EM CASA ONDE NÃO HÁ MAIORIA
Como partido de oposição a uma maioria absoluta, era de prever que o PSD iria ter algumas dificuldades. Tanto mais que não está nos seus objectivos derrubar o Governo a qualquer preço mas, antes, colaborar responsavelmente quanto a todos os objectivos reputados de interesse nacional, colocando este sempre à frente do interesse partidário. Ainda agora, por exemplo, a proximidade no tempo da presidência portuguesa da União vai levar o PSD a uma colaboração com o Governo nessa perspectiva, nem poderia ser de outro modo.
Mas, em casa onde não há maioria, todos ralham e muita gente se arrelia. Há este ou aquele militante destacado que abandona o partido e este ou aquele que formula críticas construtivas; este ou aquele que prefere investir num desgaste da imagem de Marques Mendes e este ou aquele que proclama o seu desinteresse pelos objectivos partidários e envereda pela desmilitância...
Em casa onde não há maioria, estas coisas são naturais e tão velhas como o sistema partidário. Desenhar uma oposição é difícil e exercê-la eficazmente é ainda mais difícil. O sistema mediático só confere visibilidade, mesmo assim muito relativa e em nada comparável àquela de que beneficiam os nomes grados da maioria no poder, ao presidente do PSD. Isto explica em grande parte que tenha de ser ele a acorrer a apagar todos os "fogos". De outro modo, tudo se passaria como se o partido não se tivesse manifestado nas emergências importantes.
Marques Mendes tem sido um líder inteligente e firme, agindo sem impaciências imediatistas e preocupando-se em consolidar a posição do PSD no tecido político e social do País. Recebeu a chefia do partido em condições particularmente desfavoráveis e conseguiu credibilizá-lo em pouco tempo. Apresentou propostas alternativas e/ou complementares às do Governo, fazendo-o no momento certo. E se, quanto à justiça, conseguiu estabelecer um pacto, não deve esquecer-se a oportunidade do seu trabalho incansável quanto à Segurança Social, à saúde, à educação, ao emprego, ao equilíbrio das contas públicas, ao aumento das despesas do Estado a despeito do aumento das receitas, etc., etc. Marques Mendes, nas suas intervenções, tem sabido atacar as razões por que se vive pior, por que a vida está cada vez mais cara, por que os indicadores negativos aumentam lá onde, se a governação fosse correcta, deveriam estar a descer.
Incidentalmente, e se não fosse o bom gosto, os factos até lhe permitiriam agora um belo exercício de humor macabro, uma vez que às promessas, ainda há dias reiteradas e garantidas pelo Governo, de criação de 150 mil empregos durante uma legislatura que já vai em meio sem que nada de palpável se veja, a realidade nua e crua veio contrapor um aumento do desemprego para 8,2%, o maior das duas últimas décadas, no último trimestre de 2006...
Por outro lado, Marques Mendes tem denunciado as contradições, desconformidades e falhanços do Governo, sabendo distinguir entre o que podia corresponder a uma linha de rumo correcta, susceptível de merecer a concordância do PSD, e um ficar-se a governação, sistematicamente, muito aquém do conjunto de medidas que seria imperativo tomar.
Isto é fazer uma oposição sensata, sem desvios populistas, e tendo presente que os grandes testes (eleições europeias, legislativas e municipais) se colocam a dois anos de prazo.
Haverá quem diga que o PSD se tem descaracterizado e em pouco se distingue do PS. Esta observação é, desde logo, singular porque, na verdade, na prática o PS é que tem vindo a adoptar (e a adaptar, por vezes com patente gaucherie) muitas das vias de solução preconizadas pelo PSD e reconduzíveis às linhas programáticas deste.
Mas, além disso, a crítica é, pelo menos, prematura numa fase em que, precisamente, Marques Mendes meteu ombros à tarefa de revisão do programa do partido, num processo muito participado, alargado e complexo, que deve prolongar-se ao longo de todo o ano corrente, de modo a ajustar as propostas programáticas às realidades do tempo actual, aos desafios da globalização, à evolução das mentalidades e da sociedade portuguesa, à construção europeia, às elaborações mais recentes do pensamento político.
