quarta-feira, 30 de novembro de 2005

PURO VENENO...


Rui Pimentel/Visão

OPINIÃO

A mentira como instituição

Um dos meus correspondentes pergunta-me:
«Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.
Um dos meus correspondentes pergunta-me: «Sabe que muitos professores universitários, do ramo tecnológico, aconselham os alunos a pirar-se e a procurar a vida no estrangeiro?»
Sei. E acrescento: amigos meus instigam os filhos a fazer o mesmo. E julgo saber que actuais e antigos governantes praticam, com os seus, o mesmo verbo.

Significam estas decisões que Portugal não tem futuro, sublinhando a decisão de Guterres quando, espavorido, fugiu, por «ingovernabilidade do País»?
Nada disso.
Portugal ainda não teve dirigentes à altura da sua grandeza.
A lista de jovens que, lá fora, realizam os sonhos, aqui tornados impossíveis, é enorme. Porém, não tão grande como o rol dos que ficam, e, no silêncio e no zelo, com talento, vocação e orgulho, constroem o argumento contrário.

A rotatividade no poder, entre o PSD e o PS, autorizou a amálgama de vícios, corrupções, mediocridade e nepotismo que originou a atmosfera palustre na qual a pátria está mergulhada. E desenvolveu-nos a consciência da nossa fragilidade histórica.

É do domínio público o facto de Sócrates governar «à direita»;
Como é notória a circunstância de Cavaco ser o maior responsável pelo descalabro a que chegámos. [A entrevista de Miguel Cadilhe à revista "Visão" é esclarecedora].

Que fazer?
A maioria das dúvidas que merece a atenção de quem realmente se preocupa, e não sai daqui, encontra a exacta equivalência contrária na teia reticular de interesses que em si mesmos se justificam para garantir a sobrevivência.
A melancólica peregrinação a lugares partilhados pelos dois partidos «de poder» chega a ser afrontosa.


Esta apatia conduz-nos, inexoravelmente, para a construção de um busto a colocar na vala comum onde vai jazer a democracia. Nada se discute de fundamental para o nosso destino imediato.
A Ota e o TGV são remendos de um tecido mal amanhado.
O desvio dos «campos de atenção» foi inaugurado por Maquiavel e aplicado – vejam bem! – por Bertoldt Brecht nas práticas teatrais.
As coisas da política tornam-se livremente acessíveis às hipóteses de teatro.

A indiferença converteu-se numa sistemática desatenção, e na mais perversa balbúrdia.
Não é apenas Sócrates que não cumpre o prometido.
Antes dele, os outros (todos, sem excepção) faltaram à palavra.
O descrédito na política e o desprezo pelos políticos são impulsos de autodefesa. Mentem-nos e prosseguem, impunes, uma «carreira» que não deixa nunca de ser afortunada.

Sócrates, com as veias a saltar do pescoço, animou o nosso desespero quando assegurou a criação de cento e cinquenta mil empregos.
Ele sabia que o compromisso não seria observado.
Não omitiu: mentiu. O resultado é pungente: cerca de meio milhão no desemprego, fuga de técnicos qualificados, sessenta mil licenciados sem ter no que fazer, miséria, desorientação – e, de novo, suicídios.
Foi indiferente à nossa sensibilidade, cavou ainda mais fundo o buraco que separa governantes de governados. Inda por cima, demonstra uma arrogância displicente, cada vez mais acentuada.

Cavaco Silva vem agora pretender-se inocente perante factos estridentes.
Nas escassas entrevistas que deu, emerge como criatura ausente das gravíssimas responsabilidades que tem.
Convém não esquecer de que ele criou uma abstracção de democracia.
A década «cavaquista», ao contrário do que afirmam os seus afónicos tenores, foi lamentável: ele «eucaliptou» todos os sinais de vida em redor. Agora, ao acentuar o «apoliticismo», prognostica o esvaziamento de uma prática que já foi valorativa.
O homem não só detesta o debate, a discordância, como teme quem o contradiga. Dir-se-á: é um estilo.
Direi: uma máscara ocultadora de entranhadas debilidades.

Que pode fazer por Portugal?
Tal qual os outros candidatos: nada.
Não é por decreto, persuasão, compulsão ou «sugestões» aos governos que as coisas são alteradas ou modificadas. Somos nós que temos de realizar o necessário.
Entretanto, os jovens quadros são incitados a trabalhar e a viver no estrangeiro.
Os mais velhos desesperam, por impossibilidade de dar uma virada de 180 graus na sua existência.
Como disse Herculano: «Isto dá vontade de morrer!»


Baptista Bastos

AI TIMOR...

Enfim, Timor - uma ilha indonésia que não tem grande coisa a ver com Portugal.


Mário Soares, Portugal Amordaçado, 1973 (pág. 457)

terça-feira, 29 de novembro de 2005

O GOVERNO SOCIALISTA, QUERERÁ FAZER UMA COLECÇÃO DE CRUCIFIXOS?

O crucifixo e o microondas


Discutir certas questões, em certos lugares, é arranjar conflitos perfeitamente gratuitos.
Vem isto a propósito do governo socialista, que é laico, embora num Estado maioritáriamente de religião católica, apesar de pouco praticante, tomar uma decisão de retirar os crucifixos das paredes das escolas.
Ora, o que Estado deveria fazer era criar um clima de confiança para a economia crescer urgentemente e potenciar os pólos de riqueza e de saber na sociedade.

Isto é bizarro.
Por um lado, o Estado deve imiscuir-se o menos possível nas questões de fé ou de crença nas pessoas, a não ser que o governo de José Sócrates tenha uma fezada inusitada de que este tipo (bizarro) de decisões contribua para a felicidade eterna dos tugas: atraía mais Investimento Directo Estrangeiro (IDE), dinamize o investimento, crie riqueza e emprego dentro de portas, potencie as exportaações e reforce a nossa competitividade e qualidade de vida material e espiritual.
Mas parece que não é assim..
Toda essa tolice decorre duma decisão meramente simbólica, presumo.

Este tipo de decisões parece-me, aliás, além de gratuitas também perniciosas e algo quezilentas.
Será que o governo de José Sócrates quer acicatar ainda mais os tugas(??) - que cá vegetam sem fé e em que as pessoas têm de emigrar para Espanha?
Discutir a retirada dos cruxifixos das escolas é como equacionar a capacidade calorífica dos microondas com pipocas estranhas lá dentro; seria como se a nação, de um momento para o outro, se passesse a importar com a dimensão dos charutos estabaqueados pelo pequeno ditador da Madeira, esse grande timoneiro - Alberto João Jardim.


As coisas não fazem sentido, a bota não bate com a perdigota..

Por que razão - pergunto eu - os partidos, os governos, os sindicatos, e, naturalmente, as Igrejas - não trazem ao mundo aquilo pelo qual a necessidade humana grita e reclama em vão: um centro, uma finalidade, uma verdadeira fé?


Em lugar disso, entretém-se a brincar às decisões que mexem com a decoração mais simbólica das paredes das escolas onde jazem ícones que nos remetem para a nossa relação com Jesus Cristo, a religião, a fé e tudo aquilo que de misticismo (ou misterioso) essas derivas nos remetem.
Parece-me, pois, mal, muito mal, o governo andar a cheirar os coentros aos assuntos das crenças dos tugas, coisas que são da exclusiva intimidade de cada um.

Pelo que a nossa tarefa - como cidadãos - é confrontar as instituições, logo também a igreja - com os seus fins: pois os Estados, as sociedades, as empresas, os saberes, as escolas - todos são produtores de saber, todos têm a sua ciência e a sua fé naquilo que pensam e fazem.

Julgo, pois, tratar-se duma questão totalmente simbólica a que o governo não deveria tocar - quer sob a forma de legislação ou de decisões políticas que um povo esmagadoramente católico não compreende.


Eu posso ter o meu Cristo na carteira, sobre a cama, no espelho retrovisor do carro, no porta-luvas, no WC - e ai!! do governo que me diga onde eu o devo guardar ou não...
Aliás, se soubesse que me iriam chatear com essa gratuitidade arranjaria um cruxifico enorme, feito de carvalho - pra aí com uns 5 metros de cumprimento com 3m de envergadura de asa - e aproveitava-o para dar na cachimónia do governo ou do responsável que perante ele teve essa estultícia ideia.

Julgo, pois, que nem valerá a pena brincar aos crucifixos.
Deixamos isso para a imaginação do decisor que cogitou essa alarvidade.
Apenas dizemos, para concluir, que em matéria de fé cada um tem a sua, ponto. José Sócrates também terá de a ter, doutro modo termina o seu mandato ainda antes do tempo, o que não será desejável para a estabilidade do país e das instituições, creio.

Mas também sabemos que quando a fé, e moral baixam - pululam superstições e idolatrias que podem conduzir a radicalismos e fanatismos perfeitamente evitáveis.
O que vale é que Portugal tem essa tal homogeneidade religiosa que cimenta a coesão entre os crentes, doutro modo isso poderia gerar - larvarmente - situações de conflito desnecessárias.

