UM PORMENOR...
Mais uma relíquia para o baú de memórias de um Governo com prioridades mediáticas, mais um “pormenor irrelevante”, segundo Maria de Lurdes Rodrigues.
Alguém se lembrou de agendar a apresentação do plano tecnológico para as escolas em tempo de férias e logo outro alguém se lembrou que não há crianças nas escolas durante as férias.
Podia lá ser!
Afinal o que é uma escola sem crianças?
Alguém se lembrou de agendar a apresentação do plano tecnológico para as escolas em tempo de férias e logo outro alguém se lembrou que não há crianças nas escolas durante as férias.
Podia lá ser!
Afinal o que é uma escola sem crianças?
Mas estava escrito no destino que aquele seria o dia para o salto, o país não podia esperar mais.
Tinha que haver uma solução, de preferência, de mercado.
Então alguém teve outra ideia, pagar a uma meia dúzia de criancinhas, daquelas com ar tecnológico, das que sabem mandar mensagens com o telemóvel e brincar com a playstation (das espertas). E assim foi.
Lá se recorreu ao trabalho infantil – note-se que ir à escola deve ser o trabalho infantil – e lá se satisfez a urgência da apresentação, cortando-se preciosas semanas ao nosso atraso de décadas e abraçando o futuro.
Daqui a uns anos, que ninguém se esqueça que podíamos estar umas semanas mais atrás no nosso desenvolvimento tecnológico e que, se atalhámos caminho, a alguém o devemos: a José Sócrates, à sua fiel Maria de Lurdes e, claro, a estas adoráveis criancinhas.
À data já serão todas engenheiras (*).
(*) com curso reconhecido pela Ordem dos Engenheiros e pagas a 30 euros.
Tinha que haver uma solução, de preferência, de mercado.
Então alguém teve outra ideia, pagar a uma meia dúzia de criancinhas, daquelas com ar tecnológico, das que sabem mandar mensagens com o telemóvel e brincar com a playstation (das espertas). E assim foi.
Lá se recorreu ao trabalho infantil – note-se que ir à escola deve ser o trabalho infantil – e lá se satisfez a urgência da apresentação, cortando-se preciosas semanas ao nosso atraso de décadas e abraçando o futuro.
Daqui a uns anos, que ninguém se esqueça que podíamos estar umas semanas mais atrás no nosso desenvolvimento tecnológico e que, se atalhámos caminho, a alguém o devemos: a José Sócrates, à sua fiel Maria de Lurdes e, claro, a estas adoráveis criancinhas.
À data já serão todas engenheiras (*).
(*) com curso reconhecido pela Ordem dos Engenheiros e pagas a 30 euros.
Etiquetas: Educação, José Sócrates, Partido Socialista
13 Comments:
Consta que o Governo, particularmente o Ministério da Educação, queria inaugurar o Plano Tecnológico da Educação com pompa de propaganda e circunstância de imagem eficaz. Como diz o PCP, “governo de marketing”. Segundo as televisões de ontem e o 24 Horas de hoje, o "evento" revestiu algumas singularidades de uma vernissage de pura propaganda.
Falso, portanto, porque puxado para o lustro da impressão de momento, publicitando medidas cuja substância deixa muito a desejar.
O Ministério da Educação, pelos vistos, contratou então uma empresa privada de “eventos”, para o acontecimento da apresentação do Plano sair em modo de happening de panegírico à governação.
A empresa privada de serviços de eventos, na lógica própria das telenovelas para crianças, achou que podia resolver a questão em dois tempos e meia dúzia de chamadas telefónicas. Subcontratou outra empresa de activistas de castings. Escolheram actores, figurantes, para encenarem o evento a quem destinaram (propuseram ?)um cachet. Tudo na maior lógica possível, para estes eventos.
O problema surgiu quando os figurantes que apareciam na encenação, disseram em directo que tinham sido contratados a 30 euros, para o papel e se viu que eram…crianças.
A política espectáculo que tem sido a prática de Sócrates, desta vez terá ido longe de mais.
Contrataram crianças, a trinta euros cada, através de uma empresa de “casting” promotora de telenovelas, para actuarem na encenação da apresentação dos quadros interactivos, no âmbito do Plano Tecnológico, que Sócrates anunciou como primeira figura do elaborado espectáculo.
