terça-feira, 29 de julho de 2008

SUSPEITA

João Cravinho assumiu, ainda como deputado do PS, a iniciativa de desencadear um processo legislativo de prevenção e combate à corrupção.

Em que foi Cravinho mexer!
Não foi preciso que a legislação sugerida por Cravinho chegasse às oposições, para que eventualmente a rejeitassem.
O próprio PS, pelo respectivo Grupo Parlamentar, se encarregou de desmantelar à nascença a arquitectura traçada por Cravinho, substituindo cada peça pela sua própria perversão. E assim nasceu um mamarracho legislativo do qual os corruptos se devem rir às gargalhadas, enquanto a economia paralela progride e os sinais exteriores de riqueza engordam a olhos vistos.


Parecia que o assunto estava arrumado.
Apenas o topo da hierarquia do Ministério Público se manifestava, aqui e ali, contra as teias em que as leis andam a enredar o alegado combate à corrupção, no que era prontamente desautorizada pelo poder político.
Mas eis que Cravinho abriu a boca e desencadeou uma tempestade.


Disse o ex-deputado: primeiro, que a grande corrupção se considera impune e age em conformidade; segundo, que a legislação anti-corrupção não tem cereja em cima do bolo, nem cereja, nem mesmo bolo.
O líder parlamentar do PS não perdeu tempo.
Respondeu que o seu partido não recebe lições nesta matéria e menos ainda de quem deixou a meio o combate à corrupção.
Uma galegada!
Porque o PS sabe muito bem que Cravinho não deixou o combate a meio.
Foi o PS que o empurrou pela borda fora, para uma prateleira dourada da Europa muito apropriada para gente incómoda.
Comentando a polémica, o fiscalista Saldanha Sanches disse que a maioria PS tem em relação à corrupção uma inépcia altamente suspeita. Ou será uma eficácia suspeitosamente alta?


J.P.G.

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6 Comments:

At 29 de julho de 2008 às 19:33, Anonymous Anónimo said...

Cravinho, antigo ministro das "scut" e do betão estradal, deu por si, em dada altura, preocupado com a corrupção. A sua bancada maioritária desconfiou dos excessos do deputado e Sócrates delicadamente mandou-o para Londres. De vez em quando Cravinho vem aí para falar do leite derramado. Segundo ele, o "pacote anti-corrupção" que o PS aprovou é insuficiente e contém "factos anómalos". Mais. Cravinho considera-se "derrotado", nesta matéria, pelo seu próprio grupo parlamentar e não duvida que «na grande corrupção de Estado, toda a gente tem a sensação que estamos numa situação muito complicada e em crescendo (...) porque a grande corrupção considera-se impune e age em conformidade e atinge áreas de funcionamento do Estado, que afectam a ética pública.» É um ex-dirigente do PS e um seu antigo ministro do "equipamento"que diz isto.

 
At 29 de julho de 2008 às 19:36, Anonymous Anónimo said...

De vez em quando o tema da corrupção vem a debate, não raras vezes está mais em causa a busca do protagonismo pessoal do que a gravidade da situação como sucedeu com a recente intervenção do Eng. João Cravinho. É um tema apetitoso, que já ajudou algumas personalidades a ganhar maior destaque ou a subir na vida. O facto é que apesar de tanta gente honesta empenhada a combater a corrupção a Transparency International nunca se instalou em Portugal.

O debate centra-se sempre na mesma perspectiva, dar mais poderes à investigação como solução para combater a corrupção passando a ideia de que a corrupção é um crime impossível de ser investigado. Ora, o crime da corrupção tem o mesmo problema de todos os outros crimes em Portugal, uma boa parte deles beneficiam do funcionamento da justiça e acabam por não ser penalizados.

Veja-se o caso da justiça inglesa, ainda andamos a ler o livro do inspector que falhou nas investigações e já os jornais ingleses foram obrigados a indemnizar Robert Murat. Compare-se com o que por cá sucedeu a políticos como Jaime Gama, Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso, a mesma justiça que parece ter incentivado o falso testemunho protegeu os seus autores e impediu qualquer julgamento por difamação. Aguardemos que Murat recorra as tribunais portugueses e vamos ver quantos anos o processo vai durar. E o que dizer do caso do futebol português onde nem um Conselho de Justiça funcionou e vemos agora os magistrados a despachar providências cautelares por tudo e por nada.

O debate sobre a corrupção faz passar a ideia de que só há corrupção porque esta não é condenada pelos tribunais. Isso pode ser verdade, mas também é verdade que há corrupção porque é fácil montar esquemas nos negócios do Estado e (porque não dizê-lo?) nos negócios entre empresas privadas. Mais importante do que condenar os corruptos seria criar condições para minimizar o fenómeno.

Para isso é necessária a modernização do Estado não podendo esta ser entendida apenas na perspectiva dos procedimentos administrativos ou da utilização de tecnologias, embora estas ferramentas ajudem a delimitar o fenómeno. Passa também por uma mudança cultural e no centro dessa mudança cultural está a necessidade de acabar com um modelo de Estado assente numa imensa teia de relações pessoais, de compadrio.

