quarta-feira, 2 de outubro de 2013

UMA ENCRUZILHADA DO PS

O PS ganhou, o PSD perdeu. 
Ambos estrondosamente. 
E nós? 
Pedro Passos Coelho, solene e severo, advertiu logo que tudo vai ficar na mesma, porque o "rumo prossegue". 
O líder "social-democrata" está no seu papel de duro e implacável, embora os resultados das eleições possam, e devam, ter uma interpretação nacional. 
Essa interpretação resulta numa evidência: o País está cansado deste Governo. 


Ante a insistente indiferença das palavras de Passos e o paulatino mutismo de Seguro, as horas têm decorrido na paz dos anjos. 
O Executivo arrasta-se numa irremediável degenerescência, e estas eleições confirmaram o seu penoso estado cataléptico. 
A confirmar-se o que se pressente, o PS está à beira do poder, o que causa festiva perplexidade nos seus áulicos e razoável inquietação nos portugueses. 
Que fará António José Seguro nessa previsibilidade? Restaurará o que resta ao PS de um vago "socialismo", cuja natureza e objectivos fundadores estão cada vez mais longe? 
Ou continuará nesta ambiguidade e evasiva ideológicas, em que até o punho esquerdo cerrado e erguido desapareceu da liturgia? 
A vitória obtida agora não significa que o bulício interno contra Seguro irá sossegar. E a estrepitosa vantagem em Lisboa de António Costa aumenta a predisposição para o conflito. 
Diz-se que foi apesar de Seguro que o PS saiu ganhador da contenda, também ela marcada pela decadência dos "sociais-democratas", cujas escolhas nominais para as autárquicas se pautaram por total disparate. 
Seja como for, o PS está numa encruzilhada dilemática, desprovido de doutrina e com um secretário-geral débil, sem aplomb, sem garra e sem fibra. 
Por outro lado, a subida vertiginosa da CDU é de molde a causar preocupações a um partido cuja propensão histórica é a de se aliar à Direita. 
Uma CDU forte causa sempre embaraço no PS, mais acentuado, agora, esse embaraço com a queda do Bloco de Esquerda, eventualmente o apoio desejado por alguns sectores "socialistas" e não enjeitado por dirigentes "bloquistas", que viam nessa possibilidade uma vereda para o poder. 
A ascensão do PS não deixa de causar problemas à actual direcção. 
Porque a vitória não foi escassa nem mitigada, a exigência de uma responsabilidade séria, que corresponda aos desígnios expressos pelos votos, exige alterações substanciais na orientação do partido. 
Com perdão da palavra, mas, francamente, não me parece que António José Seguro seja capaz de inverter a marcha por ele próprio seguida e que tem desfigurado a essência do que deverá ser um partido socialista. 
O progresso da CDU deve-se, igualmente, à deformação política, ideológica, moral e ética do PS. 
Não tenhamos dúvidas. 
A instância de uma "alternativa", em vez da habitual sordidez da "alternância", é uma imposição da própria evolução dos tempos, cujas incertezas intimam a respostas ajustadas e honestas.

B.B.

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