sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

MAIS UM FLOP DAQUELE QUE SE DIZ "ENGENHEIRO"

A entrevista de José Sócrates foi um flop político.
Centrada na revisão da matéria dada, os portugueses assistiram a uma sessão íntima para o esclarecimento de ninguém.
De acordo com o primeiro-ministro, Portugal não é um país, mas uma abstracção.
Quanto ao país real, este é coberto por um espesso nevoeiro de palavras.
À entrevista do primeiro-ministro faltou mundo, respiração, profundidade. José Sócrates revelou-se previsível, superficial e cansativo.
Três anos de Governo serviram para demonstrar que Sócrates é um primeiro-ministro de desgaste rápido.

A conferência do primeiro-ministro foi simplesmente a negação da política. Primeiro, é a ausência de uma visão global para o país.
Depois, é a redução do Governo a uma equação linear dos vários sectores da governação.
Em vez de política, Sócrates pratica uma tecnocracia de rosto pós-moderno e que serve para ocultar o espírito burocrático de um director-geral.

Da entrevista, ficam duas pérolas na vida nacional.
Confrontado com um crescimento do PIB de 1.9%, o primeiro-ministro informa o país que, se não fosse o deficit público acumulado, o crescimento teria sido de 2.5%.
Politicamente, Sócrates remete para o Governo do PSD a responsabilidade do não crescimento, reivindicando para si a virtude do crescimento observado. O discurso político contra-factual pode ser uma ficção, mas confere ao primeiro-ministro a aparência infalível de um Midas das finanças.

Mas há ainda o número do tabu, ou a incerteza sobre o futuro político do primeiro-ministro.
O tabu não passa de um artifício vulgar de modo a inflacionar o valor político. Mas será para levar a sério?
Com o partido do Governo transformado em paisagem política, imagina-se um PS sem Sócrates, dividido por uma guerra-civil entre aspirantes ou entregue aos cuidados extremos de Manuel Alegre?
Sinceramente, não.
Perante a desmedida ambição do primeiro-ministro, será possível conceber a eleição de Luís Filipe Menezes para primeiro-ministro de Portugal por falta de comparência do PS?
Sinceramente, não.
A modéstia de Sócrates é ainda a arrogância de Sócrates.

O primeiro-ministro prepara-se para despir o fato de pai tirano e vestir a roupa do filho pródigo.
A receita do diálogo e a bonança social são a resposta do Governo à crescente irritação do país.
O primeiro-ministro pode estar concentrado na governação, mas Sócrates está preocupado com o poder.

C.A.M.

Etiquetas: , , , , ,

2 Comments:

At 22 de fevereiro de 2008 às 14:48, Anonymous Anónimo said...

Olhando para o passado recente: ‘What a day! ‘.
Olhando para o futuro: ‘Yes, we can’. Portugal ‘is getting better’.
Pelo menos em inglês.

Porque em português é o que se sabe.
A taxa de desemprego atingiu em Dezembro os 8,2 por cento, a terceira mais alta da Europa.
E a criação de emprego está a ser feita sobretudo por via de contratos a prazo.
Há cinco anos, contavam-se em Portugal 26 mil licenciados no desemprego; no ano passado, o número subiu para cerca de 60 mil. Em consequência fundamentalmente do desemprego, em 2007 duplicou o número de famílias portuguesas sobreendividadas.

A taxa do risco de pobreza baixou, de 2005 para 2006, de 19 por 18 por cento da população, cerca de um quinto da população.
Mas de acordo com o INE, um terço da população activa seria pobre se dependesse apenas dos rendimentos do trabalho.
E entretanto aumentaram os “novos pobres” entre sectores da classe média.
Em 2007, os salários em atraso atingiram um montante de mais de oito milhões de euros.
Ao mesmo tempo o fosso das desigualdades sociais continuou a aprofundar-se.
Os 20 por cento de portugueses com os maiores rendimentos auferem cerca de 7 vezes mais do que os 20 por cento mais desfavorecidos.
E um quinto da população detém 45 por cento da riqueza nacional.

As pensões de reforma em Portugal são as mais baixas da UE a 15 e as terceiras mais baixas da Europa a 27 países.
A média das pensões em Portugal é quase metade do valor de Espanha. E de futuro o valor das pensões vai cair ainda mais drasticamente.

O aumento dos preços está a ter consequências devastadoras no poder de compra.
Por exemplo, em três anos o simples consumo do pão caiu 50 por cento.
Que fazer?
Talvez desabafar… em inglês.

