sexta-feira, 30 de maio de 2008

HÁ COISAS FANTÁSTICAS NÃO HÁ? [II]

Deambulando ociosamente pela Net para tentar saber quantas vezes terão aumentado hoje a gasolina e o gasóleo, dou com uma inesperada notícia da LUSA a Comissão Europeia aplicou uma multa de 8,6 milhões de euros à GALP por concertação de preços com, entre outras, a BP e a Repsol.


Mas então, pergunto-me, os aumentos mais ou menos simultâneos dos preços dos combustíveis não são, afinal, coincidência?
Estarão GALP, BP e Repsol combinadas para, como diz a comissária europeia da Concorrência, Neelie Kroes, enganar os consumidores, as autoridades e os contribuintes?
E, espera lá, não é só terça-feira que a Autoridade da Concorrência revelará os resultados da investigação sobre a concertação de preços que não há entre as petrolíferas para enganar consumidores, autoridades e contribuintes e serem todas felizes nos negócios ao mesmo tempo?
Só depois reparo que a notícia é de Outubro do ano passado e se refere a um cartel que, durante 12 anos, partilhou o mercado e combinou os preços do betume para asfalto em Espanha.
Uff!
Por pouco perdia a inabalável confiança que tenho na honestidade comercial da GALP, BP e Repsol!
Afinal foi em Espanha.

Estou certo que GALP, BP e Repsol não fariam uma coisa dessas em Portugal.
E que, se fizessem, nunca se descobriria
.

M.A.P.

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HÁ COISAS FANTÁSTICAS NÃO HÁ?


UE multa Galp, BP e Repsol por concertação de preços...

...Em Espanha.


P.S.

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quinta-feira, 29 de maio de 2008

PERGUNTO AOS SOCIALISTAS


Acham que este governo está a governar bem?
Acham que resolveu algum dos problemas estruturais do país?
Acham que há maior equilíbrio entre o litoral e o interior?
Acham que há menos corrupção e tráfico de influências?
Acham que temos tido desenvolvimento económico e social?
Acham que sectores-chave como a educação, a justiça e a saúde melhoraram?
Acham que os portugueses estão a viver melhor do que estavam?
Acham que se atenuaram as desigualdades sociais?
Acham que melhoraram os indicadores de pobreza?

Meus amigos, em consciência e honestamente, não podem responder afirmativamente a nenhuma destas perguntas. Por isso vos deixo uma última questão: por que motivo hei-de votar novamente no PS?


ELEITOR PS MUITO DESILUDIDO

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quarta-feira, 28 de maio de 2008

O HEDIONDO SORRISO

Portugal está cheio de fome: de justiça, de cultura, de instrução, de governo, de esperança - e fome de comer.
Os números são assustadores.
Gente com a autoridade moral de Isabel Jonet e Bruto da Costa advertem-nos para a iminente catástrofe, não apenas consubstanciada em agitação e confronto, mas, também, na irremediável perda dos laços sociais.
O imperativo de consciência determina que nunca actuemos de forma a ausentarmo-nos das regras legítimas da socialização.
Este Governo tripudia sobre essas regras.

Há dias, no Parlamento, assistimos a um episódio repulsivo: ao sorriso escarninho de Sócrates, quando Santana Lopes se referiu ao problema da fome em Portugal. Independentemente do que possamos pensar das duas personagens, concentremo-nos no facto em si. Sócrates perdeu, em definitivo, o perfil de homem de Estado. Não respondeu, esgueirou-se numa retórica fatigada e fatigante - e sorriu, como se o problema lhe não dissesse respeito, e o Governo não fosse o fundamental instrumento da mediação.

Aliás, o primeiro-ministro está a ausentar-se, cada vez mais, dos conflitos e das explicações que nos deve sobre a sua origem e causas. Coloco à margem deste texto as mentiras, as omissões, o incumprimento de promessas, a celeridade com que se desdiz. Mas relevo a extraordinária decisão de não se envolver na questão dos combustíveis, sob a grotesca legenda de que o mercado está a funcionar.

