sexta-feira, 31 de agosto de 2007

AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU

O Governo resolveu apresentar um novo rosto.
Para felicidade dos portugueses, o Executivo anuncia crédito para estudantes e distribui computadores pelo País.
Generoso, Sócrates revela vocação para as promoções.
A nova estratégia do Governo passa pela lógica da grande superfície – sem sorteio, tudo para todos.

O Governo entrou na nova fase do ciclo político.
Perante o afastamento do Presidente da República e face à pressão dos resultados, Sócrates resolveu garantir a paz social.
Calculista, o primeiro-ministro conhece as exigências da Presidência da União Europeia e sonha com o Tratado de Lisboa.
A nova política do Governo passa pelo adiamento das reformas e, sem contradição, pelo cumprimento do défice.
Sem grande especulação, a política da facilidade e o prestígio internacional garantem a Sócrates um novo mandato.

Subitamente, eis que Guterres renasce com Sócrates.
Agradar e adiar foram os grandes motivos da passividade política de Guterres. Junte-se a descoordenação bem visível no exercício do Governo e o cenário repete-se sem imaginação – Portugal ou o País parado.
Afinal, onde está o animal feroz que existe em Sócrates?
Quando o desemprego atinge os 7.9% e a ETA circula impune em Portugal, o primeiro-ministro desaparece e remete-se ao silêncio.
Talvez Sócrates não seja Sócrates, mas o disfarce de primeiro-ministro é com certeza o bluff político da temporada.

Mas a passividade também atinge a oposição.
O PSD acredita que todos os problemas serão resolvidos com a eleição directa de um novo líder.
Na aparência, uma tese perfeita.
Na realidade, um precioso adiamento.
O PSD necessita de uma descontaminação.
Para os portugueses, o PSD está associado à degradação política do País.
A memória do sucesso cavaquista não entusiasma ninguém.
A promessa de poder em 2009 não convence ninguém.
O PSD habita o território incómodo da perda de identidade política. E parte dessa perda de identidade passa pela experiência governativa de Durão Barroso, pelo fugaz exercício de Santana Lopes e pela recente derrota nas eleições intercalares em Lisboa.
Sem uma real compreensão do que se passou e correu mal, o PSD limita-se a mudar de líder e a polir as setas.
Só quem enfrentar a crise terá futuro no PSD.

E enquanto Governo e oposição se esgotam na inércia do costume, os portugueses assistem com a passividade habitual.


Carlos M.Almeida

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ESTÁ ACABAR...

É costume dizer-se que a sorte dá muito trabalho.
Uma forma de temperar o excesso de determinismo com que encaramos a vida.
É verdade.
Mas há sorte e?
sorte: por muitos meios aéreos que se tenha, nada condiciona mais os incêndios que o tempo (como está a acontecer).
Por muito boa que seja a política externa, não foi ela que fez resvalar a redacção do Tratado da União para a presidência portuguesa?



José Sócrates está, indiscutivelmente, no grupo das pessoas com sorte (só rivaliza com Cavaco quando foi primeiro-ministro): a chefia do PS caiu-lhe nas mãos devido a problemas no partido; ganhou as eleições graças aos disparates de PSD e CDS; como primeiro-ministro recebeu um país farto de consensos e ávido de reformas; conseguiu um belo pacote de ajudas financeiras, da União, até 2013; apanhou uma conjuntura externa que puxa pela economia portuguesa?

Mas de repente começaram a aparecer nuvens no horizonte: a conjuntura externa está a ficar cinzenta.
Efeito da subida dos juros, pelo BCE, desde 2005 e dúvidas sobre o impacto da crise subprime
A sorte de Sócrates está a acabar?
Não é provável: o impacto da crise (de liquidez) na economia real deve ser limitado.
Além disso, se o Tratado da União for assinado em Portugal, alguém segura um primeiro-ministro elevado a estadista? na economia real (nomeadamente em Espanha, nosso principal parceiro).


C.L.

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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

PORTUGALINLÂNDIA

Os devotos do Beato orientadores de S. Bento conselheiros de Belém patronos da alta finança e beneficiários da macro economia acharam aqui há uns tempos ter chegado a hora de lançar mão ao ácido sulfúrico para expungir da Constituição e de outras leis a granel todo e qualquer resquício de direitos que lhes tolhessem a sanha exploradora do trabalho alheio.

O ímpeto com que vieram demarcar o caminho da flexigurança à portuguesa foi tal e tão destemperado que destacadas figuras da direita mais conservadora e reaccionária saíram à liça para dizer que também não era preciso tanto, que a democracia coisa e tal e os trabalhadores enfim não se pode matá-los, de tal sorte que depois do que se escreveu e disse ficou mais fácil varejar direitos argumentando que podia ser muito pior, ufe, valham-nos as boas almas.

Depois disso chegaram as férias para quem as tem e as pode gozar, nem que seja a prestações, e a flexigurança retirou-se para segundo plano enquanto o pessoal foi a banhos para as caparicas do País distraindo contragostos com castelos de areia e baldes de praia, cervejolas caracóis e frango assado, embalado pelas ondas e pelos cartões de crédito.

Ora foi justamente por esta altura que o Diário Económico (edição de 27 de Agosto) divulgou uns dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), cujos comprovam que no final do segundo trimestre do ano mais de 34 por cento do emprego em Portugal (1,76 milhões de pessoas) assentava em relações laborais precárias (contratos a prazo, recibos verdes, trabalho sazonal e outras situações instáveis).
Ainda de acordo com o INE, aquele valor é o mais elevado desde 1998, o que explica a crescente tendência para o aumento do número de pessoas com dois empregos.
Há um empobrecimento generalizado que leva as pessoas a buscarem outras fontes de rendimento. Para além disso, as pessoas sabem como é o mercado e tentam acautelar eventuais situações de precariedade, logo o perigo de cair no desemprego, diz o INE.
Na mesma notícia, Cristina Casalinho, economista-chefe do Banco BPI, diz que há cada vez mais precariedade, que no último trimestre nem sequer existiu criação de emprego, o que prova que a economia portuguesa é flexível ainda que de modo informal e que as empresas arranjam sempre maneira de manterem vínculos mais frágeis com os seus empregados.

Miguel Beleza, outro economista da nossa praça, dá uma achega explicando que as situações de emprego mais provisórias podem prejudicar a produtividade pois as empresas tendem a investir menos nas pessoas.

O Banco de Portugal corrobora: os contratos com termo estão tipicamente associados a um menor nível de produtividade.

Desconhece-se qualquer reacção a tão subversivas afirmações, donde se torna lícito concluir que analistas e fazedores de opinião ao serviço do grande patronato ainda estão a sacudir a areia dos calções ou, na pior das hipóteses, vasculham nos manuais da especialidade como explicar aos portugueses que o caminho para o modelo finlandês apontado por Sócrates passa pelo regresso ao passado do pobrete mas alegrete, é uma casa portuguesa com certeza, que mais queres tu no país do Sol onde podes andar nu, aperta aí mais um furo que é por mor da economia nacional.
Do Beato nada transpira: a mensagem está dada, Sócrates que faça o resto
.

A.F.

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UMA OBRA DE ARTE SINGULAR?

Retrato de

George W. Bush

em colagem de imagens pornográficas

Várias imagens pornográficas compõem o rosto do presidente norte-americano, George W. Bush, numa polémica colagem da autoria do artista britânico Jonathan Yeo actualmente em exposição na Galeria Lazariedes, no Soho, Londres.

Yeo, filho do deputado conservador britânico Tim Yeo, decidiu pintar esta peculiar versão de Bush depois de a Casa Branca ter prescindido dos seus serviços como retratista.

