quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A POLÍTICA ELECTRO-POP

As eleições no PSD não vão resolver coisíssima nenhuma. O partido está fracturado não apenas em duas facções mas em outros e pequenos fragmentos, de desigual importância e semelhante gula. Seja quem for o ganhador, nenhum deles, nos seus saberes e fazeres, conseguirá unir o que originariamente está separado. É difícil, acaso impossível, corrigir o ponto de partida. Exacerbando a dúvida, a que PSD correspondem Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes? Ao de sempre. O que percorreu, em vários sentidos, determinadas distâncias, procurando determinados equilíbrios, com o objectivo único da conquista do poder pelo poder.

Nem nas analogias das ideias fundamentais o PSD alguma vez foi social-democrata. As crises por que tem passado não decorrem da sua diversidade cultural, mas das múltiplas incertezas na base das quais foi fundado. A ambiguidade daquela misteriosa expressão, partido interclassista, propicia o regular regresso de fenómenos esquisitos e de epifenómenos previsíveis, encadeados em idêntica associação.

O equívoco Durão Barroso originou o intermezzo cómico Santana Lopes. Não há um sem o outro. E ambos introduziram, na sociedade portuguesa, o electro-pop, a equação mais abstrusa da matemática política. Transformaram em categoria a realidade primária das suas pessoalíssimas vidas, impondo a vacuidade e a indigência intelectual como urgência da verdade.

Mendes e Menezes são ramos da mesma árvore, demonstrando que neles actua a mesma providência. No sentido de totalidade, englobam-se no lote comum ao dos fundadores do PSD. Criaram-se alguns mitos, certamente estimáveis, decididamente falazes, em torno de Francisco Sá Carneiro. Possuía o estofo de estadista; porém, não teve tempo de provar a eficácia do testemunho. Melhor do que ninguém, ele sabia os grãos de sabores opostos que iam aparecendo no almofariz do partido. Não se embaraçou muito com a mistela. A batalha contra o comunismo era-lhe prioritária; depois, o PSD adaptar-se-ia às circunstâncias. Ele acreditava na temporalidade cíclica das coisas, nas flutuações do carácter humano e na política como instância sem coerência, porque isenta de moral. E, apesar dos pesares, desejava criar um partido baseado na tradição liberal da grande burguesia do Norte, um pouco republicano, levemente laico, intermitentemente social.

Estar à altura do quotidiano implica a adequação ao momento. Soares sabe-o como ninguém. Sá Carneiro foi aprendendo. Eis porque as eleições e a crise no PSD vão ter repercussões significativas no PS, em cujo interior os sinais de contrariedade deixaram de ser evasivos. Ambos os partidos reflectem-se entre si. E, afinal, sempre foram a reinterpretação um do outro.


B.B.

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9 Comments:

At 26 de setembro de 2007 às 14:01, Anonymous Anónimo said...

Porquê tanta surpresa com o que se passa no PSD? Tendo em consideração o vazio total daquela agremiação e a «qualidade» dos candidatos, estranho seria que as coisas se passassem de forma diferente.
Aliás convém recordar que, pelas mesmas razões, atitudes menos elegantes já tinham ocorrido na recente disputa pela liderança do CDS/PP. O afastamento do poder é uma coisa devastadora para quem apenas o parasita.
Mas a actual situação é a meu ver, e ao contrário do que bastante gente diz, muito positiva. Seria mais grave se o cenário se apresentasse como minimamente credível, pois levaria a um arrastar de uma situação pantanosa por mais uns anos.
Nesta fase, manter o actual estado de vazio e desfasamento sócio-ideológico dos principais partidos seria terrível a médio/longo prazo. A um sistema de partidos que se revêem ainda em valores, projectos e posicionamento ideológicos com três décadas de patine, reflexo directo dos particulares condicionalismos políticos de 1974, só se pode desejar que seja destruído de uma vez por todas.

Assim, de um ponto de vista não-«socialista-democrata», o candidato cuja vitória julgo que provocaria efeitos positivos globais a médio prazo, seria sem dúvida Luís Filipe Meneses.
Seria aquele que pelo seu estilo de cata-vento, pelo facto de ser mal-querido pelas elites e grupos de interesses do seu partido, pelo seu genuíno populismo, poderia provocar as mais violentas, mas saudáveis, reacções internas. A sua vitória poderia funcionar como um factor reagente e levar muita gente a finalmente provocar as rupturas há muito adiadas, cisões desejadas mas nunca concretizadas, uma clarificação ideológica mais do que necessária.
E ao final da catarse, surgir um novo panorama político-partidário, mais arrumado, mais actual e com mais alternativas para o eleitor. Apenas poderão advir benefícios se essa clarificação radical ocorrer, para que de uma vez por todas termine com o panorama mono-socialista dos actuais partidos.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:04, Anonymous Anónimo said...