Qualquer dia, ainda veremos o governo socialista a pregar pelo regresso da Igreja - não já pelo amor dos crucifixos e dos ícones religiosos, que têm um significado especial para cada um de nós - tal é a forma como cada pessoa vive a sua fé e absorve as vivências da sua espiritualidade, mas por medo do povo em fúria que se pode estribar com certas outras decisões de OTA & compª...

Vivemos neste transe que nos descontrola. E a culpada, claro está(!!!) é a meretriz da Globalização.
Ela serve para tudo...
Todavia, estas bizarrices ainda nos suscitam outras enormidades que aqui sucintamente descrevemos:

a) Uns querem persuadir-nos de que é a ciência que responde a todos os problemas - a fim de não se colocar nenhum verdadeiramente importante;

b) Outros, mais fanáticamente crentes e sabujos dos passos perdidos da Igreja (que sempre é mais papista/oportunista do que o Papa) - procuram ver nesses vários crucifixos que levamos pela vida fora - uma ordem que nos fará delegar num eleito religioso a escolha da nossa utopia ou da nossa concepção de ordem, de desenvolvimento, de estabilidade, de felicidade, enfim, modelar a nossa cosmovisão.


Pois eu creio, muito singelamente, que estas questões são descabidas, tal como o tamanho dos charutos do Alberto João Jardim ou como aquela estranha pipoca siamesa dentro do microondas.
Não bate a bota com a perdigota.
Daí, para ilustrar o ridículo e absurdo da situação, a importação daquela imagem do microondas.

Então, perguntarão os mais curiosos, porque razão estes dislates e alarvidades ainda têm lugar no séc. XXI?
Em nossa opinião julgamos que ainda nos preocupamos com os charutos do Alberto João Jardim - metafóricamente falando - por uma razão simples: que decorre dum erro de partida que acaba por enrolar todas as decisões posteriores num amontoado de asneiras evitável.
Até porque quer as crianças quer os professores pensam cada vez menos nesses ícones, tais são as suas preocupações e/ou prioridades diárias. E o erro de base resulta do facto de todas essas atitudes, desde o fanatismo religioso (crença radical na religião) ao cientismo tecnológico (crença radical na ciência como panaceia para todos os nossos problemas e aspirações), do teísmo ao ateísmo, do integralismo à teologia da morte de Deus - decorre de acreditar que poderemos reencontrar a plenitude do homem e a sua transcendência sem romper com a nossa cultura (ou matriz) ocidental.
Uma cultural milenar - que até mesmo sem o saber, o Sr. Engº. José Pinto Sócrates - subscreve.
Isto porque o nosso mundo, hoje, já não tem um centro, mas os povos, a história (de Portugal) tiveram um.
Que passa (também) por esses ícones...
Por exemplo, o Stº António na Praça de Alvalade é conhecido pelo Santo casamenteiro, e no Verão lá vão uns papalvos pedir meças ao Stº António da Câmara Municipal de Lisboa que os casa à borla - para um ano depois se passearem já divorciados pela Av. de Roma Roma abaixo em direcção ao Júlio de Matos. .

É assim a cultura, uma malha de símbolos e de signos.
Somos animais culturais, simbólicos - por isso damos importância a estas coisas; ao invés, como sabemos, os cães urinam nas raízes das árvores para dizerem aos congéneres que ali passou o cão tal, que territorializou aquele espaço.
Seria, pois, estranho, muito estranho!! - que os cães passassem, num ápice, a adorar crucifixos..
Ou até a frequentar a escola..
Deveria ser incrível ver um cão falando línguas, especialmente inglês.., dadas as reformas deste governo no sector educativo.
Dizem-me que isso é impossível, apesar de saber que existem outros que falam alemão e estão no governo.

Logo, tentar reformatar a história, as crenças, os costumes arreigados, os valores mais profundos de cada um de nós - através dum bacoca decisão política - é um pouco como empurrar um elefante com um tractor.
Um dia o elefante chateia-se e manda uma valente trombada no tractor (e no tractorista, que pode chamar-se José Sócrates) e vira tudo aquilo de pantanas.


O problema da retirada dos crucifixos das escolas, em suma, não se resume (como estupidamente essa decisão denuncia) ao carácter laico do Estado, nem à pluralidade religiosa ou qualquer outro multiculturalismo presente na sociedade portuguesa.
O problema é que mesmo tirando os cruxifixos das paredes - eles continuam a irromper pelas nossas cabeças.
O homem já O designou há milhares de anos; o homem já O construíu à uma eternidade.
Isto é uma questão cultural, antes de o ser religiosa.
Aliás, até a questão religiosa é, primeiramente, uma questão cultural.

Esses homens, ícones ou não, pendurados ou dependurados na parede das escolas ou nos refeitórios duma cresche, mesmo sem o sabermos, vivem ainda nas nossas vidas. E viverão depois de morrermos.

Cresci vendo na escola primária os tais crucifixos de parede olhando para mim. Cheios de pó, lá ficaram, anos e anos, cheios de caimbras por entre indiferença e fé precária.
Quer dos professores, quer, por maioria de razão, dos alunos - ainda crianças - que só pensavam no recreio e nos jogos que poderiam desenvolver fora da sala.
Mas a sua retirada em nada faz diminuir a minha fé; como, porventura, o seu reforço não me trariam mais fé.

Julgo, no entanto, que algo de mais imaginoso está por detrás disto.
É que o governo socialista, porventura, quererá fazer uma colecção de crucifixos para uma exposição sobre religiões e outras multiculturalidades que alguns departamentos e academias se inclinam a fomentar e, não raro, estão ligados a interesses maçónicos ou da Opus gay - pedrão - day - a fim de melhor se implementar uma determinada estratégia económico-empresarial.

Descontando esta ironia, pois a realidade é bem pior, julgo que a história não existe separada das religiões e das revoluções.
Não é por acaso que os apóstolos e os revolucionários são figuras indistintas nesta única aventura humana que é VIVER.
Por tudo isto, entendo que não se deveria tirar os crucifixos donde estão.
Nem lá meter outros.
Pura e simplesmente, não se deveria sequer evocar essa lenga-lenga que não ajuda Portugal e os portugueses em nada nesta conjuntura difícil que todos atravessamos. É um pouco como estarmos todos no cinema vendo o Engº José Sócrates actuar as suas partituras, e sermos "intervalados" pelo farmacêutico que nos pergunta se queremos um melhoral ou um supositório.

Os homens, afinal, não têm senão uma história, desbravada a golpes de espada, outras vezes a golpes de audácia e até de loucura, embora com imensos sacrifícios pessoais e humanos. E não se veja nisto nenhuma exaltação das violências que a Igreja Católica A. Romana cometeu mundo fora; veja-se, tão sómente, essa capacidade que o homem tem de produzir imagens, ícones, onde depois cristaliza a sua fé reflexo do seu próprio génio humano.

Eu hoje - quando olho para o crucifixo de Cristo pregado daquela forma selvática - acabo por ficar mais humilde e mais compreensivo perante o que me rodeia.
Pois apesar de desconhecer boa parte do que está para trás, tal não me dispensa de eu ver nessa mesma imagem uma força e uma energia que me transmitem uma verdadeira fonte de possibilidades de existência inéditas que me podem ajudar a viver melhor.

Há dias tive de ir fazer mais um funeral a mais um familiar que partiu sem aviso prévio e ainda na flôr da idade. E a única coisa que lhe deixei foi, precisamente, um pequeno crucifixo que trazia na pasta do meu portátil.
Um crucifixo que foi jogado pela minha mão sobre aquela cova funda que submergia aquele caixote de madeira que um dia nos encaixotarão a todos nós.

Resultado:
Hoje quando apanho o meu portátil só sei que a bolsa lateral está vazia.
Dantes guardava um crucifixo; hoje guarda a memória de um irmão meu que partiu aos 53 anos de idade este Verão e que ainda julgo que se esconde naquela bolsa letaral da pasta que alberga o portátil.
É estranho, mas é assim...

É óbvio que isto é simbólico, mas se fosse tontinho poderia mesmo acreditar nisso sem fazer fronteiras entre o conhecimento simbólico e o real.
Mas tudo isto deceorre nestes termos porque todos temos necessidade de todas as sabedorias e de todas as suas revoltas.
Temos necessidade dos crucifixos, afinal, para nos lembrarmos que o outro homem é aquilo que me falta para ser plenamente humano.

Eis o que me fazem lembrar os crucifixos:
Despertar da anestesia dos dogmas religiosos que cedo percebi e cedo rejeitei, designadamente proferidos por padres incultos; outros além de incultos, eram anafados e estúpidos.
Para variar..

Ou ainda para ver neles a nostalgia de certos valores, de certas revoltas e revoluções que de um momento para outro se tornam vulcões em activação.

