segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

O QUE FAZER COM UM MILHÃO DE VOTOS?

O movimento cívico

Há quem julgue saber o que fazer com o dinheiro do Euromilhões. Manuel Alegre, neste momento, não sabe o que fazer com um milhão de votos.
Alguns dos seus seguidores, que julgam ter visto no poeta um pirilampo que os pode guiar para o estrelato, já começaram a pensar.

Coisa grave, quando vem de um grupo de personagens que, como se viu na noite das eleições, têm um discurso tão denso que nem eles o conseguem decifrar.
A sua tarefa é gigantesca.
Querem criar um «movimento cívico».
Um conhecido prato português que mesmo Eça de Queiroz mandaria Abranhos comer antes de o tentar provar.
Em Portugal há quem goste de criar «movimentos cívicos» porque eles permitem dar um nome respeitável a reuniões de almoçaristas.
Os mais entusiasmados apoiantes da ideia já começaram a tentar colocar Alegre no centro do palco e agora dançam à sua volta como índios que pedem chuva.
Ou protagonismo.
O único problema é que o milhão de votos de Alegre dissolveu-se no próprio dia das eleições.
Os que votaram nele estavam a votar contra.
Contra a direcção do PS.
Contra Soares.
Contra o messianismo diletante de Francisco Louçã.
Mas há uma esquerda, que vive nas bibliotecas das universidades, que julga ter visto a luz do dia.
Há-de perceber que está perdida no tempo.

Fernando Sobral

2 Comments:

At 30 de janeiro de 2006 às 15:28, Anonymous Anónimo said...

O novo movimento (cívico) dos Não-Alinhados by M. Alegre – em Porto Alegre versão lusa


• Todos nós sabemos que a política tem um lado romântico, sonhador, utópico, transversal. M. Alegre corporiza esse ideal, embora o faça muito tardiamente e ainda mais oportunísticamente. Lembro que alegre foi o candidato mais tíbio e hesitante destas eleições presidenciais: num dia foi à TV ler uma cábula em que criticava os partidos, as máfias judiciais que bloqueiam este país, a burocracia, enfim, Alegre desancou – e bem – no Estado que temos e depois concluiu a rábula da seguinte forma: pois é, meus senhores, eu não quero no futuro próximo ser acusado de dividir o espaço da esquerda em Portugal nem a sua família política (leia-se o PS), e assim abriu caminho para Soares entrar e se afirmar nessas já velhas avenidas da liberdade. No outro dia, pasme-se!!! O mesmo Manuel Alegre vai à TV dizer que tinha mudado de ideias e que se apresentava de facto a eleições. Este é o Alegre destas presidenciais, o Alegre dos 360 graus, o homem das tibiezas e dos arrependimentos que avança às arrecuas. Confesso que preferia o outro Alegre, o do Parlamento que fazia ouvir a sua voz tonitruante perante as injustiças do mundo e mais as balelas poéticas que ele costuma debitar à turba. Mas também só o lê quem quer...
• Mas agora põe-se um problema: que fazer com aquele milhão de pessoas que votaram nele: ou por acaso, ou porque já não podiam ver o Soares pela frente, ou por raiva do PS ter apoiado o "outro", ou por qualquer outra razão de índole negativa. Alegre foi, assim, uma espécie do federador dos descontentes e dos traumatizados da guerra civil à portuguesa que lhe iam chorar ao colo a fim de serem embalados por aquela poesia marialva já mui datada no tempo e remete para um Portugal que já não há. Vejo Alegre a declamar poesia e penso: que tremenda injustiça este Portugal presta aos verdadeiros poetas – que morrem esquecidos no anonimato. E muitos infinitamente melhoreis, o que também não é difícil.

• Mas Alegre sempre tem alguma experiência política, foi ou é deputado e tem alguns contactos. Seus ou propiciados pelo seu rival Louçã – que num momento de crise o ajudará a potenciar aquele milhão de homens e de mulheres. E como essa boa gente não cabe no Campo Pequeno ou no Campo Grande ou no Estádio de Alvalade – que irá levar uma cabazada na Luz do fim-de-semana – resolveu pensar em Portalegre, ou melhor, Porto Alegre, Brasil – que fica a uns 7 mil kl daqui. De barco fica mais perto mas toma mais tempo e sempre há os perigos do enjoo...
• E como do Brasil vem sempre boas temperaturas, Alegre teve uma ideia genial: montar um Fórum Social à Portuguesa (FSP), decalcado do modelo de Porto Alegre, pois mesmo que seja um fiasco esse milhão irmanado sempre é muita gente e as multidões ou as massas são sempre empurradas para onde o vento soprar. Ou seja, não pensam, e se não pensam é porque estão alienadas. Daí poderá, portanto, e segundo os meus modestos cálculos, resultar a seguinte deriva discursiva "alegriana": temos de abater a globalização predatória de que nos falava o velho Richard Falk, desancar nos partidos políticos, especialmente no PS que não apoiou Alegre, e, quanto o antes, desgastar Sócrates até o fazer completamente cair... e meter Portugal na agenda do mundo. Um pouco como os Forúns de Davos, na Suiça, só que desta vez é um Davos à la carte de Manuel Alegre e vocacionado para os pobrezinhos – que são os 10 milhões de tugas. SE quisermos simplificar, diremos: o Alegre quer dinamizar um partido sem partido, uma espécie do movimento dos mudos do mundo, um partido dos sem-terra e, para esse feito, terá de eliminar os partidos políticos portugueses, verdadeira causa de Alegre não ter ido à 2ª volta e, aí sim – limpar as eleições a Cavaco e entronizar-se PR. Eis o esquema mental de Alegre. Eis o poder de um homem revoltado, ressentido e que agora se irá vingar não de Soares (que já está "morto" politicamente) mas de Sócrates que ainda anda de canadiana para inglês, e de quando em vez esquece-se da fita e começa a andar normalmente. Enfim, a política também destas coisas para gerar compaixão nos tugas e, assim, amolecer e moldar os espíritos a receber melhor os impactos terríveis do aumento galopante dos impostos do Pinóquio que nos (des)governa... Nem que a vaca tussa... E Alegre tosse muito!!!

