quarta-feira, 1 de março de 2006

O NUCLEAR...

Na segunda-feira à noite António Vitorino provou na RTP que vale mais do que "uma unha do pé de Marcelo", ao invés do que refere o douto Vasco P. Valente que agora arribou à blogosfera. O entrevistador também provou que vale mais do que aquela senhora que entrevista Marcelo sob o efeito de xanax e duma caixa de lexotans, que mais faz lembrar aquelas governantas que vêm do Norte servir para Lisboa na casa do restolhos do ancien regime ali ao Restelo - hoje mui parecidos nos tiques com o velho Salazar. Tão parecidos que até me interrogo se o Salazar não está, de facto, ainda vivo.

Mas o que procuro significar não é a parecença dos restolhos e das moreias que passeiam a surdez pelos centros comerciais e culturais deste país, como faria o velho botas se fosse vivo; nem tão pouco fazer equivaler jornalistas da tanga com a caricatura que dela faz a actriz Maria Ruef - revelando, neste caso, que a caricatura é bem mais interessante do que o exemplar de luxo original. Mas adiante, esses favores que a RTP presta à comunidade pagam-se de alguma maneira. Mas a transversalidade e a horizontalidade da temática que aqui chamo à colação é sobre a opção do nuclear em Portugal - que ontem referiu pela boca de António Vitorino - que se manifestou, e bem, aberto à discussão em Portugal dessa hipótese plausível. Porque se trata dum tipo de energia mais barata, eficiente e até segura. É óbvio que tudo isto é discutível, mas o que me parece de bom senso é que os reacças do costume - verdes & compª - não aduzam aqueles argumentos esverdeados da década de 70 e venham agora com novos linces da malcata, novos pardais de 5 asas exclusivos da Serra da Arrábida, das cobras de 3 cabeças típicas da Serra de Sintra e de mais uns fenómenos do Entroncamento...
Porque nisto já ninguém acredita.

Quanto ao Partido Socialista do Sócrates há a dizer que joga na dualidade e a na compreensão que a opinião pública revela sobre o tema: se ela for tendencialmente favorável o único engenheiro no planeta com nome de filósofo mudará de opinião; se a opinião pública for desconforme o enginheiro arrepiará caminho.
Até lá António Vitorino lança os dados e baralha de novo, e assim serve aos portugueses o prato da dualidade a fim de não afugentar os milhões e a vontade dos empresários se atirarem ao projecto com vista a diminuir a nossa dependência energética.
Todavia, o assunto é complexo demais e não pode ser discutido por leigos e amadores como eu, mas julgo que também não deverá ser muito subordinado aqueles verdes do costume, que não passam de eco fundamentalistas que utilizam sempre os mesmos argumentos, os mesmos tabús, os mesmos receios em ordem a infundir os mesmos medos junto das populações.


Enquanto isso os nuestros irmanos têm alí a central de Almaraz - bebendo das nossas águas e produzindo a energia eléctrica que depois os parolos dos tugas importam a pagam a bom preço.


Julgo, pois, que esta discussão deverá ter lugar desde já.
Juntando as pessoas que dentro e fora do país possam contribuir para um debate que não seja acalorado nem equacionado com as emoções em desfavor das racionalizações.

Isto supõe, a meu ver, equacionar o papel das novas tecnologias descontaminantes e as interacções que provocam as mudanças nos padrões económicos e sociais, salvaguardadas todas as condições de segurança (máximo, ao nível do tratamento dos tais resíduos perigosos que poderão abrir um novo mercado para empresas emergentes), segundo a clássica fórmula de destruição criativa do cientista J. Schumpeter.

Contudo, esta problemática da introdução do Nuclear em Portugal só poderá ser validada se houver retorno para as Humanidades ié., o estudo do impacto no ambiente, na saúde pública, na biologia entre muitos outros territórios do saber, só é viável se forem criadas linhas de comunicação entre o triângulo estratégico: decisores políticos, cientistas e cidadãos. Sem esta multidisciplinaridade a cadeia de comando (e reconhecimento das populações) não funciona.
Hoje nada se faz sem a soberania do conhecimento: a investigação, a inovação, o crescimento económico e a consequente melhoria da qualidade de vida em termos de saúde, ambiente e conforto. E para isso não podemos ficar dependentes do ouro negro do Médio Oriente e do gás da Argélia nem tão pouco da vontade errática e imprevisível dos bin laden deste mundo.