Compreende-se que aquele que agora designam como o partido mais português de Portugal, o equivalente à aldeia de Monsanto do tempo dos concursos de outras épocas, se identifique inteiramente com um dito tão popular como aquele que nos diz que “quem não tem cão caça com gato”. Como em tempo de oposição o PSD tende a assemelhar-se a um saco de gatos aquilo a que estamos a assistir nas directas do PSD assemelha-se a uma disputa de gatos de rua.

Num partido onde só aparecem candidatos credíveis à liderança quando as sondagens eleitorais apontam para vitórias seguras não seria de esperar o outro espectáculo senão aquele a que o país está a assistir. É como se o Dona Maria tivesse optado por um programa de teatro revisteiro ou o Museu Nacional de Arte Antiga tivesse aberto as suas portas para ali se realizar a feira de Carcavelos.

Vença quem vencer é certo que o PSD vai apresentar-se na próximas legislativas com um candidato de legitimidade duvidosa, eleito por um processo eleitoral digno do Zimbabwe de Mugabe. Convencidos da derrota nas próximas os nobres do PSD entregaram a disputa do trono aos bobos da corte e estes têm-se mostrado dignos da função.

Nem Marques Mendes, nem Menezes estão à altura de serem primeiros-ministros, são os últimos de uma lista de figuras menores cuja passagem pela liderança do PSD se assemelha a uma sucessão de pragas. Com a derrota de Fernando Nogueira e a saída de Marcelo o PSD teve que cumprir o seu destino, foi dirigido por uma lista de figuras menores que começou com Durão Barroso e tudo aponta que termine com Luís Filipe Menezes, se, entretanto, não aparecer mais algum, talvez Mendes Bota ou mesmo a Paulo Teixeira da Cunha, ainda que esta última tenha poucas hipóteses depois de ter perdido o patrocínio da banca de Deus.

Num partido onde há cavaquistas, marcelistas, barrosistas e santanistas os militantes vão escolher entre um Mendes sem mendistas e um Menezes sem menezistas.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:06, Anonymous Anónimo said...

Talvez em resultado de uma ditadura ou porque desde que foi instituída a democracia ocorreram numerosas crises políticas, designadamente quando os governantes foram de qualidade duvidosa, os portugueses olham para a actividade política como quem olha para os indicadores da bolsa. Os governantes tendem a ficar nervosos mal as suas “acções” descem ainda que ligeiramente, os da oposição olham para as “cotações” com maior ansiedade do que os especuladores da Wall Street. Os próprios órgãos de comunicação multiplicam os barómetros e as sondagens e avaliam-na com a mesma seriedade com que analisam as sondagens feitas à boca das urnas.

A oposição convive mal com a estabilidade política, uns porque precisam do acesso ao poder para manter o seu rebanho unido e bem nutrido, outros porque ter um governo estável é uma derrota das suas ideologias. A direita julga-se com o direito natural ao exercício do poder. A extrema-esquerda, seja a do fato-macaco ou da Façonnable, porque a realidade é a negação do que definiram como “socialismo científico”, segundo o qual há muito que o paraíso terrestre não deveria estar confinado a Pyongyang, Xangai, Luanda ou Havana.

A extrema-esquerda reserva o seu projecto político para quando a democracia for de qualidade superior, ou seja, quando o poder emanar de uma vanguarda eleita por si própria. A extrema-esquerda não pretende o governo, quer que todo o progresso tenha a aparência de conquistas

sociais, o mundo evolui porque ela existe.A direita perde a convicção na democracia quando esta a remete para a oposição, essa situação é a excepção à regra, um defeito do sistema político que por ser insuportável é para suportar o menos possível. A história da democracia deu-lhe razão, a regra é os governos do PS caírem prematuramente, de preferência quando tiverem resolvido as crises financeiras. O PSD chegou ao poder várias vezes antes do que era suposto, a estratégia da direita deu resultado com Cavaco Silva e Durão Barroso.

Como o exercício do poder é um direito natural da direita esta dispensa-se de ter programa, entretém-se fazendo unas propostas de circunstância, procura deslizes dos governantes para fazer chacota política, inventa alcunhas para os primeiros-ministros. Em vez de propor soluções alternativas limita-se a desvalorizar o que se faz, e quando são incapazes de contestar optam pela situação cómoda de dizer que o governo se apropriou das suas ideias.