Afinal, o meu fascínio pela vida não decorre de eu só gostar de praia, de mulheres, de boa comida, de carros, de motas e de conviver com os amigos.
Como fazem, aliás, a generalidade das pessoas normais.
Decorre também de saber, ou tentar saber, retratar o meu próprio nascimento ou reinvenção (que é diário) em Deus (que nunca conheci e de quem nunca recebi um telefonema); e de recriar Deus em mim próprio.

Talvez na forma de Bem, de Justiça, de Beleza ou o que fôr.
Ou mesmo na forma de Jesus Cristo (já sem aquela maldita cruz), pois se ele verdadeiramente existe sempre irá ficar mais satisfeito comigo.

Uma vez que acreditei n'ELE sem nunca o ter visto.
Quantos gostariam de ser assim?

PS:
Por isso, temos de a judar o governo a compreender a história e dizer ao senhor que tomou a dita decisão que se sente 1º a uma secretária; 2º tome depois um supositório; e, em 3º lugar, leia umas coisas sobre a história do mundo, da Europa e, já agora, sobre a história centenária do seu próprio país.
Ou então, para obviar todos estes engulhos e vergonhas que poriam a nú toda a sua ignorância, agarre no telefone e ligue para o Professor Doutor José António Saraiva - que ele faz-lhe um breve apontamento de reportagem de duas horas e meia na TV sobre essas crenças, superspetições e outras bruxarias.
Ámen.


Pedro Manuel

NA CÂMARA MUNICIPAL...

Esta é a nossa gestão autárquica?
...Infelizmente esse para mim não era um assunto novo.
Os portugueses já estão habituados a lidar com a corrupção na área do urbanismo há muitos anos.

Os portugueses já encaram a corrupção como sendo uma situação normal?


E sem que se apercebam que se não houvesse corrupção Portugal estaria a um nível de desenvolvimento como estão a Noruega, Suécia ou Finlândia.
Se não houvesse este desperdício de recursos na corrupção, é evidente que tudo seria canalizado em prol da população.
Até porque a corrupção para poder funcionar tem que se instalar em cima da ineficácia.
A corrupção é isto mesmo: criar dificuldades artificiais para depois vender as facilidades.
Se não houver corrupção também não haverá todos estes constrangimentos. O país evolui e avança.
Mas confesso que não fazia ideia que o tráfico de influências atingisse um nível tão gigantesco como de facto conheci, e como digo, e isto que fique bem claro, comigo e com o meu antecessor, estou certo, não houve qualquer cedência a nenhum desse tipo de influências.

As influências vêm de todo o lado, mesmo da Administração Central?


Vêm de onde não podiam vir, que são das estruturas do poder. Nós hoje vivemos em Portugal uma situação perversa. Nesse aspecto somos dos piores países da Europa. E isto porque quem financia a actividade partidária, a actividade dos dirigentes partidários são, normalmente, os empreiteiros. Financiam as campanhas e financiam a vida privada de muitos dirigentes partidários, que fazem desta vida política a sua profissão. Não sabem fazer mais nada. Profissionalizaram-se na política e da política depende a sua sobrevivência.



São os alegados «tabuleiros de Xadrês» espalhados pelas casas de muitos políticos?



Exactamente. E se fossem só tabuleiros de Xadrez não estaríamos mal. O problema é que estamos a falar de milhões de contos. Penso que durante a minha passagem pelo pelouro do urbanismo terei chumbado, impedido negociatas e vigarices na ordem dos quinhentos e cinquenta milhões de euros. Estamos a falar de muito dinheiro. Seriam vigarices que se teriam concretizado, e quando estão em jogo negócios desta ordem, então as forças organizam-se de forma a tomarem por dentro os partidos para terem um poder que lhes permita dominar a administração em benefício próprio. Sejamos mais claros: muitos promotores imobiliários financiam a vida politica e partidária para que depois os políticos, financiados por eles, e que estão no aparelho de Estado, na Administração Central ou local, façam a gestão pública não em função do interesse da população mas em função do interesse de quem os sustenta, como bom dever de gratidão.



Os concursos públicos são para «inglês ver»?

Muitas das vezes, mas isso nem sequer é o mais grave. O pior é a má gestão urbanística que hoje está no cerne de muitos defeitos da nossa democracia. Quando eu posso aprovar um prédio de seis andares, mas se de forma ilegítima e sem respeito pelo planeamento aprovar um de dez estou a transferir para a mão de privados algo que é público e uns larguíssimos milhões de contos. Quando isto se faz, os cidadãos raramente se apercebem porque o projecto é aprovado «hoje» e a construção só se verifica passados quatro anos. O que quer dizer que quando os cidadãos se apercebem da vigarice que foi feita já é tarde demais, porque depois há os direitos adquiridos.



É por causa desse tipo de coisa que os planos directores municipais (PDM’s) às vezes andam anos atrasados…



E muitos planos directores municipais não passam de bolsas de terreno que são elaborados em função de quem é o proprietário dos terrenos. E isto é justo? É justo que se faça o planeamento do país em função de interesses privados? É evidente, que quando estes interesses são assumidos como interesse colectivo faz-se o que se quer, e muitas das vezes na administração o que se faz, ilegitimamente, passa a legítimo, com bons gabinetes de advogados. Naturalmente que tudo é muito bem formatado, muito bem embrulhado. É assumido como público um interesse que afinal não é mais do que privado. E hoje na área do urbanismo há uma aliança perversa entre promotores imobiliários, alguns arquitectos de uma pseudo-esquerda e que por serem de uma pseudo-esquerda vêm branquear projectos imobiliários que são autênticas aberrações, e escritórios de advogados. E é esse tripé que manda hoje, como sempre mandou neste país. Alguns arquitectos que vêm tentar limpar a face do negócio e escritórios de advogados que conseguem formatar juridicamente todos estes embrulhos, isto é uma «santa aliança perversa».



Acha que este tipo de ilegalidades terminariam com a transparência que se impõe, ou então com o fim do financiamento dos privados aos partidos?


Não há uma solução única para um problema desta dimensão. Aliás, o problema da corrupção instalada em Portugal não é só no urbanismo. É evidente que há certas zonas em que é mais evidente. Penso que todos os portugueses sabem que raramente as casas são vendidas pelo valor pelo qual são declaradas. Aliás, em Portugal até havia um verbo muito comum que era o verbo «sisar»: as pessoas compravam por um preço e «sisavam» o produto por outro. Hoje já não há o verbo «sisar», mas o modelo mantém-se.

...

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

NESSE TEMPO ÉRAMOS TODOS CATÓLICOS!!!

CRUXIFIXOS




Cresci a ver Cristo crucificado na parede da escola primária mais um Salazar que nos crucificava a todos e não sou nem mais, nem menos católico por isso.
Nesse tempo éramos todos católicos, um povo maioritariamente católico como diz, com oportunidade e oportunismo, Cavaco Silva, o candidato da Nação. E é desse tempo que ficou o hábito de o crucifixo ser uma presença obrigatória na parede das salas de aula.
Se não éramos católicos confessos, éramos estatisticamente católicos, e se não fossemos católicos, seríamos quase clandestinos, mesmo se fossemos cristãos.

Os crucifixos das paredes das escolas não são uma manifestação colectiva de fé, são uma herança de um passado em que a Igreja Católico, a troco do quase exclusivo da evangelização de Portugal e do seu vasto império, colaborou com o regime e permitiu que este usasse o catolicismo como uma das suas afirmações ideológicas, como a benção da ditadura.

Retirar um crucifixo da parede de uma sala de aula só em mentes muito mesquinhas pode ser entendido como uma ofensa ao catolicismo dos portugueses, trata-se de gente que ainda sonha com a evangelização forçada.
No mesmo país onde muitos bispos não permitem que nas suas dioceses as crianças não seja baptizadas porque os pais não são casados pela Igreja, são mesmos bispos fundamentalistas que querem impor os símbolos religiosos aos que não partilham da sua fé.
São os mesmos que em tempos ainda defendiam a obrigatoriedade das aulas de religião e moral ou que em muitos domínio consideram que a lei penal deve ser o equivalente a uma sharia católica.

Só confunde catolicismo com imposição dos valores do catolicismo, o que não percebem que a religião deve ser a emanação da liberdade e não um subproduto da ditadura.

JUM

OPINIÃO

A existência e a expiação

São alarmantes as recentes informações, segundo as quais a CIA tem usado aeroportos, um pouco por todo o lado, para transportar presumíveis terroristas e interná-los em campos de concentração, onde a prática de sevícias e de torturas as mais aprimoradas se tornou num desporto requintado.


A Europa transformou-se no estopim de um barril de cólera. Todos os dias nos chegam notícias de violência, de agressão metodizada, de protestos contra um sistema iníquo, que não possui soluções para resolver as crises múltiplas. Na União há mais de vinte milhões de desempregados. O número tende a aumentar. A abertura dos mercados permite a ascensão de economias articuladas na base de trabalho escravo (casos da China e da Coreia do Sul), e na consequente destruição de outras, mais débeis e indefesas.

