segunda-feira, 20 de outubro de 2008

MAIS UMA DA CORJA...

Já há muito se sabia que o Governo tinha andado a brincar às bolsas com dinheiros da Segurança Social.


Hoje soube-se quanto nos custou a brincadeira: o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) perdeu 3,14 por cento (mais de 250 milhões de euros) nos primeiros nove meses deste ano, divulgou esta manhã em conferência de imprensa o ministro do Trabalho.

Apesar deste dinheiro pertencer aos portugueses, o Governo recusa-se a prestar contas e especificar que títulos adquiriu.

Há longos anos que o Tribunal de Contas se recusa a validar as contas da Segurança Social.

O episódio de hoje é de extrema gravidade, quer por colocar em causa as pensões de reforma das gerações futuras, quer pela evidência da falta de transparência destas operações.

Este foi o Governo que aumentou a idade mínima de reforma para os 65 anos como forma de garantir a sustentabilidade do sistema.

Quantos anos a mais teremos que trabalhar para compensar a perda hoje anunciada?

Resposta para depois das eleições do próximo ano.



F.T.

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3 Comments:

At 21 de outubro de 2008 às 22:29, Anonymous Anónimo said...

Em Portugal não existem trabalhadores, há colaboradores. Ninguém é despedido, há ajustamentos às necessidades de produção. As empresas não fecham a porta, deslocalizam a produção. Não existe perda do poder de compra, há contenção salarial. É populista e demagógico lembrar as crescentes disparidades salariais, devendo antes realçar-se que o mérito deve ser premiado e os gestores têm que estar identificados com os interesses da empresa. Que são os mesmos dos trabalhadores. Desculpem, dos colaboradores.

A escolha semântica não é neutra. As palavras têm valor e significado. São uma peça central na disputa do campo das ideias políticas. Fala-se muito do politicamente correcto e do predomínio da esquerda na imprensa, mas nunca se lê uma linha sobre o economicamente correcto que tomou conta do discurso político e jornalístico sobre a economia. E, curiosamente, o economicamente correcto é o mais poderoso motor da assimetria ideológica que normaliza a crise e constitui, ela própria, uma das causas do atraso de um país que não encontra outro modelo de desenvolvimento que não o dos baixos salários. Ele reproduz-se partindo da premissa de que a economia é uma ciência exacta imune à contaminação ideológica e que o discurso “mainstream”, que ouvimos e lemos todos os dias, é politicamente neutro. Não é.

Peguemos no exemplo das mistificações sobre a reduzida taxa de produtividade nacional, constantemente alardeada como a prova provada que os trabalhadores portugueses são pouco trabalhadores e produtivos, quando a única coisa que se pode ler desse indicador é que a economia nacional tem um baixo valor acrescentado. A discrepância não é inocente, como se percebe, servindo para justificar anos e anos de degradação de poder de compra dos trabalhadores. A forma como os aumentos salariais para a função pública foram retratados na generalidade da imprensa, blogosfera e colunas de opinião constitui um dos melhores exemplos dessa assimetria ideológica. Entre as acusações de eleitoralismo até a“o dinheiro que abunda para salários escasseia para despesas reprodutivas”, de Vital Moreira, o tom geral foi a condenação do despesismo. Pouco importa que, nos últimos oito anos, os mesmos trabalhadores tenham perdido 9,4% de poder de compra e que, contando com menos 51 486 trabalhadores, a produtividade da função pública tenha aumentado mais de 7% desde 2005. Também é indiferente que exista margem orçamental. O que importa é que se quebrou a mensagem de austeridade que vinha sendo transmitida ao país. Pelos trabalhadores, claro. E depois fica tudo muito espantado quando surge um estudo que indica que Portugal é um dos países industrializados com maiores desigualdades na distribuição dos rendimentos. Pois.

 
At 22 de outubro de 2008 às 21:19, Anonymous Anónimo said...

Volta, companheiro Vasco, estás perdoado!