Não subscrevo a grosseria de Santana Lopes quando o apelidou de socialista de meia-tigela; mas aceito qualquer outra declaração sobre o facto de que o homem não é socialista nem tem nada a ver com socialismo. Falta-lhe grandeza, educação social e política, sensibilidade, falta de prospectiva, capacidade de criar uma relativa igualdade entre as pessoas, admissão das razões do outro - transparência sem ambiguidade e clareza sem ambivalência.

Pouco ou nada sabemos do que se passa em Portugal e muita coisa se passa fora do alcance do nosso conhecimento. O DN de anteontem assinalava que o sinistro Jean-Pierre Bemba, antigo alto dirigente da República Democrática do Congo, e acusado de crimes contra a humanidade, vivera, durante um ano, numa residência na Quinta do Lago, custodiado por um dispositivo de segurança da PSP. Ao que parece, a protecção fora apadrinhada por Durão Barroso. O ministro dos Estrangeiros falou - e nada disse. É na própria variação dos incidentes que se estabelece e se desenrola uma relação. A mobilidade entre a distância e a proximidade dos factos fornece-nos o retrato político, social e moral dos protagonistas.

A diferença entre a expressão legítima de um socialista e a conduta de quem se diz tal, torna claros os arbítrios sob os quais temos vivido. E muito nítidos os hediondos sorrisos de Sócrates.


B.B.

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segunda-feira, 26 de maio de 2008

APELO...

Vamos fazer a diferença!
Isto tem que começar por algum lado!
Vamos passar a palavra e não ser indiferentes,
temos que fazer com que as coisas mudem!
A subida vertiginosa do preços dos combustíveis
tem que parar e temos que fazer com que baixem!

Para tal vamos combinar três dias nacionais seguidos de

NÃO ABASTECIMENTO NA BP, GALP!

Esses dias serão o 1 - 2 - 3 de Junho de 2008!

VAMOS FAZER A DIFERENÇA!


Juntos teremos força para baixar
os lucros destes gigantes!
Agora é só passar a palavra com urgência!
Estou farto de ser levado na hora de pagar!
CHEGA!
SEJAMOS UNIDOS PORTUGUESES
E TODOS OS QUE TENTAM
SOBREVIVER EM PORTUGAL!

NÃO ESQUEÇAM
1 - 2 - 3 de JUNHO de 2008

Não Abasteçam na


BP,

GALP!


Recebido por e-mail

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ATÉ QUANDO? .... PAGA, ZÉ!





Henrique Monteiro

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DESIGUALDADE & HIPOCRISIA, S.A.

Governado há três décadas por partidos com social no nome (Partido Socialista, Partido Social-Democrata, Centro Democrático e Social), Portugal é o país da UE onde é maior a desigualdade social.
O actual governo socialista desmentiu apressadamente a constatação, divulgada pela Comissão Europeia.
Que não, que isso foi em 2004; porque, em 2006, a Letónia bateu o vergonhoso recorde e já é uma sociedade ainda mais desigual que a portuguesa.
É neste quadro, em que não há ainda mais pobres porque os impostos servem para subsidiar muitas famílias, que o presidente da GALP deita para os impostos a culpa de os portugueses pagarem os combustíveis tão caros.
Ferreira de Oliveira conta que sejamos também os mais estúpidos da Europa e ignoremos que, antes dos impostos, Portugal já tem combustíveis muito mais caros que a média europeia (0,628 euros contra 0,601 no gasóleo e 0,545 contra 0,524 na gasolina).
O que, acrescentado ao facto de a GALP e mais petrolíferas pagarem, em Portugal, salários 50% inferiores à média da UE (11 euros/hora contra 25,1 na UE a 15 e 20,4 na UE a 27), explica os seus escandalosos lucros (1,2 milhões de euros/dia só a GALP).
Não somos apenas o país da Europa onde a desigualdade é maior, somos ainda aquele onde é maior a hipocrisia.

M.A.P.

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sexta-feira, 23 de maio de 2008

ESTA GENTE NÃO DIZ NADA DE NOVO

A dr.ª Manuela Ferreira Leite não voga em ondas amenas. No seu partido, as divisões, dissensões e embaraços, além da intriga, são assinaláveis. Em público, o extraordinário Santana Lopes diz que a senhora é deprimente.

