ALVOROÇO NO "SOCIALISMO"
Há tempos, o dr. António Vitorino, conhecido entre os seus camaradas, por O Génio da Garrafa, timbrou uma frase que, por frívola, não deixava de ser arrogante: Habituem-se!
O homem, levemente destemperado, queria dizer que os jornalistas, a partir daquela altura, estariam encarreirados pela agenda do Governo, e não o contrário.
Não comento a estultícia da afirmação.
Recupero-a e remeto-a, por inteiro, para José Sócrates e seu conjunto, certamente alvoroçados pela publicação de duas sondagens que os coloca em queda, não direi livre, mas consideravelmente acentuada.
Nem um ministro tem nota positiva.
Sócrates, esse, então, é alvo de sério aviso, e, pelos indícios, começa a ser o princípio de uma recordação inquietante.
Alarmado com os resultados, Vítor Ramalho declarou à Imprensa: É necessário dar mais atenção ao partido, ao ideário, à luta por valores e princípios, aos que sofrem. É preciso reencontrar causas que motivem as pessoas. A matriz socialista é indispensável como o pão para a boca.
Ramalho é homem de bem, cauto e cortês, mas convém que não empurre para o olvido o pequeno pormenor histórico de que foi Mário Soares o primeiro a colocar o socialismo na gaveta.
A matriz do PS qual é?
A que foi fundada na Alemanha?
Aquela cuja voz ecoava nas ruas de todo o País, numa palavra de ordem insistente e lírica: Partido Socialista, Partido Marxista?
O socialismo moderno de Sócrates está associado ao socialismo com turíbulo de Guterres, tem semelhanças com o de Vítor Constâncio ou parecenças com o de - de quem?, já pouco recordamos dos líderes de percurso.
Ferro Rodrigues tentou inflectir a trajectória do PS e fixá-lo num nível de exigência ideológica adequado ao nome político.
Ambicionou fazer pedagogia política, e dizer que não se governa por estatísticas.
Ferro procedia do antifascismo, opção por uma luta pela liberdade que parece, hoje, incomodar certa miuçalha.
Homem honrado, sereno, culto e sério, o seu comportamento fundava-se nas evidências da verdade.
Perante as derivas do partido, cuja actuação parcial, limitada e descaracterizada, apenas visava a conquista do poder, Ferro Rodrigues opunha o rigor dos princípios e a necessidade da batalha ideológica.
Foi rapidamente armadilhado.
Estão por esclarecer as calúnias de que foi objecto e as infâmias com que tentaram enlamear-lhe o nome.
O resto é história: história nebulosa e sinistra.
A relativização do socialismo atingiu, com José Sócrates, uma violência social sem precedentes depois de Abril.
Beliscou a liberdade de Imprensa; amolgou o Serviço Nacional de Saúde; reduziu a zero o subsistema de saúde dos jornalistas mas manteve os da Polícia e do Exército; cometeu o inacreditável quando aplicou impostos a reformados com pouco mais de 600 euros (120 contos) mensais; provocou uma trapalhada inextricável na Educação; aumentou o desemprego; impôs a delação como forma e método; promoveu inconcebíveis pressões sobre sindicatos e sindicalistas, e converteu em banalidade a insegurança em que vivemos.
Se estão interessados, posso aumentar o rol até expressões quase intermináveis.
Surge Luís Filipe Menezes e, em três semanas, faz ruir o PS nas sondagens, segundo a interpretação das quais tudo o que há de pior habita no Executivo Sócrates.
Este, de facto, havia conquistado o hoje, o agora, a actualidade, o presente; acenava-nos com o futuro, espargia sobre nós a água santa da esperança e da fé - e, caridosamente, dava cabo de nós, entremeando a loquacidade convicta, de que é capaz, com os tratos de polé ao nosso quotidiano, aplicados com gelada mestria.
O socialismo moderno de Sócrates era e é uma fraude.
Escrevi-o e disse-o numerosas vezes.
Precisávamos, realmente, de uma nova modernidade, fundamentada numa crítica ao capitalismo neoliberal, cuja acção predadora começou a sobressaltar, até, muitos empresários norte-americanos, tolhidos com o avanço larvar de um processo que já não dominam.
Basta ler os artigos sobre economia, finanças e política do New York Times. Por exemplo.
Menezes tem manifestado, com alguma prudência e uma dose de sensatez, não ser o desarvorado com que o pretenderam apodar, num exercício de perversidades concertado a partir do interior do próprio PSD.