À primeira vista, o retrato parece totalmente "inocente", mas, olhando-se com mais atenção, percebe-se que os vários pedaços da colagem que "montam" o rosto do presidente norte-americano são imagens de sexo explícito, entre as quais algumas de felação.

Num comunicado, a galeria explicou que Yeo tinha sido encarregue de fazer um retrato de Bush, sem dúvida que num tom mais "oficial".

Segundo o diário "The Sun", o pedido foi feito ao pintor pela Biblioteca Bush, mas acabou por não se concretizar porque os comissários da instituição mudaram de ideias entretanto.


Apesar da negativa, Yeo decidiu continuar o trabalho, mas então com outra ideia em mente.

Seleccionou para tanto fragmentos de imagens pornográficas de mais de uma centena de publicações e juntou-as para compor a cara de Bush.

"Fi-lo por diversão, não para ofender - explicou Yeo à imprensa -, mas estou satisfeito com o resultado".

O retrato causou mal-estar nas fileiras do Partido Republicano (EUA), um de cujos porta-vozes comentou, em entrevista ao "The Sun": "Haverá quem pense que é divertido, mas pessoalmente creio que é uma montagem barata".



Lusa

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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

AS ZARAGATAS NO PSD

A zaragata no PSD não é de agora.
É de nascença.
Acentuou-se com a ascensão ao Poder do dr. Cavaco. A ausência de doutrina, de projecto, de ideologia, notoriamente exibida pelo economista, foi substituída pela disposição de retirar importância à política e promover a tecnocracia como fórmula salvadora de todos os males.
A rigidez, o autoritarismo e a flagrante carência de cultura humanística ajudaram a criar o postiço institucional que ressaltou para um povo afogado em iliteracia, propenso a crer em milagres e a entregar o destino próprio em mãos alheias.

Cronistas da época engendraram uma metáfora feroz: o homem era um eucalipto: secava tudo em redor. Houve, também, quem percebesse que o dr. Cavaco estava para ficar, dado o homem e as circunstâncias. As abjurações partidárias, as capitulações morais arregimentaram aqueles que, no fundo, sempre estiveram à venda. E as perseguições, o culto da amnésia histórica, o vazio no debate constituem indicações reveladoras da época.

Até hoje. O PSD vive de derivas e de espaços em branco enraizados na sua própria origem.
Sá Carneiro compreendeu essa malformação inicial e tentou emendá-la.
Entre a confiança estóica e a reserva céptica, admitiu o verosímil.
Alguns dos seus livros são esclarecedores, sobretudo Por uma Social-Democracia e Poder Civil, Autoridade Democrática e Social-Democracia. E, ainda há dias, no semanário Sol, Ângelo Correia, um dos que, neste país, sabe pensar sem querer agradar ao príncipe, dizia, num lúcido resumo: A maior parte das pessoas de que falamos, hoje, como elite do partido [PSD], não são barões, são uma espuma dos notáveis, são pessoas que, só por si, não arrastam qualquer espécie de voto.


O PSD sempre foi o que é: fragmentos esparsos de representações que nunca chegaram a moldar-se numa ideologia, apesar dos esforços de Sá Carneiro. E qual era, verdadeiramente, a ideologia de Sá Carneiro?
Um demoliberal na antiga tradição republicana e um republicano inclinado a eliminar os desnivelamentos, sem estar muito afastado do povo nem demasiado próximo dele.
Bom: quer se queira ou não, Luís Marques Mendes e Luís Filipe Menezes representam duas das múltiplas faces daquele partido
.


B.B.

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terça-feira, 28 de agosto de 2007

ACONTECE NO ERVEDAL


Ervedal
(Rossio | Largo da República)

31 de Agosto, 1 e 2 de Setembro de 2007
Horário | 10h às 24h

A Fundação Arquivo Paes Teles, em parceria com a Câmara Municipal de Avis e a colaboração da Universidade de Évora, vai realizar nos dias 31 de Agosto, 1 e 2 de Setembro, a I Feira do Livro sobre o Alentejo.
Esta feira temática irá, assim, incidir sobre obras e autores alentejanos,
promovendo, paralelamente, encontros com escritores, workshops, exposições, espectáculos e debates que irão promover o livro e a leitura sobre o Alentejo.



Programa


Sexta-feira, dia 31 de Agosto

10.30 – Workshop infantil
Era uma vez... Como se faz um livro. Inventar, ilustrar e imprimir uma estória.
Workshop desenvolvido pelo professor José Luís de Matos e pela ilustradora Rute Reimão.
Inscrições através do e-mail f.a.paes.teles@iol.pt ou do telefone 242465162 (limite: 15).


11.30 – Inauguração da exposição
Alentejo – exposição de fotografia.
(Org. do Clube de Fotografia de Avis)


15.00 – Sessão de Animação Infanto-juvenil
Barbatanar nas histórias por contar, por Carlos Canhoto, autor do livro infantil Barbatanar.



16.00 - Workshop infantil
Era uma vez... Como se faz um livro. Inventar, ilustrar e imprimir uma estória. Workshop desenvolvido pelo professor José Luís de Matos e pela ilustradora Rute Reimão.
Inscrições através do e-mail f.a.paes.teles@iol.pt ou do telefone 242465162 (limite: 15).

18.00 - Apresentação do livro
«O monte secou» (prémio Maria Rosa Colaço – 2006), com o autor Carlos Canhoto e o professor Joaquim Lagartixa.


18.30 - Lançamento de livro e declamação de poesia
«Água pródiga», com a autora Margarida Morgado.
(Org. Livraria Casa dos Livros)

Poetas da nossa terra, declamação de poesia popular com poetas do Ervedal.
(Org. Associação dos Amigos do Concelho de Avis)



20.00 – Teatro de Rua
António Bacalhau – Psicólogo e part time juggler, que se desloca em cima de Wanda, o seu peixe gigante de três metros. Um espectáculo com muita música e magia.
(Associ'Arte)


22.00 – Espectáculo Musical
Cante do Sul, com Rui Vaz e José Barros. Canções de viola campaniça e outras modas do Baixo Alentejo.



Sábado, dia 1 de Setembro

14.30 – Conversa sobre o livro
«A paixão de Colombo»
Todas as verdades que ainda não foram ditas. A verdadeira origem de Cristóvão Colombo, com a autora Margarida Pedrosa.
(Org. Livraria Casa dos Livros)



16.00 – Conversa com autores alentejanos
Carlos Rico e Luís Afonso, autores de «RIbanho» e Rui Cardoso Martins, autor de «E se eu gostasse muito de morrer»


17.00 – Conversa com o autor
Prof. Doutor Francisco Martins Ramos (Departamento de Sociologia da Universidade de Évora):
Das Alcunhas Alentejanas ao Breviário Alentejano
(Org. Livraria Casa dos Livros)



18.00 – Conferência
Alentejo e Património
O património artístico alentejano – breves considerações, por Daniel Giebls (mestrando em História Moderna na Universidade de Coimbra).
Património imaterial e identidade: a região Alentejo e os bonecos de Santo Aleixo, por Dulce Correia (investigadora do CIDEHUS da Universidade de Évora).


19.00 – Apresentação do livro
«Alentejanando», com o autor Joaquim Pulga.
(Org. Livraria Casa dos Livros)


21.00 – Teatro de marionetas
Bonecos de Santo Aleixo. Títeres tradicionais do Alentejo, pelo CENDREV– Centro Dramático de Évora.


22.00 – Espectáculo musical
Grupo de Cantares do Ervedal
Direcção Artística Maria do Amparo e Produções Musicais de Samuel.

Domingo, dia 2 de Setembro



15.00 – Debate
A comunicação social no Alentejo, com Francisco do Ó Pacheco (Diário do Alentejo), Manuel Piçarra (Diário do Sul), João Grego Esteves (Sul TV), Hugo Teixeira (Rádio Portalegre), António Murteira (Revista Alentejo).


