segunda-feira, 13 de outubro de 2008

AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU...

Várias vezes ao dia figuras do Estado e do sector privado desdobram-se a anunciar que Portugal está em óptima posição para enfrentar a tormenta.
O argumento é o mesmo.
O nosso sector bancário é do melhor que há.
Os gestores do passado e do presente tudo previram, até o imprevisível.
Podemos dormir descansados porque os nossos bens, tal como as G3 desaparecidas no 25 de Abril, estão em boas mãos.
Não é verdade.
Os nossos bens não estão seguros e nós não estamos em melhor posição do que outros.
Temos fundos de reforma públicos e privados aplicados em bancos estrangeiros que já faliram, e cujo futuro é incerto.
Para evitar a corrida aos bancos, quem nos governa e gere é obrigado a participar nesta farsa para nos serenar porque, como disse o poeta moçambicano Reinaldo Ferreira, Dancemos já que temos a valsa começada e o nada há-de acabar-se como todas as coisas.

Os primeiros acordes da valsa vieram de longe sob as batutas do Primeiro-Ministro Cavaco Silva e do Governador do Banco de Portugal Tavares Moreira que empenharam 17 toneladas de ouro num sonho de rendimentos fabulosos prometidos por um especulador chamado Michael Milken, dono da Drexel, na mais pura tradição da Dona Branca.
Investir na Drexel, era de facto o tal gato por lebre, que o Professor Cavaco Silva viria a denunciar na Bolsa de Lisboa, causando o grande crash no mercado em Portugal.
Pena é que essa sensatez não se tenha aplicado na Drexel.
Desse desastre de 1990, Portugal só conseguiu reaver uma parcela menor, esgravatada nas sobras da falência fraudulenta, já com Milken na prisão.
O que se recuperou foi ainda mais irrisório depois de abatidos os custos da acção movida em nome do Banco de Portugal pelos advogados de Wall Street da Cadwater, Wickersham & Taft, que foi o litígio mais caro da nossa história.

Há duas décadas havia evidência concreta que Portugal não tinha nem a regulação adequada nem o bom senso para aplicar medidas que evitassem investimento jogador e ganancioso com dinheiro público.
Não só não havia prudência como não havia vontade política de impor salvaguardas prudenciais.
O populismo sempre se sobrepôs ao bom senso.
Em Março de 1999 um governante veio a público anunciar aos portugueses endividados que o Governo tinha uma lei para equiparar as falências das famílias às falências das empresas, portanto com as mesmas garantias patrimoniais na administração de massas falidas.
Traduzido, o que isso dizia era: comprem o carro, a playstation e as férias em Punta Cana com o cartão, porque quando não puderem pagar o governo dá uma ajudinha.
Isto aconteceu há uma década e arauto deste maná era Ministro-adjunto no Governo de António Guterres e chamava-se José Sócrates.
É bizarro e preocupante que estes actores do passado e do presente, acolitados por executivos de uma banca em dificuldades, nos venham de hora a hora dizer que está tudo bem.
Não está.
Deviam dizer-nos para deitar fora o cartão de crédito.
Deviam obrigar os anúncios do Credito na Hora a ser exaustivos na explicação do que oferecem.
Deviam sugerir que muitos de nós não temos dinheiro para ter nem plasma nem carro.
Que, de facto, já não temos casa.
Que temos que fazer opções entre aceitar o canto dos prestamistas que, com ou sem fraque, nos virão cobrar, e fazer economias para a educação dos nossos filhos, porque só essa nos pode garantir algo de sólido no futuro.
E isso não vem com computadores à borla e garantias de segurança de quem nunca as assegurou.


M.C.

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10 Comments:

At 13 de outubro de 2008 às 21:05, Anonymous Anónimo said...

Enquanto alguns dos nossos políticos, com o Presidente da República à cabeça, se manifestam preocupados com o que pode suceder aos nossos pobrezinhos chovem milhões para ajudar a banca, o BPN já foi buscar 200 milhões à CGD e o governo acaba de criar uma garantia de 20 mil milhões para empréstimos inter-bancários.

Significa isto que se a crise der para o torto os portugueses poderão ter que vir a suportar este prejuízo. Há uns meses ninguém garantia o futuro das pensões de reforma dos portugueses, os mesmos que a única garantia que recebem ao nascerem portugueses é de fazerem parte de uma nação que tem pouca consideração pelos seus cidadãos.

