quinta-feira, 12 de abril de 2007

A IDENTIDADE DO NEO-REALISMO


Projecto editorial da Revista nova Síntese



Já está nas livrarias o primeiro número da revista anual nova Síntese, da Associação promotora do museu do Neo-realismo, de Vila Franca de Xira, com a chancela da Campo das Letras.
O título é uma homenagem à revista homónima publicada entre 1939 e 1941, a Síntese editada em Coimbra. Um projecto que aplaudimos, porquanto urge o retorno a essa pujante herança cultural, diversa nos modos e una nos princípios.

Das matérias contempladas, uma especial ressalva para as que dão conta do centenário de nascimento de Armando Rodrigues e de Pablo Neruda, comemorados em 2004. Apresentam-se textos de ambos os autores, originais do primeiro, poemas de As Uvas e o Vento, do segundo, obra de Neruda que a Campo das Letras vai editar neste mês de Abril com tradução do poeta Albano Martins.

Dirigida por Vítor Viçoso, este primeiro número é coordenado por António Pedro Pita que, no texto introdutório, faz o resumo do projecto editorial e explicita a temática. Refere-se que no título e subtítulo da actual Síntese – Textos e contextos do neo-realismo condensam-se a identidade e os propósitos fundamentais desta nova publicação: se por um lado se pretende dar continuação àquela herança, pretende-se igualmente consagrar o neo-realismo como efectivo objecto de conhecimento. Assim, os materiais publicados pretendem incentivar a renovação dos estudos sobre o neo-realismo e o seu contexto mais amplo através da publicação de trabalhos de estudiosos portugueses e estrangeiros; divulgar documentação inédita do acervo do Museu do Neo-Realismo; publicar dossiers monográficos, bibliografias e outros materiais que constituam elementos de interesse imediato para o conhecimento das respectivas áreas; consolidar uma rede de estudiosos, publicações, centros de investigação e instituições de vocação museológica capaz de fornecer uma diversificada contextualização para o entendimento do movimento neo-realista.

A revista compreende quatro partes temáticas ou capítulos. Em primeiro lugar, apresenta-se a História da história e estética do Neo-Realismo com artigos críticos sobre figuras incontornáveis da cultura: Mário Dionísio, João Pedro de Andrade, Júlio Pomar, Óscar Lopes, Mário Sacramento, Eduardo Lourenço, Ernesto de Sousa, Alexandre Pinheiro Torres, Fernando Guimarães e Carlos Reis. No segundo capítulo, Centenário do nascimento de Armindo Rodrigues (2004). Segue-se um conjunto de artigos alusivos ao Centenário do nascimento de Pablo Neruda (2004). O volume finaliza com a apresentação das Actividades da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo: actividades de aumento do acervo, de investigação, de animação cultural – realizadas em 2004 e 2005 –, além doutras informações.


Cumprindo claramente um dos objectivos propostos, no capítulo referente a Armindo Rodrigues, além de um trabalho crítico sobre a obra do escritor, editam-se alguns textos inéditos numa apresentação fac-similada dos originais, forma magnânima que permite o contacto visual com o apuro da caligrafia. Aquela mesma forma de apresentação dos textos é utilizada para revelar a genuinidade das notas e rabiscos do escritor nas páginas dos documentos dactilografados e na Poesia em Diálogo, correspondência entre Armindo Rodrigues e António Manuel Couto Viana.

Exemplificando a vivacidade e a subtileza daquela correspondência, reproduzimos o conteúdo de um dos documentos, datado de 17 de Fevereiro de 1955, de Armindo Rodrigues a António Viana, como agradecimento de um exemplar do seu livro A Face Nua e do poema da dedicatória:

«Diz você que não é da direita ou da esquerda, mas de nós todos, que virá a nossa perda? Assim, direita e esquerda deixam de ter significado.
Convenho no seu jogo.
Concedo-lhe razão.
Esquerda e direita são
lados de um mesmo lado.
Basta Você voltar-se para que a esquerda logo
seja o rumo direito da transfiguração.

E Você bem o sabe, ou bem o soube, ao menos,
quando errante em Paris, a que eu nunca pude ir,
com verdade viveu alguns dias serenos,
ao contrário daqui, onde morre a mentir.
Regressado, porém,
porque acha mau agora o que achou bom além?

Que malefício o oprime?
Que amor de fado o tenta?
Porque não chama crime ao crime?
Se tem sede, porque não se des-sedenta?»



Nova Síntese – textos e contextos do neo-realismo; Editorial Campo das Letras,

Teresa Sá Couto
Kaminhos

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1 Comments:

At 12 de abril de 2007 às 23:23, Anonymous Anónimo said...

Mais um exedmplo dum concelho que trata a cultura sem ser como o nossso .
Tb nao tem fundacoes da concertina
isto e arte e cultura

 

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