17.30 – Sessão de autógrafos
«Crónicas de Beja», com o autor Francisco do Ó Pacheco, «Canto de Intervenção: 1960-1974», com o autor Eduardo M. Raposo.

18.00 – Lançamento do livro
«Etna no vendaval da Perestroika», com o autor Miguel Urbano Rodrigues.

19.00 – Homenagem a Mário Saa
Fundação Arquivo Paes Teles: o legado de Mário Saa, por Elisabete Pereira (Fundação Arquivo Paes Teles; mestranda em Estudos Históricos Europeus na Universidade de Évora).
Homenagem a Mário Saa e a outros poetas alentejanos pela Oficina da Poesia da Universidade de Coimbra.

21.30 – Espectáculo musical
Cantes d'Alem Tejo - Francisco Naia acompanhado por João Pimentel nas guitarras; Rui Curto, da Brigada Vitor Jara, no acordeão; Mário Gramaço, no Sax e flauta; João Penedo no Contrabaixo e Quiné, também da Brigada Vitor Jara na bateria e ritmos.

Mais informações em:
FUNDAÇÃO PAES TELES

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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

PONTE DE SOR PERDE UM GRANDE MÉDICO


O médico-legista José Sombreireiro, um dos grandes médicos pontessorenses do século XX, que autopsiou Sá Carneiro e Joaquim Agostinho, morreu, aos 74 anos, na Póvoa de Varzim, devido a uma pneumonia.

Natural de Ponte de Sor, o médico encontrava-se internado há três anos na Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Varzim, onde, morreu devido a uma pneumonia, contou à Lusa Grata Júlia Sombreireiro, filha do clínico.

Aposentado há oito anos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, onde foi director, José Sombreireiro foi também presidente e médico do Clube de Futebol Estrela da Amadora e da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Amadora.

Com consultório de clínica geral aberto nesta cidade até 2004, José Sombreireiro ficou conhecido como o médico dos pobres, por não cobrar nada aos mais carenciados, segundo a filha.

Em 36 anos de serviço como médico-legista, efectuou mais de 40 mil autópsias, nomeadamente a do antigo primeiro-ministro e líder do PSD Sá Carneiro, a do ciclista Joaquim Agostinho, a do antifascista Dias Coelho e a dos dois filhos de António Champalimaud.

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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

TINOS E DESATINOS DE VERÃO

O facto de o belíssimo edifício do consulado português de Sevilha correr o risco de ser entregue, por este triste Governo, ao Estado espanhol, tem suscitado alguns protestos, não tantos quanto seria desejável. Os comentadores do óbvio, os estipendiados e aqueles que aguardam, ansiosos, sinecuras, têm ignorado o assunto.

Pelo menos, não tenho dado conta das apoquentações dos agentes culturais encartados.

Ao que parece, a Região de Turismo do Algarve demonstrou interesse em transformar o edifício num posto de Turismo e, simultaneamente, na sede da Câmara de Comércio e numa loja de produtos regionais. Nada mais certo.

Os espaços publicitários que pagamos na Imprensa do país vizinho não estimulam ninguém, além de ser pouco apelativos. Mais importante do que a esmaecida criatividade desses anúncios são os artigos, as reportagens e as crónicas que o diário El Pais regularmente insere nas suas páginas.

Não é novidade para ninguém, mas convém não esquecer: a estratégia turística governamental revela-se escassa, coxa, oca e dispendiosa. A bem dizer incide, somente, sobre o Algarve, com tímidas incursões a outras zonas do País, de beleza incomparavelmente superior, e com admiráveis possibilidades de atrair visitantes nacionais e estrangeiros. E, não o esqueçamos, há aquela inesquecível ideia do ministro Pinho em criar um neologismo burro - Allgarve - a fim de querer dizer não se sabe quem quê, porque, rigorosamente, Allgarve não significa, rigorosamente, coisa alguma.

As praias do Sul atraem turistas apenas porque existem. Todavia, como numerosos técnicos de turismo no-lo ensinam, há mais Portugal e, acaso, melhor Portugal para aliciar clientela. Ao que julgo saber, o projecto da Região de Turismo do Algarve deseja alargar as suas propostas, num espírito de abertura e de entendimento profissional que só merece apoio e aplausos.

A desorganização do território deu origem à vergonhosa situação urbanística do Algarve. A situação era previsível. No final da década de 60, um grande jornalista português já desaparecido, Mário Ventura Henriques, criou, no Diário Popular, uma página semanal, Turismo e Antiturismo, na qual denunciava as anomalias, os mamarrachos e as tropelias praticadas por gente inescrupulosa na província algarvia.

São textos notáveis. E, ainda hoje, podem ser lidos com encanto e proveito. A Censura, a princípio por distracção, permitiu que fossem publicadas prosas assanhadas (como diria, hoje, o ameno Eduardo Prado Coelho), que despertavam a ira dos empreiteiros e o deleite dos leitores. A página do Mário Ventura era uma inovação iconoclástica. E, simultaneamente, um acto de coragem por ser um compromisso pedagógico, moral e deontológico.

Sei muito bem que as coisas, na Imprensa, se modificaram. E que a distanciação roubou ao jornalismo o que o jornalismo contém de mais fundamental: o exercício moral da profissão que, inexoravelmente, conduz à defesa de causas, à cidadania, e à participação do leitor como objecto de intervenção.

A partir de certa altura, a Censura retalhava, semanalmente, quase a totalidade do texto. Mário Ventura, aliás de acordo com Francisco Pinto Balsemão, escrevia, como reserva substituta, duas e três páginas a mais. Uma das críticas mais assanhadas (repito o termo, para chatear) constituiu uma reportagem que o jornalista redigiu sobre as Torres da Torralta. Ventura foi inclemente. E, apesar de os edifícios serem um projecto de um importante arquitecto, então muito na moda, o proseio não era nada ameno.

A reacção não se fez esperar. E, ao contrário do que se possa presumir, foi extremamente positiva – sobretudo pela parte do administrador principal da Torralta, Agostinho da Silva, homem de grande carácter e forte dignidade. O empresário agradeceu a Ventura e ao Diário Popular a oportunidade que lhe tinham dado de perceber o que estava errado no projecto. E acentuava: Contratei um dos melhores entre os melhores arquitectos.

Recordo estes episódios para sublinhar a importância da decisão da região de Turismo do Algarve, um pouco ao arrepio da negligência governamental. O que a move é, de certa forma, a implicação do meu próprio trabalho habitual: a correcção do que me parece inexacto, injusto e desacertado. Não sou detentor do busílis que resolve todos os problemas. Nenhum comentador o tem. Talvez me diferencie um pouco de todos os outros pelo facto de, ante a indignidade e o desmazelo, a incompetência e o arreganho da soberba, pegar logo no sarrafo e não me servir do prazenteiro aparo de letra francesa. Nada quero do Poder. Tenho numerosos amigos em todos os sectores da vida portuguesa e em todos os partidos. A nenhum pertenço. Procedi como procedi, fiz o que tinha a fazer, actuei como devia actuar em várias épocas da sociedade portuguesa. De nada me arrependo. Apenas desejei modificar o mundo. Ainda o desejo, valha-me o deus das doces esperanças!

Elogiei, publicamente, os cinco administradores do Hospital Pedro Hispano, de Matosinhos, porque resolveram abdicar do direito legal que lhes assistia, de adquirir carros do Estado, e destinar essa importância (170 mil euros) para a compra de equipamentos urgentes da unidade de neurocirurgia. Gosto de gente deste jaez e estilo. Admito que, num tempo como este, decisões do género arriscam-se a ser tomadas como ingenuidade ou demagogia. Pouco importa. Afonso Domingues foi apodado de tolo quando se colocou sob a abóbada que construía. A abóbada não caiu, a abóbada não cairá! Há, nas pessoas de bem, algo que determina os riscos que correm. Gosto de gente deste jaez e estilo. Detesto os dúplices, os de meia-cara, os coniventes, os cúmplices – que se não assanham com coisa alguma.