Se pagarem 30 euros por aula aos alunos a sério, eu aposto que conseguem maiores níveis de sucesso escolar do que com uma cascata de quadros interactivos e computadores.
Pensando bem: se me pagarem 30 euros limpinhos por aula até eu consigo ter um melhor desempenho, pois passaria a ganhar mais ou menos o dobro do que ganho agora ao fim do mês.
"Plano Tecnológico da Educação prevê um computador em cada sala de aula"
O que é necessário que seja também instalado?
-Um Gold AC Pass para se poder ver os sites porno.
-Um leitor de cassetes para o ZX Spectrum 48K funcionar.
-Uma jante de jipe com uma corrente cravada no PC.
-O jogo "Grand Theft Auto" nas escolas João Pedro de Andrade, na de Montargil e na Secundária de Ponte de Sôr etc...
-Um informático em cada sala para ajudar os alunos a tirar dúvidas ao professor.
-Um RIP de impressão que iniba a impressão de piadas ao PS
António Ferro, o ministro da propaganda de Salazar não faria melhor, e ele era um homem de grande talento e saber.
Anunciar ao país uma dádiva de computadores com o CCB como cenário e umas crianças pagas para fazerem de conta que eram beneficiárias do programa é inacreditável.
Para Sócrates tudo é mediático, a política passa pelas agências de comunicação, o que conta é o que parece e não o que é.
A partir de agora quando o Primeiro quiser fazer uma inauguração vai arregimentar uns figurantes, dirigidos pela NBP da TVI, e no final em vez de haver uma manifestação de opositores aparecerão os figurantes a levantarem os braços e a gritarem em uníssono:" Salvé ! Salvé Sócrates, grande dirigente dos portugueses ! os que vão pagar mais impostos saúdam-te !".
Isto não podia ser mais cínico e perverso.
O governo farto de ser assobiado, decidiu encenar a sua popularidade com figurantes, como aqueles ( ou os mesmos) que aparecem na assistência dos talk shows pagos a 50 euros a sessão.
A partir de agora a popularidade do governo está assegurada, nem que seja com figurantes e com um assistente de realizador de megafone a gritar: " Acção ! Viva sua excelência o inginheiro ! Viva !!!
O acontecimento de ontem: a inefável ministra de costas voltadas para um grupo de jovens sentados em carteiras vazias, um mês depois das aulas terem terminado!
Perguntar-se-ia:
Estariam num colégio privado, daqueles onde a classe política mais corrupta do mundo enfia os filhotes, para que não se misturem com o povão?
Não!
Estariam numa escola modelo, daquelas com as quais a ministra negoceia contratos especiais e experiências-piloto, que depois nunca servem para coisíssima nenhuma?
Não!
Onde estariam então?
Num plateau, onde se gravam as novelas, com figurantes - neste caso, crianças contratadas para estarem ali aquele tempo que demorou a gravação daquela novela chamada: "telejornal".
De facto, um maravilhoso espectáculo de ficção ao vivo, onde tudo é mentira - desde os alunos, às salas, aos professores e ao preço dos quadros electrónicos - e em que até a própria notícia era falsa.
Começou por se dizer que ia ser distribuído um quadro mágico por cada sala de aulas, mas no final a própria ministra disse que seria um quadro para três salas.
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Nada a que não estivessemos habituados.
Business as usual, no ministério da educação.
Propaganda as ususal, do governo.
Mediocridade e mentira as usual, com que se injecta o povão.
"Se me enganas uma vez, a culpa é tua.
Se passas a vida a enganar-me, a culpa é minha."
Anaxágoras.
Vendo a capa de hoje do jornal 24 Horas poder-se-á pensar que é mais um título sensacionalista para vender jornais, até porque a publicação não é das mais credíveis. O pior é que a notícia é verídica.
Uma rápida leitura pelos diversos sites informativos permite-nos validar o título «Governo pagou a miúdos para ajudarem Sócrates». Há um aspecto positivo, para a Ministra da Educação, hoje no «sobe e desce» do jornal Público, esta não sobe nem desce, está em stand - by. O que se passou? Ontem foi apresentado o Plano Tecnológico para a Educação. Cerimónia oficial sem público? Nem pensar!!! De quem seriam os aplausos? As câmaras de TV filmariam apenas os governantes? Os políticos têm pavor ao vazio, não podem sentir-se sós, sentem a necessidade premente do calor humano, das pessoas a vergarem-se perante as suas façanhas.