Julgo, pois, que a temática do Nuclear em Portugal será a questão mais importante que a chamada sociedade civil portuguesa será chamada a discutir colocando questões e dando respostas obrigando, assim, a rever o precário equilíbrio entre conhecimento e poder, ciência e sociedade bem como a viabilidade da noção de governança associada às políticas públicas.

É aqui que perguntamos: que papel cabe às tais Humanidades?: se não verter uma luz sobre a decisão política geradora de um paradigma técnico-económico do qual resultará um padrão de desenvolvimento que engloba um cluster estável de tecnologias nucleares que produzem um forte impacto na economia e na sociedade e em torno das quais se processa a inovação. Foi isto, creio, que Vitorino fez. Marcelo, so far, ainda não fez nada.

Já é líquido que a interacção das ciências duras com as humanidades potencia o rigor científico e reforça o capital-cultural das nações. Um processo indispensável a Portugal. Tanto mais que a relação entre governo e cidadãos já não é a mesma e novas formas de governabilidade e de progresso sócio-económico devem ser repensadas em vista à sustentabilidade das nossas fontes de energia.

Em suma: a responsabilidade do analista não é adivinhar o futuro, mormente nestas questões onde ele é leigo, mas o de eleger alguns factos úteis à produção de uma interpretação de futuros possíveis. Isto é fazer prospectiva que, não raro, cai na ironia retrospectiva, já que ao olharmos para o que pode ser o futuro somos convidados a ver o passado numa perspectiva nova.

Um pouco como comparar a globalização dos Descobrimentos com a actual fase planetária do fenómeno. E quando compulsamos os prós & contras do nuclear se comparados com as teses dos eco fundamentalistas da Serra da Arrábida - chegamos a uma conclusão: esta discussão terá mesmo de ser travada. Não apenas para diminuir a nossa dependência energética, desde que em segurança, mas também para enterrar de vez alguns tabús já amarelados de todos aqueles geotas e quercús que vivem dos rendimentos da antiglobalização - que hoje, lamentavelmente, dominam boa parte do pensamento dominante e do politicamente correcto. Mesmo que ninguém acredite neles, nem os sócios que compulsivamente se quotizaram e hoje ainda alguém paga as quotas por eles. Um pouco como nos partidos políticos.


São as mesmíssimas aves raras que se estão a marimbar para a preservação das espécies, da biodiversidade e dos protocolos de Quioto e o mais - desde que as subvenções estatais e comunitárias não cesse de jorrar - porque para eles - os verdinhos amarelados do costume - quanto pior melhor numa vã tentativa de gerar tratamentos saudáveis da nossa economia recorrendo à esquizofrenia da globalização agora alimentada pelo vírus do nuclear.

Qualquer dia o vírus espalha-se e somos afectados pela ideia de que aquelas ventoínhas gigantes que produzem energia eólica e destroem a paisagem são os principais vectores de contaminação da gripe das aves em Portugal.

Pelo menos aqui os argumentos parecem ser mais verosímeis e criativos do que a quantofrenia do costume vociferada pelos ambientalistas de Poço de Bispo e de Porto Brandão que ficam a meio caminho da ponte de Vasco da Gama e os areais de Vila Franca - terra de grandes pegas de touros e de grande touradas.

Ainda a procissão vai no adro, mas é tão curioso quanto estimulante ver o que Sócrates diz aos Verdes - que são uma filial do PCP no Parlamento sem legitimidade política - que o nuclear não integra a agenda ou o mandato (não se percebe bem, mas também é esse o objectivo) e, ao mesmo, pede ao sagaz Tony Vitorino que reproduza cá para fora, ié, para a sociedade civil (não confundir com construção civil) versão oposta tornando, como convém, o PS num partido abrangente, ou seja, que não é do Não mas também não é do Sim. Sócrates é, pois, do partido do logo se vê.