É evidente que não posso estar contra estas ajudas à banca, a dimensão das consequências de uma falência do sistema financeiro seriam demasiado graves, assim sendo teremos que suportar a chantagem a que estamos sujeitos, ou assumimos os custos da solução da crise financeira ou ainda teremos que pagar uma factura bem pesada.

Mas é o momento para afirmar que esta gente não merece o apoio que o país lhes está a dar e não merecem porque pouco têm dado ao país, muito menos do que agora poderão vir a receber.
Esta gente quando tem elevados lucros não hesita em recorrer às off-shores para escaparem às obrigações fiscais. Ainda fazem pior, montam esquemas de honestidade duvidosa para obterem favores do fisco e quando não o conseguem entulham, os tribunais recorrendo de todas as cobranças que lhes são feitas. Tudo isto explica o facto de os bancos estarem entre as empresas sujeitas a menor carga fiscal.

Esta gente não só recorreu a numerosos despedimentos colectivos sistemáticos como proletarizaram o emprego na banca, hoje os empregados dos bancos ganham mal, trabalham mais horas do que a lei prevê e são quase nulas as garantias do emprego.

Esta gente aproveitou-se dos mecanismos proteccionistas da economia portuguesa para cobrarem taxas de juros e comissões muito superiores às praticas nos restantes países da Europa. Cobram juros altos, cobram comissões abusivas e absurdas e, através da UNICRE, cobram pequenas fortunas aos comerciantes pelos pagamentos com cartões.

Esta gente não tem hesitado em vender os seus bancos a interesses estrangeiros bastando para isso que lhes paguem bem, num dia vão ao Presidente da República meter uma cunha para que defenda os centros de decisão nacionais, no outro vendo o banco a quem lhes der mais.

Esta gente não merece a ajuda dos portugueses.

 
At 13 de outubro de 2008 às 21:46, Anonymous Anónimo said...

para delícia dos do costume, as "medidas" que a corja nacional e internacional inventou para favorecer os interesses dos do costume, já começaram a dar resultados...
os casinos as bolsas estão a fechar positivas e os do costume estão à vontade para continuarem a enriquecer e a praticar malfeitorias...
ah! e a euribor desceu uns "gigantescos" 0,064 pontos percentuais... fantástico...
amanhã é terça...

 
At 13 de outubro de 2008 às 21:47, Anonymous Anónimo said...

...terça... quarta... quinta... all black...
mas a banca do rectângulo é forte, moderna e bem preparada, cof, cof...
tão forte, tão moderna e tão bem preparada que a corja - a mesma que ainda hà pouco afirmava que a "crise" não chegava cá - por via de dúvidas decidiu garantir a "estabilidade" do sistema com 20 mil milhões de euro...
só não explicam onde é que têm os fundos para fazer tal garantia ou como é que o estado mais - vá-se lá saber por quê - endividado da europa (segundo o que afirma um conhecido industrial de hotelaria "pode ser um estado inviável") incapaz de garantir o mínimo de qualidade de vida para os cidadãos, pode garantir seja o que quer que seja...

e, por falar nisso, como é que vão as vendas das reservas de ouro do banco do rectângulo?

 
At 13 de outubro de 2008 às 21:50, Anonymous Anónimo said...

No Público lê-se, em grandes parangonas, que as taxas Euribor “caíram acentuadamente”, sugerindo-se depois que o milagre se deve ao “plano” de crise europeu. Depois lemos que, afinal, a Euribor a seis meses caiu para 5,367 por cento. A queda “acentuada” foi de apenas 0,081 por cento relativamente ao máximo da passada Quinta-feira. Mantém-se o diferencial de 1,617 por cento em relação à taxa de referência do BCE, que desceu 0,5 por cento na passada semana. Ou seja, verifica-se no mercado de crédito o mesmo a que asssistimos no mercado de combustíveis, em que também não se dá pela queda do preço do petróleo. O mercado funciona mesmo e nunca se engana, tal como a UE, eficiente e eficaz. E nada como manter os cidadãos a par de todos os seus sucessos.

 
At 13 de outubro de 2008 às 22:01, Anonymous Anónimo said...

a Banca já está falida
está o Comércio de tanga
o pobre não tem saída:
entre os varais e a canga

governo injecta milhões
para criar liquidez
como fez c´o Magalhães:
um a cada português

mesmo assim não sei se dá
pra chegar ao fim do mês

 
At 14 de outubro de 2008 às 13:55, Anonymous Anónimo said...

