terça-feira, 27 de dezembro de 2005

TODOS FICÁMOS DESCANSADOS

O risco e a incerteza

Na sua simpática mensagem de Natal, José Sócrates sossegou os portugueses.

Segundo o seu discurso de ama, a mudança já começou. Finalmente começou.
Todos ficámos descansados.
Há, claro, quem sinta na pele a mudança.
Outros, obviamente, notam-na no final do mês quando pagam as contas, e também a sentem.
Há, claramente, uma diferença entre aquilo que Sócrates sonha, a mudança, e aquilo que se vislumbra, a imobilidade.
Basta olhar para a Autoeuropa: o país treme com a perspectiva de fecho da fábrica.
Mas o que é que se faz para criar, desde já, uma alternativa a essa possibilidade real: seja daqui a cinco dias ou a cinco anos?
Há quem chame mudança a um conjunto de palavras cuja soma é igual a zero. É o que faz Sócrates.
O Governo trata este problema como se ele fosse um fantasma.
Sócrates começa a assemelhar-se a um ghostbuster falhado. Frank Knight, dizia que havia uma diferença entre o risco e a incerteza.
O risco era algo que se poderia calcular: a possibilidade de se perder na roleta.
A incerteza tinha a ver com as hipóteses de sucesso ou falhanço serem incalculáveis.
Isto é: alguém jogar à roleta e, depois de vencer, ser assaltado à saída do casino. Sócrates joga com a incerteza. E diz que isso é, apenas, um risco.

Fernando Sobral

17 Comments:

At 27 de dezembro de 2005 às 15:10, Anonymous Anónimo said...

Trabalha três anos na construção e manutenção de um estádio de futebol, numa empresa subcontratada por um clube de Lisboa. Sem contrato de trabalho, sem pagar impostos, sem descontar para a Segurança Social. É dispensado, vai para casa. Sem indemnização nem fundo de desemprego.
Meses depois, consegue trabalho mas de novo sem contrato. Vai para as obras. Cai de um andaime, de um terceiro andar, estatela-se no chão. Ambulância? Não, o construtor não pode comprometer-se. Monte-se o ferido na «caixa aberta» e siga para o hospital. «Acidente doméstico». De novo em casa, agora fracturado, sem trabalho, sem baixa, sem subsídio.

Esta história é real. Tão real que todos a conhecemos, ou conhecemos quem a conhece.

Imigrantes sem existência fiscal, gente fora do sistema. Ao contrário dos contribuintes que estão fora do sistema por convicção – enquanto não entrarem não serão apanhados –, estes imigrantes estão fora do sistema porque não conseguem entrar. Ninguém os legaliza. Mesmo os que lhes dão trabalho não lhes dão emprego. Porque sai mais barato. Pelo menos 23,75% mais barato.

A situação é abundante. Abunda na imigração maioritária em Portugal – a com origem nas ex-colónias – e na que mais cresceu nos últimos anos – a proveniente do leste europeu. Segundo um estudo publicado pelo INE, um quarto dos imigrantes de leste não tem vínculo laboral nem desconta para a Segurança Social. Quase um terço não tinha, até 2002, pago impostos.

É a economia paralela a carburar. Só que aqui os danos não são apenas económicos, de distorção da concorrência, de fraude fiscal, de «dumping» social. Os danos são sociais. A ironia é que é exactamente através da economia que estes problemas sociais devem começar por ser atacados.

Porque há dúvidas quanto à eficácia das leis de imigração mas não há divergências no tratamento contratual a dar a todos os trabalhadores. É por isso que antes dos riscos das cisões sociais, dos medos de grupos incendiários e de arrastões virtuais, da falácia do «nós» e do «eles», dos guetos dos pobres e dos guetos dos ricos, da elevada discussão sobre a posição da esquerda e da direita política, há – antes de tudo – a questão legal.

Não pode ser uma questão moral, tem de ser uma questão legal. Se for moral, não existe. Se for legal, existe se houver fiscalização e penalizações duras.

