quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

OS 'GÉNIOS' E OS OUTROS

As afrontosas injustiças sociais conduzem as pessoas a um cada vez maior afastamento do acto cívico e ao desprezo repugnante pelos políticos.
As estatísticas são reveladoras.
Nunca será de mais referir as evidências.
Está em marcha uma espécie de mexicanização do regime, em que apenas o PS e o PSD estão dotados da autoridade do poder.
A tentativa de se amordaçar a voz dos pequenos partidos destrói a tese segundo a qual, em democracia, as singularidades devem ser afirmadas, reivindicadas e, inclusive, estimuladas.
Aos homens da minha geração e àqueles que se nos seguiram causa calafrios a doutrina de que os outros não dispõem de bons argumentos.

Temos, talvez, excesso de memória, como disse a investigadora Irene Pimentel: possuímos o lastro de uma História cuja linguagem se choca com esta realidade, que serve de ligação a versões turvas da liberdade, da equanimidade e da justiça.

As perversões bradam aos céus.
Vão-se conhecendo as reformas obscenas [expressão de Bagão Félix] atribuídas a gestores de instituições públicas;
os salários indecorosos;
os privilégios e os prémios;
as mordomias e as sinecuras.
A soma das iniquidades causa ressentimento num país com dois milhões de pobres, elevadas taxas de desemprego, velhos a morrer nos jardins, jovens perplexos com o futuro.

A revista Visão publicou [10 de Janeiro, p.p.] um documento impressionante, no qual são reveladas as diferenças das folhas de ordenado em 25 grandes empresas.
Os números são revoltantes. Henrique Granadeiro, administrador-mor da Portugal Telecom, aufere, mensalmente, 185 590 euros [cerca de 37 500 contos], ou seja: 128 vezes mais do que a empresa gasta com 128 trabalhadores, na base de que cada um destes recebe 1449 euros [cerca de 300 contos] mensais.
O rol de disparidades não se limita a este caso.
E um tal Rui Luz, perito em recursos humanos, sustenta a indecência com a frase: A escassez de talento justifica os salários de directores de primeira linha.
Na interpretação deste cavalheiro, estamos perante Einsteins, Oppenheimers, seres incomuns, com elevados graus de genialidade.
Não é assim.
Conheço alguns dos indicados, cujas meninges deixam apreensivos todos aqueles que não escrevem samarra com cê de cedilha e polícia com U.

Mas este é o discurso do poder e os seus ecos mais condenáveis.
Perdeu-se o sentido das proporções, e a ética foi torpedeada por uma democracia administrativa que protege e premeia quem a defende e vitupera e persegue quem a critica.
Não há grande variação das formas da palavra.
Entre os que decidem, os que se submetem e os que reivindicam existe o domínio de classe que tende a confundir a generalidade e o interesse geral.

Quem nos acode?

B.B.

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1 Comments:

At 16 de janeiro de 2008 às 23:44, Anonymous Anónimo said...

HISTÓRIAS reais e inacreditáveis em Portugal:
ERSE- Vasconcelos despede-se e continua a ganhar 12.000 euros por mês!

Era uma vez um senhor chamado Jorge Vasconcelos, que era presidente de uma coisa chamada ERSE, ou seja, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, organismo que ninguém conhece e para nada serve como se demonstra a seguir.
O senhor Vasconcelos pediu a demissão do seu cargo porque queria que os aumentos da electricidade ainda fossem maiores.
Ora, quando alguém se demite do seu emprego, fá-lo por sua conta e risco, não lhe sendo devidos, pela entidade empregadora, quaisquer reparos, subsídios ou outros quaisquer benefícios.
Porém o senhor Vasconcelos vai para casa com 12 mil euros por mês - ou
seja, 2.400 contos - durante o máximo de dois anos, até encontrar um novo
emprego.
Aqui, quem me lê pergunta:
- Mas você não disse que o senhor Vasconcelos se despediu?
- Pois disse. Ele demitiu-se. Isto é: despediu-se por vontade própria!
- Então, porque fica o homem a receber os tais 2.400 contos por mês, durante dois anos?
Qual é, neste país, o trabalhador que se despede e fica a receber seja o que for?

 

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