LÁ COM ELES!
A luta pelo poder, no PSD, atinge, amiúde, aspectos grotescos. O que me faz reverter para há quase três décadas. Num final de tarde, na Redacção do Diário Popular, conversava com Jacinto Baptista, grande jornalista e homem de palavra sóbria, porém sarcástica. A certa altura, disse-lhe: Aquilo no PSD vai uma barafunda dos diabos! O costume, naquele partido, desde as origens até hoje. Jacinto Baptista encolheu os ombros e respondeu. Isso, é lá com eles! E eu de acordo. A historieta contei-a inúmeras vezes, sobretudo quando servia os meus intentos. Hoje, não estou bem certo de que as crises daquele ou de outro partido sejam lá com eles.
As inter-relações entre os partidos correspondem às características das democracias ocidentais. O definhamento e, inclusive, o desaparecimento de qualquer partido desequilibra a balança e debilita a batalha das ideias. Aconteceu em França e em Itália, para falar, somente, na Europa. Mas a tentação totalitária emerge, logo-assim que as formações políticas se ausentam, e em todas as esquinas há um tirano à espera de vez.
O PSD, desde a fundação, é um partido à procura de sentido ideológico. Já o disse e escrevi: Sá Carneiro via-se à nora para atender a todas as fragmentações, e tentar federá-las. Caldeado nos velhos ideais da burguesia nortenha, com padres, fascistas, salazaristas ressentidos, anticomunistas e republicanos nostálgicos, o PSD (então PPD: Partido Popular Democrático, crismado pelo escritor Ruben A.) correspondia à necessidade de se criar uma estrutura política propensa a trepar ao poder, a fim de contrariar a tendência esquerdista da sociedade, após Abril. Na melhor das conjecturas, aquela grinalda de opiniões, desejos e sentires poderia ser incluída no quadro dos demo-liberais. De social-democrata, nada tinha. Aliás, para a grande burguesia do Norte, ser social-democrata era ser um esquerdista desalmado. Sá Carneiro tentou, em vão, fazer com que o seu partido entrasse na Internacional Socialista, à época uma representação respeitável e credível. Não deixaram. O PSD matriculou-se, pois, na figuração que lhe estava mais a molde: à Direita.
Esta confusão e esta ambiguidade determina e explica, naturalmente, as crises sistemáticas pelas quais tem passado o PSD.
Não deixa e ser preocupante, agora, que alguns dos seus mais eminentes barões lhe façam o responso e rezem pela sua morte.
Esta crise partiu de pressupostos errados. A dr.ª Ferreira Leite surgia, aos olhos de um terço dos seus companheiros como uma espécie de endireita o sítio.
Não endireitou.
Pior: demonstrou que não tinha jeito nenhum para a função, aliás na decorrência do comprovado quando ministra da Educação e ministra das Finanças.
Os outros dois terços estavam entregues a Pedro Passos Coelho e a Pedro Santana Lopes.
A intrigalhada fervia.
A senhora afastou o primeiro (e Miguel Relvas) do Parlamento, e premiou o segundo com o apoio declarado e descarado à pretensão deste em ser presidente da Câmara de Lisboa.
Não quero, neste momento, discretear acerca dos saneamentos da dr.ª Manuela.
No entanto, não deixam de revelar um carácter e iluminar o que nos esperava, caso ela amarinhasse a primeira-ministra.
Estamos naquela: do mal, o menos; e lá temos de suportar o Sócrates.
Entretanto, com a displicência própria de quem tem mau perder, a dr.ª Manuela é colocada à parte não só pelo primeiro-ministro como por Paulo Portas, nas negociações para o Orçamento do Estado.
Aos poucos, Portas aproveita-se, e bem, das crises do PSD, vai desbaratando o que resta do maior partido da oposição e prepara-se para lhe tomar o lugar - o que, sem metáfora, já o conseguiu.
Pedro Passos Coelho, que me parece vir a ser o vencedor da pugna que se aproxima, tem a tarefa mais bicuda que se prevê entre todas as tarefas. Aturar o Santana Lopes; enfrentar o que vai restar das ruínas da dr.ª Manuela; cuidar-se com Aguiar e, sobretudo com Rangel. Qualquer destes amolgou-se na doutrina: dizem-se liberais, o que deixa espavorido qualquer pessoa de bem. Passos Coelho estará interessado em recuperar os princípios "sociais-democratas" e reabilitar a ténue esperança de muita gente desesperada?
Que projecto possui no combate ao desemprego e à precariedade?