O incumprimento é imposto pelo lado mais forte da relação contratual: o empregador. As construtoras são as pior afamadas. Muitas respondem, entredentes, que não podem fazer mais. Que já lhes basta a caça fiscal que lhes encareceu os custos. Duas legalizações seria insuportável!

Foi para a construção civil e obras públicas (mas também turismo) que muitos dos novos imigrantes, sobrequalificados, vieram trabalhar. Vieram por dinheiro, aliciados por intermediários e porque havia procura. Não era bem a procura que queriam. Acabaram «nas chamadas profissões pesadas, sujas e mal pagas», como lhes chama o estudo. Acabaram explorados num País que enche o peito para dizer «bem-vindos». Bem-vindos à nossa vergonha de tolerarmos os facínoras. E isto não é uma posição política nem moral. É legal.

 
At 27 de dezembro de 2005 às 15:11, Anonymous Anónimo said...

Se não acontecer um milagre, 2006 será mais um ano de muitos sacrifícios e pouca prosperidade. Embalados pelo debate presidencial, alguns portugueses terão a ilusão de depositar na eleição do Presidente da República a solução para os males da pátria.
Por muito que o futuro Presidente seja um ouvidor ou coopere estrategicamente com o Governo, ele não salvará, por si só, o país. O Presidente da República e o Governo, apesar da sua importância, serão contribuintes de uma tarefa maior que deverá envolver uma pluralidade de energias e disponibilidades. Claro que se espera que o futuro Presidente seja um mobilizador e que o Governo se continue a assumir como um agente facilitador e pragmático. Mas há que esperar mais da sociedade civil e, sobretudo, dos agentes económicos. Os exemplos de empresários como Joe Berardo, Belmiro de Azevedo, Filipe de Botton e Américo Amorim, de banqueiros como António Horta Osório e Paulo Teixeira Pinto e de gestores como António Mexia, Vasco Mello, António Carrapatoso, João Marques Gonçalves, Luís Nazaré e Miguel Horta e Costa devem servir para definir o patamar de ambição e exigência do país. Haja, pois, esperança para 2006.

 
At 27 de dezembro de 2005 às 15:28, Anonymous Anónimo said...

TAMBÉM SOU UM HOMEM DE BOA-VONTADE
«E tenho a profunda esperança - tenho mesmo a certeza - de que, com a compreensão e a cooperação de todos os portugueses de boa-vontade, Portugal vai ser capaz de vencer as dificuldades e vai ter um futuro melhor. É para isso que estamos a trabalhar e a dar o melhor do nosso esforço.»

Mensagem de Natal do Primeiro-Ministro



Quando ouvi José Sócrates referir-se a homens de "boa-vontade" tive um sobressalto, pensei "não pode ser, o primeiro-ministro está a falar de mim …" ainda prestei atenção para ver se ele chegava a dizer o nome e apelido, mas não, ficou-se pela referência anónima. "Compreende-se" pensei cá com o meu fecho eclair, se o director-geral o palheiro é um modesto cidadão anónimo, o primeiro-ministro não lhe podia conhecer o nome e apelido

Mas que eu sou um modelo dos "homens de boa-vontade" referidos pelo primeiro-ministro, como uma classe especial de portugueses, lá disso não tenham úvidas, e já nem estou a pensar nas vontades a que a biologia nos obriga, ou deveria obrigar porque pelo que se vai ouvindo até neste capítulo os homens portugueses começam a ter pouca vontade.

Estou mortinho de vontade de mudar de carro, se pudesse também teria vontade de mudar de casa, tenho uma imensa vontade de dar algumas coisas aos filhos que não posso dar. E só estou a falar de vontades materiais, porque das espirituais nem imaginem, desde Cavaco a Sócrates, passando pelo ministro que faz de meu patrão, todos eles são alvos das minhas vontades espirituais.

Mas tive que concluir, que não, Sócrates usou a expressão do Evangelho própria desta quadra natalícia e de cima do seu altar queria dizer «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade». Provavelmente assistiu à Missa do Galo na Catedral de São Pedro, onde o papa Bento XVI referiu na sua homilia que o termo "homens de boa vontade" já não se usa; dizia o papa:

«No Evangelho, é anunciado aos pastores: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra…». Outrora lia-se: «…aos homens de boa vontade»; na nova tradução, diz-se: «…aos homens que Ele ama». Que significa esta mudança? Deixou de ter valor a boa vontade? Ponhamos melhor a questão: Quais são os homens que Deus ama e porque é que os ama? Porventura Deus é parcial?»