Por tudo isto, a iniciativa (bastante importante, diga-se em abono da verdade) contou com a participação de uma plateia de crianças, recrutadas por uma agência de casting. Cada menino (a) arrecadou a módica quantia de 30€. Imagino os requisitos necessários: tens que estar sempre a rir, pisca o olho em sinal de aprovação, abraça os colegas e mostra a todo o país que estás feliz, não espirres em directo, não tussas, não libertes «gases» com sonoridade elevada… Os programas televisivos que preenchem a grelha televisiva nacional debater-se-ão com um problema, os honorários dos figurantes vão disparar em flecha.
Ainda tenho viva a imagem de uns senhores simpáticos que, a pretexto de uma visita revitalizante para o espírito ao Santuário de Fátima, deram um jeitinho nas comemorações da conquista da autarquia alfacinha pelo candidato do PS, António Costa. Há coisas incríveis, não há? Confrontada com a situação, a senhora ministra considerou o sucedido como um facto irrelevante. Será que esta senhora teve conhecimento da manifestação que ocorreu em São Pedro do Sul, levada a cabo pela Confederação Nacional de Acção sobre Trabalho Infantil, procurando chamar a atenção para o trabalho das crianças nas artes e espectáculos?
Ainda sobre os pequenitos e a propaganda do governo, o mesmo país que preside à UE, que tresanda a "choques" tecnológicos por todo o lado - incluindo o aborto que apresenta quase como um novo "25 de Abril" -, que é governado pela "esquerda moderna" mas que não deixa reformar gente com doenças terminais, que oferece diariamente espectáculos de pequena e grande corrupção na sociedade dita civil, que faz da banal detenção de criminosos um "show", etc., etc. este mesmo país e o governo que o dirige prestam-se a esta palhaçada digna do pior terceiro-mundo. "A ideia era mostrar as potencialidades da utilização dos quadros interactivos numa sala de aula. Sentadas em carteiras, cerca de uma dezena de crianças respondiam ao “professor” e faziam os exercícios descritos no quadro, com ajuda do rato ou de uma caneta especial que faz as vezes de giz. Só que para além da sala improvisada no Centro Cultural de Belém havia algo mais encenado. Os “alunos” eram crianças que tinham sido recrutadas por uma agência de casting: a NBP, num trabalho que rendeu 30 euros a cada um, de acordo com o relato feito por um dos miúdos à RTP." Li no Público e acredito, até por ter prestado vagamente atenção à notícia na RTP. Instado nessa mesma peça a comentar a coisa, Sócrates lançou aquele olhar de "animal feroz" de quem não está para ser perturbado no seu sonho de grandeza por primitivismos jornalísticos. Sucede que foi ele quem propiciou o "momento Chávez", a fazer lembrar os pioneiros dos falecidos países de leste e de Cuba. A diferença é que estes miúdos foram pagos para a propaganda do governo com se estivesse. - e estavam - numa telenovela venezuelana. Não há meio deste pobre regime em fim de festa ter um pingo de vergonha na fuça.
A boa lembrança de um leitor acerca da diferença dos tempos, das personalidades e da ética pública, aquela a que apelidam de republicana:
«"Anos 80/82. O oficial responsável pela aquisição de um lote de Citroens e de um super Citroen, topo de gama, para o PR , informa o PR: que a direcção da Citro gostaria de ter uma fotografia com o PR junto do carro.
Resposta pronta ...diga-lhes lá que não estamos em África."
Ramalho Eanes»
Parece que o PS tomou o gosto pelas encenações e tal como os funerais dos romanos ricos contavam com carpideiras contratadas, as encenações partidárias ou governamentais contam com figurantes contratados. Registe-se o progresso alcançado na apresentação do plano tecnológico para a educação, onde os figurantes se pareciam mais com estudantes do que os velhotes arregimentados para vitoriar António Costa que se percebia à milha não serem de Lisboa.