Se nos palácios quer a direita quer a extrema-esquerda comem de faca e garfo, fora dos palácios o nível baixa, recorre-se à insinuação, ao adjectivo ofensivo, à baixa política. Com ou sem faca e garfo todos desejam o crash, todos anseiam que os governos façam as asneiras, que o país se afunde, incapazes de propor melhor limitam-se a esperar pelo pior, para que um povo desesperado volte a ter esperança nas suas soluções que apresentam como mal menor.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:14, Anonymous Anónimo said...

O pai conhece-lhe as qualidades e os defeitos: “Foi um vício que sempre teve, estar junto do aparelho”. Mais qualidade do que defeito para quem pretende liderar um partido. Luís Marques Mendes quer e por isso correu o país de lês a lês, na procura da cara e do nome do militante. A acreditar no pai não lhe vai servir de muito.
O filho “está tramado”, mesmo ganhando a disputa a Luís Filipe Menezes. E “está tramado” – diz quem lhe quer bem – porque “vai ter toda a oposição à perna”. Ou seja, Menezes é o mal menor no caminho de Marques Mendes. Entretanto, há quem ache que “haverá mais PSD depois destes dois candidatos”. Nuno Morais Sarmento e outros que esperam o momento para se indignarem pela força das evidências. No PSD a verdadeira guerra permanece anunciada. Entretanto, há pior. Diferente mas pior. Uma ‘seta para baixo’ no Expresso de 25 de Agosto provocou a ruptura entre o Benfica e a SIC. Na ‘seta’ do clássico sobe e desce criticava-se o presidente do clube pela gestão de activos da equipa de futebol. Do defeso para agora são conhecidos os resultados desportivos do clube gerido por Luís Filipe Vieira. Na sexta-feira, o Benfica notificou a televisão do Grupo Imprensa, também proprietário do Expresso, da decisão: não há mais conversa sobre uma parceria para a produção do canal de televisão do clube. No Benfica não há oposição. Ou seja, não há alternativa.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:16, Anonymous Anónimo said...

No PSD, cada candidato passa a batota quente para as mãos do adversário.

O que se discute a três dias da eleição não é qualquer princípio ideológico ou item programático, não são questões da democracia ou propostas para alternância ou alternativa de políticas, mas sim quem terá feito batota com os cadernos eleitorais. As notícias sobre a eleição directa do líder do PSD deveriam passar das páginas de política para as dos casos de polícia.

A eleição do líder do partido de alterne a um governo de maioria absoluta, a dois anos das legislativas, não é um facto muito excitante. Provavelmente os portugueses lêem as notícias do confronto entre os Luíses com tanta exaltação como aquela com que acompanham o abate de patos com gripe ou o surto de doença da língua azul, sabendo-se que o vírus que atacou os patos do Ribatejo é tão inofensivo para o homem como o vírus que atingiu as ovelhas de Barrancos. São notícias de capoeira ou de redil, das quais se lê o título e se muda de página.

Talvez por isso as candidaturas tenham decidido introduzir algum motivo de excitação na campanha. Lá fora arranjava-se um escândalo sexual ou um caso de corrupção. Mas no País dos brandos costumes opta-se pelas acusações de batota eleitoral. Um dos candidatos, segundo o outro, terá andado a comprar votos pelo preço do pagamento de quotas em atraso. Resultado: a três dias da eleição há uns milhares de potenciais eleitorais fora da carroça dos cadernos e um candidato ameaça levar a questão à justiça.

Ou seja, talvez nem haja eleição, o que deixará a generalidade dos portugueses absolutamente indiferente, mas que desacreditará ainda mais a tão maltratada democracia. E, para além disso, o Governo agradece.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:21, Anonymous Anónimo said...

O partido das estradas revela-se na sua essência. O preço dos votos que escolherão o respectivo líder discutem-se na praça pública como antigamente se discutia o preço da cavala no mercado do peixe.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:22, Anonymous Anónimo said...

A coisa estava preta, passou a estar imprópria. Quando dois candidatos a primeiro-ministros se degladiam na praça pública como dois putos rufias, que não olham a golpes baixos para obterem uma vitória... amaldiçoado partido que tais lideres tem.
Marques Mendes tenta manter o nível mas as nebulosas que se apresentam em torno dos militantes que votam e alguém pagou por eles ou entre os que querem votar, pagaram e não podem, não ajudam á transparência.
O papel dele é ingrato, mas a verdade é que se pôs a jeito quando tomou a posição que tomou relativamente aos autarcas arguidos e depois ao desfecho calamitoso na Câmara de Lisboa. Mendes deu de bandeja Lisboa ao PS. Se eu fosse do PSD também não lhe perdoava.
Isto é como no caso Scolari: quem erra tem de se demitir. Quem tem funções públicas só pode agir assim. É chato ? É desagradável ?É. Mas isso é o preço de quem opta por uma carreira pública.

