MÉDIO ORIENTE: 60 ANOS DE TERRORISMO
O acontecimento foi agora celebrado em Israel, a pretexto da passagem dos seus 60 anos, com dois dias de festejos, tendo nomeadamente sido descerrada uma placa comemorativa no local, na sequência de cerimónia pública presidida pelo antigo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Os responsáveis pelo atentado ainda vivos foram homeageados como heróis nacionais.
A única mancha na celebração surgiu de um embaraço diplomático: o embaixador britânico sentiu-se obrigado a protestar porque no texto da placa comemorativa foi incluída a frase “For reasons known only to the British, the hotel was not evacuated”, o que foi interpretado como uma atribuição de culpas aos britânicos pelo trágico resultado ocorrido. O representante britânico "denied that the British had been warned, adding that even if they had “this does not absolve those who planted the bomb from responsibility for the deaths”.
In: O SEXO DOS ANJOS.
O Blogue O Sexo dos Anjos faz hoje 3 anos de vida.
O pontedosor.blogue saúda este grande companheiro da blogosfera , Manuel Azinhal e deseja-lhe longos anos de vida e de prosa com aquele rigor que lhe é próprio.
6 Comments:
"Destruindo as infra-estrutras do Hezzbollah"
«Israel impede passagem de comboio humanitário».
Tem toda a razão, não fosse a ajuda cair nas mãos do movimento chiita...
Mais "infra-estruturas do Hezbollah destruídas"
«Cruz Vermelha contou 56 mortos em Qana, incluindo 34 crianças».
Com efeito, as crianças mortas já não irão engrossar as fileiras do dito movimento...
Ouvi no rádio do carro que Israel está a fazer um "intervalo" no seu ataque indiscriminado ao Líbano para "tentar perceber" o que se passou em Qana. Miss Rice, entretanto, regressou a casa à espera de melhores dias. E o Conselho Europeu reune-se amanhã para pensar no assunto. Ou seja, o foguetório deverá seguir dentro de momentos. Sem complexos, nem de "esquerda", nem de "direita", continuo a pensar o mesmo deste "conflito". Israel não pode parar de atacar para se defender, mesmo à custa de gente que nada tem a ver com actividades terroristas. E o Hezbollah fará exactamente o mesmo, de forma mais vesga e aleatória, no território judaico. A desculpa extraordinária de que foram lançados panfletos sobre regiões libanesas a avisar os "civis" que o melhor que tinham a fazer era mudar de sítio, como se se tratasse de uma trivialidade ou de uma obrigação, não justifica o que está a acontecer ao País do Cedro. Sobretudo quando se percebe que o "núcleo duro" do Hezbollah está vivo e de boa saúde. Os tolinhos que por aí andam a "tomar partido" - supostamente em nome da "Estátua da Liberdade", passando atestados de "terrorista" e de anti-semita a quem quer que pense de outra maneira -, pretendendo dar lições de superioridade democrática, mais valia estarem calados. Ao perder a cabeça, Israel corre o risco de perder, mais do que a guerra, o processo político que precede a guerra. E isso, contrariamente ao que pensam os " guerrrilheiros de laptop", é que constituiria uma verdadeira tragédia para a região e para o "ocidente" que eles imaginam "acarinhar" com o seu "israelismo" primário.
A primeira vítima da guerra costuma ser a verdade. O morticínio de trincheiras em que se transformou o Líbano é simplesmente o sonho inocente de criar uma Linha Maginot entre dois mundos. Algo que nunca existiu nem existirá.
Tudo começou com a Declaração Balfour de 1917, prometendo a criação de um Estado judaico num território que tinha a ver filosoficamente com a memória religiosa de um povo (Angola chegou mesmo a ser um destino discutido para ser o futuro Israel). Durante décadas sem fim os grandes impérios coloniais ocidentais redefiniram a regra e esquadro as fronteiras árabes. Hoje, olhando para os homens-bomba, para o Hezbollah ou para o massacre de Caná, percebe-se o génio que saiu da lâmpada. Israel combate. Os Estados Unidos defendem os seus interesses. A Europa assobia um qualquer hino à alegria e à concórdia. No Líbano, simplesmente, morre-se. Beirute, a Paris do Oriente, nunca mais será palco do misticismo que cruzava as lendas do deserto e os prazeres da vida ocidental. Ninguém, de Israel ao Hezbollah, quer Beirute como cidade do diálogo. Por isso é necessário arrasá-la e afugentar as suas últimas elites. O Líbano é hoje um corpo sem sangue. Uma terra de ninguém que para uns é uma «zona tampão» e, para outros, uma nova vitamina para destruir Israel. No meio de tantas mentiras a verdade está a ser enterrada. Para sempre. Entre salvas militares de mísseis israelitas e Katyushas do Hezbollah.
