sábado, 16 de fevereiro de 2008

UMA COISA É CERTA: AINDA VAMOS OUVIR FALAR MUITO DO RAPAZ DE GALVEIAS

O escritor José Luís Peixoto é tema no Expresso actual, ocupando a capa e 6 páginas da actual.
Para despertar o interesse dos nossos leitores publicamos uma das seis páginas do Expresso actual.
Vale a pena ler tudo...





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Podemos tirar o escritor da aldeia mas ninguém tira a aldeia do escritor. Por muito que José Luís Peixoto viaje pelo mundo, meses a fio, com uma agenda digna de estrela pop, por muito que dê autógrafos na FLIP (Festa Literária Internacional de Parati, no Brasil), se instale durante uma temporada na Ledig House de Nova Iorque (lugar de criação para autores de todas as latitudes) ou jante com Umberto Eco em Paris, ele nunca deixa de ser um rapaz das Galveias, a pequena povoação do concelho de Ponte de Sor onde nasceu, há 33 anos. É esse, talvez, o segredo da sua humildade e de uma candura que desarma todos os que o conhecem de perto. Os altos voos nunca o deslumbraram e ele continua a ser o “filho do Peixoto”, como repete certa personagem do seu último livro (Cal, Bertrand, 2007). Que é como quem diz: um “filho da terra”, um filho desse Alentejo rural que tem sido a matéria-prima, mesmo se sublimada, de quase tudo o que escreveu até hoje.
José Luís começou a publicar muito cedo, ainda adolescente, nas páginas do DN Jovem (quando por lá andavam Pedro Mexia, José Riço Direitinho, Alexandre Andrade ou Margarida Vale de Gato). Foi no suplemento do Diário de Notícias, dirigido por Manuel Dias, que apareceu a primeira versão de Morreste-me, uma belíssima elegia em prosa sobre a morte do pai. Mais tarde, a versão ampliada desse texto acabou por se transformar no seu primeiro livro, publicado numa edição de autor minúscula e de capa preta (hoje uma raridade bibliográfica). O estilo de Peixoto está todo ali: um denso negrume existencial aliado a um ritmo encantatório, feito de frases bem desenhadas, repetições, síncopes, crescendos e um lirismo sempre à beira do derrame.
Esta forma de escrever atingiu o seu zénite em Nenhum Olhar (Temas e Debates, 2000), um dos melhores primeiros romances portugueses da última década, ao qual foi atribuído o Prémio José Saramago, da Fundação Círculo de Leitores. O romance seguinte, Uma Casa na EscuridãoCemitério de Pianos (Bertrand, 2006), notável tour de force que cruza uma saga familiar com a história de Francisco Lázaro (o atleta português que morreu durante a maratona dos Jogos Olímpicos de Estocolmo, em 1912), esteve longe de obter o destaque que merecia.
(Temas e Debates, 2002), marcou uma mudança na forma como o meio literário nacional recebe a sua obra. A factura do êxito súbito mostrou-se elevada: houve quem lhe apontasse uma dificuldade em libertar-se de uma lógica narrativa fechada sobre si mesma e surgiram os primeiros sinais de desconfiança face ao “fenómeno Peixoto”, nalguns casos indissociáveis da proverbial invejazinha. Talvez por isso, o seu terceiro e mais recente romance,

Não que José Luís Peixoto se preocupe muito com isso. O seu único objectivo, afirmou-o várias vezes, é ser lido. E por aí não se pode queixar. Há uma verdadeira rede de leitores que acompanham tudo o que escreve, uma rede de pessoas com quem o escritor mantém contacto permanente, seja através da Internet, seja através de encontros nas actividades promocionais ou nos eventos literários que lhe ocupam parte significativa do tempo. Não sendo best-sellers, os seus livros sempre se venderam bem — mesmo os de poesia (A Criança em Ruínas, publicado pelas Quasi em 2001, já vai na sétima edição). A fila de pessoas à espera do seu autógrafo, na Feira do Livro de Lisboa, costuma ser maior do que a de autores mais velhos e consagrados.
Decidido a viver apenas da escrita, Peixoto raramente recusa uma encomenda. Além de colaborar regularmente na imprensa (tem uma crónica fixa no Jornal de Letras), fez um CD/livro com os Moonspell (Antídoto, 2003), escreveu a letra de uma canção dos Da Weasel (Negócios Estrangeiros, do álbum Amor, Escárnio e Maldizer), e colaborou com várias companhias teatrais, tanto em adaptações de obras suas como na criação de textos dramatúrgicos. De entre estes, os mais importantes foram Anathema (para os belgas tgSTAN, 2005), À Manhã (Teatro Meridional, 2006) e Quando o Inverno Chegar (encenado no São Luiz pelo realizador Marco Martins, 2007).
Entretanto, a internacionalização do escritor não pára. Os seus livros já foram editados em França, Itália, Holanda, Espanha, República Checa, Bulgária, Croácia, Turquia, Finlândia, Bielorrússia e Brasil, acabam de sair na Hungria e Reino Unido (no catálogo da Bloomsbury, “casa” de Harry Potter), estando previsto que o mapa se alargue brevemente a Israel, Grécia, Polónia, Japão e EUA (na prestigiada chancela Nan A. Talese/Doubleday). Num momento em que já olha mais para fora do país do que para dentro, o principal risco de Peixoto seria a cristalização criativa. Isto é, ficar preso a uma linguagem que em vários momentos já deu sinais de estar à beira do esgotamento.
Quem leu Cal, recolha de textos avulsos sobre a velhice, terá consciência dessa ameaça. Não há ali nada que um leitor de Peixoto não conheça. Mas se quisermos um vislumbre do futuro literário do escritor, o melhor é procurar em dois livros que passaram quase despercebidos: Minto até ao Dizer que Minto (distribuído em 2006 com a revista Visão) e Hoje Não (incluído numa colecção da Sábado, 2007). É por aqui, numa linha próxima dos experimentalismos de alguns jovens autores norte-americanos (como Jonathan Safran Foer ou Dave Eggers), que a escrita de Peixoto se pode reinventar. E não será por acaso que ele está neste momento a traduzir, para a Casa das Letras, precisamente um romance de Dave Eggers (What is the What).
Uma coisa é certa: ainda vamos ouvir falar muito do rapaz das Galveias.

José Mário Silva

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1 Comments:

At 17 de fevereiro de 2008 às 20:48, Anonymous Anónimo said...

Nao sei se no nosso Municipio existe alguem que ja tenha lido alguma coisa do Ze luis peixoro, penso que nao porque pelo que leio nos comunicados autoelogiosos ao sr Presidente, ve-se que a leitura deeixa muito a desejar.
Recomendo que leiam e reflitam,.
Ja viram que o Ze Luis projecta a nossa Cidade pelo mundo, enquanto o Prates e motivo de chacota?
Em vez de terem dado o nome de tal personagem a uma Rua na Cidade, teria sido mais justo darem o nome do Ze luis.
Ja agora leiam o Expresso e comparem quantas linhas escreveram acaerca da fundaçao e do seu pseudo espolio, ou sobre as mercearias de arte do sr Prates?
Se me permite sr Presidente, diga ao sr Prates que leve a tralha para casa dele, deixe de nos xular a avença e transforme aquela aberracao numa bibiloteca, com o nome do Ze Luis, e evrao que muito mais visitantes irao la entrar, e isso sim levara cultura a nossa Cidade

 

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