sábado, 13 de janeiro de 2007

TLEBS


Antero Valério
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1 Comments:

At 14 de janeiro de 2007 às 15:04, Anonymous Anónimo said...

O RETRATO

Vasco Pulido Valente acha que a escolha dos 100 portugueses, no programa idiota da RTP 1, é o retrato do país que somos:

«A RTP anunciou uma lista de 100 "grandes portugueses", "votada" pelo público. Mas toda a gente sabe como são estas coisas. Se há um público amorfo de indivíduos, também há dúzias de "públicos": de uma igreja, de um partido ou de uma causa, ou de simples cómicos como o que votou em Maria do Carmo Seabra (a pior ministra de Santana Lopes). Se não se perceber isto, não se percebe como aparecem nos 100 personagens tão inesperadas como Adelaide Cabete (médica e feminista), Antónia Adelaide Ferreira (empresária vinhateira), António Teixeira Rebelo (fundador do Colégio Militar) ou João Ferreira Annes d"Almeida, tradutor da Bíblia no século XVII. A maioria dos "grandes" foi evidentemente "feita" pela televisão e pela imprensa, do "cavaquismo" para cá.

O exercício não deixa, de qualquer maneira, de ter interesse. Mais pela gente que não chegou à lista do que pela que chegou. Não chegou à lista, surpresa das surpresas, Camilo Castelo Branco. Nem Júlio Diniz. Por outras palavras, parece que o país rural, "essencialmente agrícola", da propaganda e da lenda, saiu para sempre da imaginação dos portugueses. Também o domínio absoluto da América reduziu os cantores "pop" a Mariza e António Variações (Amália é um caso diferente). O fado, como símbolo nacional, morreu. O teatro e o cinema não existem. Tirando Gil Vicente e Garret, que se aprendem na escola, nem um solitário dramaturgo ou realizador. Actor, um único: Ruy de Carvalho. Pela poesia, vêm Garret (em duplo emprego), Pessoa, Florbela Espanca, Bocage (por causa da tradição de obscenidade), Natália Correia (por causa de 20 anos de espalhafato) e Sophia de Mello Breyner. O "Portugal, berço de poetas", que tanto tempo consolou o patriotismo indígena, visivelmente já não convence.

De resto, não faltam os três tiranos do século XX, Afonso Costa, Salazar e Cunhal, acompanhados por Caetano, um tiranete efémero. O gosto irresponsável e servil pela autoridade continua vivo. Significativamente, e fora Fontes Pereira de Melo, nem sombra de um político da Monarquia Liberal e da República. Do PREC, Portugal ainda se lembra de Otelo, Salgueiro Maia e Vasco Gonçalves. E, entre o pessoal da nova democracia, é curiosa a ausência de Eanes, Guterres, Barroso e Santana e a presença de Jardim (a Madeira lá se esforçou) e de Pintasilgo (um mistério). No meio disto, nem sinal de um "herói" ou de um colonizador do Império de África, desde o princípio uma invenção impopular. Quer se goste, quer não, "a lista dos 100" não deixa de ser um bom retrato do Portugal de hoje: analfabeto, pretensioso e, saloiamente, "modernizado". » In:Público

 

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