Passou uma geração desde que, em 1974, o PSD foi fundado. Uma segunda revisão do programa pode ter consequências positivas incalculáveis. E também elas ficarão a dever-se a esta iniciativa de Marques Mendes. Em casa onde não há maioria, também se prepara outro dia.
Vasco Graça Moura
Mas, em casa onde não há maioria, todos ralham e muita gente se arrelia. Há este ou aquele militante destacado que abandona o partido e este ou aquele que formula críticas construtivas; este ou aquele que prefere investir num desgaste da imagem de Marques Mendes e este ou aquele que proclama o seu desinteresse pelos objectivos partidários e envereda pela desmilitância...
Em casa onde não há maioria, estas coisas são naturais e tão velhas como o sistema partidário. Desenhar uma oposição é difícil e exercê-la eficazmente é ainda mais difícil. O sistema mediático só confere visibilidade, mesmo assim muito relativa e em nada comparável àquela de que beneficiam os nomes grados da maioria no poder, ao presidente do PSD. Isto explica em grande parte que tenha de ser ele a acorrer a apagar todos os "fogos". De outro modo, tudo se passaria como se o partido não se tivesse manifestado nas emergências importantes.
Marques Mendes tem sido um líder inteligente e firme, agindo sem impaciências imediatistas e preocupando-se em consolidar a posição do PSD no tecido político e social do País. Recebeu a chefia do partido em condições particularmente desfavoráveis e conseguiu credibilizá-lo em pouco tempo. Apresentou propostas alternativas e/ou complementares às do Governo, fazendo-o no momento certo. E se, quanto à justiça, conseguiu estabelecer um pacto, não deve esquecer-se a oportunidade do seu trabalho incansável quanto à Segurança Social, à saúde, à educação, ao emprego, ao equilíbrio das contas públicas, ao aumento das despesas do Estado a despeito do aumento das receitas, etc., etc. Marques Mendes, nas suas intervenções, tem sabido atacar as razões por que se vive pior, por que a vida está cada vez mais cara, por que os indicadores negativos aumentam lá onde, se a governação fosse correcta, deveriam estar a descer.
Incidentalmente, e se não fosse o bom gosto, os factos até lhe permitiriam agora um belo exercício de humor macabro, uma vez que às promessas, ainda há dias reiteradas e garantidas pelo Governo, de criação de 150 mil empregos durante uma legislatura que já vai em meio sem que nada de palpável se veja, a realidade nua e crua veio contrapor um aumento do desemprego para 8,2%, o maior das duas últimas décadas, no último trimestre de 2006...
Por outro lado, Marques Mendes tem denunciado as contradições, desconformidades e falhanços do Governo, sabendo distinguir entre o que podia corresponder a uma linha de rumo correcta, susceptível de merecer a concordância do PSD, e um ficar-se a governação, sistematicamente, muito aquém do conjunto de medidas que seria imperativo tomar.
Isto é fazer uma oposição sensata, sem desvios populistas, e tendo presente que os grandes testes (eleições europeias, legislativas e municipais) se colocam a dois anos de prazo.
Haverá quem diga que o PSD se tem descaracterizado e em pouco se distingue do PS. Esta observação é, desde logo, singular porque, na verdade, na prática o PS é que tem vindo a adoptar (e a adaptar, por vezes com patente gaucherie) muitas das vias de solução preconizadas pelo PSD e reconduzíveis às linhas programáticas deste.
Mas, além disso, a crítica é, pelo menos, prematura numa fase em que, precisamente, Marques Mendes meteu ombros à tarefa de revisão do programa do partido, num processo muito participado, alargado e complexo, que deve prolongar-se ao longo de todo o ano corrente, de modo a ajustar as propostas programáticas às realidades do tempo actual, aos desafios da globalização, à evolução das mentalidades e da sociedade portuguesa, à construção europeia, às elaborações mais recentes do pensamento político.
Passou uma geração desde que, em 1974, o PSD foi fundado. Uma segunda revisão do programa pode ter consequências positivas incalculáveis. E também elas ficarão a dever-se a esta iniciativa de Marques Mendes. Em casa onde não há maioria, também se prepara outro dia.
