A MEMÓRIA ( DE ALGUMAS BESTAS) É MESMO CURTA!
Dívida de Gratidão...
Numa época em que o nosso país e todo o Mundo enfrentam uma época de depressão e desânimo, gosto de pensar e falar de pessoas boas, daquela gente que passou pelas nossas vidas e deixou uma marca, algo que nos ajudou a fazer aquilo que somos hoje.
Sempre ouvi os mais velhos dizerem que «Ponte de Sor é mãe para os de fora e madrasta para os que cá nasceram.» Infelizmente, esse adágio foi-se confirmando ao longo da minha vida, o que talvez possa explicar o pouco espírito bairrista que germina nas pessoas naturais de Ponte de Sor. Mas adiante.
E é precisamente sobre uma pessoa que, embora não tenha nascido em Ponte de Sor, muito jovem aqui se estabeleceu. E que Ponte de Sor não tratou bem, reconhecendo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos.
Sempre ouvi os mais velhos dizerem que «Ponte de Sor é mãe para os de fora e madrasta para os que cá nasceram.» Infelizmente, esse adágio foi-se confirmando ao longo da minha vida, o que talvez possa explicar o pouco espírito bairrista que germina nas pessoas naturais de Ponte de Sor. Mas adiante.
E é precisamente sobre uma pessoa que, embora não tenha nascido em Ponte de Sor, muito jovem aqui se estabeleceu. E que Ponte de Sor não tratou bem, reconhecendo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos.
Falo, claro, do
Dr. João Martins Gomes Pequito,
ou Dr. João Pequito ou, mais simplesmente, do Dr. Pequito.
Dr. João Martins Gomes Pequito,
ou Dr. João Pequito ou, mais simplesmente, do Dr. Pequito.
O Dr. Pequito foi, desde os meus tempos de estudante, uma referência importante e, quiçá, uma das pessoas que mais me influenciou na escolha da profissão que tenho hoje.
Nasceu em Lisboa em 27 de Fevereiro de 1928 em Lisboa, onde se licenciou em Filologia Germânica, tendo dedicado toda a sua vida ao ensino, primeiro em vários Liceus de Lisboa e, desde 1967/68, em Abrantes, onde foi Vice-Reitor.
Em 1975 foi transferido para a recém criada Escola Secundária de Ponte de Sor, onde leccionou até se reformar, em Junho de 1991.
Foi uma figura multifacetada. Lembro-me, particularmente, de uma entrevista que deu à jornalista Maria Elisa (acabadinha de entrar na RTP), onde falou do amor que tinha pelas crianças e por teatro de fantoches, se não estou em erro. Devíamos estar no início da década de 70 e foi um vizinho meu que, no Café Matuzarense, me explicou que aquele senhor era pontessorense e o marido da Dra. Maria José Mattos Fernandes, a proprietária da Farmácia Mattos Fernandes. E eu, petiz e curioso, lá fiquei a ouvir aquele senhor falar de teatro, de bonecos, sempre com um sorriso e aquela melena que, já na altura, era a sua «imagem de marca».
Foi amigo de Virgílio Ferreira, de David Mourão Ferreira, de José Régio, de Vieira de Almeida...
Foi cronista em vários jornais, como o «Diário de Notícias» e «Ecos do Sor», onde escrevia regularmente.
O seu extraordinário conhecimento de línguas (o seu sotaque «british» era algo que me dava um prazer enorme escutar!) permitiu-lhe desenvolver contactos com o Partido Socialista Inglês, tendo fundado o Partido Socialista de Ponte de Sor, em 1975.
Faleceu no dia de Natal de 1999, com 70 anos.
O Dr. Pequito tem sido, ao longo dos tempos, maltratado por todos aqueles que têm o dever de perpetuar o exemplo de um homem íntegro e bom.
Neste 10 anos que se seguiram após a sua morte, a única homenagem que vi prestarem a este Homem de letras, pedagogo, humanista e culto, foi um artigo assinado pelo Jorge Traquete no suplemento O2 do «Ecos do Sor». Celebrava-se, então, o sexto aniversário da sua morte. Dizia:
"Estas linhas pretendem assinalar os seis anos da morte de um homem que alguém classificou como “um pioneiro da democracia”. Um homem convicto que, enquanto Reitor do Colégio de Abrantes, democratizou o ensino, numa cidade onde os vínculos ao antigo regime eram por demais evidentes e até férreos! Um gentle man na verdadeira acepção da palavra."
Nasceu em Lisboa em 27 de Fevereiro de 1928 em Lisboa, onde se licenciou em Filologia Germânica, tendo dedicado toda a sua vida ao ensino, primeiro em vários Liceus de Lisboa e, desde 1967/68, em Abrantes, onde foi Vice-Reitor.
