segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

É VERDADE!


É verdade que o nosso Primeiro andava armado em arquitecto pimba, do género dos que estragaram as nossas aldeias com as mais inconcebíveis obscenidades arquitectónicas?

É verdade que o nosso Primeiro tem um irrepreensível bom gosto e a sua assinatura constava naqueles projectos porque assinava de cruz?

É verdade que o nosso Primeiro é altruísta, amigo dos seus amigos, e ao saber que estes estavam legalmente impedidos de assinar projectos, ajudava-os, emprestando-lhes a sua assinatura?

É verdade que o nosso Primeiro sabia o que estava a assinar e não gostava, detestava mesmo, achava aquilo horripilante, tinha náuseas, mas… estava a ganhar uns cobres, a vida custa a todos e às vezes temos que fazer cedências ao bom gosto para pagar o pão e a renda?

É verdade que o nosso Primeiro não fez nada, assinaram por ele, é uma cabala, é um assassínio de carácter, e quem realmente fez aqueles projectos foi o Menezes?

É verdade que o nosso Primeiro tem um gosto exclusivo, requintado, aqueles projectos estão ao nível de uma ópera do Emanuel Nunes, mas nós, gente inculta, não damos valor à genialidade?

É verdade que o nosso Primeiro não recebeu nada pelos projectos que assinou? E não recebeu nada porque os clientes se recusaram a pagar depois de verem o resultado ou porque teve consciência de que zero era um preço já excessivo?



J.C.D.

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6 Comments:

At 4 de fevereiro de 2008 às 19:59, Anonymous Anónimo said...

A oposição parece ter deixado caír a sensacional descoberta da obra escondida do engenheiro, então agente técnico, José Sócrates Pinto de Sousa. Os partidos perceberam que denegrir o mérito de alguém acaba prejudicial para quem promove a campanha. Isto porque os portugueses há muito que deixaram de considerar o mérito, o curriculum, a cultura, como uma qualidade superior para se atingir o topo do poder, da carreira, do sucesso.

Num país onde a maioria dos deputados é formada em direito, onde o curriculum de quem manda é medíocre, num país onde o bloco central é no fundo o verdadeiro partido do poder, falar em mérito é perigoso. Dizer que um tipo é calinas, piroso e que tirou o curso na Farinha Amparo é aos olhos dos portuguesinhos uma manifestação de inveja e má língua e até um ataque a si próprios: a maioria sonha em ter uma licenciatura domigueira, um emprego por cunha ou sorte, sucesso à Big Brother. Esta é a verdade.

Tanto na política como nas empresas o que passou a imperar é a licenciatura em praia, esquemas e engraxatório. Deixámos de promover uma sociedade de excelência para premiarmos o cinzentismo agora travestido de jeunesse, nouveau e interessant. O saber não ocupa lugar e até atrapalha quem manda, quem gere, porque quem sabe tem ideias próprias, tem um rumo, uma ideia, uma política. Isso pode ser incomodativo numa lógica de lucro imediatista, quer falemos de ministros que gerem os ministérios como uma mercearia ou dos gestores que geram as empresas para no final do ano terem um power point espectacular que evidencie gráficos a subir em lucros, a descerem em despedimentos e a manterem-se à tona da água nos resultados bolsistas.
O consumismo tudo levou e os eleitores tornaram-se em consumidores gulosos que se alimentam de promessas e se transformaram num rebanho preguiçoso, obediente, manhoso.

Por isso a classe dos professores foi gazeada, as profissões liberais tornadas em grupos de malfeitores, com os médicos insultados, os arquitetos inúteis perante a desfaçatez dos engenhocas.

O centrão defende-se bem. E se a oposição atacar a legítima mas triste carreira de Sócrates,amanhã serão os outros a vierm para a berlinda. Até porque de doutores Cérelac está o PSD bem aviado. É so ir ver as licenciaturas de algumas universidades fast- food.

 
At 4 de fevereiro de 2008 às 21:08, Anonymous Anónimo said...