Vasco Graça Moura
Etiquetas: Portugal
2 Comments:
É uma pena que o Diário da República não seja publicado no dia de Entrudo, talvez a Lei das Finanças Regionais tivesse sido publicada nesse dia e estaria criado o ambiente perfeito para a berraria de Alberto João, até se poderia ter apresentado à comunicação social já vestido para o corso carnavalesco e acompanhado de alguns cabeçudos e gigantones mandados pelo PSD do “contenente”.
A intervenção de Alberto João não passou da divulgação de que em 2007 os contribuintes pagarão um Carnaval extra na Região Autónoma da Madeira, um Carnaval destinado a mostrar que o Alberto se vai bambolear como rei acompanhado de um Marques Mendes que não perderá a oportunidade de fazer o papel de bobo da corte da Quinta da Vigia.
É evidente que o Alberto não vai ter nem muitos mais, nem muitos menos votos do que os que costuma ter, ao fim de trinta anos já não há ninguém para comprar e quem não vota nele já suportou sacrifícios suficientes para que agora mude de ideias.
Os que não votam PSD há muito que por ali são tratados por traidores ou lacaios do colonialismo, as ameaças do Alberto, da corte de enriquecidos pelo regime e da populaça já não os assusta.
Este Carnaval extra só serve para prolongar o poder de Alberto João e, mais do que isso, para dar uma ajuda a um Marques Mendes que só sobreviverá até às próximas legislativas porque ninguém está disposto a carregar o PSD no estado em que o deixou.
A berraria do Alberto João foi um favor que este fez a Marques Mendes, foi o preço assumido pelo líder do PSD-Madeira para apoiar um líder nacional fraco que é o género de líder que lhe convém ter em Lisboa.
É a retribuição pelos silêncios de Marques Mendes perante os abusos e devaneios madeirenses, um silêncio que nos faz pensar que Marques Mendes julga que a Madeira é uma ilha do arquipélago das Canárias.
Alberto João foi a arma secreta que Marques Mendes usou para distrair os portugueses da vergonha que tem sido a gestão da Câmara Municipal de Lisboa e para calar os que não lhe perdoam a liderança incompetente e o beco sem saída em que o PSD se meteu no referendo da IGV.
Isso explica que Alberto não tenha criticado quem mandou promulgar a lei sem sequer a enviar para o Tribunal Constitucional, o Presidente da República Cavaco Silva.
A escrita de Marques Mendes no discurso de Alberto João foi mais do que evidente.
Só que se esta era a arma secreta para Marques Mendes afugentar os seus fantasmas não passa de uma pistola de Carnaval, um pistola de água que ainda por cima disparou para os pés, como se estivesse a fazer xixi.
Mais uma vez Marques Mendes meteu água, não entendeu que não ganhou um único voto na Madeira e perdeu muitos mais no Continente e Açores. A continuar assim, Sócrates ainda vai ter mais votos nas próximas legislativas do que o Alberto tem na Madeira e sem fazer palhaçadas, limitando-se a recorrer aos serviços do bobo da corte que lidera o PSD.
O chumbo da lei das finanças locais apenas foi o pretexto para esta guerra de personalidades entre o "Continente" e a Ilha de Alberto. Respaldado pelo Tribunal Constitucional Cavaco avançou e aplicou o diploma, e dessa aplicação Alberto recebeu menos uns milhões valentes de euros, e ele só sabe governar com muito leite.
Ferido o seu orgulho - a que ele chama de honra - inibido de dar um valente par de estalos a Cavaco e um tiro de caçadeira de canos cerrados a Sócrates, Alberto só tem uma escapatória:
Demite-se - fazendo cair a Assembleia Regional que com ele alinha nesta farsa pseudo-democrática.
O objectivo é tão mesquinho quanto claro e caricato, reeleger-se, religitimar-se, e, assim, autoplebiscitar-se e jogar a vontade do povo madeirense contra a consciência do PM e do PR - sobre quem reclama mais dinheiro.
The same as usualy... Eisa fuga de Alberto.
Uns zarpam para Bruxelas deixando o país arder nas mãos de Santana Lopes, outros fazem cair governos para tentar aumentar a mesada, como tenta Alberto, embora de Sócrates duvido que consiga algo, teimoso como este é e, sobretudo, quando Sócrates está apostado em ser o estertor político de Alberto.
