segunda-feira, 28 de maio de 2007

ENFIM, SÓ

A saída de António Costa para a Câmara de Lisboa pode ser interpretada de muitas maneiras. Mas, se as intenções podem ser interessantes, os resultados é que contam. Entre estes, está o facto de o candidato à autarquia se ter afastado do governo e do partido, o que deixa Sócrates praticamente sozinho à frente de um e de outro. Único senhor a bordo tem um mestre e uma inspiração. Com Guterres, o primeiro-ministro aprendeu a ambição pessoal, mas, contra ele, percebeu que a indecisão pode ser fatal. A ponto de, com zelo, se exceder: prefere decidir mal, mas rapidamente, do que adiar para estudar. Em Cavaco, colheu o desdém pelo seu partido. Com os dois e com a sua própria intuição autoritária, compreendeu que se pode governar sem políticos.

Onde estão os políticos socialistas?

Aqueles que conhecemos, cujas ideias pesaram alguma coisa e que são responsáveis pelo seu passado?

Uns saneados, outros afastados.
Uns reformaram-se da política, outros foram encostados.
Uns foram promovidos ao céu, outros mudaram de profissão.
Uns foram viajar, outros ganhar dinheiro.
Uns desapareceram sem deixar vestígios, outros estão empregados nas empresas que dependem do Governo.

Manuel Alegre resiste, mas já não conta.
Medeiros Ferreira ensina e escreve.
Jaime Gama preside sem poderes.
João Cravinho emigrou.
Jorge Coelho está a milhas de distância e vai dizendo, sem convicção, que o socialismo ainda existe.
António Vitorino, eterno desejado, exerce a sua profissão.
Almeida Santos justifica tudo.
Freitas do Amaral reformou-se.
Alberto Martins apagou-se.
Mário Soares ocupa-se da globalização.
Carlos César limitou-se definitivamente aos Açores.
João Soares espera.
Helena Roseta foi à sua vida independente.
Os grandes autarcas do partido estão reduzidos à insignificância.
O Grupo Parlamentar parece um jardim-escola sedado.
Os sindicalistas quase não existem.

O actual pensamento dos socialistas resume-se a uma lengalenga pragmática, justificativa e repetitiva sobre a inevitabilidade do governo e da luta contra o défice.

O ideário contemporâneo dos socialistas portugueses é mais silencioso do que a meditação budista.

Ainda por cima, Sócrates percebeu depressa que nunca o sentimento público esteve, como hoje, tão adverso e tão farto da política e dos políticos.
Sem hesitar, apanhou a onda.

Desengane-se quem pensa que as gafes dos ministros incomodam Sócrates. Não mais do que picadas de mosquito.
As gafes entretêm a opinião, mobilizam a imprensa, distraem a oposição e ocupam o Parlamento.
Mas nada de essencial está em causa.
Os disparates de Manuel Pinho fazem rir toda a gente.
As tontarias e a prestidigitação estatística de Mário Lino são pura diversão. E não se pense que a irrelevância da maior parte dos ministros, que nada têm a dizer para além dos seus assuntos técnicos, perturba o primeiro-ministro.
É assim que ele os quer, como se fossem directores-gerais.
Só o problema da Universidade Independente e dos seus diplomas o incomodou realmente.
Mas tratava-se, politicamente, de questão menor.
Percebeu que as suas fragilidades podiam ser expostas e que nem tudo estava sob controlo.
Mas nada de semelhante se repetirá.

O estilo de Sócrates consolida-se.
Autoritário.
Crispado.
Despótico.
Irritado.
Enervado.
Detesta ser contrariado.
Não admite perguntas que não estavam previstas.
Pretende saber, sobre as pessoas, o que há para saber.
Deseja ter tudo quanto vive sob controlo.
Tem os seus sermões preparados todos os dias.
Só ele faz política, ajudado por uma máquina poderosa de recolha de informações, de manipulação da imprensa, de propaganda e de encenação.
O verdadeiro Sócrates está presente nos novos bilhetes de identidade, nas tentativas de Augusto Santos Silva de tutelar a imprensa livre, na teimosia descabelada de Mário Lino, na concentração das polícias sob seu mando e no processo que o Ministério da Educação abriu contra um funcionário que se exprimiu em privado.
O estilo de Sócrates está vivo, por inteiro, no ambiente que se vive, feito já de medo e apreensão.
A austeridade administrativa e orçamental ameaça a tranquilidade de cidadãos que sentem que a sua liberdade de expressão pode ser onerosa.
A imprensa sabe o que tem de pagar para aceder à informação.
As empresas conhecem as iras do Governo e fazem as contas ao que têm de fazer para ter acesso aos fundos e às autorizações.

