quarta-feira, 12 de outubro de 2005

NO NOSSO PORTUGAL...[parte II]



É a melhor altura para se falar disto a sério, uma vez que acabámos de ter eleições e os espiritos locais deverão estar mais calmos.

Meus amigos, mesmo tomando em linha de conta certas particularidades locais, não posso compreender, de todo, a forma como está organizado o poder local no nosso país.

Vamos aos grandes números:

Existem em Portugal, 8.838.427 eleitores, 308 Concelhos (e logo Câmaras Municipais) e 4.260 Juntas de Freguesia. O que nos dá as seguintes médias de 28.696 eleitores por Concelho, 2.075 eleitores por Junta e 13,8 Juntas por Concelho.

Porque carga de água existem Distritos, Concelhos e Juntas que fogem disparatadamente a esta média (ou seja, apresentando um desvio padrão que faria qualquer um corar de vergonha)?
Eis alguns exemplos:


Distrito de Beja (9.847 eleitores por concelho) e Portalegre (7.245 eleitores por concelho)?
Distrito de Bragança (505 eleitores por freguesia) e Guarda (505 eleitores por freguesia)?
Distrito de Braga (36,8 freguesias por concelho) e Viana do Castelo (29 freguesias por concelho)?

Tratam-se de números que jamais deveriam acontecer!

Nos casos de Beja e Portalegre, deveriam ser reduzidos o número de Concelhos.
No 1º caso nada justifica a existência dos concelhos de Barrancos (1.626 eleitores) e do Alvito (2.157 eleitores).
Em Portalegre temos os casos de Arronches (2.919) e de Monforte (2.942).
Isto, só assim por alto, que se calhar com uma reorganização mais bem pensada, haveria outros nas mesmas condições.

Em Bragança (299) e na Guarda (336), o número de freguesias é um autêntico disparate.
Mesmo descontando a muito maior dispersão da população - comparativamente às regiões mais a Sul do País, isto não é de todo compreensível.
Dei uma vista de olhos rápida pelos dados disponibilizados e pergunto-me:
- porque razão existem 20 Juntas de Freguesia em Alfândega da Fé (Concelho de Bragança), para um total de 6.148 eleitores, chegando-se ao ridículo de, na Freguesia de Vales, existirem 107 eleitores recenseados...
Em Carrazeda de Ansiães existem 19 Freguesias para 7.870 eleitores, o que dá uma média de pouco mais de 300 eleitores por freguesia!
Na Guarda encontrei casos semelhantes em Almeida (29 Freguesias para 8.597 eleitores). Este concelho chega até ao ridículo de ter Freguesias com 55, 60 e 74 eleitores, para além de inúmeras abaixo das duas centenas. Outros exemplos são Celourico da Beira (22 Freguesias para 8.736 eleitores) e Trancoso (29 Freguesias para 10.574 eleitores). Aqui, nem o Concelho que tem a sede de distrito - a Guarda - se safa, dado que tem 55 Freguesias (mais que o concelho de Lisboa, por exemplo) para 37.122 eleitores, ocorrendo inúmeros casos das atrás citadas Juntas com um número ridículo de eleitores.

E finalmente outra curiosidade, esta com grande expressão na região do Minho.
A quantidade desmesurada de Freguesias, num único Concelho, que existe naquela região do país.
Em Braga existe um exemplo que eu de todo não compreendo. Existem 89 Freguesias nos concelhos de Barcelos (97.837 eleitores) e de Braga (132.716 eleitores).
Como é que isto é possível?
Sim, leram bem.
Oitenta e nove Freguesias num só concelho!
Só para se ver bem este exagero, e tomando por exemplo a realidade que me é mais próxima, se somarmos os concelhos de Lisboa, Oeiras, Odivelas, Cascais e Amadora, temos mais de 1.000.000 de eleitores, uma área por certo maior que qualquer um destes concelhos e somente 86 Juntas de Freguesia!
Ainda faltam 3 para atingirmos os "magníficos números" do "Aviário de Portugal"! Que é isto, meus amigos?
No Distrito de Viana do Castelo, tanto Arcos de Valdevez como Ponte de Lima têm 51 freguesias para pouco mais de 30.000 eleitores!

Exemplos destes não foram difíceis de detectar e no polo oposto também sucedem (Juntas de Freguesia e Concelhos a necessitarem de ser criados, dado estarem também muito distantes da média nacional e/ou Distrital).
No entanto, aberrações de Juntas e Concelhos com número de eleitores muito reduzido e de excesso de Juntas por Concelho é o que não falta neste país!

E pergunto eu, para quê?
Porque carga de água não se reforma esta coisada?
Porque carga de água não se definem critérios precisos para a existência de Concelhos e de Juntas de Freguesia, baseando-se em número mínimo de eleitores? Mesmo que se abrissem algumas excepções, justificáveis com certas condicionantes geográficas (por exemplo a Ilha do Corvo) nada, mas rigorosamente nada, justifica a existência destes casos que eu referi e que são a clássica e famosa "Ponta do Iceberg".