E eu como mero cidadão/consumidor de luz e gás não tenho qualquer dúvida que a discussão irá ter lugar um papel crucial em Portugal nos próximos meses, e como alguns dos argumentos de parte-a-parte já se conhecem - também não terei grandes reservas - se forem acauteladas as condições de segurança e de custo económico e também os custos finais com a sua desmontagem no fim do ciclo) em admitir a possibilidade de - podendo - Portugal produzir electricidade mais barata não o faça e continue a importá-la de Espanha, França e arredores.

Afinal, com que racionalidade económica e de segurança?!


Pedro Manuel

3 Comments:

At 1 de março de 2006 às 11:00, Anonymous Anónimo said...

Ferrel - Comemorações dos 30 anos

No dia 19 de Março de 2006, comemoram-se, com uma concentração em Ferrel, concelho de Peniche, os 30 anos "Contra o Nuclear", onde mais precisamente no dia 15 de Março de 1976 teve lugar a manifestação pacífica que viria a ser determinante para a suspensão dos trabalhos preparatórios que então decorriam com vista à construção de uma futura central nuclear na zona.

Numa altura em que o nuclear volta infelizmente a ser tema, torna-se necessário mobilizar a sociedade civil para fazer prevalecer a opção por energias renováveis e ecologicamente equilibradas que permitam o nosso desenvolvimento sustentável.

Assim, deixo um apelo a todos que querem dizer NÃO ao Nuclear vão dia 19 de Março a Ferrel.

 
At 1 de março de 2006 às 11:02, Anonymous Anónimo said...

15 Razões para dizer NÃO AO NUCLEAR:

1. Portugal tem uma enorme oportunidade na conservação de energia e eficiência energética
As previsões de aumento em 350% do consumo de electricidade entre 1990 e 2020 são um erro tremendo em relação àquilo que está a ser desenvolvido em diversos países Europeus, onde a intensidade energética (energia consumida por produto interno bruto) tem vindo a diminuir e o consumo per capita estabilizou. No entender da Quercus, existem várias centrais térmicas, nomeadamente um eventual caso de uma central nuclear, que não se justificam pelo enorme potencial da eficiência energética e conservação de energia, nomeadamente nos sectores residencial e serviços. O consumo de electricidade em Portugal tem vindo a aumentar na ordem dos 6% ao ano, não sendo já argumento o nosso baixo grau de desenvolvimento. Temos estado a crescer mal e com muitos desperdícios. A correcção deste caminho permite perfeitamente melhorar a qualidade de vida com menor consumo de energia e menor poluição, desde a electricidade à dependência do petróleo em sectores como os transportes. Um Kw/h poupado, de acordo com a Entidade Reguladora do Sector Energético, é dez vezes mais barato que um Kw/h a ser produzido, inclusive por energias renováveis.

2. O potencial de implementação das energias renováveis em Portugal é enorme
As energias renováveis têm um enorme potencial em termos de expansão no nosso país, em particular a energia eólica, biomassa e solar, sendo que a hídrica já apresenta níveis de exploração bastante consideráveis. Quer pela produção directa de electricidade, quer pela produção de calor, Portugal felizmente apresenta condições climáticas e de uso do território que permitem a sua afirmação em termos tecnológicos e em consonância com metas estabelecidas na União Europeia que, para 2010, e para Portugal, será de 39% de energias renováveis na produção de electricidade, mas com percentagens crescentes para os anos seguintes.

3. A energia nuclear serve para produzir electricidade e esta representa apenas cerca de 20% do consumo de energia final do país
Uma central térmica recorrendo a combustível nuclear apenas consegue produzir electricidade. A dependência de Portugal face aos combustíveis fósseis, nomeadamente em relação ao petróleo, está directamente relacionada com outros usos da energia em sectores como os transportes e a indústria. A instalação de uma central nuclear não resolve assim os problemas energéticos estruturais de Portugal, que passam muito mais por medidas integradas associadas ao ordenamento do território e às actividades produtivas do país.