É curioso, quando Sócrates usou a expressão receei que o primeiro-ministro estivesse a distinguir os portugueses entre os de boa vontade e os outros. Mas o papa Bento XVI ajudou-me a entender as palavras de Sócrates. Bento XVI explica que os tais homens são almas simples disponíveis à palavra de Deus. Isto é, os portugueses de boa vontade são os portugueses simples disponíveis para as palavras de Sócrates.

Agora resta uma dúvida, qual a palavra de Sócrates? A do antigo testamento do programa eleitoral, ou a do novo testamento que lhe foi ditado pelo arcanjo Constâncio?

 
At 27 de dezembro de 2005 às 15:32, Anonymous Anónimo said...

Nos milagres possíveis,uns são especialistas nuns outros noutros. Não podemos pois desprezar nenhum dos interessados nos "milagres" que com Todo(a) podemos fazer.

Mary

 
At 27 de dezembro de 2005 às 16:35, Anonymous Anónimo said...

MITOS

Para A. Sauvy, os mitos são “ideias comumente recebidas, que desaparecem ao serem examinadas”(Site:http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S001152581998000300005&script=sci_arttext&tlng=pt), mas, quanto a mim há quase sempre algo de bom e verdadeiro nos mitos e nas lendas. Daí a grande importância de os/as estudar todos, nem de ter medo de tratar algumas verdades ainda indiscutíveis como mitos.
E, do mesmo site: “Da perspectiva do mito como "ideia falsa", a trilha mais fecunda é aquela que o toma como uma espécie de mistificação — uma burla, mais do que apenas um equívoco. A palavra traz à lembrança, em primeiro lugar, a publicidade comercial, (ou política... digo eu) que tem a mistificação por princípio. A instigação ao consumo ostentatório, o fetiche da inovação tecnológica (com a obsolescência programada dos bens de consumo pretensamente duráveis), a exaltação de certos padrões de juventude e beleza: em torno destes núcleos, o discurso publicitário constrói seus "mitos". E os constrói de forma científica, integrando aportes da psicologia, da sociologia e da semiótica, além das técnicas mais avançadas de pesquisa de opinião.”
Vejamos o “mito” da Atlântida e a “verdade” do Dilúvio, eventualmente englobados no mesmo fenómeno: 1) há vários milhares de anos existiu uma ilha no Atlântico com uma grande civilização... Mas, desagradaram a Poseidon (Neptuno, deus dos mares e das águas), e, este afundou-a no fundo do Oceano; 2) há 4 ou 5 mil anos, no médio Oriente, no tempo de Noé, os homens eram uns grandes pecadores, pelo que Deus mandou um dilúvio e morreram todos menos Noé e a sua família mais chegada. No primeiro caso acreditavam em mais do que um Deus, embora cressem num Deus supremo também, no caso dos romanos Zeus. No segundo caso criam num só Deus, mas depois havia os anjos, muitos anjos, e os Messias... Pelo que não vejo diferença. Ora, a verdade é que, mesmo que não tivessem existido nem Dilúvio nem Atlântida, ainda hoje há catástrofes naturais generalizadas, como foram, por exemplo, o Terramoto de 1755 em Portugal e o Tsunami de 2004 no Oriente, e, catástrofes pessoais naturais, como é o caso de uma queda grave de uma pessoa. Ora, uma queda, como uma catástrofe natural podem ter mais do que uma causa, descuido ou abuso individual ou colectivo, por exemplo, que é a mesma coisa que castigo Divino por algo de errado ou mau que fizemos, como, por exemplo, julgarmo-nos mais ou menos do que somos...



Eventualmente cometemos erros, mas, que interessa, se nos move a boa vontade e a justiça? Cansados ainda descansamos; descansados ainda acordamos; cansados ainda morremos, descansados ainda renascemos...

