dos quase quatro anos do governo se encarrega de desmentir: a de que tem a força e a capacidade para concretizar as mudanças de que o país precisa para se reencontrar com a sua auto-estima, que, simultaneamente, constitua a mola impulsionadora do desenvolvimento criador de oportunidades. A realidade demonstra que não obstante a maioria absoluta, um pacto de estabilidade e crescimento distendido e flexibilizado, uma legislatura alargada e uma trégua eleitoral sem precedentes, a força do governo quedou-se pelo discurso e as verdadeiras mudanças esgotaram-se no seu mero anúncio.
Na hora do balanço, o saldo da governação traduz-se, entre várias outras situações, numa classe média mais empobrecida, num país mais endividado, num maior fosso entre ricos e pobres, num crescimento económico divergente com o da União Europeia, numa sociedade mais insegura e receosa, numa justiça persistentemente morosa e descredibilizada, numa assimetria demográfica agravada, num mais difícil acesso a cuidados de saúde, numa asfixia fiscal acentuada, numa menor exigência de qualificação dos nossos estudantes, numa ausência total de iniciativas culturais, numa sociedade mais tensa e conflituosa e numa incapacidade para reduzir sustentadamente o peso do estado na nossa economia.
Por muito profissionais e dispendiosas que sejam as estratégias de comunicação e de propaganda do governo, é esta a realidade: os portugueses estão descrentes e pessimistas em relação ao seu futuro.
As mudanças estruturantes, que alinhassem o rumo do país com os objectivos de crescimento e de bem estar, afinal, não aconteceram.
À falta de força para concretizar estas mudanças, o governo despendeu as suas energias na realização de outras, que, não aumentando a qualidade de vida dos portugueses, poderão, no seu entender, ajudar à manutenção do poder. É a lógica do poder pelo poder. Dos vários exemplos em que se traduz esta "manus longa" invisível do governo, podemos destacar a criação da figura do secretário geral do sistema de segurança interna, na dependência directa do Primeiro Ministro, enquadrado numa nova estrutura organizativa em que se corre o risco de se confundirem os conceitos de Justiça e de Segurança e as necessidades específicas de cada um deles, apontando para uma perniciosa governamentalização das políticas de investigação criminal decorrentes, com perda de autonomia da Magistratura do Ministério Público face ao poder político. Mais recentemente, e, agora, em relação ao votos dos emigrantes, a alteração introduzida na lei eleitoral, com o que se reduziram os meios disponíveis para o exercício do direito de voto. Numa época em que as novas tecnologias se colocam ao serviço da democracia, em que se faz apelo à participação cívica de todos os cidadãos e em que o mundo é cada vez mais global, com milhares de portugueses espalhados por vários cantos deste, o governo, em simultâneo com o encerramento de várias representações diplomáticas, retirou a possibilidade dos emigrantes votarem por correspondência, com o que se de poderá diminuir, "na secretaria" e drasticamente, o universo eleitoral. Curiosamente, uma medida que afecta círculos eleitorais onde o Partido Socialista tem sido, sistematicamente, minoritário…
Ou seja, em vez da força da mudança o governo fez, onde não devia, mudanças à força, usando e abusando da sua maioria absoluta, em prejuízo de um mais saudável regime democrático.
A propósito do lançamento do “Magalhães” o Governo decidiu fazer uma mega distribuição do PC de nome nacional, vamos ver ministros numa correria para mais uma mega operações de computadores. Não é nada de novo, há uns tempos atrás José Sócrates decidiu acumular as funções de primeiro-ministro com a de distribuidor de computadores das Novas Oportunidades.
Não sou contra o facto de os ministros nada terem que fazer e optarem por emprestar o seu sorriso, que, em regra, é de beleza duvidosa, à distribuição de computadores ao preço da uva mijona. Até acho a produção do “Magalhães” uma excelente ideia, não estando preocupado em saber se a máquina é portuguesa ou se português só tem o nome e a montagem, aliás, acho mesmo ridículos que alguns tenham reflectido sobre o assunto, tanto quanto sei são raras as máquinas cuja produção possa ser atribuída a um país.
Dinamizar o acesso à sociedade da informação foi uma das opções mais meritórias deste governo e uma boa parte das críticas que por aí se ouvem devem-se à conhecida “dor de corno”, designada pelos mais bem-educados por dor de cotovelo, uma doença que em Portugal é endémica e infelizmente ainda não foi descoberta uma vacina para a tratar. Mas convenhamos que ver ministros armados em vendedores da Taparware a galgar quilómetros para distribuir as caixas aos putos perante o ar de caso dos pais e professores é um pouco ridículo.
Faz todo o sentido uma cerimónia de lançamento, desde que não se lembrem de contratar umas criancinhas, que antes passam por um casting para escolher aquelas cuja cor do cabelo condizem mais com a gravata de José Sócrates. Mas dar um feriado a meia dúzia de ministros investindo-os neste papel ridículo é pura parolice nacional. Esperemos, que Sócrates não opte, como já o fez, por nos enjoar com dezenas destas cerimónias ridículas.
Preferira antes ver os ministros a reunir com algumas das nossas empresas com o objectivo de promover o desenvolvimento da sociedade da informação, já que não basta ter computadores, serão necessários programas e conteúdos para que estes se revelem úteis. Por isso seria mais importante que o ministro com a tutela das comunicações reunisse com as empresas do sector para discutir a forma de tornar barato o acesso à Web ou a forma de criar condições para que se generalize a instalação de servidores em território nacional com custos de colocação de conteúdos competitivos. Ou ver o ministro da Economia reunir com a banca para discutir a constituição de capitais de risco ou a facilidade no acesso ao crédito para promover a criação de empresas no domínio da sociedade da informação, para que os nossos licenciados fossem estimulados a criar empresas em vez de ambicionarem ser funcionários públicos, acabando muitos deles por irem para repositores dos hipermercados.
O “Magalhães” é uma excelente ideia, o problema é saber se vai haver oceano para navegar.
a força da mudança não é o "engenheiro" mais os seus espectáculos encenados, nem o discurso vazio, sem ideias e mentiroso, nem a manada que é enfiada nas camionetas para o ir aplaudir!
e também não é com a ferreira 'citygroup' leite, nem com os seus "silêncios", nem com a sua fidelidade canina às determinações do parolo de boliqueime!
já tivemos 34 anos dessas "forças de mudança". já sabemos o que fazem para aniquilar a democracia, o estado social,a economia produtiva e imbecilizar a população.
por isso, a força da mudança, somos nós, cidadãos que não pactuam com a corja que vai alternando o poder e destruindo o rectângulo. e não é necessário esperar pelas eleições - com uma votação maciça na verdadeira esquerda - para mostrar aos malfeitores o nosso desagrado e a nossa revolta. resistir e desobedecer são armas legítimas e eficazes!
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