OS DOIS DISCURSOS
Há muito que nos ausentámos do exercício da moral e da prática do civismo. Não prestamos atenção ao que vemos e ouvimos, como se tudo ocorresse longe do nosso quotidiano banal. A desordem, a picuinha, a confusão interior campeiam e parecem situar-se para lá da razão. Há dias, um enfatuado guru da direita causticava, severamente, a RTP, pela circunstância de, numa entrevista de Judite de Sousa a Manuela Ferreira Leite, o realizador ter filmado grandes planos da senhora, cujo rosto estava (naturalmente) sulcado de rugas. A recriminação seria grotesca se não assumisse a insinuação inquietante de que tudo aquilo configurava um preconceito de ordem política. Entende-se o que subjaz à delação; mas entramos nos domínios da indecência.
A pretensa exigência ética de certos preopinantes corresponde, afinal, à sua negação e apenas merece um registo de repulsa. Aplausos, sim, devemo-los a Fernando Nobre, presidente da AMI, pelo magnífico artigo publicado no Notícias Magazine [11. Maio, p.p.], no qual verbera a indiferença com que assistimos ao genocídio pela fome, designado de tsunami silencioso, e afirmando a irreversibilidade dos danos já causados. Assumo a minha especial admiração por este homem de carácter, que nunca se fechou sobre as grandes tragédias do nosso tempo, num compromisso moral admirável.
Há tempos, no Jornal das Nove, da SIC Notícias, foi exibida parte do programa 60 Minutos, sobre o sistema de saúde norte-americano, no qual se narrava a história de um indivíduo sem recursos, que percorrera centenas de quilómetros a fim de ser assistido por um médico generoso. Não dispunha de seguro de saúde, o seu rosto exprimia um atroz infortúnio. Fernando Nobre, entrevistado por Mário Crespo, não calou a indignação que a história lhe causara. É isto que não quero para o meu país!, numa clara referência ao empreendimento de destruição do Serviço Nacional de Saúde, programado pelo sr. Correia de Campos.
Não há equivalência entre o discurso que propõe, como princípio essencial, a conciliação da verdade com a liberdade, e aquele que corresponde a uma ausência de norma civilizacional, em nome de meras estratégias partidárias. A regra do jogo democrático reclama-se de uma cultura política e cívica, cuja formação pode ser entravada por um processo de intriga permanente, que retira ao cidadão toda a possibilidade de o pensar e rejeitar.
O fosso entre os graves conflitos do nosso tempo e a indiferença que por eles demonstramos não se coloca, unicamente, em termos de generalidade. É uma questão crucial do debate democrático - que não fazemos. E o ruído sonega o essencial e impõe a fatuidade como norma. O insistente discurso de Fernando Nobre constitui um paradigma. O outro somente retém o acessório.
B.B.
A pretensa exigência ética de certos preopinantes corresponde, afinal, à sua negação e apenas merece um registo de repulsa. Aplausos, sim, devemo-los a Fernando Nobre, presidente da AMI, pelo magnífico artigo publicado no Notícias Magazine [11. Maio, p.p.], no qual verbera a indiferença com que assistimos ao genocídio pela fome, designado de tsunami silencioso, e afirmando a irreversibilidade dos danos já causados. Assumo a minha especial admiração por este homem de carácter, que nunca se fechou sobre as grandes tragédias do nosso tempo, num compromisso moral admirável.
Há tempos, no Jornal das Nove, da SIC Notícias, foi exibida parte do programa 60 Minutos, sobre o sistema de saúde norte-americano, no qual se narrava a história de um indivíduo sem recursos, que percorrera centenas de quilómetros a fim de ser assistido por um médico generoso. Não dispunha de seguro de saúde, o seu rosto exprimia um atroz infortúnio. Fernando Nobre, entrevistado por Mário Crespo, não calou a indignação que a história lhe causara. É isto que não quero para o meu país!, numa clara referência ao empreendimento de destruição do Serviço Nacional de Saúde, programado pelo sr. Correia de Campos.
Não há equivalência entre o discurso que propõe, como princípio essencial, a conciliação da verdade com a liberdade, e aquele que corresponde a uma ausência de norma civilizacional, em nome de meras estratégias partidárias. A regra do jogo democrático reclama-se de uma cultura política e cívica, cuja formação pode ser entravada por um processo de intriga permanente, que retira ao cidadão toda a possibilidade de o pensar e rejeitar.
O fosso entre os graves conflitos do nosso tempo e a indiferença que por eles demonstramos não se coloca, unicamente, em termos de generalidade. É uma questão crucial do debate democrático - que não fazemos. E o ruído sonega o essencial e impõe a fatuidade como norma. O insistente discurso de Fernando Nobre constitui um paradigma. O outro somente retém o acessório.
B.B.
Etiquetas: Democracia, EUA, George Bush, José Sócrates, Partido Socialista, Política, Portugal, Saúde
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