(Eventually we commit errs, but, what matters, if we are moved by good will and justice? Tired, we still rest; untired we still awake; tired we still die, untired we still rebirth...)

“If we did not find life difficult, beauty (or pleasure, say I) would not have the appeal it does” (john armstrong, in: “the secret power of beauty”)
Comment: what is to say: without pain we can’t have pleasure. But, I suspect that everybody tries the opposite, that is, to have a good life without pain! Why not to tell this clearly? Why not to tell one another the manner as we win or fail, in order to personal and general happiness?

[Se a vida não for difícil, a beleza (ou prazer, digo eu) não teria o apelo que tem. (john armstrong, in: “o poder secreto da beleza”)]
Comentário: o que é o mesmo que dizer: sem dor, não podemos ter prazer. Mas, suspeito que toda a gente tenta o contrário, isto é, ter uma boa vida sem dor! Por que não dizê-lo claramente? Por que não contarmos uns aos outros a maneira como vencemos ou falhamos, na busca da felicidade pessoal e geral?




Miriam/Ieioaquim

 
At 27 de dezembro de 2005 às 16:42, Anonymous Anónimo said...

Ponham-se a pau Fátima não existe!

 
At 27 de dezembro de 2005 às 16:44, Anonymous Anónimo said...

Deus é grande mas também é gordo, a Vossa Senhora nunca aterrou na Portela, o FMI é uma cambada e Fátima não existe, amén.

Oremos.

 
At 27 de dezembro de 2005 às 16:57, Anonymous Anónimo said...

Caros paroquianos:

«Eu não estou aqui para vos pedir dinheiro, estou simplesmente a dizer-vos que os nossos seminários necessitam muito dele»
+Agostinho Lopes de Moura

 
At 27 de dezembro de 2005 às 17:08, Anonymous Anónimo said...

Mensagem de Natal do Primeiro-Ministro José Sócrates


2005-12-25
Mensagem de Natal

do

Primeiro-Ministro José Sócrates

Dezembro de 2005


Prezados concidadãos


O ano que está prestes a terminar foi mais um ano ainda difícil para muitas famílias e para muitas pessoas na sociedade portuguesa. Eu sei isso.


Mas este foi também um ano em que o País começou, finalmente, a enfrentar e a resolver os seus problemas.


Todos sabemos que o País não avança continuando a viver de ilusões e de sucessivos adiamentos. E sabemos também - sabemos todos - que há muitas coisas que é preciso mudar em Portugal para que possamos garantir aqui um futuro melhor, para nós e para os nossos filhos.


Pois essa mudança já começou. Finalmente, começou.


Não é, nem poderia ser, um caminho de facilidades.


Como não é, nem poderia ser, um passe de mágica, como se fosse possível mudar as coisas de um dia para o outro.


Mas estamos a seguir o caminho certo.


E estamos a fazê-lo com a coragem e com a determinação que são necessárias para levar o País para a frente. Para que a economia portuguesa possa melhorar e criar mais empregos. Para que os jovens tenham mais oportunidades. Para que haja menos desigualdades sociais. Para que possamos garantir o pagamento das pensões de reforma no futuro. Para que os nossos idosos vejam assegurado um rendimento que lhes permita viver com dignidade e não os condene mais à pobreza. Numa palavra, para que Portugal se volte a aproximar do nível de vida dos Países mais desenvolvidos da Europa.

É esse o nosso caminho. Sei bem que há quem considere que este não é o melhor momento para se estar no Governo. Mas, o meu sentimento é exactamente o contrário. Para mim é uma honra poder servir o meu País e os meus concidadãos neste preciso momento.

E tenho a profunda esperança - tenho mesmo a certeza - de que, com a compreensão e a cooperação de todos os portugueses de boa-vontade, Portugal vai ser capaz de vencer as dificuldades e vai ter um futuro melhor. É para isso que estamos a trabalhar e a dar o melhor do nosso esforço.


Nesta época de Natal, quero dirigir a todos os portugueses e a todas as famílias uma palavra de esperança.


Mas também uma palavra de solidariedade, sobretudo para os mais desfavorecidos, os mais pobres, os desempregados, os doentes e os que vivem na solidão.