E a questão da Saúde?
E da Educação?
E as contas públicas, e a regionalização, e a Justiça, e as políticas sociais e fiscais?
E a cultura?
Com que equipa está a contar?
Algumas destas interrogações constituem parte da organização de Estado, seriamente abalada por um Governo que já não interessa a ninguém.
Porém, que substituto?
O actual PSD é uma desgraça pegada que também não suscita nenhuma credibilidade sem fornece nenhuma garantia.
B.B.
As inter-relações entre os partidos correspondem às características das democracias ocidentais. O definhamento e, inclusive, o desaparecimento de qualquer partido desequilibra a balança e debilita a batalha das ideias. Aconteceu em França e em Itália, para falar, somente, na Europa. Mas a tentação totalitária emerge, logo-assim que as formações políticas se ausentam, e em todas as esquinas há um tirano à espera de vez.
O PSD, desde a fundação, é um partido à procura de sentido ideológico. Já o disse e escrevi: Sá Carneiro via-se à nora para atender a todas as fragmentações, e tentar federá-las. Caldeado nos velhos ideais da burguesia nortenha, com padres, fascistas, salazaristas ressentidos, anticomunistas e republicanos nostálgicos, o PSD (então PPD: Partido Popular Democrático, crismado pelo escritor Ruben A.) correspondia à necessidade de se criar uma estrutura política propensa a trepar ao poder, a fim de contrariar a tendência esquerdista da sociedade, após Abril. Na melhor das conjecturas, aquela grinalda de opiniões, desejos e sentires poderia ser incluída no quadro dos demo-liberais. De social-democrata, nada tinha. Aliás, para a grande burguesia do Norte, ser social-democrata era ser um esquerdista desalmado. Sá Carneiro tentou, em vão, fazer com que o seu partido entrasse na Internacional Socialista, à época uma representação respeitável e credível. Não deixaram. O PSD matriculou-se, pois, na figuração que lhe estava mais a molde: à Direita.
Esta confusão e esta ambiguidade determina e explica, naturalmente, as crises sistemáticas pelas quais tem passado o PSD.
Não deixa e ser preocupante, agora, que alguns dos seus mais eminentes barões lhe façam o responso e rezem pela sua morte.
Esta crise partiu de pressupostos errados. A dr.ª Ferreira Leite surgia, aos olhos de um terço dos seus companheiros como uma espécie de endireita o sítio.
Não endireitou.
Pior: demonstrou que não tinha jeito nenhum para a função, aliás na decorrência do comprovado quando ministra da Educação e ministra das Finanças.
Os outros dois terços estavam entregues a Pedro Passos Coelho e a Pedro Santana Lopes.
A intrigalhada fervia.
A senhora afastou o primeiro (e Miguel Relvas) do Parlamento, e premiou o segundo com o apoio declarado e descarado à pretensão deste em ser presidente da Câmara de Lisboa.
Não quero, neste momento, discretear acerca dos saneamentos da dr.ª Manuela.
No entanto, não deixam de revelar um carácter e iluminar o que nos esperava, caso ela amarinhasse a primeira-ministra.
Estamos naquela: do mal, o menos; e lá temos de suportar o Sócrates.
Entretanto, com a displicência própria de quem tem mau perder, a dr.ª Manuela é colocada à parte não só pelo primeiro-ministro como por Paulo Portas, nas negociações para o Orçamento do Estado.
Aos poucos, Portas aproveita-se, e bem, das crises do PSD, vai desbaratando o que resta do maior partido da oposição e prepara-se para lhe tomar o lugar - o que, sem metáfora, já o conseguiu.
Pedro Passos Coelho, que me parece vir a ser o vencedor da pugna que se aproxima, tem a tarefa mais bicuda que se prevê entre todas as tarefas. Aturar o Santana Lopes; enfrentar o que vai restar das ruínas da dr.ª Manuela; cuidar-se com Aguiar e, sobretudo com Rangel. Qualquer destes amolgou-se na doutrina: dizem-se liberais, o que deixa espavorido qualquer pessoa de bem. Passos Coelho estará interessado em recuperar os princípios "sociais-democratas" e reabilitar a ténue esperança de muita gente desesperada?
Que projecto possui no combate ao desemprego e à precariedade?
E a questão da Saúde?
E da Educação?
E as contas públicas, e a regionalização, e a Justiça, e as políticas sociais e fiscais?
E a cultura?
Com que equipa está a contar?
