quinta-feira, 3 de agosto de 2006

MINTO ATÉ AO DIZER QUE MINTO



Um livro inédito de José Luís Peixoto acompanha hoje a revista VISÃO: Minto até ao Dizer que Minto, uma história irreverente e inconformista, inovadora e perturbante.
Uma das maiores revelações das letras portuguesas dos últimos anos, este poeta e ficcionista nasceu no ano da Revolução: 1974, em Galveias. Mudou-se de Galveias para Lisboa e formou-se em Letras, na Universidade Nova.

Contemplado com o prémio dos Jovens Criadores em 1997, 1998 e 2000, viu, em 2000, o seu romance Nenhum Olhar receber o Prémio José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores, destinado a distinguir a melhor obra de um autor português com menos de 35 anos. Representado em antologias dos cinco continentes, tem colaborado em grande número de publicações portuguesas e estrangeiras.

Como dramaturgo, recebeu os prémios do Teatro da Bastilha (Paris) pela peça Anathema e o do Teatro de S. Luiz (Lisboa) por À Manhã.

Está traduzido em francês, espanhol, italiano, holandês, finlandês, búlgaro, turco, checo, croata e bielorruso, estando também editado no Brasil.

...Houve turistas que entraram e houve turistas que saíram. Reconheci logo duas suecas que, dois dias antes, tinha encontrado no Bairro Alto. Entravam, sorriam, seguravam máquinas fotográficas descartáveis, usavam palas para o sol com a palavra Lisboa bordada a várias cores. Saí, atravessei o corredor com o corpo virado para a Torre de Belém, tapando a cara com as mãos, fingindo segurar uma máquina fotográfica invisível.
O autocarro continuou o seu circuito sem mim.
Comprei um sorvete. A pedido, tirei fotos a inúmeros casais, famílias, grupos excursionistas. Senti-me útil. Quando devolvia a máquina a uns, já estavam os seguintes à espera.
“É só carregar aqui.”
E deixei cair o sorvete.
“No problem, no problem,” repeti.
Caminhei ao longo do rio. Há um rio. E quando apanhei o eléctrico, já só pensava em chegar a casa e ver se alguém tinha escrito para o e-mail da Maria Amélia. Tinha a certeza que sim, mas não me queria desiludir e obrigava-me a imaginar que não, mas tinha a certeza de que sim. Sim, não, sim sim sim, simsimsim.
Metro, escadas, despachei o senhorio que me perguntou pelo Mefistófeles.

...



José Luis Peixoto

Minto Até ao Dizer que Minto

1 Comments:

At 12 de agosto de 2006 às 01:18, Anonymous Anónimo said...

Até que enfim que alguém tem a coragem de se afirmar mentiroso, pena ser apenas uma obra de ficção.

 

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