quinta-feira, 12 de abril de 2007

JOSÉ SÓCRATES, SEGUNDO TONY SOPRANO

Tony Soprano é um gestor de sucesso, segundo nos ensina o livro de Anthony Schneider.
Explica-nos ele, como bom exemplo de gestão, que enquanto está no bar Bada Bing, ele está a trabalhar: telefona, tem reuniões, verifica o que fizeram os seus subordinados.
Tony Soprano é rápido a actuar. E é eficiente.


José Sócrates, até agora, foi como Tony Soprano: decidia de forma supersónica. Acreditava que uma má decisão era pior que não decidir.

E Sócrates decidia.




Foi quando lhe rebentou o bombom nas mãos: sujou-o de chocolate estragado.
De repente, a pertinente questão (onde está Wally?) foi substituída por outra mais sibilina (onde está a licenciatura?).
Sócrates deixou de ser o Tony Soprano da gestão: tornou-se alguém que foi apanhado numa teia complexa. E de onde não soube sair à Soprano: à bruta ou diplomaticamente.
Não foi rápido.
Não foi eficiente.
Não conseguiu tomar decisões.
O seu relógio ficou sem pilhas e o tempo parou. Guardou a resposta para o futuro: uma longínqua entrevista à RTP.
Onde se espera que responda às questões de uma forma programada, dizendo: ainda bem que me faz esta pergunta.


Os portugueses queriam uma resposta há algum tempo: ainda bem que lhe posso responder já.
Sócrates pode responder bem.
Mas é tarde para o fazer.
Como gestor, Sócrates tornou-se um CEO mixuruca.
Líder de uma empresa que quer ir à falência por falta de liderança.

Sócrates não precisa de assessores e relações públicas.

Necessita de reler Tony Soprano.


F.S.

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6 Comments:

At 12 de abril de 2007 às 19:44, Anonymous Anónimo said...

O sistema funciona?

O estranho caso da licenciatura de Sócrates parece-me cada vez mais similar ao estranho caso Watergate que levou à resignação de Nixon.
No caso Watergate, tudo começou porque os jornalistas do Washington Post desconfiaram de um dos indivíduos envolvidos, por ter trabalhado para a CIA. Tal facto, aparentemente anódino, foi revelado na audiência preliminar de julgamento e um jornalista ouviu e interessou-se pela singularidade do caso. Não fora esse pormenor, tudo ficaria restrito ao âmbito de um vulgar assalto de terceira categoria, como aliás foi classificado inicialmente pelos responsáveis da Administração americana, na tentativa de encobrimento inicial.
No caso de Sócrates, tudo começou porque um blogger ( António Caldeira, Do Portugal Profundo) se interessou pelo percurso académico daquele do já Primeiro Ministro de Portugal, logo nos primeiros meses de 2005; fez perguntas a entidades oficiais que não obtiveram resposta satisfatória, adensando desse modo, as dúvidas e perplexidades surgidas com a esquisita licenciatura na Universidade Independente.
