UM ANO DIFÍCIL
2006 - um ano difícil
O novo ano seguirá com toda a probabilidade a trajectória dos mais recentes: perda de competitividade e desemprego.
No início de um novo ano seria bom que pudéssemos olhar para o futuro com confiança e optimismo. Infelizmente, a realidade da situação económica portuguesa não o permite. O ano que agora começa seguirá com toda a probabilidade a trajectória dos mais recentes: crescimento económico medíocre, baixos índices de investimento produtivo, perda de competitividade e desemprego. Resta-nos apenas a esperança de que apareçam – provavelmente de surpresa – iniciativas empresariais de relevo, que, à revelia da estratégia governamental para a economia, permitam criar valor e relançar as exportações.
O problema essencial da falta de dinamismo da nossa economia está na sistemática perda de competitividade que se vai acumulando inexoravelmente, ano após ano, como se fosse uma fatalidade. Desde há pelo menos uma década que Portugal vive uma situação muito artificial em que a actividade económica se vai orientando cada vez mais para um mercado interno que se aproxima da exaustão. As facilidades de financiamento externo de que o País continua a beneficiar deveriam ter-nos permitido investir para ganhar eficiência, subir de patamar na sofisticação da nossa indústria, conquistar novos mercados e criar riqueza de forma sustentável. Em lugar disso, o País continua a consumir excessivamente, a investir de forma ineficiente e a optar por obras de grande luxo, que nem muitos dos países mais ricos sonham em concretizar. Ao optar por canalizar os seus recursos desta forma, Portugal está a descriminar contra os sectores exportadores ou abertos à concorrência externa, cuja sobrevivência é cada dia mais questionável. E entra-se aqui num círculo vicioso perigosíssimo: a própria deterioração da economia dos sectores abertos à concorrência externa afasta o interesse dos empresários e portanto o investimento; mas sem esse interesse e esse investimento a agonia do sector torna-se mais imediata e mais inexorável.
A crise económica não é por enquanto mais profunda porque muitas actividades orientadas para o mercado interno, protegidas da concorrência pelo proteccionismo, pela regulação ou pela natureza do negócio, têm continuado a singrar. Mas, à medida que o declínio da outra metade da economia se vai acentuando, o mercado interno vai-se reduzindo e mesmo as actividades protegidas entram em inevitável crise.
Perante esta situação pode responder-se de duas maneiras: uma – a dominante na actuação do actual governo – consiste em continuar a recorrer a balões de oxigénio para estimular despesa e criar mercado para actividades domésticas; a outra, muito mais difícil e exigente, consiste em continuar a combater o despesismo interno e forçar toda a actividade económica a orientar-se para o mercado externo, em condições de concorrência aberta e numa busca permanente de competitividade. Como é óbvio, só uma destas escolhas pode dar resultados duradouros e substanciais. Não é a mais fácil nem a de resultados imediatos. Mas para um governo responsável, com maioria absoluta e um horizonte de quatro anos, a escolha deveria ser evidente.
Enquanto o País inteiro não se aperceber do carácter dramático do nosso declínio persistente, continuaremos a viver na ambiguidade das opções artificiais, à espera que algum milagre altere a situação. Para empresários e investidores, cada vez vale mais a pena optar pelo estrangeiro e tentar encontrar noutros países e noutros mercados as oportunidades que faltam em Portugal.
Noutras ocasiões de grande crise, até bem mais aguda nas suas consequências, foi possível ultrapassar as dificuldades graças a novas iniciativas e novos projectos que alguns empresários conseguiram lançar com êxito, quando nada indicava que o sucesso fosse possível. O mesmo, seguramente, se passará mais cedo ou mais tarde, nesta nova fase da vida económica portuguesa. Seremos, certamente, surpreendidos por essas iniciativas, que surgirão provavelmente donde menos se espera.
Para que esses projectos se concretizem e possam singrar, teremos que esperar que o Governo tenha a lucidez suficiente para se afastar do caminho desses empreendedores, deixar de reclamar protagonismo e limitar-se a gerir bem os recursos ao seu dispor. O melhor que podemos esperar neste início de um novo ano é que o Governo deixe de ser um obstáculo à iniciativa empresarial e à dinâmica da iniciativa privada, competitiva e orientada para o exterior.