A afirmação não só é dura: é rude e cruel, mais pelo que insinua do que pela qualificação psicológica. Santana ainda acrescenta umas picardias, acaso movido pelo ressentimento e na busca de uma espécie de acerto de contas. Não consta que José Pacheco Pereira, tão lesto em criticar os primeiros planos da candidata, na excelente entrevista que Judite de Sousa lhe fez, na RTP, tenha manifestado a sua assanhada insurgência contra a crítica de Santana.

Por outro lado, começam a surgir dúvidas acerca dos méritos da dr.ª nas suas passagens ministeriais. Ao que se infere, quando ministra da Educação foi deplorável; e, na pasta das Finanças, um malogro. Os factos estão aí; os números provam-no. E os mais apetrechados nas matérias afirmam-no e reafirmam-no.

Mas perdemos um tempo incalculável com as ninharias de um processo político centrado no já visto e ouvido. Nenhuma das candidaturas à chefia do PSD suscita a curiosidade activa da população.

Parece um jogo em que a participação se movimenta num círculo fechado, ou numa redoma através da qual se movem sombras turvas. Que desejam estes senhores, e a senhora, bem entendido, para o País? Qual o projecto político e, decorrentemente, cultural e social que, cada um a seu modo, prevê para Portugal?

Bem pode Marcelo Rebelo de Sousa agitar a sua preferência: já poucos admitem que Manuel Ferreira Leite seja a salvadora. Mas também Santana Lopes (pobre Santana!, chega a ser comovente) e Pedro Passos Coelho ou quem quer que seja dos outros logram conquistar a adesão sincera das pessoas.

Nenhum deles possui capacidade, competência e talento para resolver os cada vez mais graves problemas nacionais. São maçadoramente vulgares, bocejantemente ineptos, catastroficamente medíocres. Quando Manuela Ferreira Leite inflecte o discurso para o social, o que diz e a forma como o diz torna-se penoso por inconvincente. Poderá, acaso, vir a ser presidente do PSD. Porém, não atrasa nem adianta. Ela e os outros representam tudo o que de pior acalenta a Direita dos interesses.

Numa entrevista que o dr. Campos e Cunha, antigo ministro do Executivo Sócrates (de que fugiu espavorido), concedeu ao Diário de Notícias [18. Maio, p.p.], não escamoteou a perplexidade causada por esta democracia, que considera imperfeita e coxa.

A diatribe toca a todos. A mediania da sociedade portuguesa alastra como endemia. Preocupa-me muito quase a exigência de um cartão partidário para se conseguir um negócio, afirma. Todos conhecemos a verdade; poucos a denunciam. Faz-me lembrar o episódio ocorrido entre Bertoldt Brecht e um actor que se lhe apresentou no Berliner Ensemble, ostentanto o cartão do Partido Comunista como referência. Brecht, que não era nada para graças, indicou à criatura a porta de saída. Mostra-me o teu talento, não me mostres o cartão do partido!

Se as coisas fossem mais claras, os desígnios mais transparentes, os objectivos mais definidos e a honra não fosse, constantemente, sovada - creio que se registariam melhorias substanciais no nosso viver quotidiano. Porém, olhamos em volta e assistimos a factos, cenas e acontecimentos que não só mancham de indignidade os seus protagonistas, como ferem de morte uma democracia sem raízes fundas.

Deixou de haver o pouco debate público (social, político, cultural, económico) que, de vez em vez, lá emergia da trivialidade. Não há crítica literária, nem artística, nem cinematográfica, nem política, nem nada. O maior crítico português, João Lopes, continua sozinho em campo, no exercício de uma actividade que, nele, assume a grandeza do espírito de missão. O que, neste sector, é publicado claudica por ignorância dos seus trôpegos autores.

Há por aí, creio que quinzenário, um Jornal de Letras dirigido por um poeta menoríssimo, simultaneamente réplica do Conselheiro Acácio e clone do Gouvarinho, que pratica a omissão e a rasura de nomes, entre os quais o meu, porque o escarmentei em público.

Quem chefia a Redacção foi um truculento militante da UDP, profeta de todas as liberdades e agitador emérito. Interpelei-o, certa manhã, na Casa da Imprensa: Não tens vergonha de ser cúmplice desta pouca-vergonha? Rouquejando, deu-me a seguinte ignominiosa resposta: O jornal não é meu. Conto este episódio, por exemplar.