Alimento grande admiração por Miguel Torga. Era um assanhado e escrevia num português ignorado pela esmagadora maioria dos seus detractores. Foi um autor profuso, um escritor inconveniente, um prosador absolutamente necessário. Tinha uma pessoalíssima visão do mundo, o que o torna singular e, objectivamente, alvo de desagrados. E foi autor de admiráveis poemas, além dos intensos volumes de A Criação do Mundo, um retrato pungente da nossa miséria e do mundo rural ainda persistentes. Ele pertence a essa cordilheira da cultura portuguesa que se constrói com altos cumes e com ameadas mais baixas.

Pertence, afinal, ao que dispomos de mais asseado, íntegro e decente. Goste-se ou não.


B.B.

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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

EM PONTE DE SOR É O AERÓDROMO MUNICIPAL NO GOVERNO SÃO OS HELICÓPTEROS


Os dez helicópteros que o Ministério da Administração Interna comprou, sete dos quais já estão em Portugal, não deverão poder operar nos próximos três meses.

Os seis helicópteros pesados Kamov terão ainda que ser declarados aeronaves de Estado, através de um despacho conjunto do ministro da Administração Interna e do das Obras Públicas, e os pilotos terão que fazer o treino operacional. link

A foto acima representa os contribuintes que vivem no rectângulo, que pagam os seus impostos e que, por mais que paguem, nunca pagarão o suficiente para custear as manigâncias da corja que (se) governa.


A aquisição dos helicópteros - os tais do fantástico balde de cinco mil litros - kamov (convém recordar que nenhum país da europa civilizada comprou este aparelho) além das ilegalidades cometidas no secretismo do contrato é totalmente ruinosa no que respeita aos custos de manutenção.

A empresa russa Kamov, que vendeu a Portugal seis helicópteros pesados para combate a incêndios, vai ceder 12 pilotos para as aeronaves de modo a colmatar a falta de especialistas.

Basta saber-se que é uma sucata voadora não certificada/homolgada e que nãp pode transportar passageiros e que por isso não pode ser matriculada.
Mas a corja, sempre inventiva, decidiu atribuir-lhes matriculas do estado:


Como é possível adquirir um equipamento não certificado, com limitações de operacionalidade e de aproveitamento de recursos? Os factos, são que esta aeronave, não pode operar com matrícula civil por não estar certificada. O mesmo quer dizer que, só poderá ostentar matrícula de Estado... uma forma de contornar a lei, própria de países terceiro-mundistas .

Assim, estamos perante uma situação típica em que o barato pode sair caro, quer pelos encargos financeiros resultantes da manutenção, quer pela eventual impossibilidade de utilizar em pleno um helicóptero que poderia ter muitas outras missões para desempenhar caso possuisse as necessárias certificações. link

Contrariamente ao que afirma o ministro
do interior da administração interna quem vai pagar os aparelhos de substituição que tiveram de ser contratados devido ao atraso na entrega dos kamov são os contribuintes:

A adjudicação directa e sem concurso público do aluguer dos 10 helicópteros, por decisão do MAI, foi comunicada via fax ao final da tarde de quarta-feira às empresas envolvidas, afirmou fonte de uma das empresas.A locação dos meios foi decidida a 10 de Maio, "por se terem verificado atrasos e incumprimentos na entrega de helicópteros adquiridos pelo Estado", de acordo com nota enviada à Agência Lusa pelo gabinete do ministro da tutela. link

Esta metodologia mafiosa também foi utilizada para o concurso (criminosa e habilidosamente limitado para um único concorrente) e contrato de aluguer dos aviões beriev para esta "campanha".
A mesma metodologia mafiosa vai ser usada para o concurso de compra dos beriev (que a exemplo dos kamov não são adquiridos por nenhum país civilizado) em 2008.

Tu, cidadão vais pagar.
Vais pagar em impostos.
Vais pagar as comissões que estas negociatas geram...


L.

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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

ELOGIO DOS CINCO DE MATOSINHOS

Sabe-se o nome do responsável pela construção, em Portugal, de dez estádios - três, quatro ou cinco dos quais não servem, rigorosamente, para coisa alguma.
Parece que o azebre os invade e as ervas daninhas os espreitam, com persistência implacável.
A impunidade corre mais do que depressa.
Quero dizer, nestas modestas palavras: ninguém vai preso, ninguém é apontado à execração popular.
Até há quem seja promovido e chegue a altas funções na Nação.
A asséptica castidade dos jornalistas desportivos impede-os de comentar a pouca-vergonha. E quando a imprensa, ou parte dela, abdica de criticar, aniquila o que a fundamenta: o compromisso pedagógico.

Metade do custo desses estádios resolvia muitos problemas sociais.
Mas vivemos de programas sem memória e isentos do sentido de realidade.
A festa insone tem sido abrilhantada por políticos medianos, que substituíram a grandeza pela grandiosidade, os projectos pelas aparências.

Façamos uma equação sóbria: quantos milhões se poupariam, quantos problemas encontrariam solução plausível, acaso as frotas de carros de topo de gama dos ministérios, dos municípios, dos diversos serviços da administração pública não fossem, amiúde, substituídas?
A dieta do tenha paciência e dos sacrifícios necessários é-nos aplicada, com deliciosa intimidade e duvidosa eficácia, pelo ministro Teixeira dos Santos. Anteriormente, outros, da mesma pasta, insistiram no mesmo.
É uma inspiração sucessiva, que só toca no batente dos que andam com o coração desnivelado, incerto e aflito.

A banalidade das deficiências, a vulgaridade das injustiças, a indiferença com que acolhemos a mentira, o nepotismo, as promessas incumpridas, as fortunas alcançadas sabe-se lá como, os obscenos lucros dos bancos, as exigências agressivas - compelem-nos a receber com espanto e enlevo o que seria de admitir como normalidade.

Eis porque desta coluna modesta e vaga ergo a minha louvação aos cinco administradores do Hospital Pedro Hispano, de Matosinhos, que renunciaram a ter carro de serviço, destinando essa importância (175 mil euros, no total) à compra de equipamentos necessários à unidade de neurocirurgia.
O exame das coisas atrás ditas leva-nos a considerar que as excessivas vantagens concedidas a quem exerce o poder não são consentâneas com as dificuldades dramáticas pelas quais o País atravessa.

Claro que tudo é relativo.
Porém, há uma relatividade que não é pacífica, por exemplar. E esta atitude dos cinco de Matosinhos sobrepuja o habitual, porque o habitual tem sido o luxo perdulário do Poder.
Eles também ensinaram que as mentalidades podem ser mudadas.


B.B.

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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

OS RICOS

Acho uma prática normal e salutar a publicação anual da lista dos cem mais ricos do país. Ser rico, sem ter enriquecido por meios ilícitos, não é vergonha alguma. Ser rico, tendo contribuído para a riqueza do país, é motivo de orgulho. Nos Estados Unidos, ser rico tendo criado obra à vista, é causa de admiração de vizinhos e conterrâneos. Em Portugal, ainda é, sobretudo, causa de inveja e desconfiança. A diferença está nas mentalidades, mas está também na forma como as coisas funcionam e no papel desempenhado pelo Estado.

Para se ser rico e causa de admiração é necessário ter enriquecido numa sociedade minimamente igualitária, onde as oportunidades estão distribuídas de forma equilibrada por todos, à partida – na educação, na saúde, na habitação e condições de vida, no desporto, etc. Não é o caso dos Estados Unidos, onde cada um é deixado por conta da sua sorte ou do seu engenho, mas é o caso das democracias escandinavas e do Norte da Europa, onde a social-democracia garantiu cinquenta anos de prosperidade, justiça social e desenvolvimento cultural sem paralelo em nenhum outro lugar do mundo e em nenhuma outra época.