4. A energia nuclear é muito mais cara
A produção de energia nuclear é das mais dispendiosas, contrariamente ao que é habitualmente comunicado aos cidadãos. O contemplar dos custos de construção e de desmantelamento face ao período de vida da central, faz com que apenas o solar fotovoltaico apresente valores mais elevados, valores estes que no entanto tendem a reduzir-se por efeitos de economia de escala face à sua cada vez maior expressão.
Fonte de Energia: Custos por kilowatt-hora
Eficiência energética: 0-5 cêntimos
Hidroeléctrica: 2-8 cêntimos
Carvão: 5-6 cêntimos
Vento: 5-8 cêntimos
Petróleo: 6-8 cêntimos
Solar térmica: 9 cêntimos
Nuclear: 10-12 cêntimos
Solar fotovoltaico: 15-20 cêntimos
Fonte

5. A falácia da produção limpa em termos de emissões de gases de efeito de estufa
Contrariamente ao que se anuncia, a produção de energia através de centrais nucleares não é isenta em termos de emissões de gases de efeito de estufa responsáveis pelas alterações climáticas. A sua construção é uma importante fonte de emissões, mas principalmente a exploração do urânio e também o transporte dos resíduos para processamento ou armazenagem, acabam por contribuir significativamente. Os níveis calculados de emissão em termos de ciclo de vida colocam uma central nuclear numa situação pior que uma central a gás natural.

6. Segurança de abastecimento comprometida - Potencialidade de descentralização oferecida pelas energias renováveis é contrariada por uma central nuclear
A segurança de abastecimento é um dos aspectos mais relevantes no sentido de evitar problemas como os blackouts que sucederam na costa Oeste dos Estados Unidos em 2000/2001 ou no Brasil, ou ameaças externas como o bloqueio eafornecimento de determinados tipos de combustível (como sucedeu recentemente nos problemas entre a Rússia e a Ucrânia). Neste quadro, tem sido defendida uma cada vez maior descentralização da produção que, no limite, será baseada em energias renováveis associadas às próprias residências e serviços, até porque desta forma existem menos perdas no transporte. Neste sentido, uma forma de produção centralizada com uma enorme potência instalada contradiz objectivos de longo prazo que têm vindo a ser reforçados à escala europeia e num quadro de maior sustentabilidade da gestão da produção e consumo de electricidade.

7. A energia nuclear só é viável à custa de enormes subsídios governamentais – Portugal apoia muito mais investigação no nuclear que na conservação de energia e renováveis
A produção de energia nuclear continua a beneficiar de fortes subsídios públicos ao abrigo do Tratado Euratom. Ao longo dos últimos 30 anos, a tecnologia nuclear foi brindada com cerca de 60 biliões de Euros para investigação, um valor muito superior ao atribuído a qualquer outra fonte de energia. Por outro lado, a industria nuclear continua a reclamar subsídios para a gestão dos resíduos radioactivos produzidos pelas centrais.Portugal também não faz os investimentos certos em investigação e desenvolvimento na área de energia: o nuclear recebe 110 vezes mais do que a conservação de energia e 7 vezes mais do que as renováveis. De acordo com a Agência Internacional de Energia, Portugal destinou, em 2004, 2,2 milhões de euros para investigação na fusão nuclear enquanto que apenas dedicou 0,32 milhões de euros para energias renováveis e 0,02 milhões para a conservação de energia e apenas no sector industrial. Em causa está a fraquíssima prioridade dada à conservação de energia e eficiência energética e também às energias renováveis.

8. Portugal ficará dependente de tecnologia importada e cara; é mais uma dependência, neste caso perigosa, de outros países
Não existe experiência em Portugal de construção ou manutenção de centrais nucleares, uma vez que essa nunca foi uma opção, mesmo quando outros países enveredaram por essa forma de produzir energia. Neste contexto, as mais importantes valias económicas do projecto serão para os países e empresas dos mesmos que têm experiência nestas tecnologias e não para Portugal. Ter uma central nuclear com tecnologia importada que ainda por cima se anuncia como experimental, é um risco demasiado elevado a correr.