Em 1975 foi transferido para a recém criada Escola Secundária de Ponte de Sor, onde leccionou até se reformar, em Junho de 1991.
Foi uma figura multifacetada. Lembro-me, particularmente, de uma entrevista que deu à jornalista Maria Elisa (acabadinha de entrar na RTP), onde falou do amor que tinha pelas crianças e por teatro de fantoches, se não estou em erro. Devíamos estar no início da década de 70 e foi um vizinho meu que, no Café Matuzarense, me explicou que aquele senhor era pontessorense e o marido da Dra. Maria José Mattos Fernandes, a proprietária da Farmácia Mattos Fernandes. E eu, petiz e curioso, lá fiquei a ouvir aquele senhor falar de teatro, de bonecos, sempre com um sorriso e aquela melena que, já na altura, era a sua «imagem de marca».
Foi amigo de Virgílio Ferreira, de David Mourão Ferreira, de José Régio, de Vieira de Almeida...
Foi cronista em vários jornais, como o «Diário de Notícias» e «Ecos do Sor», onde escrevia regularmente.
O seu extraordinário conhecimento de línguas (o seu sotaque «british» era algo que me dava um prazer enorme escutar!) permitiu-lhe desenvolver contactos com o Partido Socialista Inglês, tendo fundado o Partido Socialista de Ponte de Sor, em 1975.
Faleceu no dia de Natal de 1999, com 70 anos.
O Dr. Pequito tem sido, ao longo dos tempos, maltratado por todos aqueles que têm o dever de perpetuar o exemplo de um homem íntegro e bom.
Neste 10 anos que se seguiram após a sua morte, a única homenagem que vi prestarem a este Homem de letras, pedagogo, humanista e culto, foi um artigo assinado pelo Jorge Traquete no suplemento O2 do «Ecos do Sor». Celebrava-se, então, o sexto aniversário da sua morte. Dizia:
"Estas linhas pretendem assinalar os seis anos da morte de um homem que alguém classificou como “um pioneiro da democracia”. Um homem convicto que, enquanto Reitor do Colégio de Abrantes, democratizou o ensino, numa cidade onde os vínculos ao antigo regime eram por demais evidentes e até férreos! Um gentle
Foi sempre uma pessoa do seu tempo, as suas aulas de Inglês e Alemão eram sempre um acontecimento, conseguia motivar os alunos sem «estratégias», «projectos», «planificações», sem nada daquilo a que o eduquês nos habituou, somente o seu amor pelo ensino e pelas línguas.
Quando o Dr. Pequito ainda estava em Abrantes, ainda como Reitor, em finais de 1972, lembro-me de ter terminado o meu 2º ano na nova Escola Preparatória de Ponte de Sor e ter que optar: ou ficaria em Ponte de Sor e matricular-me-ia na Escola Técnica ou teria que ir para Abrantes, onde poderia continuar o Liceu e seguir a minha paixão pelas línguas.
Foi a primeira vez que falei com ele. O meu pai deixou-me à porta do Liceu e eu lá tive que procurar pelo gabinete do Reitor.
Entrei no gabinete, a medo, e encontrei-me perante «o Reitor», esmagado pelo poder que aquela figura imponente me transmitia. Logo ali me pôs à vontade, ao saber que eu vinha de Ponte de Sor. Apresentei-me, disse qual era a minha família, tudo isso e apresentei-lhe o meu dilema. Lembro-me de ele me dizer:
«Se gostas de línguas, nada a fazer. NÃO VAIS para a Técnica, isso era um crime. Tens de ir para o Liceu!»
Logo assim, tão peremptório que eu logo não vacilei. Dei o meu nome, inscrevi-me e ele, com um olhar matreiro, explicou-me que havia outros como eu e que, se houvesse mais, haveria a hipótese de se criar uma turma em Ponte de Sor.
E assim foi. No ano lectivo de 1972-73 foi criada, não uma, mas sim duas turmas que fundaram a Secção de Ponte de Sor do Liceu Nacional de Abrantes! E tudo isto pela influência vocês sabem de quem!
Outro episódio que gosto de referir diz respeito ao período do pós 25 de Abril, 1975 ou 1976. Eu estava no 6º ano, na altura chamado de 1º Ano do Curso Complementar dos Liceus e o Dr. Pequito era o meu professor de Inglês. Eu tinha desenvolvido alguma cumplicidade com ele, em parte por ser meu professor mas também por o meu pai ser dono do café onde o Dr. Pequito gostava de tomar a sua bica e os seus «proletários». E o que eram esses «proletários»? Eram os «uísques proletários», brandy com 7Up!