A crise do capitalismo é uma evidência, que nem os seus turiferários já ocultam. A lex mercatoria, levada aos extremos a que assistimos, regula unilateralmente. E os mercados alargaram a sua influência e estenderam o seu domínio aos Governos. Estes, pondo de parte o princípio de que o direito privado é dependente do direito público, tripudiam sobre as próprias Constituições e, despudoradamente, acedem às exigências, cada vez mais inclementes, das transnacionais.

Os Estados Unidos funcionam como sede do Império. E quem se lhe opõe, timidamente que seja, é esmagado. São alarmantes as recentes informações, segundo as quais a CIA tem usado aeroportos, um pouco por todo o lado, para transportar presumíveis terroristas e interná-los em campos de concentração, onde a prática de sevícias e de torturas as mais aprimoradas se tornou num desporto requintado.


É evidente que esta situação não se pode eternizar. O mal-estar generalizado alastra, com reacções amiúde tumultuosas, e de consequências imprevisíveis porque larvares - mesmo que pareçam atenuadas ou definitivamente aplacadas. Se o Estado Social está agonizante, o que nos apontam como alternativa é assustador. Num segundo nível a crise (longe de ser passageira) inspira uma noção mais substancial de autoritarismo e introduz elementos não apenas conservadores, como, sobretudo, criptofascistas.

A disputa Presidencial no nosso país permite-nos, com um mínimo de seriedade e de lucidez, fazer aproximações ideológicas. O terreno apresenta-se fértil para soluções musculadas. E muitos portugueses anseiam por isso. É difícil especificar, minuciosamente, as condições que tornaram possível este cenário. Porém, não andaremos afastados da realidade histórica se verificarmos que, no contexto actual, a representação política nega a oportunidade de todos e estimula o privilégio de alguns, poucos.

Abúlico, medíocre e resignado, Portugal apresenta-se escancarado a todas as aventuras e ao mais tenaz oportunismo. O caso Santana Lopes-Paulo Portas foi possível exactamente porque a regulação do vazio e a desenvoltura do mais soez dos patrioteirismos garantiu o escândalo. E foi uma grave advertência, a que a Esquerda e outras forças cívicas não conseguiram responder.

Em meados dos anos 20, século passado, Salazar escreveu uma série de artigos no Novidades, jornal do Patriarcado e porta-voz das correntes mais reaccionárias da Igreja e da sociedade no seu todo. Mais tarde, o futuro ditador aproveitaria as teses contidas nesses artigos e inclui-las-ia nos seus Discursos e Notas Políticas. Nesses textos desafiava os intelectuais republicanos e democratas a contradizê-lo. À excepção do grande Raul Proença, a Seara Nova, por exemplo, limitou-se a uns vagos comentários. O paralelismo talvez seja apressado, mas são garantidas as semelhanças - e a patologia. Se recuarmos um tanto mais, visitemos o Eça de Queiroz, autor, em 1871, deste excerto:

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia. A ruína económica cresce, cresce, cresce? A agiotagem explora o juro. A ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número das escolas é dramático. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país. Não é uma existência; é uma expiação. Diz-se por toda a parte:O país está perdido».

Que tal, meus Dilectos?

Baptista Bastos

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

FUNDAÇÃO ANTÓNIO PRATES


De acordo com o Plano Plurianual de Investimentos aprovado pelo Partido Socialista, na Câmara Municipal de Ponte de Sôr, os investimentos na Fundação António Prates crescerão mais 100.000€ no ano 2006.

A derrapagem orçamental na execução da obra já ultrapassou há muito a verba inicialmente prevista.


Não se vislumbra para quando a inauguração...

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ESTÁ LEMBRADO?


Obra da Fundação

António Prates


A recuperação do edifício da ex-SOSOR
já chega a cerca de 200 %
do valor previsto no primeiro projecto.
O País está com dificuldades?
É difícil chegar ao fim do mês?
Aumentos, só nos preços?




REVEJA-SE NAS OBRAS DA
CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR
E VIVA UMA VIDA AIRADA.



Todos os que lêem programas eleitorais aqui no concelho sabem que as obras em curso e que o Partido Socialista e o Presidente da Câmara consideram terem tido origem nas suas mentes brilhantes, tiveram outros donos e origens.

Com excepção da chamada Fundação António Prates, a sua realização é consensual na sociedade pontessorense.

A discussão começa quando se querem conhecer pormenores da execução e custos - da Fundação António Prates e das outras.


TÊM UMA CARACTERÍSTICA COMUM:


ESTÃO TODAS PAGAS AO PREÇO DO OURO.


Hoje vamos apresentar as contas já conhecidas da Fundação António Prates.

O placard colocado à entrada, que deveria pormenorizar o investimento, é pouco elucidativo.

SEM ESQUECERMOS QUE O PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR ASSASSINOU A AVENIDA DA LIBERDADE, NÃO RECUANDO A OBRA COMO ESTAVA OBRIGADO E EXIGE A TODOS OS OUTROS.

Mas vamos aos números que lemos nas últimas Contas de Gerência.

Pela Conta de Gerência (CG) de 2002 sabemos que a obra teve o contrato assinado em 22/07/1999 e a empreitada, expressa em euros, foi adjudicada por 2.033.033,74 euros (+/- 400 mil contos).


O 1º pagamento teve lugar em 02/12/1999.

A Conta de Gerência de 2001 ainda em escudos diz que afinal houve 2 contratos iniciais que somaram 407 586 670$00 um com a CME de 169 006 329$00 e outro com a Soc. Carapeta & Filhos de 238 580 341$00.

Só que em 19/07/2000, menos de um ano depois de ter sido iniciada a obra, foi feito o 1º contrato adicional, isto é, uma nova empreitada de adenda com alterações profundas ao projecto no valor de 463.759,60 euros (+/- 92 mil 750 contos) também distribuído pelas 2 firmas citadas, em que a CME ganha a de 17 708 620$00 e a Soc. Carapeta a de 75 266 833$00.

Em 5/6/2002 há novas alterações: é encomendado um projecto de arranjos exteriores ao Gabinete Leonel Moura no valor de 34 mil euros (6 mil e 800 contos) que nunca mais é referido nas Contas de Gerência seguintes, apesar de ter sido pago parcialmente no ano da encomenda!!!

Na Conta de Gerência de 2003, aparecem novas adendas:
- em 5/6/2003, agora com o empreiteiro Pinto & Bentes, com uma nova empreitada de 31.003,73 euros (projecto de um PT 6 mil e 200 contos)
- em 9/7/2003, uma nova empreitada entregue à firma "A Encosta" para arranjos exteriores, no valor de 498.087,90 euros, isto é, mais 99 mil e 600 contos
.

...
LER O ARTIGO COMPLETO EM:PONTE DO SOR

DELIBERAÇÕES ILEGAIS

Decisões tomadas em reunião de Câmara Municipal de Ponte de Sôr declaradas nulas



Cerca de dez deliberações, tomadas no período de gestão do anterior mandato do Partido Socialista na Câmara Municipal de Ponte de Sôr, foram consideradas inválidas por se enquadrarem no âmbito das matérias previstas na lei, cujo impedimento decorre no período que medeia o acto eleitoral e a tomada de posse do novo executivo.


Em causa estiveram decisões para comparticipações e apoio financeiro à Junta de Vale de Açor e a outras associações do concelho.

OS PONTESSORENSES PAGAM...

O município de Ponte de Sôr vai adjudicar um serviço prestado pela Rodoviária do Alentejo, em que esta empresa propõe a cobrança de 500€/semana, para fazer o transporte das crianças das freguesias.


Perante o caso, Luis Laranjeira, Vereador da Cultura eleito pelo Partido Socialista, lamenta que Taveira Pinto, durante os seus mandatos, não tenha adquirido para o município um autocarro para transporte de passageiros.

AS CHAMADAS ERÓTICAS DO GABINETE DO PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SÔR



Presidente da Autarquia de Ponte de Sôr, Taveira Pinto apresentou em reunião de Câmara, por requerimento do Vereador Isidro Rosa, duas facturas telefónicas onde constam as tão faladas Chamadas de Valor Acrescentado( CHAMADAS ERÓTICAS).
Ao que apurámos, uma é oriunda do número de telefone do Gabinete da Presidencia, não sendo possível apurar quais os destinatários.
O facto comprovado é que os montantes não se resumem aos 10.506$00 que foram referidos no “boletim informativo” que a Câmara Municipal de Ponte de Sor fez distribuir em Setembro último.

MAIS UMA DO TAVEIRA PINTO

Taveira Pinto concretiza queixa contra Isidro Rosa, vereador da CDU

O presidente da autarquia de Ponte de Sor, apresenta queixa em tribunal contra o actual vereador da CDU, Isidro Rosa, alegando que este proferiu palavras de difamação do seu bom nome, na entrevista dada ao Jornal A Ponte, no passado mês de Setembro.

Na base da queixa, está o teor de uma resposta em que o então candidato da CDU à presidencia da Câmara Muncipal, afirma que subscreve as críticas da CDU no que respeita à seriedade de alguns dos actos administrativos praticados pelo presidente então reeleito.