Sem partido que o incomode, sem ministros politicamente competentes e sem oposição à altura, Sócrates trata de si.
Rodeado de adjuntos dispostos a tudo e com a benevolência de alguns interesses económicos, Sócrates governa.
Com uma maioria dócil, uma oposição desorientada e um rol de secretários de Estado zelosos, ocupa eficientemente, como nunca nas últimas décadas, a Administração Pública e os cargos dirigentes do Estado.
Nomeia e saneia a bel-prazer.
Há quem diga que o vamos ter durante mais uns anos.
É possível.
Mas não é boa notícia.
É sinal da impotência da oposição.
De incompetência da sociedade.
De fraqueza das organizações. E da falta de carinho dos portugueses pela liberdade.


António Barreto
In:PÚBLICO

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9 Comments:

At 28 de maio de 2007 às 13:40, Anonymous Anónimo said...

Independentemente do feio guião do "reality show" em exibição na DREN, o que todos os dias se vai sabendo sobre os contornos do caso (cava-se e a cada cavadela cada minhoca) justifica uma reflexão não só sobre o modo como se chega hoje a cargos de nomeação política em Portugal mas igualmente sobre os inquietantes reflexos que podem ter no quotidiano das instituições culturas políticas de afrontamento e intimidação como as que têm sido adoptadas pelo actual Governo, de que justamente o Ministério da Educação se tornou um "study case". Ficou famosa uma frase de Marcello Caetano proferida já em período de acelerada degradação moral e política do anterior regime "O poder não dialoga, o poder decide". Em épocas de crise a tentação autoritária é sempre maior. Ora o autoritarismo é uma doença social altamente contagiosa. Políticas autoritárias (sobretudo quando acompanhadas de culto da personalidade) geram tiranetes e bufos por todo o lado. Um "boy", ou "girl", sem outro mérito para ter chegado a um lugar de decisão que não um cartão partidário e um "protector" torna-se facilmente num tiranete ansioso por mostrar serviço ao chefe. Convenhamos que só na Coreia do Norte é que o que se passa na DREN é, como diz o líder do PS/Porto, "absolutamente normal".

 
At 28 de maio de 2007 às 14:36, Anonymous Anónimo said...

Sim, é intolerável que alguém seja de algum modo perseguido ou prejudicado por criticar ou dizer uma piada sobre o primeiro-ministro, a ter sido esse o caso do professor que viu terminada uma requisição pública de 19 anos por alegadamente ter dito uma piada – aliás sem graça nenhuma – sobre o caso da licenciatura de José Sócrates.

Pois, e também é inadmissível que um ministro manifeste publicamente alguma forma de desprezo – ainda por cima baseada em pressupostos errados – por uma região do País. Mas agora pergunto eu: se não houver manifestações de falta de tolerância ou de ausência de sentido de humor e ‘gaffes’ por parte do Governo e dos seus ministros, que fazem as oposições? Parece que nada.

Ao longo de toda a semana passada, os grandes temas das oposições, em particular das oposições de direita, foram as questões das “piadas” sobre o primeiro-ministro e das ‘gaffes’ do ministro das Obras Públicas e Transportes. Quando não se estiveram a zurzir uns aos outros, até mesmo num clima de “guerra civil” dentro do PSD, como acusou o CDS, os políticos das oposições exigiram explicações do Governo e até mesmo a demissão de um ministro por causa de piadas e de ‘gaffes’. Não há mais nada na política portuguesa. No dia em que o ministro da Saúde anunciou que muito provavelmente vai retirar a isenção do pagamento de taxas moderadoras às crianças, a oposição andou a barafustar contra uma “boca” do ministro das Obras Públicas.

De maneira que bem fará o Governo se adoptar a táctica de pôr um ou outro ministro a dizer uma “bocas” foleiras – o que até deve corresponder à vocação de alguns ministros – para deixar a oposição entretida. E é assim que uns vão subindo e outros descendo nas sondagens.

 
At 28 de maio de 2007 às 14:39, Anonymous Anónimo said...

Portugal tem uma relação íntima com os bufos. Ou os bufos com Portugal, vá.

A PIDE não era apenas uma polícia política que chafurdava, perseguia, prendia e mandava matar. A PIDE era, sobretudo, o depósito da recolha pormenorizada das indiscrições e desvios, públicos e privados, que cidadãos anónimos, diligentes e respeitáveis, recolhiam acerca de vizinhos, amigos e conhecidos nas horas do seu vagar.