9. Cenários oficiais mostram que a Europa não aposta no nuclear e Portugal iria estar em contra-ciclo
Na Europa estão apenas em construção duas centrais: a central de Olkiluoto-3 na Finlândia, cujas condições de financiamento passam por uma subsidiação indirecta pela taxa de juro muito abaixo do mercado, providenciada por instituições francesas e alemãs e que não se deverá vir a repetir, nomeadamente face às novas directrizes de transparência no financiamento do mercado energético na União Europeia, e a central de Cernavoda na Roménia, cuja construção se iniciou ainda no regime comunista, foi suspensa e recomeçada alguns anos depois. O cenário oficial da União Europeia em termos energéticos (modelo PRIMES) de Novembro de 2005 apresenta uma redução da produção de electricidade por centrais nucleares 0,8% ao ano entre 2010 e 2030.

10. Longevidade dos resíduos e herança para as gerações futuras
A longevidade dos resíduos nucleares estima-se em dezenas a centenas de milhares de anos. Será justo delegar nas gerações futuras a resolução de um problema que, nos cerca de cinquenta anos de existência da indústria nuclear, ainda não conheceu qualquer evolução no sentido de poderem ser tratados sem impactos para as gerações presentes e futuras? Ainda na passada semana o responsável pelo depósito de resíduos nucleares dos Estados Unidos referiu que, para o projecto previsto para a Montanha de Yuccan, não se consegue ainda afirmar um prazo de conclusão nem um custo final que, no entanto, deverá ser muito elevado.
Esta questão é ainda mais premente quando se prevê que as reservas de urânio não durem mais do que algumas décadas, o que implica que as gerações futuras teriam que encontrar outra solução para a produção da sua energia (resolvendo um problema que os governos actuais não tiveram a coragem e empenho para resolver), ficando com o ónus de lidar com os resíduos que nós produzimos por muitos milhares de anos.

11. Riscos associados ao transporte e armazenamento dos resíduos nucleares
Uma vez que o reprocessamento dos resíduos nucleares, componente que pode ter maior ou menor peso dependendo do tipo de central, não ocorreria em Portugal, o seu transporte poderia acarretar riscos acrescidos para as populações e o ambiente por onde passasse, bem como nos locais onde fosse armazenado.

12. Tempo de construção previsto
A construção de uma central nuclear em Portugal levaria cerca de 10 a 15 anos até que pudesse estar operacional em termos de fornecimento de energia eléctrica. Por essa altura, Portugal já terá que ter tomado as medidas certas no sentido de acertar o passo com as reduções de emissões de gases com efeito de estufa previstas, sob pena de condenarmos o país à estagnação ou retrocesso económico e social, pelo que esta solução em nada contribui para a resolução do problema.

13. Custo de desmantelamento das centrais e suas consequências ainda não estão suficientemente avaliados
O custo do processo de desmantelamento é geralmente estimado por baixo em relação à realidade. Estamos porém a falar de valores de muitas dezenas de milhões de euros. No âmbito do processo de desmantelamento, muitos dos elementos de uma central nuclear têm obrigatoriamente que ser tratados como resíduos nucleares, o que implica custos elevadíssimos de desmantelamento. A experiência nesta matéria é também ainda relativamente reduzida a nível mundial e como já se mencionou, em países com uma forte indústria nuclear como os Estados Unidos, o problema ainda está longe de ter resolução.

14. Secretismo e estímulo ao militarismo
As centrais nucleares tendem a ser encaradas como casos especiais, mesmo em países democráticos, sendo difícil ter acesso a informação concreta sempre que há algum problema. Para além disso, com a produção do plutónio que resulta do processamento dos resíduos decorrentes da produção de energia, estimula-se a produção de mais armas nucleares com fins militares, alimentando a indústria da guerra a nível mundial. Existem vários documentos que comprovam que, por exemplo no Reino Unido, o ataque a centrais nucleares por parte de células terroristas foi considerado. A instalação de uma central em território português iria aumentar o risco de Portugal poder ser vítima de um atentado que poderia ter consequências desastrosas em termos ambientais, sociais e económicos. Os custos com a segurança em qualquer central são avassaladores e tendem a aumentar.