Não sabemos à data, quem pagará os honorários da defesa:
O queixoso na pessoa do cidadão João Taveira Pinto, a expensas próprias;
Ou o queixoso na pessoa do presidente da autarquia, a expensas do dinheiro público.

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

OTA, A OBRA DO REGIME "XUXALISTA" ...[parte II]


O elefante rosa

José Sócrates é o grande mestre alquimista do país.
Descobre fórmulas químicas que tornam o ilusionismo uma arte dos pobres.
A forma de pagamento de parte do custo desse elefante rosa que é a Ota é digna de patente.
Para quê ter a Marca Portugal ou o Made in Portugal?
O símbolo de sucesso do país é Made in Sócrates.
Aparentemente por módicos oito euros cada frequentador da Portela vai contribuir para construir o aeroporto da Ota.
Espera-se que, no dia da inauguração, o nome de todos os contribuintes passivos deste sonho surjam numa placa comemorativa do evento ao lado da do governante da altura que ali estiver para cortar a fita.
Cada um vai pagar um serviço que não lhe é prestado.
Não se trata de passar por uma auto-estrada e utilizar o Multibanco por causa disso.
É simplesmente a forma de transformar duas mãos vazias de dinheiro num saco de ouro capaz de construir um aeroporto.

Há problemas, é claro.
A taxa vai colocar-nos ainda mais na periferia.
Da Europa e do mundo.
Vai criar mais uma fronteira dispensável.
Coloca, também, mais um colete de forças em quem quer tornar Lisboa um destino turístico e empresarial.
A Ota é o umbigo de Sócrates.
Sonha, com ele, retirar protagonismo a Madrid.
Mas vai, apenas, aumentar a nossa condição periférica
.

Fernando Sobral

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

OTA, A OBRA DO REGIME "XUXALISTA" ...

Com pompa e circunstância, o ministro Mário Lino apresentou a obra do regime.
Não é a primeira, nem será seguramente a última.
Já tinha havido a Expo 98 - uma versão circense de obra de regime - e o Euro 2004, a mais descarada apoteose do betão.
Lino, muito naturalmente, escudou-se nos "estudos" favoráveis à construção de um novo aeroporto na Ota, da mesma forma que podia ter recorrido a outros tantos desfavoráveis à dita.
Desculpou-se com a circunstância de tudo "já vir de trás" o que é, aliás, uma "moda" recorrente nestas ocasiões.
Tirando os fãs incondicionais, não vislumbrei grandes entusiasmos.
Para a plateia empresarial e dos "negócios", Lino fingiu que a coisa é mesmo importante e indispensável.
Os espectadores limitaram-se a fingir - porque lhes convém - que acreditavam.
O trivial.
A "obra" veio aparentemente para ficar e para durar.
Acabará, se for avante, por custar aos contribuintes muito mais do que o estimado nos "estudos" financeiros, como é da praxe. E, em matéria de "impacto ambiental", não hão-de faltar prosélitos dispostos a assinar em baixo.
O extraordinário disto tudo são, salvo erro, os quatrocentos milhões de euros que Lino vai "investir" na Portela pré-defunta - nesta perspectiva obreirista -, incluindo a eventual "extensão" do Metro até lá.
Haverá porventura nisto tudo uma lógica misteriosa que a minha incredulidade ignorante não deixa entrever.
Como dizia outro dia o Dr. Mário Soares, reputado especialista em contas, "o dinheiro aparece sempre".
Parece que, afinal, tem razão.

João Gonçalves

terça-feira, 22 de novembro de 2005

OBJECTIVOS




Cada vez mais os objectivos de vida dos portugueses estão a mudar... agora são outros:

- Aos seis anos o objectivo é ter um telemóvel;

- Aos 8 é ter uma playstation;

- Aos 14 é jogar futebol num clube grande;

- Aos 18 é entrar numa universidade no curso de Consultoria sobre visões intermédias em edifícios inteligentes, mas não muito;

- Aos 22 é arranjar um emprego na função pública;

- Aos 27 é casar com uma gaja boa;

- Aos 30 é divorciar-se;

- Durante os 30's é andar a curtir a vida;

- Aos 40 é casar com uma moça que não chateie muito a cabeça;

- Aos 55 é pedir a reforma antecipada;

- Nos 60 é cuidar dos netos;

- Aos 80 é candidatar-se a Presidente da República.


Paulo Rosado da Silva

POBRE PAÍS O NOSSO...

A pior prenda de Natal

Fernando Teixeira dos Santos apresentou um dos orçamentos do Estado mais elogiados dos últimos anos, pelo esforço demonstrado na redução do défice público.

Da esquerda à direita – algumas vezes por motivos político-partidários – foram vários os economistas que subscreveram as opções constantes no orçamento para o próximo ano, apesar das dúvidas ainda por esclarecer, por exemplo, quanto à capacidade de cumprir a prometida redução da despesa com pessoal. Um item decisivo para cumprir o objectivo de corte do défice em 1,4 pontos percentuais do Produto Interno Bruto, ou seja, mais de dois mil milhões de euros em apenas um ano.

O facto é que a proposta de orçamento, de tanto ser elogiada, é um instrumento e apoio ao relançamento da actividade económica. Porque pode induzir confiança nos agentes, um facto tanto ou mais importante do que uma qualquer medida concreta. E, assim, pode contribuir para a recuperação da economia e, logo, para o cumprimento dos referidos objectivos.

O problema é que esta confiança demora a construir, mas pode desaparecer num instante.
A verdade é que as afirmações do governador do Banco Central Europeu não ajudam.
Quando o belga Jean Claude Trichet admite uma subida dos juros, não está a pensar em Portugal, mas no espaço do euro como um todo e, não sejamos ingénuos, na Alemanha em particular.
A inflação está a dar sinais de derrapagem - muito por força do aumento do petróleo - e isso obrigará a um aumento da taxa director do BCE, em pelo menos 0,25%, provavelmente na próxima semana. E não deverá ficar por aqui. Ora, com o endividamento das famílias portuguesas a um nível historicamente alto - 118% do rendimento disponível -, o resultado é quase tão fácil de antecipar como o prognóstico no final de um jogo: haverá famílias a entrar em ‘default’, o consumo vai ser menor do que o esperado e a confiança vem por aí abaixo.
As empresas, essas, estão menos expostas ao endividamento, porque o investimento já atingiu níveis baixos, mas estarão expostas à menor procura interna.

No Programa de Estabilidade entregue em Bruxelas, o Governo antecipou um cenário de risco face às previsões centrais, admitindo que uma subida dos juros de curto e longo prazo de um ponto percentual resultaria num abrandamento da economia, num agravamento do desemprego e também numa derrapagem do défice. E, logo, obrigaria à definição de novas medidas restritivas.

Hoje, é mais ou menos claro que dificilmente o Governo chegará ao final de 2006 com o cumprimento dos objectivos orçamentais - défice de 4,6% do PIB - sem novos cortes de despesa. Já era um objectivo ambicioso e que merece ser apoiado. Mas vai ter de ir mais longe.
Também por isto, declarações como as que o ministro das Finanças proferiu há dias, sobre uma eventual descida de impostos a partir de 2009, têm objectivos bondosos, mas são politicamente desajustadas.
Teixeira dos Santos já estava a olhar para o Natal de 2009, mas tem, primeiro, de saber gerir as prendas que vai receber em 2005

A. Costa

O ÂNGULO DE VISÃO

“O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos – é não termos já mesmo perguntas”. - Vergílio Ferreira, “pensar”

O Investigador fora recentemente promovido e fazendo jus à promoção, meteu mãos à obra e fez o que tinha a fazer - investigou e ouviu tudo o que havia para ouvir.

Sentado à secretária, com ar limpo e afável, o Investigador fez perguntas batidas, obteve respostas estudadas e tudo escreveu num teclado antigo de um computador lento.

A história tinha, como todos as histórias, várias versões.
Uma delas, vinda de outros tempos, mas conhecida por poucos, contava-se assim:
Era uma vez, uma região perdida, pequena e com pouca gente, que perpetuava inconscientemente rituais que remontavam aos fenícios, que para ali trouxeram o culto do touro, símbolo da força e da vitalidade.
Rituais, a que hoje chamavam a tradição, e que perduraram, passando pelas eras em que se celebrava o solstício, e pelos tempos em que, no fim do verão, após o árduo labor das ceifas, o senhor dava o bodo aos pobres, através da oferenda da carne do touro, o animal “sagrado”, que daria a energia necessária para esquecer a sua falta ao longo de todo o ano.

Durante séculos, essa gente travou prosaicamente as suas guerras e lides, fez as suas festas, contando apenas com vizinhos e amigos, caída que estava no esquecimento.

