segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O REGULAMENTO INTERNO

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Li recentemente um artigo da professora Maria Luísa Moreira em que contava, com enlevo e admiração, a sua visita a uma escola inglesa de Bristol: os alunos usavam uniforme, eram ordeiros, cumpriam os horários das aulas com pontualidade e sem necessidade de campainhas para reunir o rebanho, tinham aulas de 60 minutos e apenas da parte da manhã (8H30 às 14H40).

É certo que, em Portugal, só há muito pouco tempo se passou a ter aulas de 90 minutos. Mas, neste caso, compreende-se perfeitamente a mudança. Mal parecia, num sistema absolutamente irracional, que as aulas continuassem a manter uma duração adequada e inteligente.

Quanto ao resto, era bom, no entanto, que a referida professora e os professores não se convencessem de que a civilidade dos alunos ingleses deriva dos uniformes ou que foi imposta por decreto. Em Portugal, temos muito a tendência de cair nos extremos, como se entre a bandalheira e a ditadura não houvesse alternativa.

Ora, para uma escola funcionar com espírito de corpo, onde haja reconhecimento da autoridade e o respeito pela hierarquia é necessário, sobretudo, que os professores e os funcionários dêem o exemplo. Acontece que os professores e os funcionários destruíram todos os rituais e formalismos que davam uma carga simbólica de respeitabilidade aos cargos e funções que desempenham e agora queixam-se de que ninguém os respeita.

Um professor não pode querer que um aluno seja pontual, se ele não for. Não pode querer que um aluno o respeite, se ele não respeita o director de turma, os outros colegas e o director da escola. Não pode querer que o aluno tenha apresentação e seja asseado, se ele se apresenta despenteado, desmazelado, de sapatilhas ou chinelos e com as calças rotas e sujas.

Por outro lado, quando uma escola tem um regulamento interno maior do que o Código Civil e uma comissão que passa o ano lectivo a introduzir-lhe alterações, não pode aspirar a que um asno a respeite, quanto mais os alunos. Sendo certo que só uma pessoa manifestamente estúpida é que lê um regulamento interno daquele tamanho e que, para mais, está sempre desactualizado. Além disso, não se pode exigir a jovens de tenra idade que sintam o mínimo respeito por professores que precisam de se socorrer do regulamento interno para os impedir de cuspir para o chão ou de partir as carteiras.

Esta é a grande diferença entre as escolas inglesas e portuguesas que a professora Maria Luísa Moreira não viu. Os professores e os alunos ingleses não só não precisam de campainha para entrar para as salas de aulas com pontualidade como também não precisam de um regulamente interno com centenas de artigos e de páginas para saberem que não se pode deitar papéis para o chão e que se tem de respeitar os professores.

E, depois, se não está escrito no regulamento interno é uma carga de trabalhos. Lá se tem de ir a fugir acrescentar mais um artigo ou mais uma alínea... Artigo esse que, invariavelmente, ninguém lê e a que ninguém continua a fazer caso. Não há dúvida que a escola nos prepara para a vida: a verdadeira vocação do português é legislar. Depois se ninguém lê as leis que fazemos, nem as cumpre, isso já pouco importa.


Santana-Maia Leonardo
Ex-professor do Ensino Secundário
Educare.pt

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5 Comments:

At 18 de fevereiro de 2008 às 23:07, Anonymous Anónimo said...

‘Stôres’