O PSD de Cavaco Silva usou e abusou dos cargos públicos colocando militantes em postos de chefia ou “convidando” os chefes a inscreverem-se no partido. O PS foi incapaz de romper com esta realidade e introduziu duas novidades desastrosas, a confiança política na nomeação dos directores-gerais e subdirectores-gerais e os concursos para a nomeação das chefias. Agora a teia tem base legal.

Veja-se o exemplo do fisco onde os directores-gerais dos Impostos têm menos poder na organização do que um antigo assessor de Oliveira e Costa, hoje director do contencioso fiscal de um grande banco. Uma boa parte dos dirigentes do fisco tem mais lealdade às personagens que os ajudaram na carreira do que aos sucessivos directores-gerais que por lá passam. O resultado está à vista, nalgumas zonas do país quase foi necessário um “golpe de estado”, as dívidas fiscais estão a ser cobradas por funcionários deslocados de outras regiões.

É mais fácil condenar “meia-dúzia” de corruptos do que arranjar provas contra milhares de situações que numa organização com uma cultura favorável multiplicam-se como cogumelos. O combate à corrupção é uma condição para o desenvolvimento económico do país e não uma feira de vaidades que serve para promover políticos ou procuradores em busca de fama.

 
At 29 de julho de 2008 às 19:38, Anonymous Anónimo said...

Alberto Martins, líder parlamentar socialista, disse que a sua bancada “não recebe lições de combate à corrupção do engenheiro João Cravinho” e promete continuar esse “combate sem tibiezas e sem desautorizar o esforço que está a ser feito”.

Eu não sei como acontece com os outros, mas eu não tenho vergonha de dizer que, apesar de ser um “cota”, todos os dias aprendo algo com aquilo que vejo, com aquilo que ouço, com os meus filhos ou com o Sr. da mercearia. Só esta escumalha, que abusa do poder que lhe deixamos ter, diz não aceitar lições de ninguém. Nem o Alberto Martins aceita lições sobre corrupção nem o Sócrates sobre “ser-se de esquerda”. Parece que sabem tudo sobre tudo, que têm todas as verdades enquanto nós, os outros, só temos maldade e ignorância. Até aceitam que lhes chamemos de arrogantes e prepotentes, mas infelizmente não é tão simples como isso. Este discurso é a melhor forma de não terem de se explicar sobre os problemas, de fugirem às responsabilidades que têm. Esta canalha protege os corruptos e envergonha o “ser-se de esquerda”. Mas, não cantem vitória, não pensem que esse discurso engana toda a gente. Ainda há quem os oiça e sinta asco nas suas palavras. Cada vez há mais gente que entende a pulhice que se esconde debaixo delas. Esta gente envergonha toda uma democracia.

 
At 29 de julho de 2008 às 19:40, Anonymous Anónimo said...

João Cravinho é um homem derrotado pelo sistema, um “soldado” que perdeu a batalha, não por ter sido atingido com uma bala mas neste caso por uma bela cadeira num Banco em Londres. Seja como for não deixou de colocar o dedo na ferida e de dizer em voz alta aquilo que por cá muitos parecem ter medo ou vontade de dizer até em surdina. Vivemos no reino da corrupção, da corrupção feita ao mais alto nível, à corrupção do próprio poder legislativo que tudo faz para criar as condições para políticos, ricos e poderosos. Vivem na impunidade de leis que mais parecem queijos suíços, tantos são os buracos por onde podem fugir. Filhos da puta que desgraçam este país e nos condenam a sermos os mais pobres da Europa, que usam os recursos do país em proveito próprio. Faz bem o Cravinho em denunciar esta situação, mas melhor seria que não se tivesse vendido, ficado em Portugal e tivesse colocado nomes próprios (e de família) naqueles que usam a corrupção como forma de vida.

 
At 29 de julho de 2008 às 19:41, Anonymous Anónimo said...

Seja quem for o autor de cada crítica (neste caso Cravinho), a resposta do PS é sempre a mesma: apenas e só arrogância. Sócrates não recebe lições de ninguém sobre coisa nenhuma. E nem as vozes que vêm de dentro do partido têm direito a alguma atenção ou a respostas mais polidas. Com tamanha auto-suficiência, este primeiro-ministro (e os seus mais excitados seguidores) está a precisar de uma lição a sério. Daquelas que não se conseguem recusar. Lá para o fim do próximo ano. Talvez com essa aprenda alguma coisa.

 
At 29 de julho de 2008 às 20:41, Anonymous Anónimo said...

Sempre que o Sr. Alberto Martins aparece na TV, nunca deixo de perceber que ali está um dos mafiosos do PS, qual bombeiro como Jorge Coelho, que só aparecem quando é preciso lavar a imagem do partido perante a opinião pública.
Será o povo assim tão estúpido, que para além de os terem lá posto, não vê o óbvio?
Revolução precisa-se, para correr com esta escumalha toda.
É muito difícil pois o "Monstro" de que falava Cavaco Silva durante o governo do Eng. Guterres, agora são muitos!
Não se esqueçam que "nós" (livra! eu não) é que os pusemos lá!
Isto não está nada porreiro, pá!

 

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