Isto significa que os nabos do governo são um pouco menos nabos do que os nabos da candidatura de António Costa. Mas não deixaram de ser nabos pois era mais do que previsível que os jornalistas fossem perguntar aos falsos estudantes como tinham ido parar ali. É que gato escaldado de água fria tem medo, toda a gente já percebeu que as cerimónias socráticas têm tanto de genuíno com as cadeiras feitas no fim-de-semana.
Em Portugal já tudo serviu de argumento para inventar sinais de retoma, desde as cotações da bolsa às colheitas de caracóis, tudo tem sido invocado para aumentar a esperança dos portugueses num futuro risonho. Mas finalmente os sinais existem, graças ao aparelho do PS até jovens e velhos encontram trabalho, um dia destes as filas o Largo do Rato para os castings do PS serão maiores do qu as dos candidatos a participar nos Morangos com Açúcar.
De vez em quando o Governo divulga mais uma medida no âmbito do seu Plano Tecnológico, já fez um acordo com a Microsoft que transforma Portugal numa Microsoftlândia, prometeu distribuir computadores por alunos e escolas e até já distribuiu alguns, define objectivos para acesso à banda larga e até introduziu os quadros interactivos.
O problema que se coloca é saber para que serve tanto computado e tanto acesso a banda larga se a produção de conteúdos não é promovida.
É evidente que estas medidas são positivas, mas a verdade é que se limitam a promover a utilização, esquecendo a produção.
Não é por todos os portugueses terem carta de condução e alguns poderem comprar automóvel a metade do preço que Portugal se transforma num produtor de automóveis.
É evidente que estas medidas terão um resultado positivo na medida em que o país melhora significativamente os indicadores relativos à internet, ainda que isto seja conseguido com alguma injustiça e oportunismo.
Injustiça porque os que se aplicam na escola e suportam os custos da sua dedicação terão que comprar o computador e pagar o acesso à internet, enquanto os que se baldaram vão às Novas Oportunidades comprar o computador pelo preço de uma torradeira, têm direito a um ano de acesso à banda larga e se assinarem o ponto ainda levam um canudo novinho em folha.
Oportunismo porque a mesma PT que maltrata os clientes que pagam caro aparece neste processo como uma entidade benemérita.
Entretanto, nada se faz para que seja produzidos conteúdos em português, Portugal tem bons indicadores de acesso à net mas é um deserto no capítulo da produção de conteúdos e de acesso a servidores, aliás, o que torna a Web útil são os domínios “com” e os servidores a preço acessível localizados lá fora.
O governo tem-se preocupado muito com a promoção da utilização da Web, transformando a Web num excelente negócio para as empresas de telecomunicações, mas descura ou esquece a importância da produção, o que se compreende, em termos eleitorais a promoção do consumo produz resultados imediatos.
O Plano Tecnológico, que não tem passado do aproveitamento político das mudanças tecnológicas que são inevitáveis aposta no imediato, concentra-se no consumo e despreza a produção, o que é pena, Portugal está a perder oportunidades neste domínio.
Talvez seja por isso que se fala tanto dos indicadores de consumo de Web e se esqueça os de criação de emprego neste sector.
A política-espectáculo, que sempre era uma maneira de fazer política, passou já a uma fase superior na qual a ciência e a arte de governar se subordinam à celebração de eventos.
Com os eventos, como o próprio nome indica, a política passou a ser eventual. O sucesso é o evento e não a política. A política-espectáculo era uma modalidade de astúcia para atrair incautos: o povinho ligava o televisor às oito da noite para ver correr sangue e levava com uma conferência de imprensa eventualmente sem direito a perguntas. Na política dos eventos, o poder político limita-se a ter uma ideia e uma agência especializada trata do resto: o ministro só tem que estar no local a tempo da maquilhagem.
E foi assim que aconteceu com a apresentação pública do Plano Tecnológico da Educação, iniciativa certamente bem intencionada e eventualmente patrocinada pela Microsoft. O Ministério da Educação remeteu a apresentação para uma agência promotora de eventos. A agência – que ao contrário do Ministério não tem obrigação de saber que não há aulas a funcionar no final de Julho – organizou o evento em “ambiente de aula”. Como? Contratando pequenos figurantes - seria trabalho infantil? – para fazerem de alunos em “ambiente de aula”. E foi assim que o evento se transformou num sobrevento, isto é, num inesperado transtorno para a imagem do protagonista do acontecimento, o próprio primeiro-ministro.