António Borges
O novo ano seguirá com toda a probabilidade a trajectória dos mais recentes: perda de competitividade e desemprego.
No início de um novo ano seria bom que pudéssemos olhar para o futuro com confiança e optimismo. Infelizmente, a realidade da situação económica portuguesa não o permite. O ano que agora começa seguirá com toda a probabilidade a trajectória dos mais recentes: crescimento económico medíocre, baixos índices de investimento produtivo, perda de competitividade e desemprego. Resta-nos apenas a esperança de que apareçam – provavelmente de surpresa – iniciativas empresariais de relevo, que, à revelia da estratégia governamental para a economia, permitam criar valor e relançar as exportações.
O problema essencial da falta de dinamismo da nossa economia está na sistemática perda de competitividade que se vai acumulando inexoravelmente, ano após ano, como se fosse uma fatalidade. Desde há pelo menos uma década que Portugal vive uma situação muito artificial em que a actividade económica se vai orientando cada vez mais para um mercado interno que se aproxima da exaustão. As facilidades de financiamento externo de que o País continua a beneficiar deveriam ter-nos permitido investir para ganhar eficiência, subir de patamar na sofisticação da nossa indústria, conquistar novos mercados e criar riqueza de forma sustentável. Em lugar disso, o País continua a consumir excessivamente, a investir de forma ineficiente e a optar por obras de grande luxo, que nem muitos dos países mais ricos sonham em concretizar. Ao optar por canalizar os seus recursos desta forma, Portugal está a descriminar contra os sectores exportadores ou abertos à concorrência externa, cuja sobrevivência é cada dia mais questionável. E entra-se aqui num círculo vicioso perigosíssimo: a própria deterioração da economia dos sectores abertos à concorrência externa afasta o interesse dos empresários e portanto o investimento; mas sem esse interesse e esse investimento a agonia do sector torna-se mais imediata e mais inexorável.
A crise económica não é por enquanto mais profunda porque muitas actividades orientadas para o mercado interno, protegidas da concorrência pelo proteccionismo, pela regulação ou pela natureza do negócio, têm continuado a singrar. Mas, à medida que o declínio da outra metade da economia se vai acentuando, o mercado interno vai-se reduzindo e mesmo as actividades protegidas entram em inevitável crise.
Perante esta situação pode responder-se de duas maneiras: uma – a dominante na actuação do actual governo – consiste em continuar a recorrer a balões de oxigénio para estimular despesa e criar mercado para actividades domésticas; a outra, muito mais difícil e exigente, consiste em continuar a combater o despesismo interno e forçar toda a actividade económica a orientar-se para o mercado externo, em condições de concorrência aberta e numa busca permanente de competitividade. Como é óbvio, só uma destas escolhas pode dar resultados duradouros e substanciais. Não é a mais fácil nem a de resultados imediatos. Mas para um governo responsável, com maioria absoluta e um horizonte de quatro anos, a escolha deveria ser evidente.
Enquanto o País inteiro não se aperceber do carácter dramático do nosso declínio persistente, continuaremos a viver na ambiguidade das opções artificiais, à espera que algum milagre altere a situação. Para empresários e investidores, cada vez vale mais a pena optar pelo estrangeiro e tentar encontrar noutros países e noutros mercados as oportunidades que faltam em Portugal.
Noutras ocasiões de grande crise, até bem mais aguda nas suas consequências, foi possível ultrapassar as dificuldades graças a novas iniciativas e novos projectos que alguns empresários conseguiram lançar com êxito, quando nada indicava que o sucesso fosse possível. O mesmo, seguramente, se passará mais cedo ou mais tarde, nesta nova fase da vida económica portuguesa. Seremos, certamente, surpreendidos por essas iniciativas, que surgirão provavelmente donde menos se espera.