Lembro-me que, pelas tardes, gostava de ir até ao café ler «O Mundo Desportivo». E eu dava com ele inúmeras vezes a rir, ao ler as notícias desportivas! Mas que enigma... que um dia descobri, quando lhe ia levar o «proletário»: dentro do jornal, conseguia manobrar um livro de anedotas, na altura chamadas picantes, de nome «Riso Mundial»!
Vendo-se descoberto, lançou uma das suas gargalhadas que enchiam qualquer sala... com aquele sentido de humor sempre presente, sempre inteligente!
Adorava «meter-me com ele» sobre aquilo que nos dividia: eu era Benfica, ele Sporting! Quando o Sporting perdia, era vê-lo se semblante carregado, mas quando o azar calhava ao Benfica, afivelava o seu maior riso trocista e ninguém o parava!
Do que eu conheço do Dr. Pequito, só teve uma homenagem em vida. Foi o Núcleo Sportinguista da nossa cidade que lhe promoveu uma sentida homenagem, das mãos do então Presidente Sportinguista, Sousa Cintra.
Ainda do artigo do Jorge Traquete, nos «Ecos do Sor», em 2004, respingo mais estas palavras, que ajudam a compreender o carácter da pessoa que foi o Dr. Pequito:
"Apenas por uma vez tentei uma entrevista com ele. Escrevia eu para o “Primeira Linha” de Abrantes. O Dr. Pequito recusou. Lembro-me das palavras dele: “Penso que não tenho muito a dizer. Não leves a mal mas fica para a próxima”. É uma das imagens que guardo com grata memória, a forma como declinou a entrevista e que atesta o perfil deste homem. Os ingleses chamam-se low profile. Eu chamo-lhe humildade."
Tendo prestado tantos e tão bons serviços na Escola Secundária de Ponte de Sor, quiseram perpetuar o seu exemplo, propondo, em 1998-99 o nome do Dr. João Pequito para nome desse estabelecimento de ensino. Infelizmente, a Assembleia de escola recusou! Por que motivos? Esse é um mistério que irá perdurar para sempre, pois nem sequer lhe foi proporcionado uma festa de despedida para aqueles que o quisessem homenagear!
E que dizer da nossa Câmara Municipal? Em Fevereiro de 2000, a Assembleia Municipal aprovou por unanimidade (por unanimidade, repito!) homenagear este distinto humanista com o nome de uma rua. Conforme é fácil de constatar, em 10 anos nada foi feito! Será que não foram criado bairros novos? novas ruas? E que outros nomes foram atribuídos? Só dá vontade de rir... para não chorar!
Partindo de políticos, não me espanta. Porque, como disse Alphonse Carr, «O esquecimento é a morte de tudo quanto vive no coração.» E existirá criatura mais sem coração do que um político?
E já vou longo, mas este era um post que eu já há muito queria fazer. Acho que devia isso à memória do Dr. Pequito.
E, quem sabe, poderá despertar algumas consciências adormecidas! O Dr. Pequito, o seu exemplo, a sua postura de coluna direita merece-o!
Como nota final, quero agradecer ao Jorge Traquete e ao jornal «Ecos do Sor» por me terem facultado o artigo de homenagem ao Dr. Pequito, bem como as fotos. Um grande obrigado do Papagaio!
PAPAGAIO DALTÓNICO
Etiquetas: Câmara Municipal de Ponte de Sor, Cultura, Dr. João Pequito, Educação, HOMEM DE ENSINO E DE CULTURA, Ingratidão, Ponte de Sor
11 Comments:
O presente "post" do Papagaio e o título do "post" do Zé da Ponte assenta que nem uma luva na "besta" do presidente da câmara de Ponte de Sôr.
Agora que é "rico" já se esqueceu do que o Dr. João Pequito fez por ele.
Há grandes "bestas" no nosso concelho.
De facto e triste quando s eda nomes de ruas a uma professora primaria que ficou celebre por dar tanta porrada como o marido, a um tal cardeal de Lisboa que nem sabia onde era Ponte Sor, a um presidente de camara que pouco ou nada fez pela Vila, aos condes da Torre que nunca os vi por ca, a um acordeonista armado em entendido em arte.
Pelo contrario o Dr Joao Pequito que recebia os alunos unformalmente no seu gabinete ond enao era um Reitor mas sim um amigo, que comia no refeitorio a mesa dos alunos e que muitas vezes punha do bolso dele dinheiro das proprimas de alunos, que mandava dar lanche aos mais necessitados na cantina pagos do bolso dele ainda nem uma Rua tem com o nome dele, fosse ele algum vendedor de banha da cobra como o tal Prates ou a tal pseudo artista das novelas ja tinha algo que o recordasse.