O caso de eu ser um dos protagonistas é meramente circunstancial. Torno-o público porque me cansei destes democratas instantâneos como o pudim flan. E se me chateiam, conto mais. Sei que omissões a outros autores, manigâncias de promoções e de esquecimentos deliberados acontecem em outras instâncias ditas de comunicação. Ninguém se queixa e os novos Torquemadas gozam de total impunidade.

Estes incidentes revelam até que ponto a existência democrática em Portugal está seriamente avariada. Nos diversos territórios de actividade as perseguições, os favoritismos, as influências partidárias tornaram-se comuns. O que está a dar, por exemplo, é zurzir em Hugo Chávez, e em Evo Morales, agora que foi dada uma trégua a Fidel de Castro. Não se trata de negar o direito de quem quer que seja a criticar quem quer que esteja. Mas a unilateralidade do requisitório alardeia a falta de substância crítica.

Os estipendiados cobrem-se de lama, mas isso que importa se as benesses são amplas? O exemplo de El Pais poderia favorecer uma melhor identificação com a realidade. O grande diário espanhol tem uma tiragem superior a 2 milhões e 500 mil exemplares. Defendendo, embora, uma ideia de progresso e de liberdade e de justiça social, El Pais não se coíbe de criticar os líderes que prevaricam e de os elogiar quando o merecem.


B.B.

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quinta-feira, 22 de maio de 2008

PEDITÓRIO NACIONAL A FAVOR DA GALP?

A GALP está inconsolável.
No primeiro trimestre deste ano teve menos 8,4% de lucros do que no mesmo período do ano passado, e agora só está a ganhar 1,2 milhões de euros por dia.
O que é isso comparado com mais 2 ou 3 cêntimos nos preços da gasolina e do gasóleo?
Os portugueses são uns queixinhas.
A GALP queria-os ver a ganhar só 1,2 milhões por dia!



A culpa da pobreza extrema da GALP (um dia destes haveremos de ver o dr. Ferreira de Oliveira e os outros administradores da GALP a pedir à porta da igreja dos Congregados) é do aumento dos preços do petróleo.
É certo que, entre Dezembro de 2006 e Dezembro de 2007, o preço da gasolina 95 aumentou em Portugal 11% e o do gasóleo 17,2%, enquanto o preço médio do petróleo, em euros, subiu apenas 1,5%.
Mas a GALP tem muitas despesas; ainda há dias, por exemplo, teve que comprar a Esso.


Por isso, o dr. Ferreira de Oliveira vê com profunda tristeza a especulação incompetente (não a especulação financeira, que é, como se tem visto, particularmente competente a fazer subir preços, mas a dos consumidores que acusam a GALP e demais petrolíferas de cartelização, quando se sabe que os aumentos simultâneos dos preços dos combustíveis são mera coincidência).
Por que não um peditório nacional a favor da GALP?


M.A.P.

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terça-feira, 20 de maio de 2008

ÚLTIMAS: PONTE DE SOR DELPHI ENCERRA: 500 TRABALHADORES PARA O DESEMPREGO [ XX ]

TRABALHADORES DA DELPHI CUMPREM HOJE O 3 DIA DE GREVE


Os trabalhadores da unidade idustrial Delphi de Ponte de Sor, cumprem hoje o terceiro dia de greve, a paralização teve inicio às 0 horas desta terça-feira.
Para hoje está prevista uma manifestação dos trabalhadores da Delphi pelas ruas da cidade de Ponte de Sor.

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

JOVEM, PORTUGAL, 2008...


Jovens qualificados em risco de viver pior que os pais

Têm entre 30 e 35 anos de idade, formação superior, pós-graduações e mestrados, mas ganham entre 500 e 800 euros e estão a recibos verdes ou com contratos a prazo. Este é o retrato de uma geração - a quem já chamam "geração 500 euros" - que não encontra um lugar ao sol no mercado de trabalho e continua a depender dos pais ou a ter mais do que um emprego para conseguir ter autonomia.


Jovens com empregos mais precários e salários em queda

O desemprego registou uma melhoria no início de 2008, mas a realidade por detrás dos números continua a penalizar os jovens, mesmo os mais qualificados. Embora tenha sido entre os trabalhadores com 25 e 34 anos que o desemprego mais diminuiu e o emprego mais aumentou, é também dentro desta faixa etária que os contratos a prazo são mais habituais, a que se junta o facto dos seus salários terem vindo a perder peso face à média nacional.

