quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

MORRER E CALAR



Teresa sobreviveu alguns minutos com o útero perfurado.
Ester aguentou três semanas ligada às máquinas.
Uma adolescente queimou o estômago com 64 comprimidos.
Vários casos concretos e histórias impressionantes de morte por aborto clandestino, na semana em que se realiza o referendo sobre a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez.

Vale a pena ler a VISÃO de hoje

2 Comments:

At 8 de fevereiro de 2007 às 21:19, Anonymous Anónimo said...

"Espalhem a Notícia" ou "Chamem a Polícia"?

Acabo de receber, por vários amigos, a notícia: um "blogue do não”(http://bloguedonao.blogspot.com
/2007/02/espalhem-notcia.html) usou nas suas páginas uma canção minha, para, em ultima análise, promover os seus pontos de vista em relação ao referendo de Domingo.

Para mim, não é um assunto novo. Muitas vezes, canções inteiras foram usadas em contextos ampliados — e muitas vezes amplificados. E muitas outras se apropriaram de frases minhas para dizer — e pensar — outras coisas. Goste ou não goste (e gosto várias vezes) acho que tudo isso faz parte de qualquer acto criativo. Se não o quisesse expor a esse risco, guardava-o na gaveta.

Só que há limites, claro. Desde já, neste caso, enganaram-se, não só na intenção, mas no próprio título da canção. Em vez de “Espalhem a notícia” deviam ter posto (e postado) "Chamem a polícia”...

A minha canção é uma elegia à qualidade da vida, e à alegria consciente de dar à luz um novo ser. Nada que se pareça com humilhação, falsas promessas de apoio a gravidezes indesejadas, sugestões de trabalho comunitário para substituir penas de prisão e outra pérolas que tais.

E sim, sim à vida que a canção exalta e reconhece. Espalhem a notícia.

Sérgio Godinho

 
At 9 de fevereiro de 2007 às 14:16, Anonymous Anónimo said...

Num país onde tanto se barafusta contra os partidos e se defende maior cidadania é curioso como um acto eleitoral em que a palavra é dada aos cidadãos nos faz saudades das eleições partidárias. Temos assistido a uma campanha de desinformação, uma verdadeira guerra civil de palavras. Aliás, esta campanha está para uma guerra civil como umas eleições partidárias estão para uma guerra convencional, é uma luta sem regras, limites, princípios ou respeito pelo adversário.

Foram mais frequentes as tentativas de lançar a dúvida do que as de esclarecer, de aumentar a abstenção do que o número de eleitores, de provar que o adversário não tem razão do que convencer que as nossas ideias são as certas.

Um dos aspectos mais curiosos desta campanha está no facto de que a esmagadora maioria dos que nela participam não serem o alvo da lei que uns querem banir e outros manter. Desde logo os homens não abortam, os eclesiásticos são castos, os católicos mais fervorosos limitam as relações sexuais à procriação e em caso de aborto temem mais a excomunhão do que a vergonha social de um crime mesmo que sem pena. Os "beligerantes" não estão a defender o seu próprio interesse, não estão preocupados pessoalmente com a manutenção ou a revogação da lei, estão a bater-se pela criminalização ou descriminalização das mulheres, muitas das quais estão em silêncio, mais do que uma luta entre dois modelos de sociedade é uma batalha por convições.

Há quem seja a favor da despenalização e os que são contra, mas mais do que a defesa dessas duas opiniões legítimas estamos a assistir a uma guerra santa, está em causa um dos poucos bastiões anti-aborto que a Igreja Católica tem conseguido manter na Europa. A Igreja não pode perder mais esta batalha, cada vez mais a Europa não aceita os valores éticos e morais que a Igreja consideram a sua matriz civilizacional, isto é, cada vez mais a Igreja Católica tem a sua sede longe dos seus rebanhos mais obedientes.

Mais do que o aborto o que se discute neste referendo é se na próxima semana o nosso clero continua orgulhoso por o seu castelo ter resistido ou se terá que se apresentar na Santa Sé envergonhado por ter perdido tão importante bastião.

 

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