domingo, 13 de maio de 2007

O FUTURO SUBERÍCOLA DA CHARNECA DE MONTARGIL


No próximo dia 25 de Maio irá realizar-se o seminário “O FUTURO SUBERÍCOLA DA CHARNECA DE MONTARGIL” que decorrerá na Herdade dos Leitões em Montargil, o qual foi organizado pela Fundação João Lopes Fernandes com a colaboração da AFLOSÔR – Associação dos Produtores Florestais da Região de Ponte de Sôr, da Junta de Freguesia de Montargil e da Leadersor - Associação para o Desenvolvimento Integrado do Sôr , o apoio do Ministério da Agricultura do Desenvolvimento Rural e das Pescas e dos programas FEOGA Orientação e Leader+.
Os trabalhos, que decorrerão no ceio do próprio montado, à sombra de frondosos sobreiros, terão inicio pelas 10 horas e serão presididos pelo Senhor Secretário de Estado do Desenvolvimento Rural e das Florestas, Dr. Rui Nobre Gonçalves.

Irão ser abordados os temas inerentes aos problemas e potencialidades suberícolas da “Charneca de Montargil”, com vista à elaboração e implementação de um programa específico, ajustado às realidades, para reposição do potencial produtivo e inovação e aperfeiçoamento dos métodos e técnicas da exploração e produção suberícola.
Haverá ainda um certame, para apresentação de ideia e equipamentos destinados à floresta e, em particular, aos povoamentos de sobro, com ênfase nos processos de extracção mecânica da cortiça.
Será apresentado o Prémio Dona Leonor Lopes Fernandes Vieira Lopes, destinado a galardoar trabalhos inéditos, com aplicação prática no domínio da subericultura e cuja atribuição terá uma periodicidade trienal, no valor de 4.500 euros.
No âmbito do Programa Leader+, será lançada uma brochura intitulada “A Charneca de Montargil”, editada em português e inglês e de distribuição gratuita, na qual se faz resumidamente a caracterização ecológica, económica e social do espaço rural da região.


Refira-se que a “Charneca de Montargil” foi definida por Pina Manique e Albuquerque, na sua Carta das Regiões Naturais do Continente Português (1945), sendo considerada o “solar do sobreiro”, onde se produzem cortiças de superior qualidade, caracterizadas pela sua extrema leveza e elevado rendimento industrial.

Os oito concelhos abrangidos pela “Charneca de Montargil” (Alter do Chão, Avis, Crato, Coruche, Gavião, Mora e Ponte de Sôr) produzem, em cada novénio, cerca de 24 milhões e quinhentas e oitenta mil arrobas de cortiça, o que equivale a 26,1% da produção nacional e a 13,7% da produção mundial.

Um estudo recentemente realizado pela Fundação João Lopes Fernandes revelou que a produção actual de cortiça nesta região se situa em aproximadamente 2/3 do seu potencial produtivo, que a mortalidade dos sobreiros não atinge 10% dos povoamentos, como foi amplamente divulgado, mas o valor 0,56 árvores por hectare/ano, o que se considera abaixo dos padrões normais, embora se levantem alguma preocupação, por existirem áreas com mortalidade mais concentrada e detectou algumas áreas de montado, submetidas a uma gestão mais adequada, onde a densidade de povoamento quase duplicou.
O mesmo estudo revelou que a situação actual da “Charneca de Montargil” é preocupante; o seu progresso económico e social tem vindo, cada vez mais, a afastar-se das zonas mais progressivas do País, tornando-se, também, cada vez mais, numa região humanamente desertificada e, por isto, à mercê do fogo.

À semelhança de outras regiões do País, os montados de sobro e a cortiça continuam a ser o principal suporte da “Charneca de Montargil”, dela dependendo, directa ou indirectamente, a grande maioria da população.
Através dos sobreiros, que proporcionam os salários mais elevados de todas as actividades primárias, conseguem-se retirar dos solos extremamente pobres da região, sem grandes possibilidades de outra produção, os rendimentos da sua decadente população rural e de parte significativa da sua crescente população urbana, cada vez mais dependente da industria corticeira.
A Charneca de Montargil não pode, por isto, continuar à sombra de uma política de desenvolvimento rural virtual, pretensamente assente em actividades acessória que, por muito locativas que possam ser, não resolvem mais do que umas quantas situações individuais e, de forma alguma, os problemas sociais e económicos da região.
Por isto, os principal objectivos deste seminário são a mobilização dos agentes da fileira, nomeadamente os produtores, cuja sobrevivência económica, a curto prazo, dependerá exclusivamente da cortiça, para que desenvolvam e aperfeiçoem as suas técnicas de exploração e produção, sensibilizar o poder autárquico, que detêm cada vez mais poder de intervenção e responsabilidades florestais, de que o verdadeiro suporte do desenvolvimento e bem-estar dos seus municípios tem por base os montados e povoamentos de sobro, a produção e a industria da cortiça e alertar o poder central da precariedade que enferma a “Charneca de Montargil”, desde há muito vitimada por políticas de desenvolvimento rural ruinosas, quando em tanto contribui para a economia nacional, e consciencializá-lo da urgência de adopção de medidas concretas e eficazes, que devolvam à região o seu potencial produtivo.

A “Charneca de Montargil” é detentora de mais de um quarto da única produção nacional sem concorrência externa, a cortiça, e de uma das maiores riquezas do País, que são os montados e povoamentos de sobro.
Por isto, há que consciencializar a opinião pública do contributo que presta à economia nacional e proporcionar-lhe os meios necessários ao seu desenvolvimento endógeno.

O manifesto desinteresse nacional pela produção de cortiça poderá, mais cedo do que se pensa, exterminar definitivamente grandes áreas do chamado “mundo rural”, fazer desaparecer os montados, criar mais pobreza e maiores problemas económicos ao País.



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