Um dia, quando nada o fazia prever, ou talvez fizesse, estranhos, com objectos não identificados, chegaram aquela terra e começaram a relatar a crueldade que ali se praticava – em pleno século XXI, os autóctones, qual bárbaros que lançavam os cristãos às feras, lançavam o touro no meio do povo e este, massa informe e ignara, dava no indefeso animal a estocada final.
Como se isso não bastasse, esquartejavam o pobre animal e comiam-no.
É claro que havia um de entre eles que se encarregava do acto bárbaro.
Todos sabiam isso.
Porém, ninguém o via nem o conhecia.

Depois, esse mesmo povo ignaro, que não sabe o que quer nem o que faz, dava uma centésima parte desse animal ao seu vizinho ou amigo, todos se deleitando no prazer da carne.

Até que um dia, se tornou preciso repor a ordem pública.
Então, outros estranhos misturaram-se entre o povo, com o fito de apanhar o vilão, o homem, sim, porque as mulheres não são para aqui chamadas, que, com faca ou canivete, ousava abater o animal.

Durante anos, repetira-se o mesmo espectáculo: o povo encarregava-se de encobrir uma corda e um pano, objectos com os quais, na altura própria, após o animal ser amarrado à mó do moinho, era lançada uma nuvem de poeira sobre os estranhos, impedindo-os de ver o que quer que fosse.
Era como se ocorresse um eclipse total do sol!
Queriam ver?!
Pois, tomem lá!
E não se pense que o povo, ele mesmo, quisesse que se soubesse quem tinha tido a audácia e a coragem ou a desfaçatez e a vilania, dependendo dos pontos de vista, que é como quem diz dos ângulos de visão, de praticar o acto.

Tanto assim que, quando o Investigador, que laboriosamente batia no teclado antigo, registando uma outra versão repetida da história, perguntou:
- Viu quem matou o touro ?
Obteve como resposta:
- Não vi.
E quando, por descarte de consciência, lançou a pergunta fulcral:
-Porquê? Não estava no seu ângulo de visão?
Obteve como resposta:
- … Não estava no meu ângulo de visão…

Assim, um ângulo de visão rematava e servia a história.
Como diz o mesmo povo: quem não quer é como quem não vê.


Joana Rita

OPINIÃO

Vai ser em Fevereiro, pela esquerda

As próximas eleições presidenciais ocupam já, com toda a naturalidade, uma parte relevante do que é notícia, opinião e comentário na comunicação social do País. Pelo que está causa e irá dirimir-se no sufrágio com datas marcadas, por controvérsias ou silêncios que se multiplicam exprimindo uma diversidade que é riqueza, mas também em função de outros factores - do privilégio que continua a conceder-se ao anedótico e instrumental à formatação bipolarizadora cujos sinais, sem dúvida, importaria sindicar nos locais e pelos meios próprios.

O espaço do debate, em si nuclear, não pode, contudo, pretender-se na terra da anomia, isto é, aí onde vale tudo e não há limite para a prosódia que desfigura, inquina, insinua sem a mínima base probatória, maltrata a verdade, atinge direitos de personalidade com a ligeireza de um rinoceronte movendo- -se sobre nenúfares. Não pode substituir-se à honradez do confronto de ideias para que a vileza e a mentira triunfem, como em certo pronunciamento reumático vindo a lume contra Manuel Alegre no fim-de-semana, nem ceder ao tropismo da suspeição, à tentativa de transformar jogos de matriz especulativa, sustentados no desconhecimento ou na desatenção polémica, num argumentário que mereça crédito e respeitabilidade.

Ignorar, por exemplo, que o candidato em apreço votou contra a sua bancada em momentos decisivos como o da derrota infligida à Lei de Segurança Interna do Bloco Central, na década de 80 - depois de um combate que também liderou -, talvez não seja de valorizar nestes contextos de tão eloquente amnésia. Todavia, extrair do que se esquece ou não sabe conclusões que municiam o arco da dúvida e da imputação acrimoniosa sobre qual a atitude que assumiria perante a hipótese de se ver confrontado com uma medida idêntica à que Blair levou ao Parlamento britânico é, no mínimo, improcedente. E percebe--se porquê Manuel Alegre fez estremecer, transferir, pelo pensamento e pelo afecto, as águas que quiseram arrumadas segundo velhas e aparentemente novas tradições. Eu estava lá, no hemiciclo, quando se travou esse combate fundamental da esquerda. Falo do que sei, sei do que falo. E tenho, na matéria, bem mais do que um testemunho para dar.

Omitir, numa tal sequência, que se opôs sem equívocos à recepção interna de normas e procedimentos condicionadores das liberdades individuais, oriundas do gabinete do comissário Vitorino - como fizera e faria ao não caucionar as sucessivas revisões da Constituição ou a Lei de Defesa Nacional -, será um detalhe, uma luz a esconder na flanela preta das conveniências e na platitude dos raciocínios tornados construções de areia. No entanto, são estes os factos que moldam uma conduta - vinda de longe, reconhecida, identificada como poucas por traços de coerência e ousadia. Sujeita, sempre e com vantagem, a escrutínio. Não a caricaturas que se constituam performações do absurdo e engenhos de cacofonia ou mistificação.

Vale a pena, depois disto, nutrir a intencionalidade polémica em torno das declarações de Manuel Alegre - salamizadas conforme os interesses, tresouvidas, postas em lume crematório para efeitos que só ao PS convêm - a propósito do Orçamento do Estado?

Ou da ignomínia de atribuir-lhe, a partir do discurso de apresentação da candidatura e das intervenções subsequentes, uma inexistente compassividade perante Cavaco Silva, o adversário por definição, aquele que se enfrenta em nome da lisura e do rigor, sem punhos de renda, ao invés de quanto o favorece, freneticismo ou diabolização, picardia ad hominem, recurso a linguagens que, rudíssimas na aparência, o excesso de (mau) uso reduziu entretanto ao estertor da pólvora inactivada?

Prefiro recordar por agora, opondo-me a qualquer lógica de escaramuças fratricidas, que há, entre quem se bate ao lado de Manuel Alegre, um objectivo fulcral e só ele se impõe ganhar em Fevereiro. Pela esquerda e uma vez mais no centro da mudança.


José Manuel Mendes

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

A BANDEIRA ELEITORAL DO PS ESTÁ BASTANTE DESBOTADA!



O sonho tecnológico

Sócrates começou por prometer o choque tecnológico.
Até agora, o único choque foi o dele próprio.
O choque transformou-se em plano, nome mais condizente com a responsabilidade governativa, mas, ao fim de seis meses, antes de as medidas verem a luz do dia, vão ficando mortos pelo caminho.
À demissão de José Tavares de coordenador da Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico, o Governo respondeu prontamente com a nomeação do economista Lebre de Freitas, figura da casa do Ministério da Economia.

Prosseguindo na estratégia de damage control, o Governo deixou vir a público o documento síntese elaborado pelo coordenador demissionário e anunciou que o plano vai a Conselho de Ministros esta semana.
Mas já nada poderá apagar a imagem destes seis meses de gestação do plano, cujo anúncio chegou a ser prometido para o final de Setembro, sem que os agentes a quem se dirigia tenham sido envolvidos nos trabalhos. Mais uma prova de que mesmo quando prega a inovação e a flexibilidade, o Estado fica refém dos piores vícios centralistas.

Embora não esteja clarificado se o que vai a Conselho de Ministros é o de José Tavares, ou a versão corrigida a partir dos vários contributos ministeriais, cujas críticas desencadearam a saída do coordenador, o que se destaca no documento é o número elevado de medidas - 166, ainda mais do que as 125 da estratégia de Lisboa, em todo o caso números bastante indigestos - e o seu carácter avulso, para não falar de que se trata em grande parte de um novo embrulho para acções já em andamento.

Se alguém alguma vez acreditou que o plano tecnológico pudesse ser mais do que um sound bite, qualquer efeito mobilizador acabou de se desfazer.

A última questão remete para a liderança do plano e a solução bicéfala adoptada, entre a tutela da Economia, com Manuel Pinho, e as dotações financeiras do orçamento da Ciência e Ensino Superior, de Mariano Gago.
A principal virtualidade do Plano Tecnológico, tal como foi enunciado no programa de Governo, era colocar a ID ao serviço da inovação e do reforço da competitividade da economia.
Deixar de olhar o crescimento da despesa em ID como um fim em si, das universidades e dos laboratórios do Estado, mas antes para a necessidade de a tornar reprodutiva, contribuindo para o crescimento da riqueza nacional.
Ora essa não é missão para Mariano Gago e se Pinho não está à altura do desafio, só resta a Sócrates fazer o que devia ter feito desde o princípio e assumir a liderança do Plano Tecnológico.

Sendo certo que fazê-lo agora será sempre uma solução de recurso porque a bandeira eleitoral do PS já não está a brilhar de nova, como na campanha eleitoral. Esta até bastante desbotada e esfarrapada.

E eis-nos chegados à triste situação de o Governo que fez bandeira do Plano Tecnológico não ter para apresentar como projectos mobilizadores senão o regresso ao betão.
Desfeito o sonho tecnológico, resta a Ota e a receita segura das obras públicas.
Que fizemos nós para merecer isto?