Solidariedade, também, com os emigrantes portugueses espalhados pelo Mundo e que, lá longe, têm Portugal no seu coração.


Solidariedade com os imigrantes que vieram para Portugal à procura de uma vida melhor e que, com o seu trabalho, tanto têm contribuído para o desenvolvimento do nosso País.


Solidariedade, igualmente, com os militares portugueses em missão no estrangeiro e que, voluntariamente, se dispõem a correr riscos pessoais ao serviço da nobre causa dos direitos humanos e da paz.


Que o tempo de Natal seja para todos - independentemente da sua religião ou da sua condição social - um tempo de reencontro. E um tempo de esperança.


E que o ano novo que aí vem seja mesmo novo. E possa trazer já alguma coisa do futuro melhor que todos estamos a construir.


Um Bom Natal.

 
At 27 de dezembro de 2005 às 17:13, Anonymous Anónimo said...

MISSA DA MEIA NOITE

SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR

HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI

Basílica Vaticana
Sábado, 24 de Dezembro de 2005



«O Senhor disse-Me: “Tu és meu filho, Eu hoje Te gerei”». Com estas palavras do Salmo segundo, a Igreja dá início à Santa Missa da vigília de Natal, na qual celebramos o nascimento do nosso Redentor Jesus Cristo no estábulo de Belém. Outrora, este Salmo pertencia ao ritual da coroação dos reis de Judá. O povo de Israel, por causa da sua eleição, sentia-se de modo particular filho de Deus, adoptado por Deus. Uma vez que o rei era a personificação daquele povo, a sua entronização era vivida como um acto solene de adopção por parte de Deus, no qual o rei ficava, de certo modo, envolvido no próprio mistério de Deus. Na noite de Belém, estas palavras, que de facto eram mais a expressão duma esperança que realidade presente, ganharam um sentido novo e inesperado. O Menino no presépio é verdadeiramente o Filho de Deus. Deus não é perene solidão, mas um círculo de amor no recíproco dar-se e um dar-se sem cessar. Ele é Pai, Filho e Espírito Santo.

Mais ainda: em Jesus Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus Se fez homem. É a Ele que o Pai diz: «Tu és meu filho». O hoje eterno de Deus desceu ao hoje efémero do mundo e arrasta o nosso hoje passageiro para o hoje perene de Deus. Deus é tão grande que Se pode fazer pequeno. Deus é tão poderoso que Se pode fazer inerme e vir ter connosco como menino indefeso, para que O possamos amar. Deus é tão bom que renuncia ao seu esplendor divino e desce ao estábulo para que O possamos encontrar e, assim, a sua bondade chegue também a nós, se nos comunique e continue a agir por nosso intermédio. O Natal é isto: «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei». Deus tornou-Se um de nós, para que nós pudéssemos viver com Ele, tornarmo-nos semelhantes a Ele. Como próprio sinal, escolheu o Menino no presépio: Deus é assim. Deste modo, aprendemos a conhecê-Lo. E em todo o menino brilha algo da luz daquele hoje, da proximidade de Deus que devemos amar e à qual nos devemos submeter – em todo o menino, mesmo na criança ainda não nascida.

Ouçamos uma segunda palavra da liturgia desta Noite santa, tomada agora do Livro do profeta Isaías: «Para os que habitavam na terra da escuridão, uma luz começou a brilhar» (9, 1). A palavra «luz» permeia toda a liturgia desta Santa Missa. Aparece um novo aceno no texto da carta de São Paulo a Tito: «Manifestou-se a graça» (2, 11). A palavra «manifestou-se» diz, em língua grega e neste contexto, a mesma coisa que o hebraico exprime com as palavras «uma luz brilhou»: a «manifestação» – a «epifania» – é a irrupção da luz divina no mundo cheio de escuridão e de problemas insolúveis. Por fim, o Evangelho narra-nos que apareceu a glória de Deus aos pastores e «cercou-os de luz» (Lc 2, 9). Onde aparece a glória de Deus, aí irradia a luz pelo mundo. «Deus é luz e n’Ele não há trevas», diz-nos São João (1 Jo 1, 5). A luz é fonte de vida.

