O ‘day after’ das eleições para as autarquias mostra-nos um cenário sombrio e devastador.
No horizonte restam as nuvens de fumo das queimadas que os candidatos organizaram em honra aos seus adversários. Vêem-se mesas e cadeiras tombadas. Restos dos almoços e jantares grátis com que os candidatos menos espertos tentaram comprar os votos do Zé Povão que aproveitou, e bem, para gozar a vida. Vendeu-se muito bacalhau e vinho tinto.
Aqui e ali, alguns feridos arrastam-se agora na lama com que o Vince brindou este território inconfundível. Os derrotados são agora reduzidos à condição de Hobbit. Vão viver num buraco. Restaurantes discretos envoltos em nuvens de fumo branco, albergam agora os encontros de acertos de contas. Preparam-se as cerimónias de posse dos aspirantes a ‘Lord of the Rings’ concelhios e distritais. Alguns repetidos. Aqui e ali aparecem novos aspirantes. Uns de bigode. Outros de barrigaça. Outros ostentando ambos.
É um ambiente tétrico em que se içam bandeiras nos telhados de casas semi-destruidas. Na verdade, as bandeiras são o único elemento dinâmico que conseguimos observar em movimento. Até em muitas empresas onde gestores que gerem sobretudo a sua carreira através de acções intermitentes de enbandeiramentos. Vazios de conteúdo, vão agora pôr-se na fila de espera para propor novos negócios ao sr. presidente da Câmara. Novos negócios. Velhas e gastas ideias. Nas suas cabeças, uma pergunta dramática: Haverá Vida para além do PDM? Valha-nos Miguel Sousa Tavares! Apesar do aparente. Há esperança. Esforçemo-nos por não sermos engolidos pelo ambiente do pós-campanha eleitoral. Após um período de apresentação, neste espaço, de alguns dos mais importantes desafios de gestão em saúde enfrentados pelas actuais equipas do Ministério da Saúde, que coincidiu com o período de actividades demagógicas de assalto (ou defesa) ao poder autárquico, estamos agora em condições de referenciar alguns aspectos importantes para a política de saúde em que teremos que promover a intervenção das autarquias.
Uma das maiores complexidades de qualquer responsável ministerial, em Portugal como no resto da Europa, é a gestão financeira integrada entre os orçamentos da Segurança Social, dos financiadores dos cuidados de saúde (públicos, privados ou mistos) e das autarquias. Não há volta a dar-lhe. Esta é uma obrigatoriedade de qualquer sistema social e de saúde que, no caso português, tem que ser implementado quanto antes, sob pena de prolongarmos os sistemas da segurança social e da saúde: ineficientes, caros e ineficazes na prossecução das suas obrigações de intervenção social.
Este tipo de integração que observamos no resto da Europa é uma força de renovação dos indicadores apresentados nos relatórios de analise social. É que os actuais são claramente desadequados e desfasados da realidade nacional de intervenção social e da saúde. Não facilitam a abordagem integrada. Não permitem identificar os ganhos em saúde resultantes do investimento. Não permitem avaliar a efectiva qualidade dos cuidados prestados. Não permitem analisar a mais valia do direccionamento de recursos para o investimento social. Perdidos em choques de e com corporações, os responsáveis e técnicos da acção ao nível dos ministérios e cúpulas das autarquias, temem agora que isto fique tudo parado até o pós-presidenciais.
Sejamos mais objectivos. Qual país do terceiro mundo, a intervenção cacique na administração pública nos períodos pós-eleições tem, paulatinamente, promovido variadas formas de incompetência e incongruência de gestão, congelamento da dinâmica inovadora das organizações e, em diversas ocasiões, variadas formas de corrupção. Não há responsabilidades. Não há ‘accountability’. Não há avaliação independente dos exercícios e das competências demonstradas. Há apenas substituição massificada nos postos de baixa visibilidade e um processo de desgaste psicológico até à demissão voluntária nos casos de postos mais “mediatizáveis”.
Entretanto, os Hobbits observam o ‘Lord of the Rings’ (Loth). Alguns acusam-no de os ter atraiçoado. De não lhes ter dado o apoio necessário no assalto ao poder local. Magoados, procuram novos aliados. Há por aí um novo Loth?