Os agentes da PIDE, encartados, só podiam ser do piorio - como foram - porque havia carradas de bufos à disposição. Na repartição, no gabinete, nas redondezas, na família e até no confessionário. Com um exército voluntário de verdugos, até eu montava uma polícia política com uma perna às costas. Em democracia e sem se dar por isso.

Uma vez, tentei chegar à fala com um «pide», conhecê-lo por dentro. Não digo «ex-pide», claro. Pode ser-se ex-marido, mas nunca ex-facínora. Trabalhava ele numa junta de freguesia do Norte do País, a secretário. Sem se notar. Como sempre. Pedi-lhe uma entrevista sobre os «velhos tempos», mas ele só queria falar dos novos. E mandou-me pregar para outra freguesia, convertido que estava à democracia de paróquia.

De há uns tempos para cá que venho alertando aqui mesmo para a proliferação dos «pides» de gabinete e de corredor que por aí andam, esses sim, verdadeiramente perigosos e activos, especialistas em ar rarefeito. À beira deles, o PNR mete tanto medo como um gambozino.

Em democracia ou na falta dela, os bufos estão sempre à espreita de um passo em falso do colega do lado. Uns são de antigamente, outros aprenderam andando. Ah! E imitam-se uns aos outros. Um bufo de sucesso tem sempre um regimento por conta de bufos juniores, prontos a aprender com o melhor.

De uma maneira ou de outra, andam aí, empenhados no seu dever, apenas um tanto desorganizados. Os bufos não têm Ordem, nem sindicato. Ainda. Não são um lóbi, não têm sede, nem estatutos. O que dificulta, pelo menos, a construção de uma base de dados sobre os maus comportamentos a vigiar. Mas ao menos o disfarce é garantido.

Não é estranho, claro, que no caso do professor Charrua apanhado a contar uma suposta anedota insultuosa sobre o Primeiro-Ministro se tenha falado de tudo menos do bufo ou dos bufos de plantão. Já se defendeu a demissão da directora regional e saiu-se em defesa do antigo deputado do PSD. Mas os bufos, impávidos e serenos, passam pelos pingos de chuva sem se molhar.
Eficientes e discretos, como sempre.

E não se pode DRENá-los?

Miguel Carvalho
In:VISÃO on-line

 
At 28 de maio de 2007 às 14:48, Anonymous Anónimo said...

Portugal é um país conhecido pelos ministros que fazem do dislate a ideologia do Estado. É certo que, nos últimos dias, a calinada se transformou numa bola de neve onde até mestres na arte da escrita e do direito como Almeida Santos caem como inocentes joaninhas. Este é o país em que se compara a política com um semáforo avariado.
Deixou de haver regras de circulação. No país de Sócrates a delação tornou-se uma espécie de EMEL musculada. Portugal está a regressar ao sonho autocrático do pastor e do rebanho em busca da unanimidade total. O que se passou na DREN, perante o ar de dona de casa condescendente da ministra da Educação, é o pior pesadelo do Estado democrático após o 25 de Abril. Portugal está a tornar-se o país dos que escutam a conversa dos outros e delatam o que ouvem para serem abençoados pelos chefes que os podem promover. Estamos a tornar-nos um sítio policial com uma máscara democrática. A delação com rosto amigo tornou-se a ideologia estatal. O que se está a impor não é um "Big Brother" orweliano. Nem a ditadura de prazeres de que falava Huxley. É um país mesquinho, sedento de favores, de mão estendida que, em troca, conta o que ouviu numa conversa privada. Os delatados estão a ressurgir como infiéis perante os fantasmas de Salazar que nunca desapareceram. Este país está a transformar-se num triste pesadelo: em que se troca a intimidade dos outros por 30 dinheiros. Vê-se o drama democrático. E espera-se que, em Belém, Cavaco Silva, esteja o ver o mesmo.

 
At 28 de maio de 2007 às 17:59, Anonymous Anónimo said...

OS SOCIALISTAS SÃO UNS GRANDES FILHOS DA PUTA:


Directora da DREN diz que é tudo "folclore"

Professor cego afastado devido a um "desabafo"
"Não respondo a folclore." É este o comentário de Margarida Moreira , directora da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), ao afastamento de Fernando Charrua e de mais cinco funcionários do organismo que dirige desde 2005. Entre os dispensados encontra-se António Queirós, professor de inglês, cego de nascença, responsável pelo instalação do sistema informático na DREN.

Margarida Moreira, contactada ontem pelo DN, diz que só prestará esclarecimentos sobre a situação depois de terminado o inquérito disciplinar ao professor Fernando Charrua, afastado há dias da funções que exercia na DREN alegadamente por "insultar" o primeiro-ministro, no local de trabalho.