Para que esses projectos se concretizem e possam singrar, teremos que esperar que o Governo tenha a lucidez suficiente para se afastar do caminho desses empreendedores, deixar de reclamar protagonismo e limitar-se a gerir bem os recursos ao seu dispor. O melhor que podemos esperar neste início de um novo ano é que o Governo deixe de ser um obstáculo à iniciativa empresarial e à dinâmica da iniciativa privada, competitiva e orientada para o exterior.
António Borges
4 Comments:
Que é que podemos esperar de 2006, em termos económicos? Creio que, felizmente, já começa a estar suficientemente generalizada na sociedade portuguesa a percepção de que não haverá tão cedo condições para que a economia portuguesa atinja de forma sustentável ritmos de crescimento elevados e, consequentemente, aumentos significativos do nível de vida.
Demorou mais tempo do que seria necessário conscencializar esta realidade. Muito, diga-se de passagem, por culpa dos governos anteriores que foram anunciando sistematicamente sem qualquer base e com uma miopia que parece quase incrível que « a retoma estava aí». A consequência desta atitude, no mínimo bizarra, mas certamente irresponsável é que foi muito mais penoso do que deveria ter sido o acordar da sociedade portuguesa para esta difícil realidade. Daí que, com o acordar, se tenha criado um clima de pessimismo generalizado, para o qual também não há justificação objectiva, mas que é sempre o resultado de ilusões desfeitas. Porém, à medida que as pessoas começam a verificar que a situação económica portuguesa vai exigir um esforço continuado, tenho a esperança que os portugueses se apercebam que foram iludidos - e que se deixaram iludir - e que é a altura de voltar a acreditar em valores essenciais, como seja a ideia de esforço colectivo, que foram aqueles que, no fundo, fizeram da experiência histórica portuguesa um caso único na cena mundial. Esses valores estão nos antípodas daquilo que os Portugueses forma levados a pensar na última década e meia e permitem lembrar o seguinte:
a) há fases boas e más na evolução da economia e quando se está numa fase má em que são necessários ajustamentos, por vezes penosos, a sociedade não pode assumir a posição de uma criança mimada, rejeitando qualquer sacrifício que seja necessário fazer. Se o envelhecimento da população é um facto e um facto que sucede a ritmo acelerado, é uma criancice irresponsável pensar que tudo pode ficar na mesma na segurança social. Os líderes de opinião que incentivem a sociedade a voltar as costas à realidade, neste como em outros exemplos, assumem uma pesadíssima responsabilidade histórica.
b) quando a situação da concorrência internacional se revoluciona como se tem revolucionado nos últimos tempos, não vale a pena esperar que o governo possa proteger o país de impactes negativos no emprego e na produção de alguns sectores que não podem aguentar o ritmo. O que se pode e deve exigir ao governo é que actue no sentido de forjar alternativas e que vá ao essencial dos problemas, mas não se pode esperar que o governo tenha poderes para evitar situações sectoriais difíceis (mesmo que ao governo interesse fingir que tem poderes de que, na realidade não dispõe).
c) não é a União Europeia que nos vai amparar neste novo mundo que se está a criar. O esforço de reformulação da nossa economia, necessário para que possamos de novo progredir tem de ser nosso, não se fará sem sacrifícios e a União Europeia não mexerá uma palha (nem lhe compete fazê-lo) para nos substituir naquilo que só nós podemos fazer. Não são os fundos estruturais que nos resolverão o problema e nem sequer vale muito a pena focar a atenção neles.
Ou seja, a sociedade portuguesa tem de novo aprender a ser adulta, depois de uma já longa fase em que se deixou infantilizar. Se o fizer, conseguirá de novo progredir. Parafraseando Churchill, em termos económicos, só podemos esperar de 2006 suor e lágrimas. Sangue, felizmente não está no horizonte.
De que madeira teria sido feito Pinóquio? Sim, Pinóquio, o velho, mentiroso, mas igualmente famoso boneco atribuído a Gepetto foi feito de madeira.
Como todos se lembram. E que madeira seria essa que continha o gene da mentira? Só Gepetto, o segundo mais famoso dos carpinteiros famosos teria a resposta e … já não está entre nós.
