segunda-feira, 21 de novembro de 2005

A BANDEIRA ELEITORAL DO PS ESTÁ BASTANTE DESBOTADA!



O sonho tecnológico

Sócrates começou por prometer o choque tecnológico.
Até agora, o único choque foi o dele próprio.
O choque transformou-se em plano, nome mais condizente com a responsabilidade governativa, mas, ao fim de seis meses, antes de as medidas verem a luz do dia, vão ficando mortos pelo caminho.
À demissão de José Tavares de coordenador da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico, o Governo respondeu prontamente com a nomeação do economista Lebre de Freitas, figura da casa do Ministério da Economia.

Prosseguindo na estratégia de damage control, o Governo deixou vir a público o documento síntese elaborado pelo coordenador demissionário e anunciou que o plano vai a Conselho de Ministros esta semana.
Mas já nada poderá apagar a imagem destes seis meses de gestação do plano, cujo anúncio chegou a ser prometido para o final de Setembro, sem que os agentes a quem se dirigia tenham sido envolvidos nos trabalhos. Mais uma prova de que mesmo quando prega a inovação e a flexibilidade, o Estado fica refém dos piores vícios centralistas.

Embora não esteja clarificado se o que vai a Conselho de Ministros é o de José Tavares, ou a versão corrigida a partir dos vários contributos ministeriais, cujas críticas desencadearam a saída do coordenador, o que se destaca no documento é o número elevado de medidas - 166, ainda mais do que as 125 da estratégia de Lisboa, em todo o caso números bastante indigestos - e o seu carácter avulso, para não falar de que se trata em grande parte de um novo embrulho para acções já em andamento.

Se alguém alguma vez acreditou que o plano tecnológico pudesse ser mais do que um sound bite, qualquer efeito mobilizador acabou de se desfazer.

A última questão remete para a liderança do plano e a solução bicéfala adoptada, entre a tutela da Economia, com Manuel Pinho, e as dotações financeiras do orçamento da Ciência e Ensino Superior, de Mariano Gago.
A principal virtualidade do Plano Tecnológico, tal como foi enunciado no programa de Governo, era colocar a ID ao serviço da inovação e do reforço da competitividade da economia.
Deixar de olhar o crescimento da despesa em ID como um fim em si, das universidades e dos laboratórios do Estado, mas antes para a necessidade de a tornar reprodutiva, contribuindo para o crescimento da riqueza nacional.
Ora essa não é missão para Mariano Gago e se Pinho não está à altura do desafio, só resta a Sócrates fazer o que devia ter feito desde o princípio e assumir a liderança do Plano Tecnológico.

Sendo certo que fazê-lo agora será sempre uma solução de recurso porque a bandeira eleitoral do PS já não está a brilhar de nova, como na campanha eleitoral. Esta até bastante desbotada e esfarrapada.

E eis-nos chegados à triste situação de o Governo que fez bandeira do Plano Tecnológico não ter para apresentar como projectos mobilizadores senão o regresso ao betão.
Desfeito o sonho tecnológico, resta a Ota e a receita segura das obras públicas.
Que fizemos nós para merecer isto?


Luisa Bessa