CAVAQUISTAS PREOCUPADOS COM A IMAGEM DE SÓCRATES

«As sucessivas querelas envolvendo o primeiro-ministro, obrigando-o a constantemente dar explicações - casos do referendo europeu, dos estudos sobre o novo aeroporto, da remodelação governamental e até das investigações do Público dos últimos dois dias - ameaçam desgastar a sua credibilidade. É esta a leitura que fazem algumas personalidades próximas do presidente da República, que não escondem até que Cavaco Silva está preocupado com o país e não quer que o sentimento de pessimismo e desconfiança alastre.»
No:Jornal de Notícias

Ao que isto chegou, já são os cavaquistas que se preocupam com a imagem de José Sócrates.

Pergunte-se a Luís Filipe Menezes se não quer emprestar o senhor Vaz a José Sócrates.

 
At 4 de fevereiro de 2008 às 21:12, Anonymous Anónimo said...

A CORRUPÇÃO EM PORTUGAL
O advogado Marinho Pinto, bastonário da Ordem, denunciou estentoriamente a corrupção do Estado e o mau funcionamento da justiça. Como os tempos são o que são, ninguém ouviu ou se importou com o que ele disse sobre a justiça (de resto, muito interessante e oportuno) e toda a gente se agarrou com volúpia e gula ao velho e gasto assunto da corrupção. Pacheco Pereira, por exemplo, exigiu o regresso à "ética republicana", embora não se conheça qualquer república, nem a romana, com a mais vaga sombra dessa "ética". E o general Garcia Leandro, que dirige o Observatório de Segurança, ameaçou o país com "uma explosão social" contra o regime e, surpreendentemente, revelou que já o convidaram para "encabeçar um movimento de indignação". Pior ainda, o general confessa que a sua própria "capacidade de resistência" a "tanta desvergonha" começa a "enfraquecer" e fala ominosamente do "final" da monarquia.

Talvez convenha perceber duas coisas sobre a corrupção. Primeira, onde há poder, há corrupção. E onde há pobreza, há mais corrupção. Destes dois truísmos resulta necessariamente que quanto maior é o poder ou a pobreza, maior é a corrupção. Portugal junta a uma atávica miséria um Estado monstruoso e autoritário e, por consequência, tem as condições perfeitas para produzir uma enorme quantidade de corrupção. Em Portugal nada se salva da corrupção: nem a administração local, nem a administração central, nem os partidos, nem os "negócios", nem os governos, nem o futebol. A corrupção está íntima da cultura "nacional", no centro da ordem estabelecida, na maneira como os portugueses tratam de si e se tratam entre si.

Não vale a pena, por isso, declamar, perorar, rugir e chorar. O mal só tem dois remédios: o enriquecimento do país, por um lado, e, por outro, uma drástica redução do Estado e, principalmente, da autoridade do Estado. Quanto ao enriquecimento, não parece próximo. Quanto à redução de um Estado com 700.000 funcionários, ninguém até hoje o conseguiu reformar. Pelo contrário, aumentou sempre, intocável e triunfante. Quarta ou quinta-feira, o dr. Silva Lopes perguntava na televisão por que não se metiam, pelo menos, meia dúzia de corruptos na cadeia. Como em Espanha. Ou em França. Ou na América. Não se metem, porque, a meter meia dúzia, acabavam por se meter uns milhares, ou umas dezenas de milhares. E também, evidentemente, porque nenhuma sociedade se persegue a si mesma.
Vasco Pulido Valente.

 
At 5 de fevereiro de 2008 às 14:43, Anonymous Anónimo said...

SÓCRATES E O LIXO DEBAIXO DO TAPETE

José Sócrates está tramado. Não há forma de sair airosamente deste novo Civilgate, agora descoberto na Guarda. Se a notícia do Público for verdadeira e ele realmente tiver andado a assinar projectos alheios, é uma tragédia ética. Se a notícia for falsa e aquelas moradias tiverem mesmo saído da sua cabecinha, é uma tragédia estética. Entre o bem e o belo, é natural que Sócrates se agarre ao bem, que é qualidade mais apreciada num político, mas quando olhamos para aquelas fotografias de casas de emigrantes horrendas made by José damos todos graças a Deus de o homem ter optado pela política em detrimento da engenharia.

Entalado entre dois desastres, Sócrates reagiu de forma desastrada. Eu começo a desconfiar que quem assina o boletim de militante socialista deve ser inoculado com algum vírus que o leva a gritar "cabala" sempre que confrontado com factos desagradáveis. Eu tinha o nosso primeiro-ministro em melhor conta. Transformar uma notícia perfeitamente legítima, bem fundamentada e assinada por um dos poucos jornalistas que em Portugal ainda fazem investigação a sério, num "ataque pessoal e político" é uma pouca-vergonha. Se Sócrates entende que se trata de uma calúnia, então apresente factos - e não gritinhos histéricos.

