terça-feira, 15 de maio de 2007

AINDA HOJE OS LOBOS UIVAM

Depois da Assembleia da República ter aprovado, por unanimidade, uma resolução que determina a transladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão Nacional, eis que 500 cidadãos – ou deverei chamar-lhes súbditos? – vêm subscrever uma petição insurgindo-se contra que se proponha como modelo de herói nacional um homem com o perfil de terrorista e bombista.

Segundo os signatários da petição, Aquilino Ribeiro teria, entre outras malfeitorias, participado na conspiração que levou ao Regicídio, em 1908.

Aquilino Ribeiro viu-se a contas em três regimes – o Monárquico, o Republicano e o Fascismo – com toda a espécie de acusações e sentenças tendo, por duas vezes, fugido a uma justiça tendenciosa, manipulada e preconcebida, como também, por muitas outras, tendo-a enfrentado com grande coragem e dignidade. Concretamente sobre o período do Regicídio, sabe-se que tinha relações com maçons e carbonários, mas nenhuma modalidade de justiça provou alguma vez que Aquilino tenha estado no local a 1 de Fevereiro de 1908. Não esteve. E que estivesse? A história é a história e quem é quem para fazer o julgamento? E, já agora, quem se apresenta para julgar Aquilino pelo envolvimento na revolta militar de 1927?

Aquilino Ribeiro enfrentou toda a vida o rancor de alguns protagonistas da mesquinhez e da mediocridade nacionais. Censuram-lhe os livros, perseguiram-no na vida profissional e pessoal, atiram-no aos juízes. Chegaram a julgá-lo sob a acusação de desacreditar as instituições vigentes a coberto da ficção literária. O que nunca lhe perdoaram foi que ele tomasse partido nos episódios das novas Patuleias. E contra a figura de Mestre Aquilino, ainda hoje os lobos uivam.

J. P. G.

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2 Comments:

At 15 de maio de 2007 às 22:35, Anonymous Anónimo said...

A Petição é esta:

Presidente da Assembleia da República

A Sua Excelência o
Senhor Presidente
da Assembleia da República

Excelência,

Verificado o cumprimento dos pressupostos legais para o exercício
do direito de petição colectiva, no caso uma representação, vêm
todos os signatários manifestar a sua discordância com a
trasladação dos restos mortais de Aquilino Ribeiro para o Panteão
Nacional, por deliberação da Assembleia a que Vossa Excelência
preside.

Mais vêm manifestar esta discordância de uma forma determinada e
expectante. Determinada e expectante, Senhor Presidente, porque a
Assembleia da República, independentemente de considerações de
natureza cultural, deve atender ao facto, historicamente provado,
de Aquilino Ribeiro ter participado na conspiração para o
assassinato do Chefe de Estado de Portugal, em 1 de Fevereiro de
1908, Sua Majestade El-Rei D. Carlos, e Seu Filho, Sua Alteza Real
o Príncipe Dom Luis Filipe.

A contradição, Excelência, parece-nos díficil de ultrapassar:
considerar herói nacional, propor como exemplo às gerações
vindouras, alguém que participou na preparação de atentados
terroristas e que foi preso por isso mesmo; alguém cujo processo
por participação em atentados bombistas foi levado a tribunal em
13 de Fevereiro de 1908, juntamente com mais dois arguidos; alguém
que depois veio branquear o seu passado e sacudir as mãos à
varanda de Pilatos, confunde-nos o espírito de portugueses e de
ocidentais, defensores da democracia e dos direitos humanos. Com
esta trasladação, a instauração da República fica equiparada ao
acto do regícidio!

Mas, Senhor Presidente, Herói e Assassino são
antónimos. A sua conjunção é uma impossibilidade ética. E, se não
se confirmar a impossiblidade legal daí decorrente, são um
conceito apenas: um equívoco no coração da própria República!
Vossa Excelência, personalidade de elevadíssima idoneidade e
dimensão humana, constitui motivo de certeza para todos estes
portugueses, em número de e de todos os outros que dentro e fora
do território nacional têm o espírito em sobressalto, de que esta
ignomínia ficará pela mera tentativa.

É o País inteiro que atento e grato pela procedência desta
representação, vem assinar e dirigir a Vossa Excelência este grito
muito forte e muito português: Deixem em paz as cinzas de Aquilino
Ribeiro! Deixem que a Posteridade lhe teça os elogios literários
que merecer! Mas não ergam em símbolo de cidadania quem deu provas
de aceitar que os métodos terroristas e o assassinato de um Chefe
de Estado são meios procedentes e legítimos para instaurar ideais
políticos.

Não o coloquem no Panteão Nacional!

 
At 17 de maio de 2007 às 14:22, Anonymous Anónimo said...

Mestre Aquilino nao pode ir para o Panteao mas uma fadista ja pode,
E acultura salazarenta dos FFF
fado futebol e fatima.
Esa sim nunca devia ter ido para o Panteao, mas so acontece uma fadista vulgar ser melhor
tratado do que un escritor.
De faxto somos mesmo a anedota da Europa

 

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