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NESTE NOSSO PORTUGAL VALE MAIS MORRER DE FOME...



A ASAE está a aplicar as mesmas regras de fiscalização a restaurantes e a Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), noticiou o jornal Público, que diz que estas instituições, em alguns casos, a ser obrigadas a não utilizar alimentos que lhes são doados.
Fonte do Ministério da Economia explicou que qualquer empresa que se dedique à produção, transformação e distribuição de géneros alimentícios mesmo não tendo fins lucrativos tem de ser considerada como empresa do sector alimentar.
O presidente da Confederação das Instituições de Solidariedade Social aconselhou sensatez e atenção à ASAE nesta questão, tendo o padre Lino Maia considerado que esta entidade é forte com os fracos e fraca com os fortes. Isso é que deve ser condenado. Não pode haver aqui uma superpolícia. É polícia, é juiz e executante da pena.



Realmente mais vale morrer de fome que apanhar uma caganeira.

Mais vale morrer de fome que comer um produto sem ter um rótulo legal, ou confeccionado com colher de pau.

Mais vale deixar morrer de fome que comer um bolo ou uma compota feita em casa ou consumirem legumes apanhados numa horta.

Ando farto desta ASAE, policias que andam a destruir este país em nome das leis que nos são enviadas por esta Europa esterilizada.

Será que não existem já razões suficientes para esta polícia ser comandada por alguém com a sensatez para saber diferenciar entre o que é saúde pública e prepotência?

Já chega de ouvir falar da ASAE sempre por maus motivos e colocar esta polícia ao serviço dos cidadãos e do país.


K.

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domingo, 18 de maio de 2008

A EXPORTAÇÃO DE DESEMPREGADOS

Lembro-me de Rosalía de Castro e do socialista Manuel Alegre, e da música de José Niza, nesta época de partida para outras Habanas e Paris, de viúvas de vivos e de gares. Dois painéis do políptico da política deles, na voz de Adriano Correia de Oliveira:



Adriano Correia de Oliveira, Cantar de Emigração




Adriano Correia de Oliveira, Trova do Vento que Passa

De redução da taxa de desemprego em redução, até à derrota final. Há mais de 26 meses conseutivos a descer, prolongando a tendência anunciada em Fevereiro de 2008, o número de desempregados inscritos em centros de emprego (veja-se, por exemplo, o Relatório Anual de 2007 do IEFP-Instituto de Emprego e Formação Profissional). E agora, quando o Produto Interno Bruto (PIB) se contrai de forma intervalada, por forma a não atingirmos a recessão técnica, e aparecem os -0,2% do primeiro trimestre de 2008, que constituem o pior resultado da Zona Euro, disfarçados debaixo dos 0,9% de crescimento homólogo, louva-se o escoamento dos desempregados.

Cada desempregado tende a compreender que a sua oportunidade de emprego está no estrangeiro. Emigra: reduz o desemprego em Portugal e aumenta a produção de outro país. Com a sorte governamental e a lucidez dos desempregados aflitos na hora do desespero, estes vão emigrando, limpando estatísticas num processo consentido - sem recurso à artimanha da formação profissional e aos programas ocupacionais -, numa política socratina de sucesso: a diminuição da taxa de desemprego através do aumento da taxa de exportação de desempregados



António B. Caldeira

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SÃO COISAS DA VIDA

1.- Que o primeiro-ministro fuma (ou fumava...) às escondidas dos olhares públicos era um segredo de polichinelo. Julgo que todos ou quase todos os jornalistas políticos o sabiam e eu também. Nunca me ocorreu denunciar tal crime, primeiro porque não tenho vocação para bufo, e depois porque não tenho nada a ver com os hábitos privados dos outros. Mas claro que sempre achei que um primeiro-ministro que faz questão de fazer jogging em viagens oficiais para os jornalistas divulgarem a imagem de um desportista na política - coisa que vende muito bem junto dos eleitores - só podia, de facto, fumar às escondidas, para não estragar essa imagem. Depois de ter decretado o bloqueio económico a Cuba, também Kennedy fumava, numa sala íntima da Casa Branca e a seguir aos jantares oficiais, os seus puros, que havia mandado comprar em doses industriais em Havana, antes de assinar a ordem de bloqueio. São das tais contradições a que o ofício obriga.