E o que terá Pinóquio que ver com a economia. Só tem. É que, não existindo, salvo por obra de seu escultor, não só fez deste o segundo carpinteiro mais conhecido do Mundo, como originou uma série interminável de produtos de ‘merchandising’ que, para nada servindo, são de consumo obrigatório.
Contava-me um amigo a história de dois conhecidos que se encontram, em plena bolha da economia virtual. O primeiro, impecavelmente vestido, corretor de bolsa, perguntava ao segundo, algo andrajoso, que segurava um cão pela trela: ”Diz-me cá o que fazes? ”Estou na economia virtual”, respondeu o segundo. ”Como assim?”, volveu o primeiro desconfiado. ”Vendo este cão por um milhão de dólares”, disse o andrajoso com um ar convincente. O primeiro partiu incrédulo. No dia seguinte voltam a encontrar-se e o andrajoso assim continuava mas tinha, agora, dois belos gatos. ”Então, já vendeste o cão?” - perguntou o primeiro. ”Já, pelo milhão de dólares”- respondeu o andrajoso. ”Não me digas”. Pagaram-me com estes dois gatos de quinhentos mil dólares cada”
Ora a economia real, inexistente na história do cão e do andrajoso, é como os genes de Pinóquio ou de outro qualquer boneco, com ainda outro qualquer papel na história da economia. Não sei se as madeiras têm genes. Penso que não. Sei que há variantes de Pinóquio um pouco por todo o lado e muitas delas, um pouco pela importância que os seus carpinteiros têm, vão fazendo miséria por onde passam, mentindo sempre e a cada momento.
Há quem me garanta que Pinóquio era de Pau Santo. Não creio. Basta o Pau ser Santo para que os seus genes não permitam que qualquer boneco dele saído minta. Há quem me afiance que é de Pau Rosa. Estaria de moda, mas não parece ser credível. O Pau Rosa vai sendo raro. No meio destas interrogações o mesmo amigo que contava a história do cão e do andrajoso perguntou:
- ”Que importa qual a madeira com que Pinóquio foi feito? O que importa, ao menos para a economia, é saber que existem pinóquios. O pagode fica contente, os jornais escrevem que se venderam mais não sei quantos pinóquios, luzinhas com pinóquios, notas de monopólio com pinóquios, fichas de casino com pinóquios, auto-estradas com portageiros pinóquios e por aí adiante. Quem é que quer saber quantos pinóquios se venderam? E para quem foi o dinheiro da venda? E quantos empregos se criaram nas carpintarias que fazem as réplicas do Pinóquio? E que lucros são reinvestidos no país do Pinóquio? O que é importante não é o Pinóquio, tal como nos é apresentado, ser uma total e enorme mentira? O que é importante não é explicar às pessoas que por detrás do Pinóquio que nos é vendido há muito mais do que qualquer um de nós imagina? Quem é que quer saber se o Pinóquio, para além de não ser feito de madeira nobre, é feito de aparas? Desde que as aparas sejam bem prensadas e depois de bem pintado e apresentado na devida conferência de imprensa, o nosso pinóquio tem ou não o mesmo aspecto que um seu irmão de Pau Santo ou Pau Rosa? O que importa não é, nos dias de hoje, o que parece? Há, na economia real, alguma coisa que seja o que parece? Então porque estamos tão ocupados na discussão sobre se o gene que faz o Pinóquio mentir é o que lhe vem de pau nobre ou apenas e só de uma simples apara de um qualquer pinho?
Pedi desculpa e dei razão ao meu amigo. Uma discussão só faz sentido quando temos intervenção no desfecho do assunto em debate. Ora, se o dono da carpintaria já há muito está de acordo com o carpinteiro, que por sua vez já falou com os financiadores para a aquisição da madeira, criação do Pinóquio e venda do dito cujo e se, por fim, já encontraram um comprador que se dispõe a colaborar na farsa a apresentar ao mercado, o que importa se o gene da mentira que Pinóquio transporta é de madeira mais ou menos nobre? Ou melhor, porque é que o gene da mentira só faz crescer o nariz ao Pinóquio
Ano novo, vida nova», reza o ditado. No caso de 2006, e em termos económicos globais, bem se pode dizer «Ano novo... vida pior?».
