sábado, 10 de maio de 2008

10 DE MAIO DE 1958 - 10 DE MAIO DE 2008


Obviamente demito-o


Em 1958, acedendo ao convite da oposição democrática, apresentou-se como candidato independente às eleições presidenciais.


O mote da campanha eleitoral foi lançado pela célebre frase Obviamente demito-o, numa conferência de imprensa no Café Chave D'Ouro em Lisboa , a 10 de Maio de 1958, em resposta a um jornalista da France Press que lhe pergunta qual o destino que daria a Salazar no caso de ganhar as eleições.


A vasta movimentação popular que se seguiu permitiu criar pela primeira vez em três décadas de ditadura uma dinâmica de unidade da oposição contra o regime salazarista.

O carisma do General sem medo surgiu como um fenómeno inesperado, bem como a erupção de massas no processo eleitoral.
O candidato da oposição anunciou o então facto inédito de não desistir da ida às urnas.
O povo do norte de Portugal concentrou-se numa gigantesca manifestação no Porto - a fim de o receber poucos dias após a sua declaração contra o ditador. Esta jornada a 14 de Maio de 1958 reacordou um velha tradição de liberalismo que a ditadura de Salazar não conseguira extinguir após mais de trinta anos de ditadura. Receando que a popularidade de Delgado se espalhasse de Norte a Sul do país, Salazar proibiu a deslocação deste a Braga - um baluarte do catolicismo e berço da revolta militar do 28 de Maio de 1926 que instaurara a ditadura militar. A cidade foi ocupada por cinco mil membros da Legião Portuguesa - medida preventiva de intimidação e de exibição do poder que todavia não impediu vastas concentrações de pessoas pela região aclamando o candidato da democracia.


Apanhadas de surpresa pelo levantamento espontâneo do entusiasmo popular por todo o país, o regime tomou medidas de emergência destinadas a evitar mais demonstrações em Lisboa. Assim, após a chegada de Delgado à estação de Santa Apolónia a 16 de Maio de 1958 as forças da Guarda Nacional Republicana e os agentes da PIDE exerceram repressão sobre a população lisboeta que acorrera em massa para receber Delgado. As notícias dos tumultos e dos ataques das forças para-militares contra a população de Lisboa apareceram na imprensa estrangeira que começou a dedicar mais atenção a Portugal, país habitualmente pacato.


Após os incidentes e tumultos ocorridos no Porto e em Lisboa, a 14 e 16 de Maio, a polícia política (PIDE) aumentou a repressão contra a população que participava espontaneamente na campanha apelidada de "subversiva" pela imprensa controlada. Apesar do mecanismo eleitoral ser manipulado desde o recenseamento, apesar das dificuldades intransponíveis na cópia dos cadernos eleitorais e na distribuição por parte da oposição dos boletins de voto, ainda assim o Estado Novo, temendo um enorme desaire eleitoral, decretou a proibição da fiscalização do escrutínio por parte da oposição. Os números oficiais deram quase 25% dos votos a Humberto Delgado, contra 75% do candidato oficial, Américo Tomás, não sendo possível ainda hoje apurar os resultados reais dada a amplitude da fraude.
Com medo de no futuro passar por um outro "golpe constitucional" que representava a possibilidade de a oposição voltar a lançar-se numa campanha eleitoral como a de 1958, Salazar promove, em Agosto de 1959 uma revisão constitucional na qual se suprime o sufrágio directo sendo substituído por sufrágio indirecto proporcionado por um colégio eleitoral de total confiança do Governo.


Que linda foi a campanha em Ponte de Sôr...
Passados estes anos todos não poderiamos esquecer os homens e mulheres livres de Ponte de Sôr que participaram na campanha eleitoral do General Humberto Delgado, para eles o nosso obrigado pela vossa luta em defesa da LIBERDADE.

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6 Comments:

At 10 de maio de 2008 às 18:41, Anonymous Anónimo said...

Boa noite ,filhos da terra, gostaria de saber mais como foi a campanha de Humberto Delgado em Ponte Sôr.
Amigos isto esta a ficar mau, muito mau, as pessoas dizem k já não é possível voltar a ter uma ditadura, que os tempos são outros, que há informação, pois é meus amigos, a população tem tudo isso, mas se de um lado há pessoas, do outro lado também há pessoas e são essas mesmas pessoas que querem o poder a qualquer custo nem que seja com prepotência com vigarice e fraude, basta ver o que se passa no nosso concelho e no nosso pais, tudo começa muito devagar, quando a população abre os olhos já é tarde. Olhem para a historia e pensem mas pensem bem e abram os olhos.

 
At 10 de maio de 2008 às 19:12, Anonymous Anónimo said...

A história foi-me contada muitos anos depois e não o foi por nenhum dos protagonistas. Assim, pode acontecer que alguns dos pormenores não estejam correctos)