Mas sem dúvida que há uma grande dose de hipocrisia à vista quando o primeiro-ministro e dois ministros de um governo que fez aprovar uma lei fundamentalista contra os fumadores aproveitam a excepção privilegiada de um voo fretado para fumarem discretamente atrás de uma cortina. Não tivessem eles andado a apregoar virtudes de saúde pública contra os fumadores, não tivessem instituído regras de perseguição policial e moralista contra os criminosos dos fumadores, e a coisa ainda poderia passar como mordomias comuns aos poderosos. Assim, passou apenas por uma descarada manifestação de públicas virtudes, vícios privados. Mas também digo que é preciso ter um estômago à prova de vómitos para, sendo jornalista convidado a bordo do avião do Governo, aproveitar a oportunidade para denunciar as fraquezas íntimas dos governantes. Sim, já adivinho a justificação: interesse público na notícia. Talvez sim, mas não é a mensagem que está em causa, mas os métodos do mensageiro. Eu, se fosse o primeiro-ministro, da próxima vez dizia-lhes: Agora vão em voo comercial e paguem os vossos bilhetes. Mas eu, se fosse primeiro-ministro, não teria aprovado esta lei nem me esconderia para fumar. É claro, também, que assim nunca conseguiria ser primeiro-ministro: Churchill, a menos que se dispusesse à hipocrisia de esconder as suas fraquezas e vícios - coisa para que nunca revelou vocação - jamais conseguiria ganhar uma eleição nos tempos gloriosos que vivemos.

Mas o que mais me impressionou nesta história que se tornou a notícia da viagem de Sócrates à Venezuela é que o sentido único de todos os comentários foi o de que o primeiro-ministro era um hipócrita porque não cumpria as leis que ele próprio mandava fazer. A enxurrada foi tanta que, com a hipocrisia já registada no cadastro (e os juros vão ser-lhe cobrados por muito tempo…), Sócrates ainda se dispôs à humilhação pública de pedir perdão à nação e jurar que ia deixar de fumar. Tal qual o menino apanhado pelo papá a fumar às escondidas na casa-de-banho. É sinal dos tempos que a ninguém tenha ocorrido outra hipótese: se os próprios membros do Governo - os legisladores - não se aguentam sem fumar durante oito horas, porque não tiram daí a conclusão de que a lei que aprovaram está para lá do razoável?

2.- Outra marca indelével dos tempos que vivemos, da confusão deliberada entre interesse público e direitos individuais, está nos fóruns de discussão dos blogues da net - esse território mitificado como de absoluta liberdade de expressão. Sempre me fez espécie que se possa defender para isto o estatuto de liberdade de expressão. Como pode haver liberdade se, a coberto do anonimato, dos pseudónimos ou da insuficiente identificação do autor, qualquer um pode dizer o que quiser sobre outrem, sem haver forma de o responsabilizar? Porque é que eu, ao escrever aqui, estou sujeito, e bem, a todo o tipo de escrutínio e responsabilização profissional, penal e cível, e o tipo que escreve na net as maiores calúnias e falsidades passa incólume, em nome da liberdade de expressão?

Como é óbvio, o sistema permite manobras perfeita de assassínio de carácter, porque dá roda livre ao anonimato e à cobardia, que são a arma atómica dos boateiros e caluniadores e, praticamente, não consente defesa. Ciclicamente, sou alvo de boatos e falsidades a meu respeito, nestes territórios de absoluta liberdade - sobre a minha actividade profissional ou a minha vida pessoal, sobre o que fiz e o que não fiz, mas me atribuem (até já me inventaram uma peixeirada a bordo de um avião da TAP, por supostamente querer fumar a todo o custo). Dizem-me que é o preço a pagar por ser figura pública - o único alvo que, por razões evidentes, interessa aos boateiros profissionais. Fraco consolo...

