quarta-feira, 19 de novembro de 2008

CONTRA O CRIME DE AMANHÃ

Estou em crer que a dr.ª Maria de Lurdes Rodrigues deu um pontapé na maioria absoluta que os disparates políticos da dr.ª Manuela Ferreira Leite presumivelmente garantiam ao eng.º José Sócrates.
Como a ministra da Educação não decide, na solidão alcatifada do gabinete, sem escutar, inevitável e antecipadamente, o primeiro-ministro, infere-se que este é o principal responsável da situação.
Não há parábola que remova esta sucessão de evidências.
Sócrates está longe de ser um bom governante.
Porém, a presidente do PSD ainda seria pior.
As perspectivas não são de molde a alegrar-nos.
Estes mandantes desabusados (para usar uma expressão cara a Aquilino) tornaram insuportável a vida portuguesa.
A nossa inalterável ingenuidade cimentou-os no poder.
A verdade é que, depois do PREC, com ligeiras variantes, o descontentamento, a raiva, o desespero causados pelas mentiras sistemáticas e despudoradas converteram o nosso regime numa duvidosa democracia.
Direi: numa democracia distanciada, sem alma nem paixão, ausente do outro, como certos preopinantes quiseram moldar a modernidade do jornalismo a essa obscenidade ética e deontológica da distanciação.
Em todo este comportamento político reside algo de tirânico, resultado de uma educação que se manifesta larvarmente, e cujas origens podem ser encontradas numa Igreja que se não desproveu da rigidez e de uma classe dirigente organizada na mediocridade, no autoritarismo, e destituída de grandeza.
Para essa gente, as declarações de Manuel Alegre, ao Diário de Notícias de domingo, suscitam um leve desdém, um trejeito de enfado ou, então, um trovejar de frases inócuas.
Ele diz sempre o mesmo, formulou um dirigente socialista, muito adicto à felicidade de ser a voz do dono, qualquer que esse dono seja.
Não é assim.
Alegre tem sido um respingão incómodo, ante a inqualificável inércia e o desacrediante desvio ideológico do PS. E há um núcleo central das suas opiniões que se mantém, exactamente porque ele não se deixa pacificar, possui convicções, e, goste-se ou não, tem combatido a lassa indiferença de muitos dos seus camaradas.
O documento recolhido por João Marcelino e Paulo Baldaia é particularmente importante, porque cria uma declarada ruptura com este PS, ao mesmo tempo que o deponente recusa o exílio interior.
Penso que a questão dos professores, adicionada a todas as querelas conhecidas, determinou este desabafo, que nada tem de secundário nem de sentimental. Manuel Alegre sente-se embaraçado num partido que se fechou à sociedade e que traiu os testamentos legados, em nome de uma esquerda moderna cedo naufragada em soluções parciais e em repugnantes concessões - que permitirão, acaso, o crime de amanhã.
Ele é contra.

B.B.

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