No caso de António Queirós - "o primeiro professor português a utilizar a informática na sala de aulas" - não foi insulto ou comentário jocoso por si proferido que o empurraram pela porta fora, ao fim de 16 anos de serviço e com a avaliações "muito boas". Quando Margarida Moreira assumiu a directoria, conta, "disseram-me que o meu lugar estava em perigo". Em Maio do ano passado, dois assessores da directora confirmavam isso mesmo: o lugar estava em risco porque António Queirós não cumpria os objectivos.

Perante a situação, o professor de inglês, que as circunstâncias da vida forçaram a ser especialista em informática ( foi por possuir essa qualidade que a DREN o requisitou), lembrou que "objectivos de um deficiente não pode ser medido à luz dos objectivos de pessoas não deficientes". E soltou um desabafo: "É uma desumanidade, isto merecia ir para a comunicação social."

O desabafo depressa chegou a Margarida Moreira: por via de um dos assessores, diz ao DN. No fim do ano, a DREN suspendia a requisição de António Queirós. De nada lhe valeu, sublinha, "o apelo à humanidade da senhora directora, apesar de saber que não tinha errado". Dezasseis anos depois de leccionar, voltou à Escola EB 2/3 de Rio Tinto. "Tive de comprar o material informático para poder dar as minhas aulas de inglês". Da DREN nem sequer um telefonema fez "para saber como corriam as coisas", lamenta.

FRANCISCO MANGAS
No: DIÁRIO DE NOTÍCIAS

 
At 28 de maio de 2007 às 18:01, Anonymous Anónimo said...

POR ESTE ANDAR O PRÓXIMO É ESTE:

«Zelo
Há-os sempre, os zelosos guardiões do poder, excedendo-se na punição dos que se excedam no desrespeito ao poder. Não se dão conta, os zelosos, que no seu excesso só desajudam quem julgam proteger.»
Vital Moreira
In:www.causa-nossa.blogspot.com/2007/05/zelo.html

 
At 28 de maio de 2007 às 18:57, Anonymous Anónimo said...

Mais um excelente artigo de António Barreto, um dos muitos fundadores do PS, na antiga RFA.
O que ele aqui afirma passa-se a nível nacional, basta ver quantos fundadores do PS de Ponte de Sor, estão ao lado do Pinto.
Nenhum, é triste mas a realidade é esta, este anormal consegui afastar todos os verdadeiros militantes do PS de Ponte de Sor, que sempre serviram o partido e nunca se serviram do partido.

 
At 29 de maio de 2007 às 15:36, Anonymous Anónimo said...

A coisa já vem de antes de 2003 e resistiu heroicamente à extinção do Imposto sobre Sucessões e Doações, mantendo-se, como certas células terroristas, "adormecida" na manga do Ministério das Finanças. É uma espécie de arma secreta, apontada a todos nós, pequenas e esquivas presas do Fisco (que a caça grossa é, como se sabe, ameaçadora e por isso difícil de perseguir), tão secreta que Sócrates ainda em Janeiro negava veementemente na AR a sua existência. Se você, leitor, ou eu quisermos dar a um filho ou neto dinheiro para um leitor de DVD ou uma bicicleta no dia do aniversário (ou só para as propinas da Faculdade) temos que, se a prenda for de valor igual ou superior a 500 euros, preencher um papel nas Finanças (no caso das propinas teremos que lá ir todos os meses sob pena de multa) para que o dr. Teixeira dos Santos saiba. Não há lugar a imposto, é apenas curiosidade do dr. Teixeira dos Santos. Já se a prenda for um vestido para a mulher, ou um fato para o marido, ou relógio para o irmão ou o sobrinho, o dr. Teixeira dos Santos quer 10% dela, da prenda. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais declarou ontem euforicamente em Coimbra que a fuga ao fisco já não é "desporto nacional". "Desporto nacional", agora, é a caça ao contribuinte miúdo

 
At 29 de maio de 2007 às 15:39, Anonymous Anónimo said...

À atenção de algum funcionário das Finanças que passe por aqui..

Alguém me pode ajudar a fazer as contas deste mês? Não consigo perceber se dei 500 euros ao meu marido ou se foi ele que mos deu a mim. O dinheiro para pagar as contas de supermercado e oficina entra nesta contabilidade?
Se comprar porquinhos mealheiros e os distribuir pelos meus filhos posso colocar 1 euro por dia em cada porquinho sem ter de o declarar às Finanças?

 

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