Mas se recuarmos um pouco e o Taveira Pinto deve lembrar-se e se nao se lembra pode perguntar ao pai quantas vezes lhe foi perdoado como a tantos outros as mensalidades pelo Dr Pires e que se nao fosse tanto o Dr Pires como a Dr Jovita ele e muitos e tb como eu nunca tinhamos tido a possibilidade de termos estudado.
Uma coisa e certa tanto o Dr.JOAO PEQUITO como o Dr.PIRES e a Dr.JOVITA continuam vivos naqueles que nao sao nem estupidos nem mal agradecidos, e que sempre se lembrarao de quem lhes fez bem ao contrario dele que ira ser lembrado pelas burrices e trapalhadas que se fizeram nesta cidade
As pessoas só morrem quando morrem nos nossos corações.
Fui aluna do Dr.Pequito e foi sem dúvida nenhuma um dos professores que mais me marcou.
Nós não eramos alunos, nós eramos os "filhos" com quem ele se preocupava.
Na altura, ele conseguia ser o companheiro, o amigo e o professor que pensava principalmente com o coração.
Nós os dos meados dos anos 70, nunca o iremos esquecer.
Haja quem se lembre....
Lanço aqui um desafio: Haja quem elabore um abaixo-assinado para enviar à Câmara Municipal a voltar a propôr o nome do Dr. Pequito para uma Rua de Ponte de Sor. Na altura a Câmara não concordou. Pode ser que agora concorde. Eu alinho.
Vai ser dificil com estes tipos no Municipio, talvez recorde ao Presidente, que se hj e medico,ruim mas e, foi com as ajudas do Externato de Ponte Sor e depois com o Dr.Pequito que ele que nao se esqueça que muitas vezes sobreviveu nesses tempos dificeis com ajuda do SR REITOR, talvez de mais apreço ao Dr Manuel Fernandes(medalha ouro do municipio) pq o pai foi lacaio dele
Ó Bugalheira já te esqueceste o que o Dr. Pequito fez por ti?
-Tanto no Liceu Nacional de Abrantes.
-Tanto no Partido Socialista.
A tua memória é mesmo pequenina como tu.
Se o teu camarada Mosca fosse vivo já te tinha ido às trombas, seu grande burro.
Obrigado Raf. por nos trazeres estas boas recordações de quem foi o Dr. Pequito.
Além da pessoa que era, para mim foi também (ainda hoje costumo dizê-lo) o melhor professor que tive.
Obrigado Dr., por tudo.
Fiquei comovida com este texto dedicado ao Dr. Pequito, que também conheci muito bem. Era realmente uma pessoa boa e uma figura cujo valor intelectual e humano merecia uma homenagem bem mais visível por parte da terra.
Desconhecia completamente a tal proposta de que o seu nome fosse dado à escola secundária, mas não posso estar mais de acordo com a ideia. Acho que dar o seu nome a uma rua não é suficiente. Proponho que a escola secundária seja renomeada, e já! Só tenho pena de não estar a dar aulas em Ponte de Sor, pois quem iria propôr isso era eu! Façam um abaixo -assinado,criaturas, de que é que estão à espera???
P.S: Não percebo porque é que ninguém assina os comentários, mesmo os mais inócuos... Têm medo do papão? ;)
Fui aluno do Professor João Pequito e colega do Taveira Pinto, quando o Dr Pequito era reitor do Liceu de Abrantes. Conto só aqui um episódio que demonstra a grandeza de carácter do Dr Pequito: Quando o professor entrou na nossa sala para nos dar uma aula de Inglês, a turma fazia uma barulheira desgraçada. Ele desorientado, dirige-se a mim e, zás, dá-me uma grande chapada. A seguir volta ao seu gabinete e, passado algum tempo, vem o sr. António, contínuo na altura, chamar-me ao gabinete do sr reitor. Lá fui, cheio de medo, entro e para surpresa minha, ele pede-me muitas desculpas e diz-me que se tinha enganado, não era eu, era outro que se estava a portar mal. Quero frisar que naquela altura, um professor nunca pedia desculpa, muito menos um reitor.
Do sr Taveira, que eu conheci perfeitamente, só digo: como é que um indivíduo desses chega a presidente da câmara?
Tenho uma enorme admiração e amizade pelo Reitor Dr. João Pequito, de quem fui aluno.
Creio que Abrantes o deve homenagear com o nome de uma rua.
Não sou de Ponte de Sor mas vivo há bastantes anos por cá e como tal conheci o Dr. Pequito aliás um senhor bem simpático. Era de fora o Dr., pois bem, agora já percebo porque não tinha a soberba nem o peito inchado,como MUITOS dos que se dizem de Ponte de Sor, mas NASCERAM e cresceram nas aldeias próximas e continuam com a mesma mentalidade tacanha a marginalizar quem chega à cidade como se fosse,Ponte de Sor, sua propriedade.
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