Luisa Bessa

OPINIÃO

O papel do primeiro-ministro

Governar um país é sempre uma tarefa difícil. Governar quando as condições são terríveis e os problemas gigantescos é quase impossível. Para conseguir alguns resultados é preciso em primeiro lugar ter um bom programa, com ideias muito claras e prioridades bem definidas. Depois é preciso ter uma boa equipa, porque ninguém faz nada sozinho. E por último é indispensável ter uma enorme coesão, para que todos trabalhem em conjunto e sejam solidários sem hesitações. A definição do programa, a escolha das pessoas e o espírito de coesão do Governo são as grandes responsabilidades do primeiro-ministro.

Este Governo foi eleito com uma maioria absoluta, porque os eleitores queriam dar-lhe todas as condições para que resolvesse os grandes problemas do país. O primeiro-ministro definiu – e bem – que os grandes problemas que haveria de resolver eram, antes de todos os outros, a consolidação das finanças públicas e a competitividade da economia. Para atacar os problemas das finanças públicas há um grande consenso sobre o que se deve fazer. Para melhorar a competitividade das empresas o primeiro-ministro elegeu a tecnologia como a sua prioridade absoluta.

Para quem queria olhar o futuro com esperança, a escolha feita para estas grandes prioridades foi muito promissora. O primeiro-ministro das Finanças escolhido era um dos melhores economistas portugueses da sua geração – o professor Luís Campos e Cunha. No que respeita à tecnologia, embora sempre houvesse muitas dúvidas sobre o conceito de um choque ou plano tecnológico, a escolha do professor José Tavares dava garantias de que um economista com um track record académico excepcional nos permitia esperar que o calibre intelectual do que se preparava nesta área nos deixaria tranquilos. Hoje, ambos desapareceram, consumidos na voragem dos conflitos internos do Governo em quem o eleitorado depositou tantas esperanças.

Campos e Cunha doutorou-se na Universidade de Columbia, onde ainda hoje os melhores académicos o recordam como um dos melhores que alguma vez por lá passou. Tavares doutorou-se em Harvard e logo a seguir foi escolhido para professor numa das melhores universidades americanas, o que é uma prova inequívoca da sua invulgar competência. Apesar deste invulgar sucesso, escolheu regressar rapidamente a Portugal e dedicar-se aos problemas do país. Aceitou o que era naturalmente uma missão difícil, com o entusiasmo de quem pensa que ainda é possível pôr a sua competência ao serviço da causa pública. Oito meses depois, duas das grandes estrelas que José Sócrates trouxe para colaborar consigo nas áreas de primeira prioridade desapareceram sem glória nem registo de obra feita.

É claro que ninguém é insubstituível. O novo ministro das Finanças é um homem sabedor e experiente. O novo coordenador do Plano Tecnológico é um economista bem formado e que fará seguramente um bom trabalho. Mas nem um nem outro têm o brilhantismo e o prestígio dos que saíram. Para quem esperava algo de excepcional nas áreas mais importantes da governação, é impossível reprimir um grande sentimento de frustração e desapontamento.

Campos e Cunha e Tavares foram sacrificados no combate político entre os vários ministros que constituem o Governo. Possivelmente não teriam o traquejo político para sobreviverem e levarem por diante as suas ideias. Perante gente muito mais experiente nas jogadas de poder e influência que são o dia a dia do Governo, não conseguiram impor as suas ideias e pôr as suas excepcionais qualidades ao serviço do país. Dir-se-ia que a política é assim, que também no Governo só sobrevivem os mais fortes, os mais habilidosos, os verdadeiros políticos.

A verdade, porém, é que quer um quer outro abandonaram as suas funções porque não receberam o apoio que o primeiro-ministro lhes poderia ter dado; porque, perante os conflitos que as suas ideias e as suas prioridades iam criando, o primeiro-ministro preferiu que eles se afastassem e fossem substituídos por gente mais acomodatícia.

Ainda restam no Governo um ou outro ministro de grande qualidade. Ficamos todos na expectativa de saber se continuarão a trabalhar pelo país e pelas prioridades da Governação ou se também eles (ou elas) serão abandonados pelo primeiro-ministro cuja primeira responsabilidade é dar-lhes condições para fazerem um bom trabalho.

António Borges

sábado, 19 de novembro de 2005

O PARTIDO SOCIALISTA NO SEU MELHOR!!!



Escutas telefónicas feitas no âmbito do «caso Portucale» surpreenderam conversas entre altos dirigentes e figuras do Partido Socialista e do CDS/PP, visando a demissão do procurador-geral da República, Souto Moura, e a sua substituição pelo jurista Rui Pereira (ex-director do SIS e secretário de Estado nos Governos do PS, e actual presidente da unidade de missão que estuda a reforma das leis penais).
As escutas em causa foram feitas ao telefone de Abel Pinheiro (dirigente do CDS e arguido no caso) e nelas surgem, entre outros, o ex-líder do CDS, Paulo Portas, Fernando Marques da Costa, conselheiro do Presidente da República, e o próprio Rui Pereira.
Nessas conversas afirma-se que José Sócrates queria substituir Souto Moura por Rui Pereira e que, ainda antes de tomar posse (aquando da sua indigitação para formar Governo), teria auscultado informalmente Jorge Sampaio sobre a questão.
Mas o PR rejeitaria, não concordando com o «timing» nem com o nome proposto.
Portas terá informado Pinheiro, dirigente com os pelouros das finanças e das relações interpartidárias do CDS, que Sócrates tinha pedido o apoio dos centristas ao nome de Rui Pereira. Este também contactou Abel Pinheiro para lhe transmitir a abordagem informal do indigitado primeiro-ministro, tendo recebido a confirmação do apoio do CDS.
Por seu turno, Fernando Marques da Costa, conselheiro do PR, discutiu várias vezes com Pinheiro a substituição de Souto Moura, chegando os dois a ponderar hipóteses de cargos fora do país para o actual procurador.
Abel Pinheiro chegou mesmo a dizer que era necessário encontrar «uma chupeta estrangeira».
Tudo isto ficou gravado e foi transcrito no processo Portucale.
Segundo o EXPRESSO apurou, José Sócrates propôs de facto ao PR, mais do que uma vez e em termos informais, a substituição de Souto Moura (cujo mandato só termina em Outubro de 2006).

In:Expresso

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

POBRE PAÍS O NOSSO...


Está aí alguém?

O desemprego deu um pulo, o crescimento económico estagnou e o Plano Tecnológico não se sente nada bem.
O retrato do país não o recomenda a ninguém.
Está abúlico, descrente, desalentado.
O Governo impôs a si próprio uma empreitada generosa: sanear as contas do Estado e reformar a administração pública.
O problema é que essa receita, sendo inevitável, corresponde a deitar meio copo de tristeza em cima de uma depressão.
Na verdade, o país desespera por sinais de confiança. Mas o que é feito do ministro da Economia?
A ideia que fica é que o Plano Tecnológico e o caso ENI submergiram Manuel Pinho, retirando-lhe a capacidade de iniciativa que as circunstâncias exigem.
Talvez Mário Lino, mais sólido do ponto de vista político, possa compensar o vazio do Executivo em sede da economia real.
Na próxima terça-feira, a apresentação do projecto da Ota é um teste à persuasão e capacidade de motivação do ministro das Obras Públicas.
Os empresários e o país precisam de ser convencidos.
Mas para isso alguém tem de falar com eles.


Miguel C.

ELE É O MESMO DE SEMPRE

Os defensores de Cavaco Silva tentam inculcar-nos a ideia de que ele melhorou consideravelmente - e, hoje, é outro. Não é. A prova foi-nos dada pela entrevista de Constança Cunha e Sá na TVI.

A lógica de certas vidas políticas, assim como a lucidez racional e o realismo da prática, que transformam a experiência em consciência, permitem-nos chegar a algumas conclusões. Os defensores de Cavaco Silva tentam inculcar-nos a ideia de que ele melhorou consideravelmente - e, hoje, é outro. Não é. A prova foi-nos dada pela entrevista de Constança Cunha e Sá na TVI.

A genealogia do antigo primeiro-ministro foi, de novo, exposta: demasiado mecânica e excessivamente linear. Cavaco não está à vontade quando o contraditam. Vem à superfície o seu carácter autoritário, a marca indelével do magister dixit, que transporta consigo a verdade irretorquível, inadmitindo toda e qualquer diferença formal.

A jornalista da TVI não alterou a combatividade incisiva demonstrada com os outros candidatos. E Cavaco Silva, pouco dado a situações desta natureza, foi titubeante, embaraçou-se, a sua fisionomia traiu os tormentos que o inquietavam, e não conseguiu dizer senão castas banalidades.

Ele ainda não entendeu, e os seus conselheiros não o advertiram, que a democracia não se limita a uma teia de relações formais e de estruturas económicas mas, sobretudo, consubstancia-se em conteúdos culturais e políticos que nos relacionam uns com os outros. A entrevista foi penosa para ele e extremamente enfadonha para nós. Notou-se, pela crispação do rosto, pelo árduo movimento das mãos, pela secura da boca o infortúnio por que passava, ante a insistência de Constança Cunha e Sá no querer saber as opiniões, e no pretender desvendar as enormes contradições contidas no discurso do candidato.