O nosso mal-estar perante as grandes fortunas não tem razão ideológica, mas tem razão política e muita. Nós nunca vivemos em social-democracia. Nós nunca tivemos uma sociedade equilibrada, justa e igualitária nas oportunidades. Tivemos sempre – desde o tempo das Descobertas, passando pelo liberalismo, pela República e pelo Estado Novo – uma sociedade que colocou os pobres por conta da caridade e os ricos por conta do privilégio. Numa época histórica em que um socialismo emergente, com o foco em Moscovo, se enfrentava com o fascismo de inspiração social e cristã, o Estado Novo dotou-se de uma lei chamada do Condicionamento Industrial, que lhe permitiu controlar os grandes empresários, no continente e em África, e de uma organização corporativa do Estado, inspirada na 'Carta del Lavoro' mussoliniana, que lhe assegurou a domesticação dos sindicatos e da mão-de-obra assalariada, pois que, como explicou Salazar, "não podemos permitir que o operariado se transforme numa classe privilegiada". Cada um fará do salazarismo a leitura histórica que quiser – mesmo aqueles que não o estudaram a sério ou que, tendo-o estudado, o falsificaram à medida das suas convicções políticas. Pessoalmente, desde há muito que tenho o meu diagnóstico feito, e o tempo e as leituras subsequentes só vieram confirmá-lo: o Estado Novo e o salazarismo foram, porventura, o período mais negro e mais prejudicial de toda a história de Portugal. Ainda hoje, muito do que penamos, muito do que de negativo existe na mentalidade instalada entre os portugueses deve-se à doutrinação desses cinquenta anos de ditadura retrógrada e beata. Os ricos continuam a apostar que o Estado é a fonte de todos os negócios verdadeiramente rentáveis, e os pobres continuam a acreditar que o Estado lhes deve toda a protecção e desvelo. Uns e outros foram habituados a pensar que não há lugar para a iniciativa própria, para o risco individual, para um contrato com direitos e obrigações recíprocas entre o cidadão e o Estado.

O desvario comunista dos anos a seguir a 74 serviu apenas para que uma imensa massa de desfavorecidos e ignorantes imaginasse que todos poderiam ser ricos pela simples estatização de toda a economia do país. Tal como a 'vaca soviética' de Livtchenko era teoricamente capaz de produzir mais leite do que a 'vaca capitalista', também entre nós se procurou levar os incautos a acreditar que a Reforma Agrária iria tornar o país auto-suficiente em bens alimentares, que a indústria e as empresas em autogestão e sem investimento e risco privado seriam capazes de render muito mais e que a banca "ao serviço do povo" financiaria tudo isto... com o dinheiro de ninguém.

O despertar desta bebedeira colectiva, com a necessidade premente de acorrer ao mais elementar – pagar aos funcionários públicos, evitar a fome e as falências sucessivas das empresas, garantir o crédito externo ao Estado Português – levou a restabelecer aos poucos o único sistema económico que se acreditava, e ainda acredita, ser capaz de manter o país a funcionar: o capitalismo clientelar do Estado. E, para que a revolta social fosse evitada, deu-se aos trabalhadores o reverso da medalha: uma lei de despedimentos que garante trabalho até à eternidade a quem o tem e precariedade para sempre a quem o não tem; subsídios de desemprego garantidos, não só para quem não encontra trabalho mas também para quem não quer trabalhar; reforma segura para todos, mesmo para os que não descontaram durante a vida; um sistema de ensino público que custa uma fortuna ao país e que só satisfaz os sindicatos de professores; e um sistema de saúde pública onde se gasta mais "per capita" do que na Holanda e se espera dezoito meses por uma operação urgente. Assim se regressou ao velho Portugal de sempre, com um Estado que assegura o favor aos maus empresários e a protecção aos maus trabalhadores. E que gasta a riqueza produzida e cobrada à parte saudável do país a sustentar os que vivem à sua conta.

O que faz impressão na lista dos cem mais ricos de Portugal é constatar que as suas fortunas acumuladas representam 22% de toda a riqueza do país e que o fosso entre os que mais ganham e os que menos ganham é o maior de toda a Europa comunitária a quinze. E faz impressão pensar que, enquanto os trabalhadores por conta de outrem e a generalidade da classe média e média-baixa viu os seus rendimentos subir entre zero e três por cento no ano passado, os cem mais ricos aumentaram a sua riqueza em 36%. E fizeram-no essencialmente através da bolsa – ou seja, não pelo desempenho das suas empresas, não pela criação de riqueza para o país, mas sim através da simples especulação com o dinheiro. Mais interessante ainda seria podermos dispor da lista dos cem maiores pagadores de impostos do país em nome individual, para compararmos com os cem mais ricos. Ou sabermos quanto pagaram de impostos sobre os lucros as empresas ou fundações onde se abrigam os cem mais, para compararmos com os que, vivendo apenas do seu trabalho, pagam 42% de IRS. Aí, sim, poderíamos perceber a dimensão da injustiça social e fiscal em que vivemos.

Mas, num país que alimenta essa coisa indecorosa que é o "off-shore" da Madeira (um simples território de evasão fiscal promovida pelo Estado), num país onde mais de metade das fundações servem apenas para fugir ao fisco, onde dois terços das empresas nunca declaram lucros, onde se baptiza de 'empresário' quem nunca criou um posto de trabalho nem produziu um euro de riqueza facturável, onde os gestores públicos recebem indemnizações escandalosas para saírem de uma empresa e passarem para outra e onde o Estado oferece de graça (e ainda paga os encargos) o seu maior museu para albergar uma colecção de arte privada emprestada, não é de admirar que a generalidade das pessoas não acredite na seriedade dos meios pelos quais alguns se tornaram tão ricos. É que não se pode ter tudo: boa cama e boa fama.


Miguel Sousa Tavares

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domingo, 19 de agosto de 2007

TAL COMO EM MONTARGIL - CARLOS SARAIVA CONSTRÓI ILEGALMENTE EM ALBUFEIRA

Obra em hotel de Albufeira embargada


Um hotel de cinco estrelas em construção junto à Praia de São Rafael, no concelho de Albufeira, foi embargado pela autarquia, que recebeu queixas de moradores da zona a pedir que a obra fosse fiscalizada.
A unidade hoteleira, do grupo Carlos Saraiva (CS), está a ser construída em frente à falésia de S. Rafael, a 500 metros do mar, o que motivou a preocupação dos moradores, que manifestaram dúvidas em relação ao cumprimento do alvará e alertaram a Câmara de Albufeira.
Depois de dado o alerta, em Julho, a autarquia comunicou já ter procedido ao embargo da empreitada, em Abril, porque a construção não estava a decorrer de acordo com o projecto inicial, havendo uma cave que estava a ser executada ilegalmente.

Segundo fonte do grupo CS, o embargo deveu-se a "alterações no programa funcional do hotel", que se reflectiram no aumento de áreas comuns, e não a ilegalidades ao nível dos pisos. "Algumas coisas não estavam a ser cumpridas, mas já foi entregue um projecto com as alterações, que mereceu parecer favorável das principais entidades responsáveis", admitiu, acrescentando que a questão deverá estar resolvida "daqui a uma ou duas semanas".
O grupo CS tinha protagonizado uma situação semelhante há cerca de dois anos, quando viu embargada a construção de 12 moradias em banda situadas no outro lado da rua onde está a ser erguido o hotel.