Eu, pelo meu lado, o que gostava de saber não é porque é que o Público persegue José Sócrates - é porque é que o Público, tendo uma notícia deste calibre nas mãos, optou na primeira página por a colocar em rodapé. É que convém estar atento aos detalhes. Para quem não reparou, a manchete do Público na sexta- -feira foi "Democracias fecham os olhos aos abusos das ditaduras, denuncia ONG", o que para além da elegância da formulação é algo de tão original quanto dizer que as galinhas têm penas e que os cães fazem ão-ão. Ou seja, aquela primeira página não mostra que Sócrates é perseguido - mostra, pelo contrário, que Sócrates mete demasiado medo a demasiada gente, como depois se comprovou pelo manto de silêncio que caiu sobre as pessoas envolvidas na notícia. E este silêncio, francamente, começa a cheirar muito mal.

É que por muita tolerância que o povo português tenha para com a pequena trapaça - e tem, e muita -, há sempre um momento em que se esgota o espaço debaixo do tapete: empurra-se o lixo, mas ele já não cabe. Para Sócrates, este pode muito bem vir a ser esse momento. Ao garantir, preto no branco, que todos aqueles projectos são da sua autoria e responsabilidade, ele cometeu um erro estratégico: enterrou-se neste caso até ao pescoço. Agora, se for apanhado, não tem como sair de mansinho. Uma mentira destas nem o padre Melícias consegue absolver.
João Miguel Tavares

 
At 7 de fevereiro de 2008 às 19:43, Anonymous Anónimo said...

A casa do emigrante

Foram anos a libertar-se desse passado em Couvadoude, Rapoula, Valhelhas… e agora as fotografias das casas caíam em plena Lisboa. Quem pode falar de modelo finlandês ou de MIT quando fez projectos para casas de emigrantes em Covadoude? É a estética do poder e não a ética da política aquilo que preocupa Sócrates.