O meu avô plantou-se desde manhãzinha à porta do local onde estava instalada a mesa de voto. Quando chegaram os membros da Mesa encararam-no com azedume e proibiram-no de permanecer nas instalações após ter votado.
Nada disso o incomodou.
Rodeado de alguns amigos, o velho republicano não arredou pé da porta durante todo o dia enquanto era informado das várias diligências em relação aos alertas junto dos eleitores mais esquecidos.
Cada conhecido que entrava era cumprimentado e a maioria assegurava-lhe, baixinho, que seria mais um voto garantido no General.
Pouco antes da votação encerrar o meu avô estava eufórico - tudo indicava que "os republicanos", como ele dizia, iriam ter uma vitória retumbante, muito para além do esperado.
A contagem dos votos foi feita à porta fechada e só alguns responsáveis locais da Administração Pública foram admitidos a presenciá-la. Pressentia-se a hipótese de fraude mas a diferença entre os dois candidatos parecia tão grande que qualquer tentativa de trapaça eleitoral seria demasiado escandalosa - julgavam quase todos.
Finalmente os resultados foram anunciados.
Sem qualquer pingo de vergonha, o candidato da Situação foi declarado vencedor por mais de 80% dos votos.
Houve protestos, dizem-me que até algumas gargalhadas.
O meu avô terá ficado tão espantado que não esboçou qualquer reacção durante 1 ou 2 minutos.
Mas quando os sicários do regime (muitos transitaram, tranquilamente, a partir de 1974, para o actual) se preparavam para abandonar o local, o meu avô não resistiu e invectivou-os o mais que pôde.
Assustados, os situacionistas começaram a correr rua abaixo enquanto o velho republicano era acalmado pelos amigos.
Mas não chegou - a G.N.R., prontamente chamada pelos serventes da União Nacional, deu-lhe voz de prisão ali mesmo.


Telefonaram para o meu pai - «Venha depressa, o seu pai foi preso! Perdeu a cabeça quando viu que tinham vigarizado os resultados do General.»
O meu pai não gostou: «De que é que estavam à espera? Então não viram que foi assim pelo país todo?». Meteu-se no carro e fez o mais depressa que podia as 3 horas que distavam aqueles cento e poucos quilómetros.
Mal chegado, foi directo para ao posto e exigiu a libertação de seu pai.
O Tenente da Guarda disse-lhe que não podia ser - «Tenho ordens para o deixar aqui até amanhã ao almoço.»
Foi a vez do meu pai azedar - «Ordens de quem?
Do seu superior ou da União Nacional?
Não o pode ter aqui, ninguém apresentou queixa.»
O diálogo foi aquecendo.
Algum tempo mais tarde o meu avô ouviu a porta da cela a abrir-se. Sorriu, aliviado, quando viu o meu pai
- «É para ir embora?», perguntou confiante.
«Não», respondeu o meu pai - «achei que ia ficar aqui muito sozinho e resolvi fazer-lhe companhia».
E foi assim que no dia em que o país se enxovalhou numa imunda trapaça eleitoral, o meu avô e o meu pai passaram a noite juntos na prisão.

O país assim continuou, amorfo, medroso, abafado, bovino.
Quando os assassinos do regime mataram o General Sem Medo o meu avô já não era vivo.
O meu pai ainda viveu o suficiente para ver quase todos os defeitos da antiga Situação transportarem-se, incólumes, para o actual regime.
O rebanho, esse, é sempre o mesmo.

 
At 10 de maio de 2008 às 19:37, Anonymous Anónimo said...

Lembro-me como fosse hoje aquela imagem do 1º de Maio do ano de 74, no coreto do jardim da cidade da Ponte de Sôr, estavam lá todos os homens que em 1958 fizeram parte da campanha do General Sem Medo, todos menos dois, que ficaram sentados num dos bancos laterais do coreto. No fim da iniciativa juntaram todos na padaria do "ti" Simplicio João Alves, para recordarem a luta que travaram no ano 1958.
Há memória vieram as lutas antigas, o apoio recebido de muitos Pontessorenses...
Aprendi muito com aqueles homens uns já com alguma idade, outros jovens, naquele distante ano de 58 e que muito fizeram pelos mais velhos nos anos que se seguíram até 1974(evitando a prisão deles).
Acompanhei este grupo de cidadãos anónimos, homens Livres e amantes da Liberdade, cada um deles segui o seu percurso político pós 25 de Abril de 74.
Uns inscreveram no PCP, outros no PS, outros no CDS.
Estes homens foram cada um deles uma escola para a minha pessoa.
Com eles todos aprendi a amar a LIBERDADE.
Hoje e neste dia apresento a todos os seus familiares o meu maior respeito, pelas figuras que foram estes homens e o exemplos que eles deram à minha geração.

 
At 10 de maio de 2008 às 23:22, Anonymous Anónimo said...

Em 1958 não era nascido e em 1974 também não. Agora, neste momento, não posso deixar de ficar indignado quando pessoas que nessa altura mostraram a sua "raça", e perdoem-me a expressão, não assinam declarações ou escritos. Mas, penso também que se não o fazem é porque aprenderam que não o devem fazer, e à sua semalhança, acabo por não assinar também.
Só há bem pouco tempo comecei a sentir que não posso ser sempre quem os meus pais me ensinaram a ser. Não posso ser sempre sincero e dizer sempre o que penso. Por enquanto não sou mentiroso, apenas ganhei a capacidade de me calar, escutar e nem sempre reagir. Isto tudo tem muito significado.

 
At 11 de maio de 2008 às 15:27, Anonymous Anónimo said...

NÃO sabia o que se tinha passado aqui, em 74 tinha doze anos lembro o meu pai agarrado ao radio feliz da vida dizendo o fascismo acabou ,ele pensava que eu não sabia o que era, mas eu ja sabia pois tive uma grande professora primaria que nos ensinou o que era .As escondidas claro ,juramos nao contar .foi o segredo mais valioso que nos tinhamos com a nossa querida professora .

 
At 11 de maio de 2008 às 23:58, Anonymous Anónimo said...

Se fosse actualmente, ó anónimo anterior, as crianças não saberiam o que é guardar um segredo e a esta altura a professora já estaria com um processo disciplinar porque tinha traumatizado as crianças com uma conversa sobre fascismo.

 

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