Da velha gramática do independentismo e do colonialismo Alberto já não pega, cedo percebeu que isso tinha um efeito de boomerang no seu próprio futuro, restam-lhes simulacros de eleições democráticas, é assim que Alberto pensa conseguir sacar mais uns cobres ao Continente e restaurar a honra e a dignidade perdidas da ilha e dos madeirenses, boa gente mas ingénua e muito manipulável e facilmente impressionável.
Ainda ontem Alberto nos deu um sinal da sua graça e espontaneidade:
enquanto dava uma entrevista, a esposa, a seu lado, avisa-o que estava atrasado para algo.
Ele suspende a entrevista e responde à mulher em directo, dizendo que já vai, e assevera o jornalista para não a entrevistar porque saí-se mal se o fizer.
Ora, isto é um quadro completamente surrealista só possível pela mente de Alberto, e terei pena se estas gargalhadas desaparecerem da vida pública nacional, que logo entristecerá.
Não há palhaçada que resista a esta espontaneidade, pois ele governa como fala, e dá entrevistas como quem está no quarto de banho em intimidades com a esposa. É isto que é sensacional em Alberto, um colosso.
Evidentemente, que o "Sr. Silva" e as centenas de ofensas que ele tem feito aos agentes políticos do "continente" também estão hoje em equação.
Se pudéssemos tirar uma radiografia aos sentimentos de Sócrates e de Cavaco, é óbvio que uma quota parte das respectivas animosidades reprimidas pelas normas culturais em ambos encontram-se plasmadas na lei das finanças regionais e no isolamento de que Alberto é alvo.
Foram 30 anos de bastardos, de filhos da puta, de mentecaptos, de energúmenos, de atrasados mentais e, mais recentemente, de incultos, subservientes e de medíocres.
Ora foi precisamente com base nesta adjectivação que o actual Presidente do Governo Regional da Madeira justificou a sua demissão, nem sequer se apercebendo que era ele mais a sua entourage que estão no poder há décadas.
Além de estúpida esta declaração foi kamikase.
Confesso que me surpreendeu este tão baixo nível de articulação mental de Alberto, e só o nervosismo explica esta atrapalhação e contradição dos termos:
como se pode governar a Madeira com sucesso e elogios quase unânimes e, ao mesmo tempo, ser inculto, subserviente e medíocre.
Talvez isto tenha sido um acto falhado de Alberto que só percebeu depois de bujardar.
Daqui decorre um problema estratégico para a Madeira, um nó górdio que compromete o futuro das novas gerações e das próximas políticas públicas que se abrirão com o novel (e forçado) ciclo político.
Na prática, a questão é legítima e velha:
Quem sucede a Alberto?
Já que todos lhe devem o emprego, o subsídio, a licença, as graças do senhor.
Toda a gente lhe deve favores, daí o seu populismo e a margem com que fácilmente ganha eleições, sempre num crescendo e com uma tremenda impunidade, demagogia e irresponsabilidade.
Acompanhado por verdadeiros caciques, alguns empresários que viraram deputados e têm um pé dentro dos negócios e outro na política.
É, portanto, esta falta autêntica de democracia e de genuína liberdade que fazem hoje da Madeira o quintal onde Alberto e o seu corpo de caceteiros - formados na sua escola - que põe e dispõe das maiorias sociológicas que se têm sucedido ao longo destes 30 anos de simulacro de democracia pluralista. Um simulacro que ele - e os seus homens de mão - mitigam com o velho discursos neocolonialista, neo-imperialista, anti-comunista, independentista (mas depois é cobardolas por não levar até às últimas consequências as suas proclamações) envolto naquele desbragamento verbal que todos conhecemos.
Por todas estas razões tudo leva a crer que Alberto irá morrer politicamente à praia sózinho, sem sucessor nem uma geração de políticos que se distingam dele nas palavras, nos gestos, nas negociações, nas relações e em tudo o mais.
Foi isto que Alberto fez à Madeira: Depois de dar estradas, hotéis, piscinas para a 3ª Idade das pessoas do Norte da Europa - o "Zulu" regional asfixiou os futuros possíveis do desenvolvimento equilibrado naquela bonita região autónoma de Portugal.
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