Importas-te de me dizer o que é que eu faço com duas alunas que nem sequer vêm à aula? Não estamos a falar das barracas ou bairros problemáticos. É gente com carros e férias não sei onde. Mas as famílias não fazem nada delas. E eu também não.» – A pessoa que do outro lado da linha assim desabafava é uma brilhante professora de Química. Conhecemo-nos há vinte anos numa escola da periferia onde ela desesperava por explicar que a expressão «fauna piscícola» não queria dizer, como alguns alunos daquela escola acreditavam – vá lá saber-se porquê! –, que ‘os piscícolas’ eram uma espécie de vilões poluidores que assassinavam a fauna. Em momentos mais imaginativos sonhávamos arredondar os nossos magros vencimentos imitando um professor francês que, por essa época, enriquecera passando a livro os disparates que compilava nos testes dos alunos. Na verdade não fizemos nada disso. Ao contrário de mim ela apostou numa carreira no ensino. E agora perante aquelas duas miúdas que nem sequer entram na sala, perante os outros todos que estão referenciados na comissão de menores, mais as famílias que não sabem o que fazer consigo mesmas quanto mais com as crianças e com os adolescentes, ela pergunta-se como será a resposta na sua ficha de avaliação a este parâmetro: «Promoção de um clima favorável à aprendizagem, ao bem estar e ao desenvolvimento afectivo, emocional e social dos alunos»?

Os parâmetros destas ficham revelam um dos maiores equívocos da nossa sociedade: uma escola que acha que deve ocupar o papel da família e dos amigos e que não assume o seu papel essencial – ensinar. Não admira portanto que as fichas de avaliação dos professores pareçam talhadas para o Departamento das Expressões onde foram enfiadas aquelas disciplinas simpáticas que passam a vida a mudar de nome mas que são temas e variações sobre as pretéritas Ginástica, Desenho e Trabalhos Manuais.
O ensino em Portugal tem o igualitarismo como um dos seus pilares. E se hoje já se discutem as consequências deste igualitarismo quando aplicado aos alunos continua a ser tabú aludir ao assunto quando estão em causa os professores. Até agora, nas escolas portuguesas, tanto ganhava quem ensinasse ponto cruz como quem leccionasse Matemática. Mas com este modelo de avaliação, os professores de ponto cruz terão sem dúvida muito melhores resultados que os seus colegas de Inglês, Física, Português, Matemática…

Como é que se chegou aqui? Em boa mas não exclusiva parte porque muitas das pessoas que estão na 5 de Outubro e nos diversos serviços do ministério por esse país fora não têm o mais leve conhecimento da realidade das escolas. Muitos foram professores pouquíssimo tempo e frequentemente detestaram a experiência ou pelo menos não a apreciaram o suficiente para se manterem como docentes. O caso do professor Charrua - aquele que terá contado uma anedota que a directora regional não apreciou - levantou um pouco o véu sobre o universo dessas delegações cheias de professores que aproveitaram as ligações partidárias e os conhecimentos nas influências locais para rapidamente dizerem adeus à escola, aos toques de entrada e saída e sobretudo aos alunos.

Esta gente uma vez instalada nos seus gabinetes dedica-se a produzir orientações para serem aplicadas nas mesmas escolas onde eles regra geral não conseguiram fazer nada. A acompanhá-los nesta tarefa estão os colegas que estudaram e se formaram nas chamadas Ciências da Educação e que do ensino ou da educação propriamente dita o que de mais próximo viram são as escolas superiores e os institutos onde eles mesmos estudaram e conseguiram automatcamente tornar-se professores das mesmas ciências da educação. Imagina-se um serviço de cirurgia cujos profissionais mais reputados e influentes não fossem os melhores cirurgiões mas sim aqueles médicos que tivessem apostado em teorizar sobre a cirurgia de preferência num espaço bem afastado do rebuliço do hospital? É isto que acontece na educação. Das alturas pedagogico-administrativas para onde se conseguem elevar, estes seres lançam sobre a escola aberrações pedagógicas, como a destruição do ensino técnico ou a defunta avaliação igualitária que não só pôs turmas inteiras com médio/reduzido como incentivava a nivelar por baixo. E produzem conteúdos como a TLEBS que não resistem a cinco minutos de aula.