• Basta pôr a Lena Roseta a organizar a maralha que tudo se resolve. Causas cívicas é com ela. Ela tudo pode, desde os có-cós dos cãezinhos que conspurcam as ruas de Campo d' Ourique e de Benfica até ao combate à corrupção e ao compadrio na alta esfera do Estado (CGD e afins); depois a senhora é muito amiga dos pobres, pobrezinhos e ranhosos e também dos inválidos e do Banco Alimentar contra a Fome: tudo coisas louváveis. Portanto, a Roseta parece-me uma personagem acertadíssima. Também já mudou várias vezes de partido nesta ciclotimia da política. Porque esta, a política, mais parece uma meretriz em fim de estação e em busca de novas utopias e distopias... entre outras pias! Até por causa do aborto, da paisagem urbana agredida pelo betão, dos cogumelos pisados no Parque Eduardo VII frequentado pelas Catherines Deneuve transportadas em Jaguar discretos... e de mais uns quantos interesses regionalizados que urge combater e que só ela, Roseta do PSD, perdão, do PS, poderá erradicar em pleno Fórum Social Português... a realizar em Belém ou num qualquer armazém do Carregado a caminho de Aveiras e de Santarém.

• Portanto, julgo que está explicada a ideia do milhão de "dólares" de Alegre, pedindo nós desde já aqui as nossas desculpas por nos termos enganado, pois chegámos a pensar que o movimento cívico se orientasse mais para combater a campanha de publicidade da Galp que promete aquelas brasas aos utentes e depois não cumpre e leva as botijas meias de gás... Enfim, um esbulho.
• Portanto, o esquema é este: o pano de fundo é a globalização predatória personificada pelos partidos políticos mafiosos porque não o apoiaram; o actor a abater será Sócrates; e Alegre será o "sniper" de serviço. E o milhão, a assistir nas plateias meio alienado meio a dormir, aplaude porque todas as multidões sempre gostaram de ver sangue, mesmo na política em que o voyeurismo é a palavra de ordem e a conduta clássica. Importa não pensar, urge a agir – eis o lema deste movimento pan-cívico que parece até já granjeou o apoio de D. Duarte Pia de Bragança e Vale do Tejo.

• Será que as utopias d'hoje serão sempre as verdades de amanhã!?, como diria o grande Victor Hugo (digam com sotaque, please).

 
At 30 de janeiro de 2006 às 15:48, Anonymous Anónimo said...

Reunião em Lisboa marca arranque de movimento de cidadania aberto e plural
Contrato Presidencial de Manuel Alegre será a base do Movimento


“Este movimento não é convertível num partido político”, afirmou Manuel Alegre ontem, na reunião que reuniu em Lisboa a Comissão Política, os mandatários e os coordenadores da sua candidatura à Presidência da República. Depois de ter feito uma breve análise dos resultados, salientando o resultado histórico alcançado, “mesmo nas condições de grande desigualdade de meios e de comunicação” com que foi travado, Manuel Alegre reiterou que o movimento de cidadãos que pode resultar desta candidatura “não se deverá constituir em partido político nem interferir na vida interna de nenhum partido”.

Da reunião, que foi muito participada, resultou a decisão unânime de constituir um movimento de cidadãos, nacional, transversal, aberto, plural, sem estruturas nem hierarquias rígidas, que terá um programa de intervenção cívica baseado nas grandes causas e temas do Contrato Presidencial de Manuel Alegre. Também foi decidido que nesta fase inicial o movimento será provisoriamente coordenado por Ana Sara Brito, devendo manter-se aberto a quem queira participar, incluindo a eventuais militantes ou filiados em qualquer partido político.
No final da reunião, Alegre afirmou aos jornalistas que este movimento “não é convertível num partido político” nem se vai “projectar ou intervir na vida interna de qualquer partido.” Como temas e causas a desenvolver pelo movimento, Manuel Alegre citou a justiça, a defesa da língua portuguesa, a desertificação do território e a igualdade de género.
Interrogado pelos jornalistas sobre se se iria manter na Assembleia da República, Alegre esclareceu que esse tema foi bastante discutido na reunião, tendo havido uma maioria de pessoas que se pronunciaram a favor da sua continuidade como deputado, mas acrescentou: “É um decisão pessoal que em devido tempo tomarei”.

 

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