Mas luz significa sobretudo conhecimento, significa verdade em contraposição com a escuridão da mentira e da ignorância. Deste modo, a luz faz-nos viver, indica-nos a estrada. Além disso, enquanto gera calor, a luz significa também amor. Onde há amor, levanta-se uma luz no mundo; onde há ódio, o mundo permanece na escuridão. É verdade, no estábulo de Belém, apareceu a grande luz que o mundo espera. Naquele Menino deitado na manjedoura, Deus mostra a sua glória – a glória do amor, em que Ele mesmo Se entrega em dom e Se despoja de toda a grandeza para nos conduzir pelo caminho do amor. A luz de Belém nunca mais se apagou. Ao longo de todos os séculos, envolveu homens e mulheres, «cercou-os de luz». Onde despontou a fé naquele Menino, aí desabrochou também a caridade – a bondade para com todos, a carinhosa atenção pelos débeis e os doentes, a graça do perdão. A partir de Belém, um rasto de luz, de amor, de verdade atravessa os séculos. Se olharmos os Santos – desde Paulo e Agostinho até São Francisco e São Domingos, desde Francisco Xavier e Teresa de Ávila até à Irmã Teresa de Calcutá – vemos esta corrente de bondade, este caminho de luz que se inflama, sempre de novo, no mistério de Belém, naquele Deus que Se fez Menino. Contra a violência deste mundo, Deus opõe, naquele Menino, a sua bondade e chama-nos a seguir o Menino.

Juntamente com a árvore de Natal, os nossos amigos austríacos trouxeram-nos também uma pequena chama que tinham aceso em Belém, para nos dizer: o verdadeiro mistério do Natal é o esplendor interior que irradia deste Menino. Deixemos que se comunique a nós esse esplendor interior, que acenda no nosso coração a chama da bondade de Deus; todos nós levemos, com o nosso amor, a luz ao mundo! Não deixemos que esta chama luminosa se apague por causa das correntes frias do nosso tempo! Guardemo-la fielmente e demo-la aos outros! Nesta noite, em que voltamos o nosso olhar para Belém, queremos também rezar de modo especial pelo lugar do nascimento do nosso Redentor e pelos homens que lá vivem e sofrem. Queremos rezar pela paz na Terra Santa: Olhai, Senhor, este ângulo da terra que, como pátria vossa, tanto amais! Fazei que resplandeça lá a vossa luz! Fazei que lá chegue a paz!

Com o termo «paz», chegamos à terceira palavra-mestra da liturgia desta Noite santa. Ao Menino que anuncia, Isaías chama-Lhe «Príncipe da paz». A propósito do seu reino, diz-se: «A paz não terá fim». No Evangelho, é anunciado aos pastores: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra…». Outrora lia-se: «…aos homens de boa vontade»; na nova tradução, diz-se: «…aos homens que Ele ama». Que significa esta mudança? Deixou de ter valor a boa vontade? Ponhamos melhor a questão: Quais são os homens que Deus ama e porque é que os ama? Porventura Deus é parcial? Porventura ama apenas certas pessoas, deixando as outras entregues a si mesmas? O Evangelho responde a estas perguntas, mostrando-nos algumas pessoas concretas amadas por Deus. Há pessoas individuais – Maria, José, Isabel, Zacarias, Simeão, Ana, etc. Mas há também dois grupos de pessoas: os pastores e os sábios do Oriente, os chamados reis magos. Nesta noite, detenhamo-nos nos pastores. Que espécie de homens são eles? No seu ambiente, os pastores eram desprezados; eram considerados pouco sérios e, em tribunal, não eram admitidos como testemunhas. Mas, quem eram na realidade? Certamente não eram grandes santos, se por este termo entendemos pessoas de virtudes heróicas. Eram almas simples. O Evangelho evidencia uma característica que mais tarde, nas palavras de Jesus, havia de ter um papel importante: eram pessoas vigilantes. Isto vale primariamente em sentido exterior: de noite vigiavam, perto das suas ovelhas. Mas vale também num sentido mais profundo: estavam disponíveis à palavra de Deus. A sua vida não estava fechada em si mesma; o seu coração estava aberto. De certo modo, no mais fundo de si mesmos, estavam à espera d’Ele. A sua vigilância era disponibilidade – disponibilidade para ouvirem, disponibilidade para se porem caminho. Estavam à espera da luz que lhes indicasse o caminho. E isto é o que interessa a Deus. Ele ama a todos, porque todos são criaturas suas. Mas, algumas pessoas têm a sua alma fechada; o seu amor não encontra qualquer acesso a eles. Pensam que não têm necessidade de Deus; não O querem. Outros, que moralmente talvez sejam igualmente miseráveis e pecadores, pelo menos sofrem com isso. Estes esperam Deus. Sabem que têm necessidade da sua bondade, embora não tenham uma ideia precisa dela. No seu íntimo, aberto à expectativa, a luz de Deus pode entrar, e com ela a sua paz. Deus procura pessoas que levem e comuniquem a sua paz. Peçamos-Lhe para fazer com que não encontre fechado o nosso coração. Esforcemo-nos por nos tornarmos capazes de ser portadores activos da sua paz – precisamente no nosso tempo.