Meneses desceu ainda mais baixo. Desesperado quer ganhar a qualquer preço.
No horizonte Morais Sarmento e a terceira via já se perfilam no horizonte. Deixam brincar agora as crianças para atacarem quando o tempo estiver de feição e o engenheiro chamuscado com o fracasso da Presidência europeia e da retoma que não virá, começar a cair em desgraça. Infelizmente para nós.

 
At 26 de setembro de 2007 às 14:23, Anonymous Anónimo said...

Este inacreditável espectáculo que está a desenrolar-se no seio do PSD vai ter consequências nefastas para Portugal.
A mensagem que está a passar para a opinião pública é a de que se recorre a tudo, incluindo a manobras anti-democráticas da maior gravidade, para se vencerem as eleições internas na secretaria.
Nada pode ser pior do que isto.
Depois do debate fratricida na Sic Notícias que apenas serviu (e também com esse objectivo foi promovido, não sejamos ingénuos...) para lavar roupa suja - e que terá feito Sócrates esfregar as mãos de contente - agora este episódio macabro das acusações de falta de democracia interna é absolutamente terminal para o partido.
Não me parece que os portugueses, durante os próximos anos (a memória política é curta, mas também não será tão curta assim...), venham a acreditar num partido que faz isto a si próprio: que destrói, em horas apenas, toda a credibilidade democrática que demorou 33 anos a construir.

«Quem faz isto a si próprio, o que fará a Portugal?
Quem tem este sentido de Democracia interna, como poderá pretender convencer os democratas para a bondade do seu projecto?»
Serão estas as ideias-força que os socialistas brandirão a partir de agora.

E de quem é a culpa?
Terá Luis Filipe Menezes razão nas suas denúncias?

Mesmo que a tenha, Menezes contribuiu decisivamente para o desmembramento fatal do partido.
Porque tinha que ter em atenção o seguinte:
O que é, aqui, o mais importante? Vencer umas eleições para presidente do PSD, ou a subsistência do PSD ele próprio enquanto alternativa democrática e credível ao poder socialista instituído?

Parece-me nitidamente um erro estratégico da maior gravidade.
Não consigo antecipar as consequências destes actos.
Mesmo que fossem totalmente verdadeiras todas as suas acusações, Menezes nunca deveria ter feito explodir esta verdadeira bomba atómica que são as suas denúncias públicas e as ameaças de recurso a Tribunal, dentro do seu partido.
Devia optar por desistir da corrida, se via que as condições não eram as ideais, e esperar pela sua oportunidade.
Entretanto, inteligentemente, podia aproveitar para trabalhar internamente no sentido de clarificar e desarmadilhar o futuro processo eleitoral.

Um Partido necessita de credibilidade social quanto à clareza dos seus procedimentos e quanto à transparência da sua vida democrática.
O PSD - temo bem - ao fazer detonar a granada à sua própria cintura, acaba de as comprometer irremediavelmente para os próximos anos.

 
At 26 de setembro de 2007 às 23:08, Anonymous Anónimo said...

Estou-me bem nas tintas para quem ganhe as eleições no PSD. Que quem vá andar a bradar aí pelas televisões tenha a cara do Marques Mendes ou do Filipe Menezes é coisa que não me tira o sono (a cara e aquelas mãozinhas sempre a espanejar do Marques Mendes pelo menos dão-me vontade de rir). Que se tenham andado a esgatanhar e a chamar nomes um ao outro, só posso dizer que tenho pena de não se terem pegado à pancada para nos divertirmos. Que a demonstração do que considera o PSD como democracia seja um pouco triste, é problema deles. Preocupante é vermos as jogatinas da informação para beneficiar um dos candidatos. Na SIC Noticias, logo após um debate entre os dois porta-vozes das duas candidaturas, uma entrevista ao Pacheco Pereira que se colocou totalmente do lado do pequeno Mendes. Pouco depois vem o Balsemão também ele apoiar o Mendes. Se isto é feito numa campanha partidária mostra bem como se comportam os órgãos de informação quando as eleições são nacionais. Basta ver a forma como levaram ao colo o Cavaco para Belém e talvez aí se encontrem muitas das razões porque vivemos neste pais de governos de alterne. Quem escolhe quem governa este país é quem faz a informação e a noticia para depois a distribuir usando todos os truques, conhecimentos científicos e publicitários, para a vender melhor.

 

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