Na verdade, dificilmente a economia mundial registará, em 2006, o crescimento superior a 4.5% de 2004 e 2005. E, no entanto, apesar deste período recente de forte crescimento, nunca registado em dois anos consecutivos desde 1970, raramente o mundo se apresentou tão frágil em termos económicos.
Desde logo, o preço do barril de petróleo continua a níveis reais que mais do que dobram os valores médios desde os anos 80 e as taxas de juro, quer de curto prazo, quer de longo prazo, mantêm-se, em geral, a níveis historicamente baixos.
Ao mesmo tempo, a poupança nos EUA encontra-se a níveis mínimos de sempre, e os défices externo e público - os chamados «défices gémeos» - com registos bem altos. Para mais, o mercado imobiliário ampliou, em 2005, o «boom» que já vinha sendo registado em anos anteriores (ver figura) - o mesmo sucedendo, também, aliás, num número invulgarmente elevado de países, de que se destacam o Reino Unido, a França, a Espanha, a Itália, a Austrália, a Nova Zelândia, a Bélgica, a Suécia, a Dinamarca, ou a Irlanda, por exemplo. Assim, o valor dos activos imobiliários a nível global elevou-se de tal forma que pode ser considerado a maior bolha especulativa da história. Como é bom de ver, uma economia mundial que assenta neste tipo de desequilíbrios torna-se extremamente vulnerável a quaisquer tipos de acontecimentos imprevistos.
Tome-se a evolução recente do barril de petróleo, por exemplo. Com a procura de petróleo a continuar forte - o dinamismo que se continua a antever para os gigantes asiáticos China e Índia, apesar do ligeiro abrandamento previsto, muito para isso tem contribuído -, e a capacidade de produção e de refinação a não dar mostras de acompanhar esta tendência, os preços poderão continuar elevados em 2006. Ora, relativamente ao final de 2001, o preço médio do petróleo em 2005 mais do que triplicou (ver figura), uma escalada que só encontra paralelo nos choques de 1973-74, 1978-80 e 1989-90 - períodos a seguir aos quais sempre se seguiu uma recessão global. Até agora, tal ainda não sucedeu porque a subida do preço do petróleo tem sido compensada pelas já referidas baixas taxas de juro em muitos países, com benefício para o mercado imobiliário (isto é, para a «bolha» imobiliária) e para o consumo das famílias. O exemplo norte-americano é elucidativo desta realidade. Em 2005, estima-se que a conta petrolífera dos EUA tenha aumentado cerca de USD 120 mil milhões; no entanto, o que é isso, comparado com a subida de USD 2.5 biliões no valor do mercado habitacional?! Desde 2001, de acordo com a revista «The Economist», cerca de metade dos empregos criados no sector privado norte-americano estão relacionados com o mercado imobiliário, e uma larga fatia do consumo das famílias foi financiada por empréstimos contra ganhos neste mercado. Obviamente, se os preços do imobiliário começarem a cair, ou até mesmo se deixarem apenas de se valorizar, estaremos em presença de um enorme problema. E se acontecer uma nova escalada dos preços do crude, então a confiança poderá ser ainda mais abalada, com reflexos muito penalizadores sobre a economia real.
A realidade global de hoje, em que predominam baixas taxas de juro (nos EUA, mesmo com as recentes subidas, a taxa de referência Fed Funds continua ainda bem mais baixa do que a média dos últimos 20 anos, por exemplo), e temos altos preços do petróleo e do imobiliário, diverge da dos anos 70 (quando a inflação disparou), para o que muito contribuiu a progressiva entrada da numerosa força de trabalho chinesa na economia mundial, que tem ajudado a controlar a evolução dos salários. Mas, mesmo assim, a inflação tem vindo, em geral, a aumentar - logo, se a bolha imobiliária rebenta e o consumo das famílias se retrai, os bancos centrais poderão não ter grande espaço de manobra para agir como em 2001-2002, quando, depois da bolha especulativa nos mercados accionistas ter eclodido, a descida agressiva das taxas de juro ajudou a prevenir uma recessão. Só que, na altura, a inflação estava em queda, e hoje... não está. E para tornar as coisas ainda piores, não é só nos EUA que se regista um grande défice das contas públicas (quem não se lembra dos problemas de Alemanha, França e Itália, por exemplo, relativamente ao Pacto de Estabilidade?) - pelo que a capacidade de estimular a economia pela via fiscal parece ser pequena.