Além disso, a palavra paz assumiu entre os cristãos um significado de todo especial: tornou-se um nome para designar a Eucaristia. Nesta, está presente a paz de Cristo. Através de todos os lugares onde se celebra a Eucaristia, estende-se uma rede de paz sobre o mundo inteiro. As comunidades reunidas à volta da Eucaristia constituem um reino da paz largo como o mundo. Quando celebramos a Eucaristia, encontramo-nos em Belém, na «casa do pão». Cristo dá-Se a nós, e assim nos dá a sua paz. Dá-no-la para que levemos a luz da paz no nosso íntimo e a comuniquemos aos outros; para que nos tornemos obreiros de paz e contribuamos assim para a paz no mundo. Por isso, suplicamos: Senhor, realizai a vossa promessa! Fazei que, onde houver discórdia, nasça a paz! Fazei que desponte o amor, onde reinar o ódio! Fazei que surja a luz, onde dominarem as trevas! Fazei que nos tornemos portadores da vossa paz! Amen.

 
At 27 de dezembro de 2005 às 17:32, Anonymous Anónimo said...

Quando os ouvimos a dizer para não termos medo, é de desconfiar...

 
At 28 de dezembro de 2005 às 02:41, Blogger J said...

Sem dúvida, mas, não podemos mesmo é ter medo.

 
At 28 de dezembro de 2005 às 09:01, Anonymous Anónimo said...

QUEM SERÃO OS PORTUGUESES DE BOA VONTADE?





Quando ouvi o primeiro-ministo, na sua alocução natalícia dirigir-se aos "portugueses de boa-vontade" fiquei tão baralhado que ia batendo com o respectivo no chão. De repente passaram a haver portugueses de boa-vontade e o pior é que não sabemos quais são. Não pagam impostos mas apoiam as políticas de Sócrates, pagarão impostos e criticam-na, ou serão os mais humildes da política portuguesa, os que pagam impostos, comem com o que sobra e ficam calados?

 
At 28 de dezembro de 2005 às 09:02, Anonymous Anónimo said...

Ouvi com atenção o discurso de Sócrates como Primeiro Ministro e confesso que gostei.

Quando não estamos num lugar sem responsabilidades podemos dizer tudo,quando estamos como responsáveis temos que falar com cuidado.

Sócrates disse o que eu ou qualquer pessoa que tenha uma
grande responsabilidade diria naquele momento.

Foi um discurso fluente,nada demagógico,nada oportunista, nada maçador,mas simples,directo e confiante.
Por tudo isto gostei de ouvir Sócrates.
E ainda porque eu no lugar dele,confesso, não faria melhor.

Eu também toda a minha vida acreditei nas pessoas de boa vontade e,não estou arrependido.

Dirigi muitos trabalhadores portugueses e posso dizer-vos que são excelentes e capazes, desde que apoiados e estimulados.
E é esse o caminho que temos que seguir:
Acreditar em dirigentes honestos e nos trabalhadores que querem um Portugal de que nos orgulhemos.
A nossa auto-estima já não pode ir mais abaixo.