Lusa

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sexta-feira, 17 de agosto de 2007

AERÓDROMO MUNICIPAL DE PONTE DE SOR

A execução do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor, agora tornado local geo-estratégico, pista de retaguarda de Alcochete e projecto de vanguarda da engenharia financeira do Estado, pago com o herário do município, exigiu outro acerto de contas ao orçamento da autarquia para este ano.
Passado um mês da aprovação do reforço de um milhão de euros para a obra do Aeródromo, repartidos entre a 1ª e a 2ª fases, na passada reunião da CMPS de 8 de Agosto, foi aprovado mais um reforço de 575 mil euros...

Ainda é cedo para o balanço das contas, mas que o projecto promete...
Onde é que nós já vimos isto?!

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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A PALREAÇÃO

Em entrevista ao Diário Económico, Mário Soares reanimou esta semana o perfil de esquerda que meticulosamente retoca desde que deixou de praticar activamente a política de direita, nos seus já longínquos tempos de governante.

Primeiro, debica no Governo de José Sócrates, a quem adverte que as pessoas «não protestam só porque os sindicatos as empurram» e que «vêm para a rua porque sentem os seus postos de trabalho em causa ou porque a saúde, educação, justiça e reformas os preocupam», pelo que «chegou a hora de tranquilizar as pessoas».

Depois, branqueia com bonomia a ofensiva brutal de José Sócrates contra a generalidade dos direitos socio-económicos conquistados com a revolução de Abril, aplaudindo nomeadamente «os dois anos de Governo» que «tiveram como objectivo reequilibrar as finanças públicas».

Mas onde Soares se esmerou foi «quanto ao autoritarismo» do Governo de Sócrates, onde «houve episódios desagradáveis, que foram muito empolados», concedendo «que devem ser evitados e corrigidos» mas advertindo, do alto da sua tremenda autoridade de antifascista encartado (mas não muito encarcerado, isso era para os comunistas), que «falar de bufos e denúncias, hoje, é usar terríveis nomes para pequenos abusos – desagradáveis, mas sem significado».

«Pequenos abusos» é como Soares vê, hoje, saneamentos arbitrários na Função Pública perpetrados por chefias despóticas, cuja ética assenta na subserviência às tutelas ministeriais que exibem, elas próprias e sem pudor, uma concepção ditatorial do poder, como flagrantemente se tem evidenciado em diversos ministérios e sob indisfarçável beneplácito de José Sócrates.
«Episódios desagradáveis» é como Soares classifica, hoje, o caldo de cultura que esta actuação instalou, em apenas dois anos, na imensa máquina do Estado, onde o poder se transformou num instrumento de pressão, a denúncia anónima em respaldo para castigos administrativos, a bufaria num acto valorizado pelos responsáveis políticos, a crítica ao poder num crime com castigo, o medo de represálias hierárquicas em quotidiano nas repartições, o silêncio na melhor defesa.

Tal como no fascismo, por muito falhada que esteja a memória de Mário Soares.
O facto de este caldo de cultura ainda não ter engolido os direitos, liberdades e garantias conquistados com Abril – como Soares também argumenta, classificando de «má fé» e «erro grave» «comparar os dois sistemas» - só mostra uma coisa: que Sócrates ainda não teve tempo nem meios para chegar aí, embora a concentração de poderes policiais e investigatórios que passou para as suas mãos configure um bom esforço para lá chegar, a par das tentativas para governamentalizar a Justiça ou controlar o jornalismo.

Há uma curiosa coincidência, nesta intervenção de Soares, com a publicada há três semanas por Manuel Alegre, que tonitroava estar ali «contra o medo e pela liberdade» para garantir, ao longo de três páginas, que «não é legítimo falar de deriva autoritária» no Governo de Sócrates, já que o medo – que reconhece existir actualmente – não resultará da acção governativa, mas «da inexistência de uma cultura de liberdade individual» em Portugal (portanto, o responsável pelo clima de intimidação promovido pelo Governo é... o próprio «povo português»... Alegre no seu melhor).
Mas não é só coincidência. Mais uma vez estas duas «referências» do PS regressam com a «palreação de esquerda» para absolver a política de direita do seu partido.

Henrique C.

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quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O ELEITO

Do varandim saúda a multidão

Que em baixo rejubila coa vitória.

Quantas mentiras! Quanta falsa história!

O preço pra vencer a eleição.




Povo infeliz não vota em quem é são

E o voto da vitória vem da escória.

Povo infeliz de tão fraca memória


De que o poder reflecte a podridão.



No poder, como é fácil esquecer

Tuas promessas cínicas de esquerda

Com que salvaste o coiro de perder.



Mas não estranhes, também, que quem não herda

O prometido te venha dizer:

Raios te partam, mentiroso de merda!

REXISTIR

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TORGA: ESQUECIDO E PRESENTE


Ainda bem que o Governo esteve ausente nas homenagens a Miguel Torga. O Governo não tem nada a ver com Torga. E, se pouco tem a ver connosco, nada tem a ver com a cultura.
O Governo desconhece que a cultura é um dos interesses da política e que a política é uma disciplina da cultura.

Embora ajam em esferas diferentes.
Um político inculto possui algo de deformado. E um homem culto que se diz indiferente à política revela amolgadelas de carácter: mente porque, em rigor, defende pareceres desonrados.
O Governo não se lê porque não lê
.

Para actuar em consonância com a ética da cultura seria necessário que pensasse culturalmente.
Não dei conta de nenhuma manifestação de desagrado, por módica que fosse, daqueles destemidos intelectuais, apoiantes discretos ou descarados deste Executivo.
Aguardam benesses e sinecuras, atenções.

Há ministros e adjacências que, habitualmente, fazem parte de júris de prémios, e para atribuição de bolsas; são comissários de feiras e de embaixadas culturais; designam adidos; decidem sobre quem vai ou não, aqui e acolá, representar a cultura portuguesa; os escolhidos pertencem sempre ao mesmo grupo, dispõem de idêntico sainete, cortejam iguais gostos, nomeiam os mesmos autores.
Nada de correr riscos desnecessários.

Os destemidos intelectuais são brandos, cuidadosos, cautos, prevenidos.
Também eles nada têm a ver com Miguel Torga, que nada teria a ver com eles.
São paixões em tudo opostas, desordens do espírito só explicáveis pela natureza abúlica de uma gente que embaça e desacredita, moralmente, os testamentos herdados.

Observamos os nomes destes cúmplices no silêncio e certificamos que traíram os antecedentes, sem os substituir ou sequer lhes suceder.

Os contemporâneos de Torga eram: Aquilino, Tomaz de Figueiredo, Jorge de Sena, Nemésio, Pessoa, Pascoaes, Miguéis, Almada, Raul Brandão, João de Araújo Correia, Ferreira de Castro, Régio, Casais Monteiro, Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca, Domingos Monteiro, José Gomes Ferreira, Armindo Rodrigues, Eugénio de Andrade, Sophia, Redol, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Irene Lisboa, Maria Judite de Carvalho, Abelaira, Mário Dionísio, Namora, José Cardoso Pires.
Foram estes que, em diversos momentos, reafirmaram o perfil da pátria medular e cívica.

Em meados dos anos de 60, Jorge Amado, de visita a Portugal, encontrou-se com Ferreira de Castro, amigo de sempre. A RTP quis fixar o momento.
Com altiva dignidade, Castro apostrofou: A televisão, que ignorou Mestre Aquilino, não me filma, certamente, porque a proíbo!


Esta gente era a minha e a nossa gente.

B.B.

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'LE STYLE EST L'HOMME'

José Saramago propôs recentemente uma união política entre Portugal e Espanha. Não é por considerar que não temos uma identidade nacional, com todos os seus traços característicos no espaço e no tempo, como a história, a geografia, a língua, a cultura, as tradições, a consciência colectiva. Ele mesmo diz que manteríamos todas as nossas especificidades, ressalvadas as alterações decorrentes dos aspectos políticos envolvidos por essa união.