É tempo de fazermos justiça ao general Vasco Gonçalves. Ele foi provavelmente o único homem que, sentado na cadeira de primeiro-ministro em Portugal, acreditou que quando dizia que o país ia ser socialista tal propósito era mesmo para ser levado à letra. Nacionalizou quanto pôde, defendeu ao limite o colectivismo e por essa via teria entusiasticamente prosseguido não fosse ele e o seu fervor comicieiro terem-se tornado obviamente dispensáveis em Setembro de 1975, quando o país já podia arrumar a revolução e as violas no saco. Em África já estava repartido o que havia a repartir e, por cá, os verdadeiros protagonistas preparavam-se para outros jogos de poder, onde Vasco Gonçalves não só já não era necessário como muito menos tinham lugar o misto de candura e destravamento que o caracterizavam. Talvez por nunca lhe terem perdoado os embaraços que tal ingenuidade lhes criara, quando o general e antigo primeiro-ministro morreu nem o governo de então nem a classe política se fizeram representar condignamente no seu funeral. Mas nunca é tarde para se reparar uma injustiça. E nós ainda vamos a tempo de remendar o muito que asneámos quando dissemos mal de Vasco Gonçalves e da sua revolução socialista. Essa revolução tinha o bendito mérito de ser socialista os 365 dias do ano, sem esquecer a excepção dos bissextos. Ora o que nos tem vindo a acontecer desde que, em Setembro de 1975, virámos as costas à muralha de aço de Vasco Gonçalves, é que como empregados ou empresários trabalhamos cada vez mais para sustentar um Estado que gasta como se fosse socialista, cresce como se fosse socialista e por isso precisa cada vez mais que alguns milhões de portugueses façam figura de parvos, trabalhando como se o país fosse capitalista e o enriquecimento resultante do trabalho não fosse cada vez mais uma impossibilidade técnica. Afinal o que Vasco Gonçalves nunca percebeu é que sem o sonho capitalista de enriquecer não existe dinheiro para fazer socialismo e muito menos para fazer medrar dirigentes socialistas. Logo, ao contrário do que o general acreditava, acabar com a iniciativa privada seria um erro crasso. (Quem o percebeu notavelmente foram alguns militantes destacados do PCP que se transferiram de tácticas e estratégias para o PS.)
Nesta versão local das teses chinesas “de um país, dois sistemas” os cidadãos, ao contrário do que acontecia nos países socialistas, não esperam nada do Estado e muito menos o confrontam com os seus erros e responsabilidades, como supostamente acontece no capitalismo. Por exemplo, se as opções de Vasco Gonçalves tivessem saído vitoriosas, hoje muitos portugueses estariam indignados porque uma obra pública, o Eixo Norte-Sul foi projectado de forma que, ao passar em viaduto, num lugar chamado Sete-Rios, cria uma catarata em dias de chuva, inundando em segundos os prédios que ficam por baixo. Talvez alguns dos hóspedes do Jardim Zoológico se sintam mais em casa ao ver aquela Niagara lusitana, mas feita essa zoológica excepção não se percebe como pode aquilo acontecer. Infelizmente Portugal não se tornou um país socialista segundo o modelo Vasco Gonçalves. Logo neste país em que dos dois sistemas nos sai sempre o pior de cada um, ninguém vai querer ouvir falar deste assunto embora por diversas razões. Os contribuintes já sabem que caso a obra seja corrigida isso lhes vai custar dinheiro. Acrescenta-se a este facto que empresa privada alguma que tenha estado envolvida nesta ou noutra obra pública jamais abrirá a boca para explicar o que quer que seja. Tal como não deixam que o seu nome saia na lista dos credores do Estado ou na daqueles que patrocinaram o estudo do novo aeroporto, não vá o Governo irritar-se com a ousadia, as empresas também contam que o Governo feche os olhos a muita coisa, seja essa muita coisa o crescimento exponencial dos orçamentos das obras ou os erros de que estas enfermam. De igual modo, os inundados também não pedem responsabilidades porque temem que tal lhes prejudique o seu objectivo de alterarem a sua relação com o estado socialista, trocando, graças à aquífera circunstância, o seu estatuto de contribuintes pelo de protegidos ou assistencializados: uma casinha da câmara, mais um apoio da Junta, quiçá uma permuta de terreno para mudar o local do negócio… Acima de tudo isto paira a nomenklatura. Nuns dias o Governo declara-se direcção comercial de luxo, noutros aprova projectos PIN ou mega-obras públicas. Às vezes a nomenklatura protagoniza o salvamento do país de catástrofes mundiais, sendo que nos últimos anos já perdi o conto a tanto salvamento: foi a gripe das aves, as alterações de clima, a falta de combustíveis, a falta de alimentos, a praga da obesidade, os lucros obscenos dos bancos e a falência dos mesmos. Nos dias em que a nomenklatura desce à terrinha anuncia que o “Governo dá” computadores, subsídios e vai provocar choques tecnológicos ou culturais. Tudo isto já se si é irritante mas o pior é que é muito caro.
Até meados de Junho de 2008 os portugueses trabalharam apenas para pagar impostos. A cada ano que passa trabalham mais dias para sustentar o seu Estado. Em 2009, a despesa estatal vai continuar a aumentar e muito provavelmente o dia 16 de Junho já não será aquele em que finalmente os portugueses podem dizer de si para si que já deram tudo o que tinham a dar ao Estado nesse ano. Com o socialismo a tornar-se-nos cada vez mais pesado, o sonho de cada português é tornar-se mais um protegido ou, enquanto tal não acontece, que o deixem em paz, uma vez cumpridos todos os requisitos da máquina estatal. Se não fosse a morte ter tornado esse pedido impossível acho que terminava esta crónica escrevendo: “Volta, companheiro Vasco, estás perdoado!” O socialista que ele foi fazia de nós opositores. Os actuais transformam-nos em contribuintes faltosos ou, caso tenhamos conseguido o milagre de ter tudo pago, licenciado e devidamente aprovado, em cidadãos pouco solidários.

Helena de Matos
PÚBLICO
21 de Outubro

 
At 22 de outubro de 2008 às 22:07, Anonymous Anónimo said...

Depois de, há dois dias, ter confessado quanto custou aos portugueses a brincadeira de ter andado a jogar o nosso dinheiro em bolsa, sem revelar, no entanto, onde está aplicado e em que títulos, o ministro Vieira da Silva garantiu hoje que o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) é gerido com base “em critérios de rigor e de transparência” e esclareceu que este não se destina a pagar pensões.
A transparência desta gestão tem sido largamente comentada pelo Tribunal de Contas.
Os gajos são mesmo uns chatos.
Há longos anos que se recusam a validar as contas da Segurança Social. E o FEFSS não se destina a pagar as pensões no presente, é verdade, é um fundo inter-geracional criado para ser utilizado no futuro, que não servirá para pagar o que quer que seja se continuar a desaparecer… onde?
Ninguém sabe.
Os 250 milhões que já desapareceram não dão nem para pagar um cafezito.

 

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