quarta-feira, 2 de agosto de 2006

ALGUÉM PAGA DEPOIS...



Anthony Garotinho é a típica figura do político charlatão, o homem que se vende com um raciocínio fácil, assente em argumentos falaciosos e que – e isto é o mais grave – acabam sempre a produzir soluções sedutoras, porém perigosíssimas.

Garotinho é, pela segunda vez, candidato a Presidente da República do Brasil. E na primeira, há quatro anos, veio a Lisboa explicar como, em minutos, resolveu um problema que se acumulava há anos nas finanças do Estado do Rio de Janeiro, que ele governou.

Chegámos e vimos um enorme buraco no fundo de aposentadoria dos funcionários do Estado, bilhões e bilhões de reais em falta... um horror!

E continuava: Chamei o pessoal dos bancos e disse ‘é o seguinte, o nosso Estado tem no petróleo a sua grande riqueza e propõe trocar receitas de exploração dos próximos trinta anos, por entrada de dinheiro fresco agora’. E toparam.

Brincadeira de Garotinho?
Não.
Brincadeira de Mário Lino.


O aeroporto da Ota terá um custo implícito.
O modelo será o da concessão a privados.
Inicialmente prevista em 30 anos.
O ministro das Obras Públicas admite que o prazo será alargado até aos 40 anos. Mas nega que tal signifique um acréscimo de custos.

A língua portuguesa não é a única coisa que Garotinho e Mário Lino têm em comum. Ambos partilham este raciocínio, espantoso, perverso, inconcebível, de que a receita de amanhã serve para disfarçar os encargos em que se vêem envolvidos hoje.

O ex-governador brasileiro tinha um fogo para apagar no fundo de pensões – e apagou. Hipotecou por três décadas a principal fonte de receitas do Rio de Janeiro, é verdade, mas isso deixou de ser um problema dele. Será, seguramente, dos dez próximos governadores do Estado.

O ministro português tem uma Ota apertada no pé. Aqueles que lhe estão a fazer as contas do novo aeroporto garantem que os números não batem certo. Propõem que o Estado, em vez dos trinta anos previstos (e anunciados), acrescente mais dez anos ao prazo de concessão.

A proposta é aceite e a opção será considerada.
O ministro admite-o.
Admite, portanto, que em vez de três, o Estado português ficará quatro decénios sem receber um cêntimo de receita pela gestão da maior infra-estrutura aeroportuária que o país vai construir. Mas, garante, tal não implica que a obra fique mais cara!...

Há uma diferença súbtil entre a Ota de Mário Lino e o fundo de Garotinho.
Por cá, a armadilha é criada por bancos e por consultores.
O que torna o nosso político num culpado mais passivo.
Serve de atenuante, não de desculpa.

A nossa banca de investimento não está inocente, porque são os bancos que aparecem nos gabinetes dos Ministérios a dar ideias, a perverter este raciocínio que, pela própria natureza das funções, leva os políticos a concentrar-se sobretudo nos resultados de curto-prazo.
Alguém paga depois...

Há uma segunda razão para «absolver» Mário Lino por falta de originalidade: outros já o fizeram.
Autarcas «securitizaram» as rendas da habitação social do município para fintar as restrições orçamentais do ano.
O Governo de Santana tentou, mas não teve tempo, «tapar o buraco» das Scut com um contrato de securitização que lhe permitia encaixar logo as receitas de portagens a cobrar... do ano 2035 em diante!

Enfim, está em curso uma prática de confisco às receitas das gerações futuras.
É uma prática simples, mas não é um simplex.
É um embustex, ao qual a Ota apenas acrescenta uns moderados 3 mil e 500 milhões.

Parece um recreio, onde os garotinhos de hoje se divertem.
Os brasileiros e os portugueses.
É por isso que a sociedade não deve, hoje, tolerar este tipo de brincadeiras

S. F.

5 Comments:

At 2 de agosto de 2006 às 17:28, Anonymous Anónimo said...

Os socialistas no seu melhor(pior) vigarices, vigarices, que alguem vai pagar.

 
At 3 de agosto de 2006 às 09:16, Anonymous Anónimo said...

O mês de Julho vai ficara como o mês das asneiras do fisco, começou com uma barracadex com o imposto municipal sobre veículos, e terminou com a idiotex da lista dos devedores que por pouco tinha menos itens que a lista do pastorinhos de Fátima. Cá por mim que a inteligência meteu férias na DGCI e quem está a tomar conta daquilo foi o Ideafix.

A barracadex do selo dos automóveis teve um epílogo digno da política à portuguesa, o PSD aproveitou o incidente para fazer uma conferência de imprensa a explorar o tema, mas esqueceu-se que toda a hierarquia envolvida foi nomeada pelo PSD ou são simpatizantes incondicionais deste partido, por pouco até o ministro era do PSD. Entretanto a divulgação da lista dos devedores ao fisco fez esquecer o problema do selo.