Não é por se filiar no iberismo mais do que ultrapassado do século XIX, e muito menos por nostalgia das veleidades alimentadas pelas coroas de Portugal e da Espanha, entre finais do século XV e meados do século XVI, de cada um dos reinos anexar o outro em razão de alianças matrimoniais com vocação para a sucessão dinástica. Nada disto o impressiona e, que eu saiba, não é entusiasta da dinastia filipina.


Não é por entender que somos mais fracos, mais pequenos, mais pobres, mais atrasados e mais incultos. Se fosse, teríamos de sustentar uma concepção darwiniana baseada na dominação do forte e do poderoso, como facto consumado, sobre o fraco e o desprotegido. Mas isto estaria em flagrante contradição com as posições políticas que ele tem tomado em relação a Cuba, à Palestina, às ex-colónias, etc., etc.


Não é por propugnar um capitalismo apátrida, para o qual não existem povos nem fronteiras, mas apenas lugares onde a mão-de-obra é mais barata e para onde tende a alastrar uma maior exploração dos trabalhadores, com fins de lucro ganancioso por parte das multinacionais intervenientes no processo. Sempre foi contra isso.


Não é por pretender legitimar que o capitalismo e o patronato espanhóis tomem conta de Portugal. Teria perdido a lucidez, se o fizesse.

Não é por uma questão de modelo político-constitucional. Que se saiba, Saramago não é monárquico, sendo a Espanha uma monarquia hereditária, e nunca se apresentou como defensor de um, nesse caso, inevitável centralismo madrileno.

Não é por ser partidário das democracias representativas de modelo europeu ocidental de que tanto Portugal como a Espanha são exemplos bem sucedidos. Nunca o foi.


Não é por apoiar a nossa integração na Europa. Até publicou A Jangada de Pedra quando Portugal e a Espanha aderiram à Comunidade Europeia, para acentuar a sua concepção de um destino terceiro-mundista para os dois países ibéricos.


Não é por estar de acordo com a livre circulação de pessoas, bens e serviços no espaço europeu, nem por se identificar com o modelo da União Europeia, quer na forma actual, quer na forma federal, quer na de uma Europa das regiões governada por Bruxelas em última instância. Nunca divergiu das posições do PCP em tais matérias.


Não é por pensar a sério que Espanha e Portugal, juntos, fariam uma unidade política mais forte no plano internacional. Perderíamos no equilíbrio entre os dois países e ficaríamos diluídos e diminuídos nas instâncias europeias. O peso da Espanha seria reforçado e o de Portugal neutralizado.


Não é por viver habitualmente em Espanha ou por lá ter casado. Façamos-lhe a justiça de considerar que ele nunca seria capaz de invocar tais razões.


Não é por ser ingénuo. Nunca lhe passará pela cabeça que a população portuguesa, em referendo, viesse dizer "sim" à união.


Saramago sabe que nem com uma engenharia das almas, nem com uma engenharia social ou política ditada pela fria racionalidade da sua própria lógica, o resultado de que fala seria atingido.

Se ainda acredita numa revolução pela cartilha marxista-leninista, poderia pensar-se que, não vendo maneira de acabar com a democracia burguesa na Europa, esta sua construção não só desenharia o fim da independência de Portugal e ainda, ipso facto, o do regime em que vivemos, como implicaria também a queda da monarquia espanhola... Mas essa seria uma outra forma de ingenuidade da sua parte.

Parábola então? Sim. Como já tive ocasião de dizer à TVE, creio que este será o tema de um dos seus próximos romances. "Uma vez que é insustentável, só um Prémio Nobel poderá tentar transformá-lo num exercício de estilo que valha a pena ler. E sabemos, desde Buffon, que le style est l'homme même."

Vasco Graça Moura

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terça-feira, 14 de agosto de 2007

PONTE DE SOR, PERDE A PRINCIPAL FESTA RELIGIOSA DA CIDADE

A padralhada de Ponte de Sôr

elimina a festa de

Nossa Senhora dos

Prazeres

em Ponte de So
r

e acaba com uma tradição de

séculos

«Festa de Nossa Senhora da Assunção
É no próximo dia 15 de Agosto que a Igreja Católica Celebra a Festa de Nossa Senhora da Assunção. Maria foi glorificada na Glória. Com Ela é glorificada a Igreja. Esta festa litúrgica tem um significado muito especial para a Igreja. Nossa Senhora da Assunção não pode ser substituída por Nossa Senhora dos Prazeres. É a mesma Mãe de Deus mas com um título diferente e um mistério particular. A Comunidade de Ponte de Sor vai celebrar a Mãe de Deus, na Sua Assunção ao Céu, com o seguinte programa


Dia 14: Vigília da Assunção . A Missa vespertina será no largo da Santa Casa da Misericórdia, às 21h00.
Segue-se uma procissão de velas em honra de Nossa Senhora da Assunção com a sua bela imagem. O percurso é o seguinte: Santa Casa da Misericórdia, Rua Damião de Góis para a Zona Ribeirinha. Sobe a Av. Marginal até à Rua Luís de Camões. Na Av. da Liberdade, desce pela faixa direita até à Igreja Matriz onde termina.

Dia 15. É feriado e Dia Santo para a comunidade dos crentes. Ao meio dia (12h00) teremos a Eucaristia comunitária. Maria na Glória do Céu é sinal que antecipa a futura cidade celeste. Ela é a base segura da esperança que anima todo o Povo de Deus na sua caminhada para a Pátria celeste. Maria elevada ao Céu em corpo e alma constitui para todos nós garantia da Ressurreição futura e da vitória do bem sobre o mal.»

Ecos do Sor,

7/Agosto/07,
Nº1335

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segunda-feira, 13 de agosto de 2007

SOMOS UM PAÍS EXTRAORDINÁRIO

De fora, dando descanso à cabeça e ao computador, lendo despreocupadamente os jornais à beira-mar, dou-me conta de como, em vários aspectos, somos mesmo um país extraordinário, daqueles que, não existindo, teria de ser inventado.

Os sinais desta singularidade abundam mesmo nas páginas da imprensa de Verão – onde, supostamente, nada mais há para contar do que o vazio de notícias da estação. O mais fantástico exemplo é, sem dúvida, o da nova ponte sobre o Tejo, chamada ponte da Lezíria. Há milhares de anos que a humanidade sabe que uma ponte serve para passar por cima mas também para passar por baixo. Nós, porém, somos excepção: só depois da ponte estar feita e inaugurada é que as forças vivas locais e os utilizadores de barcos no rio descobriram que a ponte não dá passagem a barcos, porque é baixa de mais. Estiveram ali anos a vê-la ser construída e nunca pensaram no assunto antes de a verem pronta. Agora, todos reclamam e exigem uma solução(?).

No mesmo sector das obras públicas urgentes, temos também o caso do novo terminal do aeroporto da Portela, baptizado de Terminal 2, e onde se gastaram milhões em obras inadiáveis de um aeroporto que, oficialmente, só tem mais uns anos de vida. Pois o terminal lá ficou pronto para facilitar a vida a todos e servir melhor as ligações internas. Mas, ao fim de quinze dias, a insuportável e tradicional espera pelas malas que caracteriza o aeroporto da Portela, ficou pior do que nunca e, no Porto, chega a atingir horas de espera. Explicação simples e eloquente do responsável da empresa de handling dos aeroportos: a inauguração do Terminal 2 não correu bem. Eis como a solução se transforma em problema.