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O PÓS-AUTÁRQUICAS
O ‘day after’ das eleições para as autarquias mostra-nos um cenário sombrio e devastador.
No horizonte restam as nuvens de fumo das queimadas que os candidatos organizaram em honra aos seus adversários. Vêem-se mesas e cadeiras tombadas. Restos dos almoços e jantares grátis com que os candidatos menos espertos tentaram comprar os votos do Zé Povão que aproveitou, e bem, para gozar a vida. Vendeu-se muito bacalhau e vinho tinto.
Aqui e ali, alguns feridos arrastam-se agora na lama com que o Vince brindou este território inconfundível. Os derrotados são agora reduzidos à condição de Hobbit. Vão viver num buraco. Restaurantes discretos envoltos em nuvens de fumo branco, albergam agora os encontros de acertos de contas. Preparam-se as cerimónias de posse dos aspirantes a ‘Lord of the Rings’ concelhios e distritais. Alguns repetidos. Aqui e ali aparecem novos aspirantes. Uns de bigode. Outros de barrigaça. Outros ostentando ambos.
É um ambiente tétrico em que se içam bandeiras nos telhados de casas semi-destruidas. Na verdade, as bandeiras são o único elemento dinâmico que conseguimos observar em movimento. Até em muitas empresas onde gestores que gerem sobretudo a sua carreira através de acções intermitentes de enbandeiramentos. Vazios de conteúdo, vão agora pôr-se na fila de espera para propor novos negócios ao sr. presidente da Câmara. Novos negócios. Velhas e gastas ideias. Nas suas cabeças, uma pergunta dramática: Haverá Vida para além do PDM? Valha-nos Miguel Sousa Tavares!
Apesar do aparente. Há esperança. Esforçemo-nos por não sermos engolidos pelo ambiente do pós-campanha eleitoral. Após um período de apresentação, neste espaço, de alguns dos mais importantes desafios de gestão em saúde enfrentados pelas actuais equipas do Ministério da Saúde, que coincidiu com o período de actividades demagógicas de assalto (ou defesa) ao poder autárquico, estamos agora em condições de referenciar alguns aspectos importantes para a política de saúde em que teremos que promover a intervenção das autarquias.
Uma das maiores complexidades de qualquer responsável ministerial, em Portugal como no resto da Europa, é a gestão financeira integrada entre os orçamentos da Segurança Social, dos financiadores dos cuidados de saúde (públicos, privados ou mistos) e das autarquias. Não há volta a dar-lhe. Esta é uma obrigatoriedade de qualquer sistema social e de saúde que, no caso português, tem que ser implementado quanto antes, sob pena de prolongarmos os sistemas da segurança social e da saúde: ineficientes, caros e ineficazes na prossecução das suas obrigações de intervenção social.
Este tipo de integração que observamos no resto da Europa é uma força de renovação dos indicadores apresentados nos relatórios de analise social. É que os actuais são claramente desadequados e desfasados da realidade nacional de intervenção social e da saúde. Não facilitam a abordagem integrada. Não permitem identificar os ganhos em saúde resultantes do investimento. Não permitem avaliar a efectiva qualidade dos cuidados prestados. Não permitem analisar a mais valia do direccionamento de recursos para o investimento social. Perdidos em choques de e com corporações, os responsáveis e técnicos da acção ao nível dos ministérios e cúpulas das autarquias, temem agora que isto fique tudo parado até o pós-presidenciais.
Sejamos mais objectivos. Qual país do terceiro mundo, a intervenção cacique na administração pública nos períodos pós-eleições tem, paulatinamente, promovido variadas formas de incompetência e incongruência de gestão, congelamento da dinâmica inovadora das organizações e, em diversas ocasiões, variadas formas de corrupção. Não há responsabilidades. Não há ‘accountability’. Não há avaliação independente dos exercícios e das competências demonstradas. Há apenas substituição massificada nos postos de baixa visibilidade e um processo de desgaste psicológico até à demissão voluntária nos casos de postos mais “mediatizáveis”.
Entretanto, os Hobbits observam o ‘Lord of the Rings’ (Loth). Alguns acusam-no de os ter atraiçoado. De não lhes ter dado o apoio necessário no assalto ao poder local. Magoados, procuram novos aliados. Há por aí um novo Loth?
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