Quando afirmou: Os comunistas não são meus inimigos, são meus adversários, desencadeou a ira de uma trupe de reaccionários, cujo entendimento da democracia não está associado à tolerância e à compreensão dos que pensam e agem de forma e modo diferentes.
Cindir a sociedade entre bons e maus portugueses, falar de nós como quem fala de outros, corresponde a uma interpretação deformada, por irreal, do universo em que nos movemos.
A sociedade livre funda-se numa longa série de razões a que chamamos ideias.
A ascensão de Luís Filipe Menezes não se deve, somente, às ambiguidades de Sócrates e à avançada antisocial que empreendeu.
O presidente do PSD realizou importante obra em Gaia, desenvolveu as actividades económicas, apoiou as artes e a cultura, e não caiu na tentação da intolerância e do ostracismo políticos.
A Imprensa oculta o que lhe convém. E Menezes não é conveniente.
Há um mês era zurzido por comentadores do óbvio, historiadores de rés-do-chão, estipendiados a soldo e com ausência de sentido, numa espécie de charneira paradigmática. Agora, até Marcelo Rebelo de Sousa declara que se enganou, adiantando que Menezes pode muito bem vir a ser o vencedor das eleições em 2009!
Escrevi que o homem possui vigor na discussão, e é muito mais lido e informado do que a esmagadora maioria dos seus detractores - sobretudo os de o seu partido.
Ademais, note-se que, no elenco político dos seus conselheiros figuram Ângelo Correia, Luís Fontoura e Domingos Duarte Lima, cuja percepção, inteligência e cultura sobrelevam a média dos actuais agentes políticos portugueses .
As afirmações de Vítor Ramalho soam como uma grave advertência àqueles que, em nome do poder pelo poder, revolveram os padrões que, desde a Revolução Francesa, separam a Direita da Esquerda - e exerceram a mais tenebrosa das trapaças, enganando meio mundo.
Mas há sempre a outra metade que sobressalta, alvoroça e pode determinar as coisas.
B.B.
O homem, levemente destemperado, queria dizer que os jornalistas, a partir daquela altura, estariam encarreirados pela agenda do Governo, e não o contrário.
Não comento a estultícia da afirmação.
Recupero-a e remeto-a, por inteiro, para José Sócrates e seu conjunto, certamente alvoroçados pela publicação de duas sondagens que os coloca em queda, não direi livre, mas consideravelmente acentuada.
Nem um ministro tem nota positiva.
Sócrates, esse, então, é alvo de sério aviso, e, pelos indícios, começa a ser o princípio de uma recordação inquietante.
Alarmado com os resultados, Vítor Ramalho declarou à Imprensa: É necessário dar mais atenção ao partido, ao ideário, à luta por valores e princípios, aos que sofrem. É preciso reencontrar causas que motivem as pessoas. A matriz socialista é indispensável como o pão para a boca.
Ramalho é homem de bem, cauto e cortês, mas convém que não empurre para o olvido o pequeno pormenor histórico de que foi Mário Soares o primeiro a colocar o socialismo na gaveta.
A matriz do PS qual é?
A que foi fundada na Alemanha?
Aquela cuja voz ecoava nas ruas de todo o País, numa palavra de ordem insistente e lírica: Partido Socialista, Partido Marxista?
O socialismo moderno de Sócrates está associado ao socialismo com turíbulo de Guterres, tem semelhanças com o de Vítor Constâncio ou parecenças com o de - de quem?, já pouco recordamos dos líderes de percurso.
Ferro Rodrigues tentou inflectir a trajectória do PS e fixá-lo num nível de exigência ideológica adequado ao nome político.
Ambicionou fazer pedagogia política, e dizer que não se governa por estatísticas.
Ferro procedia do antifascismo, opção por uma luta pela liberdade que parece, hoje, incomodar certa miuçalha.
Homem honrado, sereno, culto e sério, o seu comportamento fundava-se nas evidências da verdade.
Perante as derivas do partido, cuja actuação parcial, limitada e descaracterizada, apenas visava a conquista do poder, Ferro Rodrigues opunha o rigor dos princípios e a necessidade da batalha ideológica.
Foi rapidamente armadilhado.
Estão por esclarecer as calúnias de que foi objecto e as infâmias com que tentaram enlamear-lhe o nome.
O resto é história: história nebulosa e sinistra.
A relativização do socialismo atingiu, com José Sócrates, uma violência social sem precedentes depois de Abril.