A presença de Cavaco na TVI foi suficiente para assinalarmos nele um homem inseguro, cheio de fragilidades, temente talvez a Deus mas mais, muito mais, ao debate com os homens. Foi uma linguagem redonda e melancólica na qual, por vezes, aflorava a irritação e o desconforto. Nada de nada. E a obstinação dele, em afirmar a sua «independência», longe dos partidos, e, propositadamente, de característica «nacional», constituiu impressionante manifestação de hipocrisia. Assim como a imposição da ideia de que, com ele em Belém, o Governo seria outro, porventura melhor. Pequenos truques de efeitos perversos. O candidato sabe que a Constituição impõe limites à acção do Presidente; e, a não ser que provoque um golpe de Estado constitucional, nada poderá fazer que contrarie as disposições da Carta.

Mário Soares, imbatível na discussão pública, não perde um instante em que não persevere na ideia de o desafiar para o debate. Pode-se gostar ou não do seu estilo. Não se lhe pode negar o estofo do tribuno e a argúcia do político. Aprendeu que a História está sujeita a leis do acaso e a pretextos acidentais e desenvolve-se através de vias contraditórias e aleatórias. E sabe que, em diálogo, Cavaco chega a atingir uma debilidade e uma apoquentação assustadoras. É da associação dessas componentes emocionais, intelectuais e sociais; desse perigoso conjunto de ambiguidade ideológica com uma natureza articulada no conceito empírico - que nascem os mais tenazes autoritarismos.

Aliás, num artigo inserto no «Público» (3. Nov.º), Pacheco Pereira escreve: «Percebe-se medo, não de qualquer deriva presidencialista, mas de uma presidência forte». Isso mesmo. Uma «presidência forte» faz antever quê? O próprio conteúdo da expressão não permite outro significado, e aplica-se, por inteiro, à índole do homem que foi primeiro-ministro durante dez anos, a década perdida, a década mais taciturna da história da Segunda República, a década durante a qual o dinheiro de Bruxelas entrou de roldão - e foi malbaratado.

Já o escrevi, mas repito: Cavaco mete medo, mas Cavaco tem medo. Medo das palavras, medo das interpelações, medo das perguntas, medo do debate, medo do diálogo, medo das multidões, medo das mudanças. Sobretudo medo daqueles que podem comprovar as suas medíocres qualidades para desempenhar um cargo com tradições humanísticas, intelectuais, filosóficas e culturais. Ele é o mesmo de sempre. Nunca deixou de o ser, nunca se converteu num outro.

E Constança Cunha e Sá foi a medianeira dessa terrível demonstração.

Baptista Bastos

O PARTIDO SOCIALISTA NO SEU MELHOR!

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

OPINIÃO


Manuel Alegre,o presidente que o Alentejo precisa

"Venho dizer-vos que não tenho medo
A verdade é mais forte que as algemas
Venho dizer-vos que não há degredo
Quando se traz a alma cheia de poemas"
Manuel Alegre


Venho falar-vos do homem do país azul.
Venho falar-vos do homem que sabe que o Alentejo é a última utopia.
Venho falar-vos do homem do Atlântico e da Babilónia.
Venho falar-vos do homem da Praça da Canção, do homem do Canto e das Armas, do homem da Senhora das Tempestades, do homem da Alma de ser Português Errante, do homem de Sete Sonetos e um Quarto, do homem da Terceira Rosa, do homem que nasceu no mês de Maio, o mês das rosas e fez da rosa a seu flor, o seu símbolo, a sua bandeira.
Venho falar-vos do homem que tem orgulho de dizer Pátria, de escrever Pátria, de ser Pátria como nós alentejanos sentimos Pátria a nossa terra de silêncio e solidão, de dignidade e altivez.
Venho falar-vos do homem que sabe o exacto sentido do nosso cante, que sabe viver as coisas belas e simples da vida, como nós, como todos nós.
Que não vive numa redoma.
Venho falar-vos do homem que deu a cara por tudo em que acreditou.
Venho falar-vos do homem que dá a cara hoje num acto de cidadania quando era mais cómodo ver a caravana passar.
Venho falar-vos de um homem de Cultura porque a Cultura é uma coisa bela e bonita, porque a poesia é bela e bonita e o nosso povo sabe-o melhor que ninguém.
Venho falar-vos de um homem que assume a sua condição de político como uma entrega à comunidade e não para servir os interesses instalados.
Venho falar-vos do homem que quando estudante não passou ao lado da luta pela liberdade, antes pelo contrário.
Venho falar-vos do homem que não é indiferente às injustiças sociais e não veste o fato de mandatário dos grandes interesses.
Venho falar-vos de um homem corajoso, frontal, solidário que defendeu os interesses dos seus eleitores (por exemplo no caso da co-incineração).
Venho falar-vos dum homem que encara o futuro com equilíbrio e sensatez, dum homem que sabe que modernidade não significa a subserviência da República ao estrangeiro, mas sim lançar os alicerces para possibilitar que os melhores dos nossos jovens não partam.
Venho falar-vos do homem que não abdica dos princípios e da responsabilidade cívica de inverter um situação económica e financeira de pré-ruptura que se iniciou com um primeiro ministro que não gostava de ler jornais e hipotecou o futuro do país, o futuro da agricultura e do Alentejo.

Venho falar-vos do Homem que o País precisa para o pleno exercício da cultura democrática.
Venho falar-vos do Homem que o País precisa para salvaguarda de um Estado democrático com direitos sociais e instituições ao serviço dos cidadãos.
Venho falar-vos a todos vós, a todos os que se revêem nos ideais de Abril.
Venho dizer-vos que Manuel Alegre é o Homem certo que os portugueses merecem, que os portugueses, os alentejanos precisam para lhes ser devolvida a auto-estima. Manuel Alegre na Presidência da República não será apenas uma figura meramente protocolar, de discurso pedagógico e inócuo.
Por isso venho dizer-vos que Manuel Alegre é o Homem certo para ocupar o mais alto cargo da Nação.
O Homem de Cultura, o Homem das Letras, o Homem Lutador que é Manuel Alegre dá-nos a garantia dos valores do Humanismo, da Justiça, da Solidariedade, e também da firmeza, da dignidade que o País precisa para se rever na Presidência da República, com o orgulho de ser português, com o orgulho da Pátria.
Nós alentejanos, que tanto orgulho temos da nossa origem, sabemo-lo bem.
Nós alentejanos confiamos num Homem que sabe sentir o Alentejo, que sabe que o Alentejo é a última utopia, onde nós, os alentejanos, unidos na diversidade possamos construir o futuro, possamos percorrer o caminho da felicidade, saborear o silêncio na harmonia da soleira da porta, moldada no barro milenar desta nossa terra portuguesa, a nossa Pátria Alentejana.
A felicidade, o futuro constrói-se com os sentimentos e com a razão.
Manuel Alegre sabe-o, pratica-o. Manuel Alegre é o candidato que melhor conhece o Alentejo.
Manuel Alegre será o Presidente que mais garantias nos dá a nós, alentejanos, para percorremos o caminho da modernidade mantendo a nossa Identidade.
Manuel Alegre será o melhor Presidente para os alentejanos.
Manuel Alegre será o melhor Presidente para Portugal.


Eduardo Raposo

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

MONTARGIL, QUE DESENVOLVIMENTO?


Andei no passado sábado a cavar com o motocultivador, como faço 2 ou 3 vezes por ano, com a mãe, um pedaço de terra de horta que meu pai nos "deixou".
Depois passei pela Farinha Branca, onde estavam a jogar futebol o Montargilense e o Gavionense.
Quem, é de Montargil e arredores, pode ir ao futebol sem se lembrar de que a Escola Secundária foi feita, na Lomba, no antigo Campo de Futebol "Dona Berta Courinha", com a promessa feita, há aí uns 10 anos, por Taveira Pinto, diante do António Gueterres, de que brevemente iria a Câmara Municipal de Ponte de Sor fazer em Montargil um Parque Desportivo no Laranjal?
Até agora nada.
Entretanto, se fosse feito um Campo Sintético na Farinha Branca como o de Ponte de Sôr, já era bom.


Também sei que o Instituto de Desenvolvimento Rural e Hidráulica e Associação de Regantes do Vale do Sorraia já deram autorização para a construção, a cargo da Empresa Águas do Norte Alentejano, S. A.,em terrenos do domínio público a jusante da Barragem de Montargil, da nova E.T.A.R. (Estação de Tratamento de Águas Residuais), e, até agora, nada...
Também fixei a proposta do Eng. Lizardo para a construção de um Centro de Congressos em Montargil.
Ora, se para já fossem colocados no Orçamento Municipal 25.000 Euros para restauração do Edifício da Casa do Povo, também era muito bom...

Joaquim Machoqueira