É cada vez mais difícil alguém compreender o que se está a passar no Médio Oriente, e é também cada vez mais difícil alguém compreender as políticas de vários dos principais actores dos variados conflitos que por lá existem. Tomemos como primeiro exemplo a Al-Qaeda. Como todos sabemos, é uma organização terrorista, que professa uma luta global contra o Ocidente, que ataca cidades desde Nova Iorque a Bali, e que tem uma ideologia islâmica radical. Acrescente-se que a Al-Qaeda é sunita, um dos ramos islâmicos, por acaso o maior, em termos de números de crentes. Limita-se a Al-Qaeda a atacar ocidentais? A resposta é não. Desde há três anos para cá, operacionais da Al-Qaeda no Iraque atacam os xiitas iraquianos (os xiitas são o segundo maior ramo islâmico). Quando se fala que o Iraque está “à beira de uma guerra civil”, não é porque a Al-Qaeda ataque as tropas americanas, mas sim porque, quase todos os dias, mata sem misericórdia xiitas iraquianos. Chega mesmo ao ponto de destruir mesquitas xiitas, e matar os seus líderes religiosos. Choque de civilizações? Guerra ocidente-Islão? Mas então porque é que os sunitas da Al-Qaeda matam com fúria os xiitas? Não são todos islâmicos? É de facto difícil de compreender. Principalmente para os outros xiitas. Quando, há cerca de duas semanas, a Al-Qaeda disse que apoiava a luta do Hezbollah (que é xiita) contra os israelitas, muita gente sorriu. No Iraque, matam-nos em fúria, mas no Líbano estão lado a lado. Se isto não é esquizofrenia...
Mas, não são os únicos. Todos nos lembramos certamente de ter ouvido até à exaustão que um dos argumentos que justificava a intervenção americana no Iraque era a “exportação da democracia”. Segundo os ideólogos conservadores da altura, a América devia depor Saddam para permitir ao Iraque ir a votos, e isso serviria de exemplo para toda a região. O Iraque seria uma espécie de farol democrático que iluminaria os espíritos da zona, que passariam de imediato a comportar-se como ilustres cidadãos democráticos. A ideia parecia bonita. Contudo, se acreditávamos nela, era necessário correr um risco. É que, como é sabido, as eleições democráticas e livres nem sempre produzem os resultados que desejamos. Mal o Hamas ganhou na Palestina, acabou-se a conversa sobre a exportação da democracia, e América e Europa de imediato recusaram qualquer conversa com o Hamas. Se isto não é esquizofrenia, parece...
Outro exemplo edificante tem sido o nuclear. Sim, decerto já ouviram falar que é um perigo enorme o Irão ter capacidade nuclear, e que todos os países devem fazer um enorme esforço para evitar a proliferação nuclear. E é isso que acontece, certo? Não, não é. A América fez um acordo bilateral com a Índia que permite aos indianos prosseguirem e ampliarem as suas capacidades nucleares, fazendo tábua rasa de qualquer tratado. E, como é óbvio para qualquer pessoa, de imediato o Paquistão reagiu, dizendo que vai aumentar com vigor os seus arsenais nucleares, para não ficar atrás da Índia. Ninguém quer o Irão nuclear, mas os vizinhos, mesmo que sejam perigosos, como é o caso do Paquistão e da Índia, esses já podem ter a sua corridinha nuclear. Se isto não é esquizofrénico, parece...
Os exemplos abundam. Eu por exemplo deixei de saber o que se passa com os soldados israelitas que foram raptados pelo Hezbollah, e que segundo parece foram o motivo para Israel lançar a ofensiva militar no sul do Líbano. De repente, de um dia para o outro, nunca mais se ouviu falar nos dois soldados raptados. Alguém sabe o que se passa com eles? Morreram, continuam raptados, foram salvos? É que, caramba, foi por causa deles que se lançou uma guerra não é verdade? Não? Estão ali a fazer-me sinais que não é bem assim, que já toda a gente sabe que foi por outras razões, que era preciso destruir o Hezbollah, e que eu não devo colocar questões difíceis nesta altura. Se isto não é esquizofrenia...
A guerra lançada por Israel contra o Hezbollah, bem como contra todos os libaneses não identificados ou que não obedeçam à mais pequena ordem do Tsahal saldou-se até ao momento por uma estrondosa derrota. Uma derrota porque acabou a imagem de invencibilidade do Tsahal, porque a Mossad revelou-se ineficaz, porque as forças armadas de Israel têm evidenciado um desrespeito pela condição humana que no Ocidente e desde a Guerra Mundial só tínhamos assistido na Bósnia e porque Israel conseguiu transformar aquilo a que chamava um movimento terrorista na resistência do Líbano e unir a maioria dos libaneses no apoio ao Hezbollah.
Defender que teve autorização internacional para a guerra, que por aquilo que temos visto significa autorização para matar, é puro cinismo como também o foi dizer que o posto de observação da ONU foi atingido por engano ao mesmo tempo que o governo israelita tudo faz para fazer de conta que a ONU não existe. E tudo serve na sua estratégia de terror, desde matar militares da ONU a destruir edifícios civis em série com o argumento da utilização por terroristas, o que nos levaria a concluir que o Hezbollah tem mais bases do que as formas armadas dos EUA.
O que Israel pretendia era lançar uma guerra em grande escala no Médio Oriente agora que se sente fortalecido militarmente e que conta com o apoio incondicional com um governo americano que é do pior que este país poderia ter, muito embora agora quase deseje a vinda de uma força internacional para proteger uma fronteira que nunca o será enquanto Israel optar por resolver os problemas recorrendo à lei da bala.
Sempre fui defensor da existência do estado de Israel, mas neste momento tenho que dizer que acima de um estado de Israel estão os meus valores civilizacionais, entre o estado de Israel e a defesa de valores como o do direito à vida não terei quaisquer dúvidas em optar. É esta escolha que Israel me está obrigando a fazer, entre a barbárie como solução para serem alcançados os objectivos de um país e os valores dados como adquiridos no Ocidente. O facto de Israel ser vítima do terrorismo não significa que não o avaliemos segundo os mesmos padrões civilizacionais que nos levam a condenar o terrorismo.
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