quarta-feira, 31 de outubro de 2007

AS SONDAGENS DA RUPTURA

As sondagens informam; o DN titula: Socialistas em queda livre - PSD iguala PS e Menezes já é o melhor da oposição.
Tudo parecia indicar que a consagração de José Sócrates estava integrada num percurso de excepção.
As declarações sobre as suas recusas obtiveram os aplausos dos que haviam sido ofendidos por sucessivos governos ineptos.
Pouco tempo depois, porém, apercebemo-nos de que ele, directa ou indirectamente, defendia os interesses daqueles que afirmara desprezar.
Todavia, a condescendência dos portugueses correspondia às esperanças que continuavam a alimentar, e remediavam-se com um juízo indecoroso: Quem vier a seguir será pior.

Entre o monumental dispositivo de propaganda e a conjunção da santidade das intenções, patrocinou-se a ideia de que se procurava colocar ordem ecléctica no caos proliferante legado por anteriores governos.
O álibi voltou a resultar.
Sócrates conseguiu autenticar a doce expectativa da população com uma aparência de necessidade histórica.

Não gosto de escrever isto: mas José Sócrates mentiu, descredibilizou todos os princípios de progresso e de justiça contidos na doutrina do seu partido, tripudiou sobre os códigos genéticos de uma certa esquerda, desrespeitou os eleitores e desacreditou as palavras, em nome de uma receita pessoal.
A fraude não poderia manter-se.
O confronto político estava retirado, inexistia ou se dissolvia numa inutilidade loquaz.
As coisas mudaram de figura.
A consistência deste Executivo é tão frágil que duas ou três brandas declarações de Menezes se transformaram em hecatombe.
As sondagens podem ser fluidas mas estabelecem inevitáveis indicadores.
Apavorado, Vítor Ramalho conclamou: É urgente que o PS regresse à matriz.
Interroguemo-nos para saber se é ainda possível manter viva a esperança de transformação da sociedade, que o socialismo antigo propunha e o socialismo moderno tem espancado sem clemência.

Menezes percebeu que entre a desterritorialização do Governo e do PS, a vacuidade de Marques Mendes e o arcaísmo do discurso do resto da esquerda se descortinava um espaço político de exploração.
Nem uma distanciação assinalável da esquerda nem uma aproximação demasiada à direita. Reconstruir um horizonte de legitimação do poder implica a conquista de uma base de apoio, sem qualquer tipo de superstição ou de preconceito.
As velocidades interiores de Menezes podem sobressaltar os mais virtuosos, mas tornou-se inevitável que, em política, cada momento exige a invenção de um comportamento.

Escrevi, nesta coluna, que o debate iria animar.
Para governo e conceito de José Sócrates lembro um velho ditado:
Quem melhor cama fizer nela se deitará.

B.B.

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2 Comments:

At 31 de outubro de 2007 às 21:15, Anonymous Anónimo said...

Um governo mais ou menos...
MAIS
Desemprego, mais pobreza, mais criminalidade, mais boys, mais censura, mais arrogância, mais impostos, mais aborto, mais bufaria, mais corrupção, mais piadas de mau gosto, mais primeiros a contar da cauda da Europa.

MENOS
Saúde, menos segurança no trabalho, menos salários, menos justiça, menos confiança, menos crescimento económico, menos educação, menos vergonha. O déficit da forma que foi conseguido (o verdadeiro pelos padrões antigos seria 5%) qualquer o consegue.

 
At 31 de outubro de 2007 às 21:16, Anonymous Anónimo said...

Desiludidos
“Cerca de 55 por cento dos portugueses consideram «más» ou «muito más» as reformas do Governo nas áreas da administração pública, justiça, educação, saúde e outras, revela o barómetro TSF/DN/Marktest, ontem divulgado.”

“O eleitorado do PS, à semelhança dos portugueses em geral, está desiludido com o Governo e o primeiro-ministro, numa sondagem da Aximage para o Correio da Manhã”

Está explicado o nervosismo patenteado pelas hostes governamentais, nos últimos tempos

 

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