Mais obras, públicas e privadas – ou tudo à mistura, como também acontece. O primeiro-ministro foi ao Algarve anunciar mais sete megaprojectos imobiliário-turísticos, os quais, segundo acusação do eng.º Macário Correia, determinaram o adiamento da entrada em vigor do PROTAL, o plano de ordenamento do território aprovado pelo próprio Governo: é que, à luz das normas do plano, e se este já estivesse em vigor, os projectos não poderiam ser aprovados, nem como PIN. Assim, movido pelas melhores intenções, o Governo dispõe-se a pôr alguma ordem no desenvolvimento do Algarve. Mas, movido por ainda melhores intenções, trata primeiro de aprovar aquilo que possa contrariar as suas próprias leis. Na ria de Alvor, uma das raras paisagens naturais ainda preservadas de Portugal, o primeiro-ministro deleitou-se a ouvir sete empresários chegarem-se sucessivamente ao microfone para elogiar a grande compreensão demonstrada pelo Governo em prol do desenvolvimento. E, imaginando já uma paisagem PIN, semeada de hotéis, golfes, vivendas e milhares de camas, onde antes só havia verde, Redes Natura, habitats protegidos por directivas europeias e obstáculos quejandos, José Sócrates contemplou este Portugal do futuro e, embevecido pela sua visão, exclamou: Haverá sempre quem faça críticas, mas é disto que o país precisa!.

Dias depois, como relatava o Sol, o primeiro-ministro que jurou apostar num desenvolvimento baseado na qualificação e na excelência, reuniu-se em segredo com os grandes clientes das obras públicas (justamente alarmados com as críticas crescentes à Ota e ao TGV), para em conjunto estudarem novas parcerias para aquele que é será sempre o único verdadeiro cluster da economia portuguesa: as obras e encomendas públicas. O Governo encomenda, os bancos financiam, os escritórios de advogados do sistema fazem os contratos, as construtoras constroem e os contribuintes pagam. O país está cheio de porsches e ferraris que saíram directamente do nosso bolso para ajudar a desenvolver Portugal.

Vejamos agora o extraordinário folhetim vivido no maior banco privado português, onde há quase trinta anos uma plêiade dos melhores bancários do país se esforça para que lhes seja reconhecido o estatuto de cavalheiros da finança e dinheiro velho. Depois de um ano gasto a arrastar uma OPA, arrogante e precipitada, sobre um concorrente mais pequeno, o grande viu o mercado saudar o fiasco da OPA com a valorização das acções, mostrando aos administradores de que lado estava a razão e o bom-senso. Depois de jurarem publicamente que a culpa do erro não morreria solteira, eis que se lançam uns contra os outros, numa pura guerra pelo poder interno que, no espaço de um mês, já fez perder 15% do seu capital aos accionistas e onde o nível dos golpes e contragolpes com que se digladiam e as assembleias gerais em que se enfrentam deitam por terra os milhões gastos em publicidade para construir uma imagem de respeitabilidade ao longo dos anos. Por ironia do destino e da legislação que o permite, o pequeno banco opado e vencedor da OPA surge agora em posição de poder contribuir decisivamente para determinar os destinos do grande e nos mentideros comenta-se que, no futuro não muito distante, é capaz de ser o pequeno a engolir o grande. E alguém, porventura, se lembra de perguntar aos clientes e aos pequenos accionistas desta sagrada instituição bancária o que pensam eles de tudo isto e da imagem que o banco dá de si mesmo?

E termino com as aventuras estivais do maior partido da oposição. Subitamente engajado numa disputa interna pelo poder (cuja oportunidade ninguém entende, a não ser pelas razões à vista e essas hão-de continuar por muitos anos), o PSD descobriu que os seus destinos podem ser determinados pelo voto dos militantes da Madeira e não pelos do continente, que são, todavia, imensamente mais. Parece que uns pagam quotas e outros não, que uns estão registados e devidamente controlados e os outros não, que uns são militantes e os outros simples diletantes – ou, mais simplesmente, porque só há militantes quando há poder. E como para as directas o que conta é o voto dos militantes e já não o dos seus representantes, quem tiver a Madeira tem o partido. E, para ter a Madeira, é preciso, claro, ter o consentimento do dr. Jardim. E por isso vimos o candidato a primeiro-ministro, dr. Marques Mendes, sujeitar-se à humilhação mais chã, naquela manifestação alcoólico-partidária única nas democracias, que dá pelo nome de Chão da Lagoa. Sinceramente, tive pena dele: há maneiras mais edificantes de um candidato a primeiro-ministro se suicidar politicamente.


Miguel Sousa Tavares

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sexta-feira, 10 de agosto de 2007

CONSTRUÇÕES NA ALBUFEIRA DE MONTARGIL ...[XX]

COM LICENÇA
A novela em torno da Albufeira de Montargil/Grupo Carlos Saraiva tem novos episódios.
Perdoem-me a insistência, mas, a sequela que foi apresentada na edição de 18 de Julho do Semanário Económico, assim exige a partilha de mais algumas reflexões.

A reportagem na dita edição, decorre de uma entrevista ao Eng. Carlos Saraiva, o rosto visível dos vários investimentos turísticos previstos e a decorrer junto à Albufeira de Montargil.
A sua leitura comprova e reforça a visibilidade do uso e abuso dos normativos legais decorrentes do Plano de Ordenamento da Albufeira de Montargil, do regime da Reserva Ecológica Nacional e da Rede Natura 2000.
Provavelmente, para quem leu e conhecendo de antemão o teor do parecer emitido pela CCDR Alentejo ou dos comunicados do presidente da Câmara Municipal, o conteúdo da reportagem não trouxe nada de novo. Adoptando ainda os termos novelescos, verifica-se neste apanhado de prosa jornalística que, semana após semana, há um interessante e curioso enredo: as nervosas e estridentes observações do presidente da câmara que diz que o Grupo CS se entusiasmou e construiu mais que a conta, a incomodada e pausada postura do Sr. Vereador Almeida Coelho que diz serenamente que tudo se irá resolver e as citações do Eng. Carlos Saraiva em que “reconhece irregularidades em alguns projectos”. Pelos vistos e pelo à-vontade nos argumentos do presidente do Grupo CS, é recorrente o sistema adoptado para vários projectos seus.
Logo no início da peça, é referido que «resolve as “irregularidades” com um projecto de alterações» e reconhece, sem problema, que a obra de construção [na zona de protecção da Albufeira de Montargil, a poucos metros da água e em Rede Natura 2000] é “ilegal mas licenciável”.
Com que direito?


Que ramificações se tecem neste diagrama de relações público-privadas, empresariais, institucionais e de poder, para fundamentarem tamanhas certezas?

O investimento turístico que o presidente da Câmara foi anunciando cirurgicamente antes das eleições autárquicas de 2005 e que apadrinhou feito seu, agora, perante tamanho imbróglio de processos de licenciamento mal resolvidos, põe-se de parte a ver no que dá, porque, afirma, a competência é de outro ou de outros que não o próprio.

Não estamos perante um grave atentado ambiental, reconheço. Mas as regras são para se cumprirem, pois se um qualquer outro cidadão se “entusiasmar” com os índices de construção aplicáveis, ou adoptar um sistema de licenciamento invertido em que começa com a construção antes das papeladas aprovadas…
Como se vão tratar os antecedentes processuais (e os futuros processos, obviamente) dos licenciamentos de proprietários de terrenos localizados junto à Albufeira de Montargil, com justos condicionamentos de protecção da paisagem natural, quando quiseram e quiserem fazer a ampliação de um edifício existente ou construir uma área para apoio agrícola, ou um alpendre junto à habitação, ou uma piscina?...

Já agora e antes de terminar, precavendo ou evitando qualquer nova vaga de comunicados pejorativos do presidente da Câmara de Ponte de Sor: sou membro do PCP, ambientalista, ecologista e quero (muito) o desenvolvimento do meu concelho.

João Pedro Amante,
in Jornal A Ponte,
ed. Agosto.2007

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