A ministra da Educação, responsável hierárquica pelo evento e pela armadilha a que conduziu o primeiro-ministro, comentou que a contratação de figurantes para fingir que interagiam numa sala de aulas era “um pormenor muito pouco relevante”. Espera-se que a remodelação do Governo não venha a ser entregue a uma agência de eventos.
Em salas onde se treme de frio, quadro é visto como um luxo
Um luxo.
É assim que a maiorias das escolas oficiais do nosso concelho vêem a aquisição de apenas um quadro interactivo, cujo preço ronda os 2000 euros.
Vai grande escândalo na pátria por causa das criancinhas contratadas para fazerem de conta que eram alunos na sessão de apresentação do Plano Tecnológico da Educação. Não percebo porquê. Como sabe qualquer pessoa que tenha os filhos nas escolas públicas, estas não funcionam nesta época do ano, logo as criancinhas só por intervenção divina ou contratação terrena ali estariam.
Como bem respondeu à jornalista o rapaz que fazia de aluno «Chamaram-me para uma publicidade e estou aqui agora». Esta criança é um analista de primeira linha porque na verdade definiu muito bem não apenas a sua situação mas também a nossa: chamaram-nos para uma publicidade e aqui estamos. Pois não sendo este governo o primeiro que chama os portugueses para a publicidade, caracteriza-se pelo facto de não nos suportar em qualquer outra ocasião.
Os únicos acontecimentos em que o governo se sente à vontade são aquelas sessões em que nos garante que a nossa vida vai mudar radicalmente em consequência duma nova tecnologia para a qual o executivo nos vai mobilizar. Estes anúncios sucedem-se a uma velocidade tal que esquecemos rapidamente os anteriores. Por exemplo, onde páram os dez milhões de caixas de correio electrónicas que os CTT lançaram em 2006 e que custariam a módica quantia de 2,5 milhões de euros?
Contudo o quadro interactivo agora anunciado pelo governo é muito mais patético do que a caixa electrónica que os interessados têm de activar através duns procedimentos contemporâneos do papel selado. É mais patético porque, ao escutar-se Sócrates a explicar as maravilhas do dito quadro, se percebe como ele acha que tudo se resume aos adereços. Ao contrário do que afirmou o nosso primeiro-ministro a relação professor-aluno não muda por causa dum brinquedo que desenha de forma perfeita os ângulos dos losangos. O quadro interactivo não faz falta alguma ou melhor dizendo faz tanta falta quanto antes deles fizeram os ainda recentes acetatos ou já os desaparecidos flanelógrafos: se o professor for bom e se a turma estiver motivada esses objectos ajudam a tornar mais interessante aquilo que já o é. Caso contrário, ou seja, se o professor for mau e se os alunos não estiverem interessados, então todas essas apregoadas maravilhas se transformam numa tralha grotesca.
Mais do que os edifícios e do que os equipamentos, as escolas são as pessoas. E não apenas os professores e os alunos. Por exemplo, muitas das mais graves agressões registadas nas escolas acontecem porque existem espaços e horários em que não se avista um funcionário, vulgo contínuo. Quando agora se anuncia a instalação de sistemas de alarme e de videovigilância nas escolas «para protecção externa e salvaguarda do investimento de que os estabelecimentos têm sido alvo» não faria mais sentido optar-se por reforçar a componente humana dessa vigilância? O principal objectivo da vigilância, acreditava eu, era a segurança dos alunos, professores e funcionários e só depois a dos equipamentos. Mas ao optar-se pela video-vigilância e pelos sistemas de alarme opta-se claramente por defender o quadro elecrónico e não as pessoas.
A escola do futuro anunciada por Sócrates é um local onde as figuras de autoridade como o professor e os funcionários são cada vez mais menorizados e substituídas, nas aulas, pelos quadros interactivos e, nos pátios, pelas câmaras de videovigilância.
Esta escola é o resultado dum governo que sofre duma variante da antropofobia aplicada especialmente aos portugueses. Não há interactividade que nos valha.
Helena de Matos
No:Público
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