A questão inicial, colocada nessa altura, permanece sem resposta: foi observada toda a legalidade na atribuição de equivalências, em 1995 e na obtenção da licenciatura, em 1996, em engenharia civil, pelo então já governante José Sócrates? O actual primeiro ministro, diz que sim e que tudo não passa de um conjunto de insinuações e calúnias, orquestradas por “forças obscuras”, vindas dos confins da internet.
No entanto, a partir dessa altura, e durante quase dois anos, ninguém dos media tradicionais, deu importância ao assunto que parecia de interesse acabado.
No início de Março de 2007, com a crise na Universidade Independente, o interesse no assunto foi naturalmente retomado e, primeiro um jornal diário, (o Público) e depois um semanário ( o Expresso) , abordaram o tema pela primeira vez.
O artigo do Público, mereceu um comentário do gabinete oficial do PM, em que este se mostrava indignado, difamado e caluniado, ameaçando veladamente agir judicialmente. Não obstante, ontem, na entrevista à RTP, José Sócrates acabou por admitir a legitimidade das dúvidas expostas.
No caso Watergate, Nixon nunca admitiu, até ao momento em que resignou, em Agosto de 1974, a sua responsabilidade directa nos acontecimentos de 17 e 18 de Junho de 1972.
O que o levou a admitir essa responsabilidade foi uma prova fatal, constituida por uma gravação efectuada pelo próprio Nixon, na qual recomendava a colaboradores directos, em 23 de Junho de 1972, para se encobrir o acontecimento e afastar a polícia ( FBI) da investigação.
Perante os primeiros indícios levantados pela imprensa, com destaque para o Washington Post e os jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, foi constituída uma Comissão de Inquérito no Senado em Fevereiro de 1973. Durante quase um ano, os indícios de malfeitorias na Administração americana, contra o partido democrata, tinham-se acumulado na imprensa, mas sem consequência grave para Nixon que tinha ganho as eleições em Novembro de 1973. Aos poucos, ia despedindo colaboradores directos, apanhados em contradições e em ligações perigosas com os assaltantes do Watergate.
Desde Fevereiro de 1973, alguns desses colaboradores directos, sob juramento e perante a Comissão de Inquérito, disseram publicamente que Nixon sabia do caso, tentara encobrir e relacionavam factos de datas.
Mesmo assim, com todo a atenção mediática ao acontecimento, Nixon manteve-se na sua posição inalterável de proclamar inocência e desconhecimento directo do caso. Até 8 de Agosto de 1974, Nixon negou o que parecia evidência para o senso comum.
Aliás, não fora a iminência de uma acção de impeachment, aprovada pelo Congresso, perante os dados conhecidos, Nixon teria ainda resistido às provas apresentadas, porque faltava a rainha delas: a confissão que acabou por surgir com a gravação fatal, a smoking gun indesmentível e que Nixon foi obrigado a mostrar para prevenir danos ainda maiores.
Não obstante, a conduta de Nixon, revestindo contornos criminais graves, veio a ser perdoada pelo sucessor Gerald Ford, logo em Setembro de 1974.