Chegados a este ponto, pergunta-se: e factores positivos? Bom, o leitor deve ter notado que da lista atrás apresentada dos países com maior bolha especulativa no mercado imobiliário não constam nem o Japão nem a Alemanha - a segunda e terceira economias mundiais, respectivamente -, cujo crescimento económico não foi, nos últimos anos, induzido por este mercado. O que os tornou menos vulneráveis a uma deterioração da confiança dos consumidores. O problema é que estas duas economias não têm revelado um dinamismo capaz de «puxar» o crescimento global... ainda que o Japão, depois de quase 10 anos de grandes dificuldades, parece ter melhorado de «saúde», e de forma sustentada. E que, na Alemanha, o sector privado - empresas e trabalhadores - esteja a tentar tornar a economia mais competitiva (o que obriga a sacrificar algumas regalias agora - concorrência do leste europeu, a quanto obrigas!...) o que, pelo menos a médio prazo, deve proporcionar resultados positivos ao nível do investimento e da criação de emprego. No entanto, pode ser ainda cedo para contarmos com ambos já em 2006... pelo que, se a confiança dos consumidores norte-americanos não cair e o preço do petróleo, pelo menos, não subir, a economia global poderá registar, em 2006, um soft landing. No caso contrário, um hard landing é o cenário mais provável, dada a já referida fragilidade dos fundamentals.
E nós? Bom, se a este cenário tão frágil a nível global somarmos os nossos problemas estruturais (endividamento dos agentes e fraca competitividade em áreas fulcrais como a qualificação dos recursos humanos, a fiscalidade, a legislação laboral, ou a burocracia do ambiente empresarial e do sistema judicial), logo se vê que a situação não irá continuar famosa... isto é, depois de uma estagnação virtual em 2005, outra (ou perto disso) em 2006 não pode ser descartada, com uma (infelizmente) certa subida do desemprego, para níveis a que desde há quase 20 anos não estamos habituados. Claro que a questão da redução do défice público continuará na ordem do dia, tal como a concretização (ou não) de um conjunto de reformas que o Governo deu mostras de querer realizar na esfera pública. Impopulares, mas muito necessárias. Veremos se haverá coragem para as passar à prática...
Termino formulando votos para que o Executivo possa conferir à competitividade fiscal a importância que ela merece: fulcral para, em conjunto com acções a empreender em áreas acima apontadas, poder melhorar a competitividade global da nossa economia.
Só assim a política económica não será amputada de uma vertente fundamental e serão de facto proporcionadas condições aos agentes para voltarmos a criar riqueza a um ritmo que nos permita voltar a melhorar o nosso nível de vida face à Europa - o que já não acontece desde 1999 (!)...
Um feliz ano de 2006 para todos, e que os maiores riscos atrás apontados não se concretizem, são os meus mais sinceros votos.
Depois do jogos de espelhos do Natal e Ano Novo sobrevem novamente a realidade, com os seus espinhos aguçados como se fossem espadas de damôcles apontadas às nossas cabeças, para aqueles que (ainda) as têm, naturalmente.
Hóteis cheios, consumo em larga escala, hipermercados a abarrotar - e a arrotar - muita poluição de carros potentes, misturada com o smog da época. Discotecas povoadas de perfume e futilidade. É certo que os campos já não produzem trigo, milho ou tomate como outrora; as nossas vacas leiteiras estão cada vez mais cadavéricas, e a qualidade do leite da teta diminuiu drásticamente; é certo que os soutiens chineses inundaram os nossos mercados; a nossa indústria é uma sombra do que foi, e como nunca foi coisa alguma - hoje - com a meretriz da globalização - ainda está pior; os serviços, a ajuizar pela capacidade hoteleira de Alberto J. jardim na Madeira, é que estão de vento em poupa. Jardim é o máximo, e Portugal deveria colher nas ilhas os fundamentos da sua riqueza e transpôr para o "contenente" as maravilhas e a capacidade de gestão económica e política do amigo Al berto. O mesmo que já chama Cavaco de Sr. Silva... Se a vergonha matasse, o sr. Al v~berto já estaria defunto hà centúrias. By the way, será que ele já concluiu o curso de direito???