Recentemente, no meio das polémicas entre os professores e a ministra da Educação, coloquei-me basicamente ao lado dela para defender duas medidas: a avaliação e as aulas de substituição. Parece que foi mais do que os professores estão dispostos a suportar. Eles, que tanto exigiram a demissão da ministra por discordarem da sua política, aparentemente não consentem que os outros discordem das suas opiniões; eles, que desfilaram nas ruas com cartazes e palavras de ordem insultuosos para com a ministra, consideram um insulto colectivo que alguém se atreva a pôr em causa as suas razões. Uma senhora professora do Minho colocou um post sobre mim num site de Educação, que começava assim: Conforme é do domínio público, o Miguel Sousa Tavares declarou que os professores são os inúteis mais bem pagos deste país. Daí e sem nunca discutir um só dos meus argumentos, seguia com considerações acerca da minha lastimável pessoa, terminando com a sugestão de que, se a minha mãe fosse viva, teria vergonha do filho. O texto da senhora pegou como fogo na pradaria: não houve, por exemplo, um único familiar ou amigo meu que o não tivesse recebido por mail ou fotocópia; de norte a sul do país fui abordado por pessoas indignadas com as minhas palavras e até do estrangeiro me chegou a interpelação de um jornalista. Depois, comecei a receber autos-de-fé de professores: um grupo deles, da Região Centro, enviou-me um abaixo-assinado a informar que, como forma de protesto, nunca mais dariam a ler aos seus alunos os meus livros infantis, recomendados pelo programa Ler; um outro grupo do Norte fez-me chegar um livro meu devolvido com dezenas de assinaturas e a declaração solene de que nunca mais leriam um livro da minha autoria.

Acontece, porém, um pequeno pormenor: eu nunca disse, nunca escrevi e nunca me ocorreu pensar tão estúpida frase. É absolutamente falsa, de fio a pavio. Quem a inventou sabia bem que a melhor forma de atingir um adversário não é discutindo as razões dele, mas atacando-lhe o carácter. E quem a adoptou logo como verdadeira e do domínio público, sem nunca, pessoalmente, a ter escutado ou lido, mostrou como é fácil conduzir um rebanho de ovelhas nesses fóruns tão democráticos da Internet. E pensar que é assim que hoje se forma largamente a opinião pública!


Miguel Sousa Tavares

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sábado, 17 de maio de 2008

A FALTA DE VERGONHA NÃO TEM LIMITES?



A maioria dos médicos nunca primou nem prima pela pontualidade quanto à hora marcada para atenderem os doentes.
É do dia-a-dia de qualquer paciente chegar ao consultório, ao centro de saúde ou ao hospital e ouvir a indicação o(a) sr(a). dr(a). ainda não chegou ou o sr(a). dr(a). está quase a chegar ou, ainda, o(a) sr(a). dr(a). está um bocadinho atrasado(a).



É raro que, entre os médicos atrasados crónicos, os que, quando finalmente atendem o doente, justificam o seu atraso e disso peçam desculpa.

Poucos doentes refilam, tanta é a habituação.
Médicos e doentes aceitam pacífica e tacitamente que o incumprimento de horários combinados por parte do médico faz parte das condições implícitas do contrato de uma consulta.

Obviamente que parte, uma parte, destes atrasos se justifica ou por uma dificuldade de deslocação ou porque uma consulta ou intervenção durou mais que o previsto, o que, no entanto, não devia eximir à obrigatoriedade de comunicação prévia ao doente ou de uma justificação prestada perante quem se obrigou a esperar.


Esta prática continuada e adquirida faz parte das carências de civismo na nossa sociedade.

Sendo um abuso de poder na medida em que a liberdade que o médico tem de se atrasar sistematicamente por inércia social quanto ao uso do direito de reprovação é incomensuravelmente maior que a liberdade que o doente (não) tem de sair porta fora e, tratando-se de uma continuação de tratamento, submeter o prevaricador ao efeito da concorrência.
Disto, julgo, devia tratar a Ordem dos Médicos, formando os médicos nos deveres elementares da deontologia social aplicada a cidadãos bem educados.
Mas parece não ser essa a prioridade da Ordem, mas antes o pugnar para que aos doentes que falhem consulta sem aviso prévio, lhes seja cobrado 20% do valor da consulta (omisso, é claro, quanto a penalizações do médico em caso de não comparência não avisada ou nos casos de atrasos).
É o que se pode chamar de meta da impunidade profissional sem riscos.
E muita falta de vergonha.