O estudo do caso Watergate e dos media de então, com a força que estes assumiram para assegurar o privilégio de uma informação ao público, merece destaque, ainda hoje.

No caso da licenciatura de Sócrates, a entrevista de ontem na RTP é apenas mais um episódio, se continuarmos a fazer o paralelo com o caso americano. Com algumas particularidades interessantes que se revelam porque o que está em causa, nos dois casos, é a mesma coisa: a capacidade de investigação jornalística, em relação a um assunto que alguém do poder político procura ocultar.
Em Fevereiro de 1973, por causa da insistência mediática, as forças políticas americanas , obrigaram-se a investigar o caso numa Comissão de Inquérito no Senado.
Por cá, ontem, Marques Mendes sugeriu a instauração de um inquérito, por uma “entidade independente”, a pedido do próprio Primeiro Ministro. A sugestão, obviamente não vai surtir qualquer efeito e estamos assim perante a primeira diferença de vulto: em Portugal não há possibilidade de se constituir uma Comissão de Inquérito a casos como este, com um mínimo de credibilidade, como se pôde amplamente observar nos últimos anos, a propósito dos Inquéritos Parlamentares com conclusões ao sabor das maiorias.
Por outro lado, na vertente estritamente judicial, na América de Nixon e ainda hoje, o poder judicial actua nestes casos com outra dimensão, independência e interesse investigatório que por cá são ainda meras ilusões.
A figura do Procurador Independente, aventada por cá como uma alternativa ao poder do Ministério Público investigar exclusivamente, afigura-se agora como muito interessante, perante este caso singular de investigação ao Primeiro Ministro.
O Procurador Independente, americano, mostrou ser uma forma de investigar estes casos, de modo interessante e alternativo ao sistema que temos. O último caso conhecido e aplaudido pela opinião pública americana, foi o que investigou o caso Lewis Scooter Libby, no qual o Procurador foi amplamente aplaudido pela opinião publicada, devido ao seu exercício em independência, competência e rigor.
Por cá e perante a recusa de um Procurador Geral em investigar factos que se afiguram no mínimo de legalidade duvidosa, a alternativa a uma investigação criminal com garantias de objectividade, rigor e isenção, deixa-nos num beco sem saída.
Sabendo que os serviços inspectivos dos ministérios não são independentes e não podem pautar-se pela isenção exigível, porque têm chefias dependentes daqueles que podem se alvo das investigações, que fazer?!
Os tempos das Inspecções Gerais dos ministérios como entidades credíveis e de isenção assinalável, vão longe e alguém fez tudo para que isso acontecesse. A Inspecção Geral de Finanças, depois dos casos Moderna e Ministério da Saúde, mudou e a responsabilidade sabe-se de quem foi: do poder político que não quer ser incomodado por dentro.
O impasse apresenta-se assim como de evidência meridiana. Na ausência de um poder verdadeiramente independente, para investigar criminalmente os actos da Administração superior do Estado e dos próprio agentes políticos de topo, que confiança podem ter os cidadãos, nesta democracia? Muito pouca e residual, é a resposta simples.
Na América de Nixon, o poder judicial actuou de modo exemplar. O juiz Sirica, que julgou os implicados no assalto, sendo então criticado pela demasiada intervenção, procurou a descoberta da verdade, quando se apercebeu das mentiras. Foi ele quem obrigou a Administração a entregar as gravações comprometedoras.
Por cá, quantos juízes Siricas há na Relação, no Supremo e no Constitucional? Haverá algum?
O Presidente da Comissão de Inquérito no Senado, Sam Ervin, no caso Watergate, não se prestou ao frete político e basta ler as intervenções públicas do mesmo, para encontrar uma dignidade que no Parlamento português, pura e simplesmente é utópico esperar. Basta lembrar o que se passou nos recentes inquéritos parlamentares, de uma risível dignidade.
O primeiro procurador especial do caso, Archibald Cox, também fez o que era esperado fazer, no seu papel de inquiridor criminal. Em Portugal, o actual PGR já disse que nada havia a investigar neste caso…e hoje desdisse o que ontem foi dito.

Nesta breve síntese comparativa, quem ler, depressa chegará à conclusão que a democracia em Portugal, precisa de afinação urgente, sob pena de a entrevista de ontem, passar por uma espécie de tribuna de esclarecimento definitivo de um problema que toda a gente séria e minimamente independente de partidos, já percebeu que não é um caso mesquinho.
Em Portugal, actualmente, em vez de Comissões de Inquérito parlamentares respeitáveis e fiáveis; em vez de procuradores especiais, dignos de credíveis; em vez de tribunais independentes e competentes e em vez de uma opinião pública esclarecida e exigente, temos isto que está à vista: um Primeiro Ministro suspeito de graves irregularidades e de mentir às pessoas que o elegeram, em assuntos sérios e que põem em causa o carácter pessoal, tem grandes possibilidades de sair absolvido na opinião pública e sair em ombros nas próximas eleições. Além disso, o partido que o apoia, já disse que não aceita investigações independentes.
Assim, para compensar a ausência de instituições credíveis, temos um ou dois jornais, cuja motivação para o tratamento do assunto já foi questionada e temos... os blogs.
Chegará para termos um país democraticamente, um pouco mais decente?
Claro que não chega.
Que país deprimente!

 
At 12 de abril de 2007 às 19:46, Anonymous Anónimo said...

Um dos aspectos mais deploráveis do actual debate político é verificar que o Governo, perante uma situação económica e social tão grave como a que vivemos, não encontre outra mensagem para dirigir aos portugueses que não seja a de que a culpa é dos outros.

 
At 12 de abril de 2007 às 19:54, Anonymous Anónimo said...