Tenho plena consciência que esta crise irá passar e muita coisa que está mal irá melhorar.

Os que querem continuar a manter os mesmos privilégios,os "boys" e os oportunistas que têm enriquecido à custa de expedientes esses sim pensam e,como não são nem idiotas nem parvos,pensam que PORTUGAL VAI MUDAR.
E isso não lhes interessa. Tudo farão para travar as reformas de que o País precisa.
Essas reformas estruturais são absolutamente indispensáveis.
Há tanta coisa mal no nosso País!
E nada poderá continuar como dantes

Portugal vai mudar,não só porque tem um Governo com Maioria e um Primeiro Ministro determinado a eliminar tudo o que está mau,mas porque cada dia os portugueses têm mais consciência do atoleiro em que nos encontramos.

Sabemos,pela experiência da vida que quando queremos alterar as situações é indispensável calcular os riscos,mas é necessário mostrar Coragem e determinação para alcançarmos os objectivos.

Há muitos interessados na queda de Sócrates e na impossibilidade dele implementar reformas indispensáveis("Forças de bloqueio" que Cavaco se recusou a enfrentar embora as sentisse e não tivesse tido a Coragem de as enfrentar).

Não se pode fazer tudo ao mesmo tempo,para se realizar obra é necessário competência,coragem e determinação e sobretudo saber ultrapassar os obstáculos que nos vão surgindo.
E às vezes são mais do que imaginávamos!

Já vivi com muitos Governos e confesso que sempre discordei com o que eles faziam de mal ou com o que deixavam de fazer de indispensável,porque lhes faltava Competência,Coragem e Determinação.

Iremos ver dentro de alguns anos os efeitos das reformas que já começaram a iniciar-se e há muito deveriam ter sido implementadas.

 
At 28 de dezembro de 2005 às 09:03, Anonymous Anónimo said...

«Portugueses de boa vontade», onde estão?
a) Na gerência do Banco Portugal, EP´s e Afins, por supuesto. E pelos vistos para durar, pesem os bons exemplos de 'coragem' do nosso governo com as «corporações».
b) Lidas as intervenções, certo é que este PM lá deve estar por uma legislatura, contribuindo para transformar Portugal num país normal. Se é q. é possivel.
Problemas:
b.1) Desperdiçar a última oportunidade de com os milhões de UE, qualificar a população das nossas escolas.
b.2) Sem isso garantido, pouco vai adiantar contar com este ou qq outro PM.
x) Depois de dois governos de circo (DB e PSL/PP), com o beneplácito do Primeiro Magistrado da Nação, que pode este pôvo merecer?

 
At 28 de dezembro de 2005 às 09:04, Anonymous Anónimo said...

Sócrates...quem é?

-O fulano que mentiu aos portugueses?!

O fulano que destroi a economia e competitividade do nosso país?

O fulano que tenta destruir a auto-estima dos trabalhadores portugueses e das classes sociais mais desfavorecidas?

O fulano que "agracia" a amigalhada com privilégios? E retira direitos a quem trabalha e quer sustentar a família?

O fulano que quer destruir a Administração Pública e pôr os que lá trabalham no desemprego?

O fulano que deixou o país chegar a 500.000 desempregados?

O fulano que criou condições para Cavaco ser presidente?

PAZ À SUA ALMA!

 
At 28 de dezembro de 2005 às 10:28, Anonymous Anónimo said...

Conseguiremos...

Entretanto, segundo o DN de ontem: " O Governo atribuiu um «perdão fiscal» aos contribuintes que não identificaram os prédios rústicos ou urbanos... Para alguns fiscalistas, a decisão... pode comprometer a «equidade fiscal» pretendida...Heranças indivisas (muitas nos arredores de vilas e aldeias, com casas boas ou em ruinas, onde se aplica a lei da impossibildade de dividir pequenas hortas...), falta de registos e sucessivas transmissões ao longo dos anos deixaram... 3, 716 milhões de prédios sem NIF...

Machuqueira

 

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