Na verdade Sócrates sabe que os portugueses já viram o que tinham a ver sobre o seu actual primeiro-ministro. As revelações em torno da sua vida académica, a governamentalização da CGD, as trapalhadas da OTA, a aprovação com carácter de urgência do Código de Processo Penal… nada disso indignou verdadeiramente a Pátria. Na verdade fê-la sorrir. E o que Sócrates teme acima de tudo é que esse sorriso, apesar de tudo ainda eivado de indiferença, se transforme em riso algures entre o desdém e a histeria.
E convenhamos que a casinha de Valhelhas tem material estético suficiente para tirar a Sócrates o que ele mais preza: essa espécie de patine que transformou um rapaz esperto da província num líder que diz, sem rir, que se está a fazer História.
Sócrates não ignora que essa espécie de ’sushi gauche ex-caviar’, que para efeitos mediáticos constitui o mundo da cultura e que não o apoiando directamente como fez com Soares também não o hostiliza, transformou o termo emigrante em sinónimo de mau gosto. É óbvio que esse mundo da cultura fala com admiração das canções dos espanhóis e italianos que emigraram para a Argentina, alguns deles adoram até fazer documentários sobre os imigrantes em Portugal, sobretudo se esses imigrantes forem africanos e logo cumprirem o papel-tipo que está reservado aos negros nestes guiões auto-denominados interventivos. Muitos estão dispostos a consumir as versões épicas e xaroposas sobre a emigração irlandesa para os EUA mas jamais concederão o mesmo olhar aos emigrantes portugueses.
Esses homens e mulheres que em meados do século passado partiram em busca duma vida melhor são para eles e para os seus clones de direita uma mácula na paisagem e um grão de areia na engrenagem das ideologias. Para a direita, eles cometeram o erro de não se terem conformado com a pobreza, preferindo a aventura da passagem a salto a uma vida entre courelas, regida pelo princípio “habitualidade”. Para a esquerda os emigrantes cometeram o pecado capital de não ficar à espera que a revolução os libertasse. Libertaram-se eles mesmos e isso nunca lhes foi perdoado. A estas reservas políticas juntaram-se as estéticas quando os emigrantes resolveram exibira sua recente libertação ou melhor dizendo moderna abastança. Nada que nunca se tivesse visto antes: quem não ouviu falar das “casas de brasileiro”? Mas não só os “brasileiros” eram em muito menor número do que estes seus descendentes nos sonhos, como a França, a Alemanha ou o Luxembrugo, ao contrário do que acontece com o Brasil, ficam logo ali. Assim mal chegava o Verão era vê-los a conduzir loucamente carros novinhos em folha, para chegarem mais depressa e logo mais cedo impressionarem a terra a que continuavam a chamar sua, apesar desta nunca lhes ter dado nada. Para amenizar os quilómetros traziam cassettes com canções que referiam romarias, saudades, aldeias e namoros. Por ironia do destino a estes cantares dá-se, com ar perjorativo, a designação de “música de emigrante” enquanto se reserva a expressão “música popular” para o repertório que as élites acham não tanto que o povo cantou mas sobretudo que devia cantar.
As élites tremeram de horror quando, nos anos 60 e 70 do século XX, perceberam que os meninos a quem eles até há pouco davam sapatos velhos movimentavam agora contas bancárias com a mesma destreza com que anos antes manejavam fisgas e “armavam aos pássaros”. Mas o pior de tudo foram e são as casas. Em poucos assuntos haverá mais preconceitos e lugares comuns do que a propósito destas casas. Por estranho que pareça o escândalo não é que José Sócrates com uma formação académica pouco credível tenha colocado assinaturas em projectos que não eram seus mas sim que esses projectos sejam de “casas de emigrantes”.
Creio contudo que se percebe muito melhor Sócrates depois desta investigação do PÚBLICO. Ao olhar para aquelas casas entende-se de que país foge Sócrates. Percebe-se melhor a pidesca ASAE, a obsessão com a facturação dos ginásios e até muita da pesporrência com que fala das e para as pessoas. Cada vez que se lembra Couvadoude, Rapoula e Valhelhas Sócrates deseja mergulhar nesse universo Second Life que constitui a contínua apresentação das medidas governamentais, um universo higienizado, regulamentado nos seus mais pequenos gestos e onde o Estado é uma espécie de grande fiscal do gosto e big brother do fisco.
Infelizmente Sócrates não aprendeu nada humanamente com esta sua experiência profissional. E não por falta de matéria. Ao ler-se a investigação do PÚBLICO encontramos pessoas dispostas a pagar para acelerar os processos perdidos num enredo de entidades licenciadoras - câmara, comissões de coordenação, ministério da Agricultura, Direcção-Geral do Planeamento Urbano - entidades essas que a par de pareceres técnicos vários e contraditórios escrevem palermices como esta: “por se tratar de um prédio muito estreito, resulta inesteticamente feio.” Mas palermices como esta não só podem impedir uma pessoa de fazer a casa que quer como promovem que, em todos os degraus da administração pública, apareça sempre alguém que faz a tal assinatura. Foi isso que Sócrates trouxe de Valhelhas: a noção de que, no Estado, o verdadeiro poder está nas gestão das assinaturas.

Helena Matos

 
At 7 de fevereiro de 2008 às 19:45, Anonymous Anónimo said...

Um país de patos bravos

Num momento em que Portugal se procura relançar como West Coast, o último pequeno escândalo que envolve o nosso PM é apenas patético.
Para além da eventual ilegalidade dos actos praticados, o que aqui se joga é a imagem de uma cultura nacional.
Trata-se dessa cultura bacoca e mal-formada que tarda ainda a revogar um Decreto-Lei, o famigerado 73/73, que simplesmente devolverá a competência de projecto àqueles com quem sempre deveria ter estado.
Trata-se da cultura que durante algumas gerações premiou a chico-esperteza e a saloiice.
Se, num contexto de mudança, os erros de juventude fossem realmente para se corrigir, se esta cultura fosse mesmo para superar, esperar-se-ia que Sócrates aproveitasse esta tragicomédia para fazer o mea culpa e procurar mudar a paisagem.
Quando envereda por desculpas esfarrapadas, quando afirma a sua autoria dos projectos agora vindos a lume, o PM esquece o essencial: são aquelas imagens e aqueles crimes estéticos contra a paisagem que é preciso combater.
Lançar uma West Coast cujo PM se declara ufano autor de tais projectos é um contra-senso de marketing político.

 

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