Beliscou a liberdade de Imprensa; amolgou o Serviço Nacional de Saúde; reduziu a zero o subsistema de saúde dos jornalistas mas manteve os da Polícia e do Exército; cometeu o inacreditável quando aplicou impostos a reformados com pouco mais de 600 euros (120 contos) mensais; provocou uma trapalhada inextricável na Educação; aumentou o desemprego; impôs a delação como forma e método; promoveu inconcebíveis pressões sobre sindicatos e sindicalistas, e converteu em banalidade a insegurança em que vivemos.
Se estão interessados, posso aumentar o rol até expressões quase intermináveis.
Surge Luís Filipe Menezes e, em três semanas, faz ruir o PS nas sondagens, segundo a interpretação das quais tudo o que há de pior habita no Executivo Sócrates.
Este, de facto, havia conquistado o hoje, o agora, a actualidade, o presente; acenava-nos com o futuro, espargia sobre nós a água santa da esperança e da fé - e, caridosamente, dava cabo de nós, entremeando a loquacidade convicta, de que é capaz, com os tratos de polé ao nosso quotidiano, aplicados com gelada mestria.
O socialismo moderno de Sócrates era e é uma fraude.
Escrevi-o e disse-o numerosas vezes.
Precisávamos, realmente, de uma nova modernidade, fundamentada numa crítica ao capitalismo neoliberal, cuja acção predadora começou a sobressaltar, até, muitos empresários norte-americanos, tolhidos com o avanço larvar de um processo que já não dominam.
Basta ler os artigos sobre economia, finanças e política do New York Times. Por exemplo.
Menezes tem manifestado, com alguma prudência e uma dose de sensatez, não ser o desarvorado com que o pretenderam apodar, num exercício de perversidades concertado a partir do interior do próprio PSD.
Quando afirmou: Os comunistas não são meus inimigos, são meus adversários, desencadeou a ira de uma trupe de reaccionários, cujo entendimento da democracia não está associado à tolerância e à compreensão dos que pensam e agem de forma e modo diferentes.
Cindir a sociedade entre bons e maus portugueses, falar de nós como quem fala de outros, corresponde a uma interpretação deformada, por irreal, do universo em que nos movemos.
A sociedade livre funda-se numa longa série de razões a que chamamos ideias.
A ascensão de Luís Filipe Menezes não se deve, somente, às ambiguidades de Sócrates e à avançada antisocial que empreendeu.
O presidente do PSD realizou importante obra em Gaia, desenvolveu as actividades económicas, apoiou as artes e a cultura, e não caiu na tentação da intolerância e do ostracismo políticos.
A Imprensa oculta o que lhe convém. E Menezes não é conveniente.
Há um mês era zurzido por comentadores do óbvio, historiadores de rés-do-chão, estipendiados a soldo e com ausência de sentido, numa espécie de charneira paradigmática. Agora, até Marcelo Rebelo de Sousa declara que se enganou, adiantando que Menezes pode muito bem vir a ser o vencedor das eleições em 2009!
Escrevi que o homem possui vigor na discussão, e é muito mais lido e informado do que a esmagadora maioria dos seus detractores - sobretudo os de o seu partido.
Ademais, note-se que, no elenco político dos seus conselheiros figuram Ângelo Correia, Luís Fontoura e Domingos Duarte Lima, cuja percepção, inteligência e cultura sobrelevam a média dos actuais agentes políticos portugueses .
As afirmações de Vítor Ramalho soam como uma grave advertência àqueles que, em nome do poder pelo poder, revolveram os padrões que, desde a Revolução Francesa, separam a Direita da Esquerda - e exerceram a mais tenebrosa das trapaças, enganando meio mundo.
Mas há sempre a outra metade que sobressalta, alvoroça e pode determinar as coisas.
B.B.
Etiquetas: Partido Social Democrata, Partido Socialista, Portugal
2 Comments:
A ideia deste governo, é acabar com os serviços públicos e funções sociais do estado e já agora com os funcionários públicos, esse bando de preguiçosos... Inventam-se, portanto, novas centralidades, deslocaliza-se e concentra-se agora, para uns ficarem satisfeitos temporariamente, mas a médio prazo, significa a desertificação do Alentejo e interior do país.
Para Sócrates, dada a pequena dimensão do país, não existe interior. Interior, na sua óptica, é aquela paisagem do Quénia ou do deserto do Sahara, que ele tem o privilégio de conhecer nas vacances.
O homem é um visionário, enquanto tem 1/5 da população na miséria e os mais baixos salários da Europa, ele está convictamente empenhado em distribuir telemóveis e electrodomésticos.
Cada povo tem o que merece. Ou abrimos nós os olhos, ou temos que arranjar uns óculos a este governo.
Um bom fim de semana e continuação de bom trabalho.
Cumprimentos
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