Não é bem assim muitas bolsas fecharam ontem em alta e apesar da crise ser global ainda não nos apanhou completamente, é a nossa 'vantagem' não ser-mos globais em termos macro-económicos.

 
At 14 de outubro de 2008 às 18:46, Anonymous Anónimo said...

Não deixa de ser irónico que Manuela Ferreira Leite, que ganhou coragem de concorrer a líder do PSD com os primeiros sinais da crise financeira, acabe por ser a grande vítima da crise financeira em que apostou para retirar a maioria absoluta a José Sócrates. A verdade é que as cotações do PSD nas sondagens acompanharam a queda do PSI20, só que de nada lhe valeu as medidas adoptadas pelos governos europeus, incluindo o português.

Como se tudo isto fosse pouco, uma das sondagens feitas revelam que os portugueses não confiam em Manuela Ferreira Leite para governar num ambiente de crise financeira. A líder do PSD nada fez para contrariar esta opinião, comportou-se na política da mesma forma que estão a actuar os investidores especulativos, optou pelo silêncio, nada arriscou, esperou que a situação económica se agravasse acabando com o capital político de José Sócrates enquanto o seu ficava intacto.

O que pensa Manuela Ferreira Leite da crise financeira? No pressuposto optimista de que a líder do PSD pensa (nos últimos tempos tem-se limitado a dizer o que Pacheco Pereira pensa) temos que concluir que desta vez ou Manuela Ferreira Leite não pensou ou evitou dizer o que pensou. O certo é que não disse nada e em política quem não diz nada é porque não tem nada para dizer. Aliás, Manuela Ferreira Leite só fala quando ninguém a espera ouvir e sobre questões meramente secundárias, nunca tomou posição em situações de crise, sucedeu isso com a crise dos camionistas, com o boicote às lotas e, agora, com a crise financeira.

Se uma candidata a primeiro-ministro nada tem a dizer quando o país e o mundo enfrentam uma das maiores crises financeiras da história, então as futuras intervenções terão pouca credibilidade. Manuela Ferreira Leite actuou com o cinismo de um especulador, apostou no silêncio no momento difícil, guardando as suas propostas e ideias para quando mais lhe interessar. Esqueceu-se de que os grandes políticos não se servem das crises, mostram o que valem quando as enfrentam.

A única posição pública que fez durante esta crise não foi para dar o seu contributo, limitou-se a tentar aproveitar uma afirmação feita por Sócrates num comício, para se assumir como a defensora dos mercados. Errou nas previsões, os mercados entraram mesmo em crise e foi necessária a intervenção estatal à escala mundial.

Esta actuação política de Manuela Ferreira Leite revela que para o seu grupo de salvadores da nação, como Pacheco Pereira e António Borges, a política é um jogo como a bolsa, investe-se quando se pensa que se vai ganhar, capitaliza-se quando se julga que já se ganhou e desinveste-se quando a crise é anunciada. Talvez por isso as sondagens tratem Manuela Ferreira Leite como se fosse uma líder política subprime, prometia muito mas acabou por se desvalorizar muito rapidamente. Já não faltam no PSD os que se querem livrar dela, como se fosse uma velha acção da Torralta.

 
At 14 de outubro de 2008 às 18:47, Anonymous Anónimo said...

Os nossos bancos que costumam ser tão exigentes em matéria de fiadores acaba por precisar do fiador Estado.

 
At 14 de outubro de 2008 às 18:53, Anonymous Anónimo said...

Do SOl:

"Depois de os dinheiros estatais terem salvado o mercado, a seguradora AIG gastou 330 mil euros em banquetes, partidas de golfe e massagens num resort da
Califórnia.

Já o Fortis levou 50 distribuidores a Monte-Carlo e pagou-lhes um pequeno-almoço de três mil euros por pessoa"

Por cá não há disto?
Não.
Por cá só há daquilo que vimos ontem, no Prós& Prós, contra o senso comum.

Por cá, é só inveja, como se sabe. Leiam-se os comentários à notícia, e depois comparem-se com os que são produzidos nos blogs, esse submundo de boataria e bas-fond.

 
At 14 de outubro de 2008 às 21:18, Anonymous Anónimo said...

nunca a deturpação de um nome foi tão bem aplicada. o púrgrama de ontem foi mais uma escandalosa sessão de propaganda e de anestesiamento dos cidadãos feita pelos do costume - a brigada do tudo vai bem, pudera - com a colaboração do orgão oficial de propaganda do regime...

 

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