Algumas destas interrogações constituem parte da organização de Estado, seriamente abalada por um Governo que já não interessa a ninguém.
Porém, que substituto?
O actual PSD é uma desgraça pegada que também não suscita nenhuma credibilidade sem fornece nenhuma garantia.
B.B.
Etiquetas: Partido Social Democrata, PPD/PSD
2 Comments:
Para o BB (Batista Bastos)
Ainda vais para o Inferno, que será seres do Comité Central do PSD.
Um Abraço Amigo
José da Silva
Há uma direita portuguesa que anda triste, tresmalhada, sem eira nem beira.
Esta direita não se revê em Paulo Portas, tem vergonha de ser do PS e sabe que Ferreira Leite não tem queda para apoiar boys.
Muitos destes angustiados pertenceram ao casting cavaquista no tempo do buzinão, das cargas de pancada sobre os estudantes e trabalhadores, como foi na Marinha Grande, e perderam protagonismo político com o guterrismo.
Depois não tiveram tempo de reocupar os tachos no curto reinado de Durão e na opereta santanista.
Quando Pedro Passos Coelho decidiu avançar para a conquista do PSD estes figurões começaram a dar corda aos sapatos.
Não que eles estejam no batalhão dos 600 mil desempregados do país, que muitas das fábricas de patrões obsoletos lançaram no desemprego. Calma!..
Os rapazes têm empresas pujantes, vivem de cargos pagos a preço de ouro em empresas geridas pelo centrão, todos se safam muito bem no mundo empresarial.
Só que não têm aquilo que perderam e que para eles é o sal da vida: o Poder.
Viram em Passos Coelho, o obscuro PPD sem curriculum nem experiência de governação, um óptimo actor para desempenhar o papel do líder que eles anseiam: novo, bem-falante, giro para as tias, uma figura que tem todas as condições para agora o PSD também poder ter o seu Sócrates.
Fartos do fanfarronismo de Santana e Meneses, encavacados pela imagem retro de Ferreira Leite que evoca o mais piadético das tias de Vasco Santana, irritados por Cavaco insistir em mandar no PSD por entreposta líder, estes bétinhos uniram-se em torno do sócio de Ângelo Correia e de Relvas numa empresa próspera, e estão convencidos que voltarão ao Poder. O pior é que irão voltar.
Não sabemos é quando!!!
Claro que em democracia o poder é rotativo, e é lógico que a seguir a Sócrates venha um Sócrates com sabor laranja, assim como será inevitável que a seguir a um Presidente que inventa inventonas em modo de e-mail (a novidade é que já não é em forma de fax!), que comenta com tom de pai iniciativas que são do âmbito do governo, é inevitável que depois de 14 anos de política de cara de pau, venha alguém com dimensão cultural, sentido do Estado Social e que possa ser a voz dos portugueses que mais sofreram as consequências do liberalismo iniciado com Cavaco nos anos oitenta.
Agora o que não é muito razoável é que apaniguados do Senhor dos Passos, como é o caso do maléfico Pedro Marques Lopes, venham defender que se tem de malhar naqueles que estão a sofrer os efeitos de uma política desastrada e aventureira da direita-liberal, e que sejam eles a pagar.
Isto é: os desempregados, os pré-reformados, os enjeitados, devem ser os que devem pagar os crimes do BPN, do BPP, dos patrões que despedem por antecipação ( caso de A.Amorim).
Os fracos que se aguentem, não chorem. Pode ser que daqui a três anos já haja almoço.
"Tenha paciência! A vida está má para todos!"
- este seria um bom slogan para Passos Coelho.
O que Passos quer é a privatização da saúde, da segurança social, da RTP, da educação, porventura de Portugal total, para que os patrões munidos das suas bombas de alta gama (como estavam na passada 5ª feira frente à Estação da Rocha de Conde de Óbidos, na altura do lançamento do livro Mudar) continuem a sua marcha rumo ao século XIX!
Quando Passos Coelho põe na primeira fila um casting com Fernando Ruas, Luis Todo-Bom, Martins da Cruz, o patrão da Mota-Engil, Mira Amaral e outros canastrões da política, quer com este elenco reconstruir o país? Isto é para rir, chorar, ou para nos agarrarmos às calças de Sócrates e pedirmos para ele ficar, que a gente perdoa?
Por acaso não vi nenhum dos 600 mil desempregados por lá.
Deviam estar a jogar damas ou à malha nalgum jardim do país.
Mas vi sede de poder por todo lado.
Aliás, o Gin tónico Gordons estava óptimo.
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