Há vinte anos, alunos do 9º ano achavam que ‘os piscícolas’ queriam matar a fauna. Provavelmente esses alunos sonhavam ir para aquilo que então se chamava Humanísticos pois assim ficariam finalmente livres da Química, da Matemática e doutros trabalhosos saberes. Na verdade esses alunos também nunca tinham passado a Português desde a escola primária mas eles tinham razões para serem optimistas: pertenciam à geração que chegava com seis negativas a conselho de avaliação e saía de lá aprovada. A solução encontrada para este desastre foi ensinar cada vez menos. Existem manuais escolares cujos textos são simples adaptações de revistas. Ontem mesmo li, num destes manuais, um texto sobre o sistema circulatório que se limitava a adaptar uma prosa da revista “Superinteressante”. Era fraquinho o texto mas mesmo assim entendia-se. Propósito inatingível em matérias como a História onde um qualquer impulso jacobino proíbe que se ensine o passado diacronicamente. Interdito que está saber o nome dos reis, as criancinhas portuguesas debitam, em escassos meses, uma espécie de cavalgada heróica sobre as classes sociais e as alterações dos meios de produção que vai do terramoto de 1755 ao 25 de Abril de 1974. Onde antes estava a aula da terceira língua ou mais um tempo de Geografia passou a estar Área de Projecto, Formação Cívica e muitas outras actividades que supostamente ensinarão emoções, afectos, sexualidade e a comer verduras. E é sobre este universo edulcorado que os professores vão ser avaliados.

Alguma vez os professores teriam de começar a ser avaliados. E como a escola há muito que deixou de ter como principal propósito ensinar estranho seria que na avaliação dos professores se valorizasse essa sua competência. Perante estas fichas os professores foram colocados diante de uma evidência: de professores passaram a entretedores.

Helena Matos

 
At 19 de fevereiro de 2008 às 12:57, Anonymous Anónimo said...

Mas que comentário se pode fazer sobre um ex professor do ensino secundário, que agora exerce advocacia e que nos seus tempos de professor em que leccionava a disciplina de francês dizia aos alunos que era professor porque tinha a profissão onde se ganhava mais e onde se trabalhava menos. Será que também havia respeito do sr. professor pelos seus alunos?...

 
At 19 de fevereiro de 2008 às 18:31, Anonymous Anónimo said...

RESPEITO????CIVISMO!!!!! ISSO É COISA QUE A MAIOR PARTE DOS ALUNOS NEM SABE O QUE É..... VENHAM Á EB 2/3 E OLHEM COM OS VOSSOS OLHOS, POIS ESSA É A REALIDADE DE HOJE NAS ESCOLAS.

 
At 19 de fevereiro de 2008 às 20:17, Anonymous Anónimo said...

O PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO!

Se é jovem, não tem experiência
Se é velho, está superado
Se não tem carro, é um coitado...
Se tem carro, chora de "barriga cheia"
Se fala em voz alta, grita
Se fala em tom normal, ninguém o ouve...
Se não falta às aulas, é um tontinho
Se falta, é um "turista"
Se conversa com outros professores, está a falar mal dos alunos
Se não conversa, é um desligado
Se dá a matéria toda, não tem dó dos alunos
Se não dá a matéria, não prepara os alunos
Se brinca com a turma, arma-se em engraçado
Se não brinca, é um chato
Se chama a atenção, é um autoritário
Se não chama, não se sabe impor
Se o teste de avaliação é longo, não dá tempo
Se o teste de avaliação é curto, tira as chances dos alunos
Se escreve muito, não explica
Se explica muito, o caderno não tem nada
Se fala correctamente, ninguém entende
Se fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário
Se o aluno é reprovado, foi perseguição
Se o aluno é aprovado, o professor facilitou.


É verdade, o professor está sempre errado! ? !


Mas, se você conseguiu ler até aqui, agradeça-lhe a ele.

 
At 13 de maio de 2009 às 13:57, Anonymous Anónimo said...

Nasci em 1953, e quando li este artigo desta professora que não tenho o gosto de conhecer pessoalmente , relembrei com saudade os meus tempos de estudante.
Usei sempre uniforme(batas), respeitei sempre os meus professores, porque eles também respeitavam sempre os seus alunos,como pessoas e como "aprendizes". E minha senhora esta aprendizagem, e esta educação começa logo no seio das famílias.
Era bom que a minha neta já "apanhasse" um ensino como o da avó dela

 

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