 
At 23 de fevereiro de 2008 às 14:23, Anonymous Anónimo said...

Sem Saída
Na mesma semana em que o primeiro-ministro festejou alegremente três anos de Governo, a oposição do PSD revelou-se, mais uma vez, em toda a sua esplendorosa miséria: algures, no país real, o dr. Luís Filipe Menezes, depois de um justificado repouso, entreteve a actualidade com as contradições do costume e as enormidades de sempre. Um simples apanhado das notícias dos últimos dias oferece um retrato fulgurante de um partido à deriva, permanentemente enrodilhado nos erros e nas manobras de uma dupla incompreensível. Em Alvaiázeres, por exemplo, o dr. Menezes tornou a pôr em causa o Pacto de Justiça, ameaçando, pelo caminho, o acordo sobre a lei eleitoral que o seu próprio partido tinha promovido. Na Assembleia da República, o dr. Santana Lopes, negociador exímio de acordos periclitantes, mostrou-se devidamente “surpreendido” com estas novas ameaças, garantindo que estavam em causa “importantes alterações” que não deviam ir “por água abaixo”. Infelizmente, o que acabou por ir “por água abaixo” foi a sua precipitada “surpresa”, engolida, em dois tempos, por força das piores circunstâncias. Verdade seja dita que, nesta altura, Luís Filipe Menezes já tinha dado um gigantesco passo em frente. Com uma luminosa irresponsabilidade, o líder do PSD saltou do presente para o futuro e prometeu entusiasticamente que se, por milagre, o seu partido vier a ganhar as próximas legislativas, “não fechará mais nenhum serviço público, durante uma legislatura, no interior do país”. Com Luís Filipe Menezes, o interior do país pode, pois, viver descansado: com escolas às moscas, centros de saúde que não funcionam e maternidades vazias a desertificação ganha um novo estatuto e o desperdício transforma-se numa inalienável prioridade.

Como se tudo isto não bastasse, o presidente da Câmara de Alvaiázere decidiu aproveitar esta ocasião única para explicar ao país que “Oliveira Salazar era um aprendiz de ditador ao pé de José Sócrates”. O autarca pode não ter o mais elementar bom senso, como pode, aliás, não ter a mais vaga ideia sobre a história recente do país: mas tem, com certeza, um lugar importante num partido que, hoje em dia, se distingue pela mais inquietante impunidade.

Neste preciso momento, depois de o “caso” do Casino Lisboa ter chegado ao governo do dr. Durão Barroso através das revelações do dr. Santana Lopes (confirmadas pelas palavras de um secretário de Estado, da altura), o partido decidiu abrir um precedente histórico e fazer uma auditoria a si próprio, na sequência da multa que lhe foi aplicada pelo Tribunal Constitucional, por financiamento ilegal. Um acto inédito que assinala um facto também ele inédito e que dá um novo colorido às iniciativas da oposição. No estado em que se encontra o PSD, qualquer alternativa ao actual Governo e à maioria socialista que o suporta é uma miragem que se afunda diariamente nas convulsões sucessivas de uma “liderança bicéfala”. Entre as piruetas inconsequentes do dr. Menezes e as intermináveis “ressurreições” do dr. Santana Lopes, o PSD conseguiu transformar-se no principal aliado do eng. Sócrates — sendo actualmente o único seguro de vida que lhe pode garantir o sucesso de uma nova maioria.

Ao contrário do que possa parecer, esta magnífica proeza não resulta apenas das anomalias da actual liderança: é principalmente fruto de um partido que quer à viva força voltar ao poder, sem conseguir lidar com o fracasso dos seus desastrosos Governos. Apesar da fuga do dr. Barroso e dos fulgurantes “episódios” que levaram à queda de Santana Lopes, o PSD continuou a viver numa doce e impenetrável ficção: vítima das circunstâncias, da injustiça presidencial e dos maus tratos da comunicação social, o partido nunca conseguiu perceber os motivos que o levaram para a oposição. A miraculosa “ressurreição” de Santana Lopes é equivalente à falsa superioridade dos sábios do barrosismo. Assim como a ascensão do dr. Luís Filipe Menezes se deve, antes de mais, às manobras em que se entretiveram as figuras gradas do partido. Não é por acaso que a dr.ª Ferreira Leite continua a ser vista como um farol do PSD. E que o dr. Marques Mendes foi a principal vítima desse embaciado farol.

Constança Cunha e Sá

 

Enviar um comentário

<< Home