Ilude-se quem pensar que José Sócrates passará incólume do extenso rol de dúvidas suscitadas pela sua licenciatura na desprestigiadíssima Universidade Independente. As três semanas de pesado silêncio que manteve face às notícias que iam saltando para o espaço público terão repercussões inevitáveis na sua imagem, como aliás se verá.
Da entrevista de ontem à RTP ressalta uma ideia nítida: Sócrates convive muito mal com a crítica. Reage com arrogância e sobranceria às legítimas questões que lhe são dirigidas, por mais simples que sejam, percebendo-se que está pouco ou nada habituado a que o enfrentem de olhos nos olhos. Será talvez instinto de "animal feroz", como ele próprio se definiu numa memorável entrevista ao Expresso. Mas falar com manifesto desdém da "blogosfera", equiparando-a a um vespeiro de intrigas, sem atentar que vários dos seus camaradas de partido são responsáveis por alguns dos blogues mais influentes em Portugal, é algo indigno de quem tanto gosta de proclamar a necessidade de acertarmos o passo com o futuro na sociedade da comunicação.
Este Sócrates inchado de soberba e auto-suficiência, incapaz de aceitar críticas, constitui a pior face de um primeiro-ministro que tem revelado capacidade de decisão e competência política. Só lhe faltou dizer: "Deixem-me trabalhar!" Com a devida vénia a Cavaco Silva.

 
At 12 de abril de 2007 às 19:56, Anonymous Anónimo said...

o debate que falta

O programa, da RTP1, Prós & Contras, animado por Fátima Campos Ferreira, tem sido pródigo na oportunidade de certos temas: os casos recentes sobre a crise na Justiça, o caso Esmeralda, Ota, etc etc.

O que falta para fazer um programa sobre as licenciaturas nas universidades privadas, assim tipo Independente? Material, há com fartura. Pessoas para intervir, não faltam. Sugerem-se já algumas:

* Pelos jornalistas
o Ricardo Dias Felner, do Público
o o jornalista João Garcia, do Expresso
o o jornalista Sarsfield Cabral, da RR;
* Pelos blogs
o o autor do blog Do Portugal Profundo, António Balbino Caldeira.
o José Adelino Maltez, do blog Sobre o tempo que passa
o Vital Moreira, do blog Causa Nossa
o Miguel Abrantes do blog Câmara Corporativa.
* Pelos professores
o Luís Arouca da UnI
o Amadeu Lima de Carvalho, pela Uni, (solicitando-se aos serviços judiciários uma saída precária), o antigo dirigente da Moderna,
o Braga Gonçalves; um professor do Técnico.
o António José Morais, inevitavelmente.
* Pelo Governo,
o Mariano Gago.
* Pela sociedade civil
o Armando Vara.


Seria um programa de arromba.

 
At 12 de abril de 2007 às 20:56, Anonymous Anónimo said...

Nova campanha MacDonald's, colam-se os selos na caderneta e depois tem-se um diploma.

 
At 13 de abril de 2007 às 12:43, Anonymous Anónimo said...

Belos licenciados deve ter dado ao nosso mundo a defunta Universidade Independente, ou será que a constatada "degradação pedagógica" foi doença súbita?
Em 13 anos de actividade que saber produziu? Que marcas deixa na nossa cultura, na nossa ciência, na nossa tecnologia (vá lá!)?
Já agora, que credenciais científicas terá exibido para lhe ser dado o alvará por essa senhora tão rigorosa que se chama(va) Manuela Ferreira Leite? E o actual PR, então PM, aliás um universitário, assinou de cruz?
Mas o mais triste da conferência de imprensa do Ministro da Ciência (sim, da Ciência) e do Ensino Superior foi a defesa acirrada que fez da genuinidade do diploma do Chefe. Esperava-se mais distanciamento e dignidade de um Ministro da Ciência (sim, da Ciência). Pôr-se a explicar os obscuros critérios da secretaria da Universidade que acabava de mandar encerrar, tentando fazer crer que é na coluna referente ao ano de 1995 que devemos procurar os licenciados de 1996 (!!!) ultrapassa o mais elementar bom senso.
Quem fala assim é mesmo gago.

 

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