Na minha rua moram mais de 300 pessoas!
300 potenciais eleitores!
Porque não exigirmos a criação imediata da Junta de Freguesia da Rua do Sobe e Desce? E o Conselho do Bairro do Lá-Vai-Um?
Se todo o país seguisse alguns exemplos aqui citados, teríamos por exemplo:


8.040 Juntas de Freguesia, seguindo o exemplo do Concelho de Barcelos
17.502 Concelhos, seguindo o exemplo do Distrito da Guarda

368.268 Juntas de Freguesia, seguindo o exemplo do Distrito de Bragança.


Eu, que nem sei quem decide estas coisas, ponho-me a pensar e começo a fazer contas de cabeça.
Ora se deixassem de existir, por exemplo, 50 Concelhos e 1000 Juntas de Freguesia em excesso, isso daria (e com números por baixo)...


Menos 50 presidentes de Câmara;
Menos uns bons 250 Vereadores;
Menos 750 secretários de vereadores e presidentes;
Menos 1.000 Presidentes da Junta;
Menos 1.000 secretários;
Menos uns bons 4.000 vogais;
Menos uns bons 500 membros de Assembleias Municipais;
Menos milhares e milhares de pessoas que "trabalham" nestes locais, e que muitos se calhar até poderiam ser afectos a outras actividades, que não estou a ver lá muito bem como poderão ser produtivas!


Só de pensar o que esta gente poderá custar ao erário público, fico desde logo maldisposto!
De moldes, que vamos mas é lá ao que interessa verdadeiramente à malta:

«Então vamos ganhar por quantos ao Porto no sábado?»


Irr

3 Comments:

At 12 de outubro de 2005 às 13:12, Anonymous Anónimo said...

Pessoalmente (há um tempo para tudo) desconhecido? amigo Zé da Ponte:

Também em minha opinião as boas "reformas" são absolutamente necessárias, mas, têm de ser bem estudadas, justas, e, eventualmente com excepções. O que não tem acontecido. A este propósito, dos concelhos, parecendo também necessário reformar, recordo não só Canas, como também existirem ainda hoje concelhos que foram extintos em 1855, Montargil, p.e., que parece terem sido vítimas de grande injustiça. Sobre a reforma dos Notários, vários prejuízos se vêem( os actos notariais não estão mais baratos, os notários públicos correm risco de extinção, por exemplo...). E, sobre o tempo de trabalho e serviço e reformas foi e é o que se sabe. Sinceramente, com a sanha que corre de reformas ( e cadelas apressadas têm filhos cegos... ) já tenho algum receio de ouvir falar nelas...
Entretanto, como não há, não pode haver terra melhor do que a nossa, continuo, mau grado o que está mal, feliz com Montargil e Ponte de Sôr, também não me queixando muito da Moita, terra de nascimento de mulher e filho, o mesmo acontecendo com Lisboa, para onde já caminho vai para mais de 35 anos.
Nasci nos arredores de Montargil. O médico de clínica geral, Dr. Martins, fazia de dentista. Aos 14/15 anos fui, dorido, à sua consulta com uma pequeníssima cárie, e, saí de lá com menos dois dentes. Uma pequena tragédia, com que por vezes brinco: se tivesse os dentes todos, ainda tinha mais problemas com a por vezes tendência para comer demais. E, agora isto: a continuação, desde há doze anos, de um dentista como Presidente da Câmara!
A informática, como tantos outros mundos, o da gestão ou da medicina, por exemplo, é um mundo. Assim como "denunciei", há algum tempo o facto informático, que não domino,de quando abria, nos favoritos, o "PontedoSôr", ir sempre parar ao PSD, salvo erro o Eng. Lizardo, observo agora que vou muitas vezes parar aos meus pequenos versos sobre O PODER. Obrigado pela atenção. Que seja justo e merecido. Que apareça inclusivé melhor. E, tenho de ler melhor a Nova Nau Catrineta!...

JoaquimMarques

 
At 12 de outubro de 2005 às 17:29, Anonymous Anónimo said...

A sua apreciação é correcta.

Mas infelizmente esta situação existe porque interessa aos nossos partidos políticos, dar rebuçados a toda esta gente, que ajudam a manter a partidarite local viva.

A. Soares

 
At 9 de outubro de 2009 às 23:49, Anonymous Anónimo said...

Apesar de compreender a questão exposta, tenho de discordar.
Qual é o objectivo de existirem juntas de freguesias?
É baseado no conceito de poder local. Ora, como poderiam ser representados os 300 eleitores de algumas freguesias no seu concelho?
Por uma freguesia distante? Não poderíamos mais facilmente caír no esquecimento?
Convém recordar que nas freguesias com poucos eleitores, os presidentes de junta ganham (quando ganham) uma quantia simbólica, e nem sequer é o trabalho deles. Apenas tem de estar na junta umas poucas horas por semana. Por isso todos eles tem o seu trabalho. Não se confunda com os "corruptos e gordos" presidentes e camara. Aí sim estará o problema.

Pedro Alves

 

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