15. Dificuldade em encontrar uma localização
Considerando as suas necessidades específicas, nomeadamente ao nível da disponibilidade de uma fonte de água abundante e factores de segurança como a necessidade de evitar zonas de maior actividade sísmica, e tendo em conta a exiguidade do território português, a definição e aceitação da localização de uma central nuclear seria uma tarefa muito difícil.

Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

 
At 1 de março de 2006 às 11:35, Anonymous Anónimo said...

Irresponsabilidade

O caso faria rir se não estivesse em causa a situação económica portuguesa e o emprego de muitos milhares de pessoas.

A Comissão Europeia, no seu parecer sobre a economia portuguesa, realizado ao abrigo do Pacto de Estabilidade e Crescimento diz uma coisa verdadeiramente extraordinária. Tão extraordinária que - salvo outras intenções escondidas, que, quero acreditar, não existam - é impossível deixar de atribuir a um total desconhecimento da realidade económica portuguesa. Mas não nos adiantemos.

Começa a Comissão por dizer, no seu parecer, que as previsões do Governo sobre o crescimento económico poderão estar demasiado optimistas, em particular para este ano.

Até aqui, nada de extraordinário. Efectivamente, embora sem dúvida nenhuma dentro das possibilidades de ocorrência, as previsões do Governo sobre o crescimento da economia portuguesa têm o seu tom de optimismo. Mas esta é uma situação perfeitamente natural e que não deve surpreender ninguém. Nem sequer me parece que deva ser criticada. Seria certamente muito mau que o Governo apresentasse previsões manifestamente inexequíveis, como, infelizmente, alguns dos governos anteriores fizeram, sem qualquer escrúpulo e com péssimas consequências para a sua credibilidade.

Mas, se como é o caso actual, as previsões são exequíveis, ainda que optimistas, nada há a censurar. Como também, diga-se de passagem, nada haveria a censurar à Comissão Europeia por esta alertar para esse facto, se por aqui ficasse.

O que qualifiquei de afirmação extraordinária não está aqui. Vem a seguir.

Diz, com efeito, a Comissão que, no caso do crescimento se revelar menor que o esperado, então as autoridades portuguesas devem tomar medidas suplementares de redução do défice. Isto é que é verdadeiramente espantoso. O que a Comissão está a defender é que, sendo o crescimento menor que o previsto (e, note-se que, embora optimista, a previsão do Governo já é de um crescimento muito baixo) então o Governo deve reduzir ainda mais a despesa pública ou aumentar mais os impostos.

Ou seja, o Governo, se a situação for de menor crescimento, o que na realidade significará uma estagnação económica, o que deve fazer é tomar medidas que - reduzam ainda mais o crescimento!

A Comissão propõe, portanto, com toda a desfaçatez, que o Governo induza uma recessão na economia portuguesa. Isto, ainda por cima, num ano que vem a seguir a vários anos de estagnação económica e em que o desemprego vai crescendo de forma clara e mais do que preocupante. Raramente se tem visto uma comentário tão irresponsável e negativo por parte de uma instituição internacional e principalmente de uma instituição que é considerada credível como é o caso da Comissão Europeia.

Mas, na realidade isto não é inteiramente uma surpresa. Só vem confirmar aquilo para que alguns comentadores, desde há algum tempo a esta parte, têm chamado a atenção. É que, no domínio económico, a Comissão perdeu o Norte, tem induzido erros gravíssimos de política económica e não tem contribuído em nada, pelo contrário, para a melhoria da situação económica comunitária.

Pior do que isso. Tem feito tábua rasa dos objectivos comunitários do crescimento e emprego, dando prioridade total ao défice das contas públicas, assim violando claramente as razões da sua própria existência enquanto zeladora da realização desses mesmos objectivos. Ou seja, a Comissão Europeia, no que respeita à estagnação económica da Europa, está, cada vez mais, a fazer parte do problema e cada vez menos a fazer parte da solução.

 

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