Ora daqui decorre uma coisa simples: a crise não existe; ela é (só) psicológica, ou "psicólica", como diria um amigo meu que já partiu.
Então qual é a receita para o Ano Novo que aí está? Julgo que deveremos fazer alguma coisinha para desenvolver a já nossa grande porsperidade, dado que a crise é só aparente. E isso faz-se como um expediente: a visualização criativa - que permite compreender que o universo é todo ele abundância, e que a vida está, de facto, a tentar dar-nos tudo aquilo que desejamos do fundo do nosso coração. E aqui não cabem falácias como meio milhão de desempregados; um PIB microscópico; uma agricultura e uma indústrias ausentes; hoje, ao invés, temos mais sol porque chove menos; temos também mais PC ligados em rede, o que só nos agrava as contas da net ao fim do mês - que serve para tapar o buracos das empresas fornecedoras que estão quase em estado de insolvência.
Tudo o que efectivamente precisamos ou desejamos - conseguimos obter em Portugal. Tudo isto está à nossa disposição; só precisamos é de acreditar, de desejar sinceramente e de querer aceitar toda essa abundância.
E se não conseguimos sucessos imediatos tal decorre da nossa mentalidade comezinha, dos nossos esquemas mentais limitados.
Portugal é, hoje, uma terra de oportunidades e de riqueza por distribuir. Eis a postura, doravante, que cada um de nós deverá ter face à vida.
Pois há que chegue para todos
É certo que a vida também é sofrimento
E é imoral alguns (poucos) possuirem muito quando os outros nada têm
A vida é dura, perene, um vale de lágrimas
É preciso trabalhar e sacrificarmo-nos a fim de obter o que se pretende
Assim como assim - é mais louvável e nobre ser-se pobre...
Quem disse que estávamos em crise? Qual crise? Portugal é um país de gente rica, e espírito é coisa que não nos falta...
Mesmo quando vamos gatinhar para a neve e nos enterramos branco adentro, a coisa primeira que temos a fazer é levantarmo-nos. E se fôr possível dar uma conferência de imprensa para suscitar compaixão nacional - tanto melhor (isso amolece os espíritos), mesmo que em andamento, ainda que coxos.
E se não tivermos coxos, ou soubermos andar de ski ou sku - só temos de simular, de representar. Afinal, o que é a vida - senão pôr em marcha esse jogo de espelhos - em que nuns dias falamos do prazer; noutros evocamos a realidade.
Umas vezes acordamos com a Catarina Furtado na cama; outras com o José Luís Goucha a fazer puré com natas. Outras ainda adormecemos com o Freud à cabeceira. E isso ainda é o que nos vale, livrando-nos da loucura a que os tempos presentes nos encaminham.
Afinal, que Portugal é este? Onde está a crise? qual crise?!
Por mim, acho que inventamos todas essas moléstias a respeito da económia, das finanças públicas e dos seus números que atravancam a sociedade - só porque estamos cada vez mais homofóbicos, logo cada vez mais fechados sobre nós próprios por causa da angústia da morte. Da morte e dos mundos imagéticos que deixamos de poder contar nem exorcizar quando, um dia, percebermos que Portugal é um país rico, tremendamente rico!!
Quando isso suceder, muito provavelmente os idosos de 90 anos já todos viram as maravilhas do H. Potter, e a utilizar a magia que depois passa a estar ao alcance de todos.
"Resumando e concluando" - : Portugal já não é um país pobre nem fechado sobre si próprio. Portugal está hoje ao alcance do nosso imaginário - infantil, juvenil e senior - o que significa, por outras palavras, que todos nós devemos cultivar um pensamento mágico que nos coloque num tal patamar de fantástico que nos dispense dos conflitos do costume.
Crise, qual crise?
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