A barracadex foi substituída pela idiotex que, como não podia deixar de ser, teve honras de botanex com uma televisão a mostrar-nos que temos um ministro finanças tão modernaço que já consegue escrever num computador com dois dedos, e toda esta figura triste para o ver carregar no botão a imitar Sócrates na botanada de Tróia, só que em vez da implosão das torres ocorreu a implosão de uma lista de que se dizia ter mais de quatro mil nomes e que ficou reduzida a uns caboucos de duzentos e tal devedores. A este ritmo vamos ter botanada ministerial durante trinta anos para que a lista esteja completa, vai parecer uma daquelas telenovelas que só acabam quando deixam de ter audiências.

Se a botanada ministerial em vez de publicar a lista tivesse como resultado a implosão dos dirigentes da DGCI que permitiram que as dívidas ao fisco tivessem atingido este nível de pouca vergonha talvez o estrondo tivesse sido maior que o de Tróia, e o PSD em vez de fazer conferências de imprensa oportunistas, estaria a cuidar das feridas dos seus boys do fisco, o pior que colocaram no Estado.

E por falar em lista de devedores ao fisco não deixa de ser curioso que a SONAE do nosso Belmiro de Azevedo também andou às voltas com a lista dos devedores ao fisco no estado de Rio Grande do Sul, no Brasil, onde entrou numa batalha judicial para evitar aparecer numa lista idêntica à agora publicada em Portugal:

«A empresa Sonae Distribuição do Brasil conseguiu suspender a decisão que mandou ser reincluída na lista das empresas que possuem dívida ativa tributária com o estado do Rio Grande do Sul.»

PS. Com o caso OTA Agosto vai ser lindo

 
At 3 de agosto de 2006 às 09:53, Anonymous Anónimo said...

A lista dos devedores ao Fisco, anunciada aos quatro ventos, acabou por ser uma das medidas mais pífias deste governo. Prometida como uma grande medida de justiça fiscal, a nova lista da "vergonha" encolheu dos prometidos 4000 nomes para 288! Se o Governo conseguisse encolher deste modo a lista de funcionários públicos, o défice acabava num ápice…

 
At 3 de agosto de 2006 às 10:29, Anonymous Anónimo said...

PORTUGAL = REPÚBLICA DAS BANANAS GOVERNADA POR SACANAS:

Madeira
Alberto João Jardim diz que proibiu divulgação da lista de devedores ao Fisco na Região
02.08.2006 - 21h24 Lusa



O presidente do governo regional da Madeira, Alberto João Jardim, afirmou hoje ter proibido a administração fiscal da Região de divulgar a lista de contribuintes com dívidas ao fisco no arquipélago.

Jardim falava no âmbito da inauguração de uma zona balnear no Jardim do Mar, na zona oeste da Madeira, que representa um investimento de 300 mil euros.

"Ainda ontem [terça-feira] proibi que, da parte do governo da Madeira, agora que a administração está sob a nossa responsabilidade, pusesse o nome das pessoas que não pagaram isto ou aquilo", disse o governante madeirense.

O líder regional anunciou ter mandado executar na Região "todos aqueles que não pagam nem as dívidas à segurança social, nem as dívidas às finanças".

Apontou ainda que na Madeira, "só num ano, se registou um aumento entre 13 e 15 por cento na cobrança das dívidas fiscais".

"Há meios mais eficazes para cobrar as dívidas sem ser andar a violar a privacidade de cada pessoa", sustentou Jardim.

A lista, que foi publicada segunda-feira no site do Ministério das Finanças (http://www.e-financas.gov.pt), apresenta 288 contribuintes com dívidas ao fisco e não inclui qualquer nome de devedores da Região da Madeira.

Contactado pela agência Lusa, o Ministério das Finanças não quis fazer comentários às declarações de Alberto João Jardim.

 
At 4 de agosto de 2006 às 14:28, Anonymous Anónimo said...

O aeroporto da Ota é o faquir deste Governo. De cada vez que se fala dele espeta-se mais um prego na cama onde descansa o corpo do Governo de José Sócrates. À falta de actividade musculado do PSD e do CDS, a Ota é a verdadeira oposição ao executivo.
Assim como o são casos como o TGV, a plataforma logística que caiu do céu aos trambolhões ou os muitos simplex que são mera letra de forma. Agosto é o mês da sesta repousante da oposição mas espera-se que, em Setembro, Marques Mendes e essa associação de cacos que procura uma cola funcional que dá pelo nome de CDS, surgem revigorados. Há dias Tony Blair disse que as noções de esquerda e direita tinham perecido e o que existia agora eram gestores da economia e da globalização. O líder socialista português entendeu isso antes do antigo «menino bonito» da chamada esquerda moderna. Sócrates tornou-se o mais viçoso eucalipto da política portuguesa: secou a direita e a esquerda nacional. Reconduzindo o debate à tecnologia (um conceito não ideológico), ele calou a chamada oposição. Quem é que não quer a sociedade do conhecimento? Quem é que não aposta na educação? Quem é que não quer investimento estrangeiro? Só que tudo isso deveria estar dependente de um projecto global para o país. Coisa que, francamente, não parece haver. A Ota não se paga em 30 anos? Paga-se em 100! Quem tomou a decisão política estará num Vanuatu qualquer. Os portugueses que cá estiverem na altura que façam oposição!

 

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