J.T.

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A MOCIDADE PORTUGUESA DOS PARTIDOS

A Mocidade Portuguesa dos partidos rejeita que esteja alheada da política.
E não está.
As jotas estão na política para o mais pequenino e o pior.


Rejeitando o que o chefe de Estado disse no passado dia 25 de Abril sobre o alheamento da juventude em geral quanto à política, o líder da JS diz mesmo que não há nenhum drama à volta desta geração.

O jovem socialista provou duas coisas com esta sentença: que não está alheado da política no pior sentido da palavra mas que é alheio à juventude do seu país e do seu tempo.
Porque uma coisa é a carreira política e o emprego certo dos jotas, melhores e mais garantidos quanto mais canina for a fidelidade à linha do partido, outra coisa são os dramas de uma juventude a braços com uma crise profundíssima de desemprego, sem saídas profissionais.

Se os partidos encarnam o que há de pior na democracia – a formatação do pensamento, o condicionamento da liberdade, o espírito de corpo obediente a uma cabeça pensante, o carreirismo, o clientelismo – as juventudes dos partidos são tudo isso em mais pequenino e mesquinho.
Era preferível quando as jotas eram a mão-de-obra dos partidos para colar cartazes.
Sempre faziam alguma militância política.
Agora limitam-se a fazer o curso prático de como subir na vida pensando pela cabeça do chefe, de como singrar no aparelho dizendo que sim, apresentando serviço e denunciando os suspeitos de heresia.

Aliás, o alheamento dos jovens em relação à política será mesmo proporcional ao papel exclusivo dos jotas na política, no pior sentido.
Os jotas dos partidos constituem a excepção à vida difícil da juventude em geral e ainda por cima é em função deles que se marcam os temas para a agenda da juventude.


J.P.G.

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quinta-feira, 15 de maio de 2008

ÚLTIMAS: PONTE DE SOR DELPHI ENCERRA: 500 TRABALHADORES PARA O DESEMPREGO [ XIX X]

Delphi/Ponte de Sor:
Trabalhadores mantêm greve de terça-feira 20 de Maio de 2008 e manifestação nas ruas de Ponte de Sor




Ponte de Sor, 15 Maio - Os trabalhadores da Delphi em Ponte de Sor, hoje em greve, decidiram manter o protesto previsto para terça-feira, seguido de uma manifestação pelas ruas da cidade, revelou à agência Lusa um dirigente sindical.

A decisão dos trabalhadores foi tomada em plenário realizado durante a tarde de hoje, no mesmo dia em que decorre uma greve de 24 horas em protesto contra o impasse negocial com a empresa em torno das indemnizações, devido ao fecho da fábrica no primeiro trimestre de 2009.

Vamos realizar a greve já marcada para terça-feira, durante 24 horas, e, associada ao protesto, vamos fazer uma manifestação pelas ruas de Ponte de Sor, disse à agência Lusa José Simões, secretário-geral do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA).

A manifestação, segundo o mesmo dirigente sindical, deverá ter início por volta das 16:00, após um plenário de trabalhadores às 15:30, percorrendo várias artérias da localidade, até ao edifício da Câmara Municipal.

Queremos responsabilizar ainda mais a empresa, que não está a dar resposta para encontrar uma solução para toda esta situação, disse José Simões.

O SIMA já tinha garantido, durante a manhã, que a greve de hoje, nos dois primeiros turnos (noite e manhã), rondou os 90 por cento.

No terceiro turno, que deveria ter começado a trabalhar de tarde, a adesão foi mesmo total, segundo José Simões.

Todos os trabalhadores do terceiro turno estiveram em bloco à porta da empresa e não trabalharam, garantiu.

Já a administração da multinacional norte americana, em declarações à Lusa, refutou os números do sindicato, garantindo que a adesão ao protesto, no conjunto dos três turnos, só atingiu os 37 por cento.

Além disso, a administração da Delphi negou que a produção, ao contrário do que o secretário-geral do SIMA tinha avançado, tenha parado.

Confrontado pela Lusa sobre estas garantias, o responsável sindical manteve que a produção esteve completamente parada durante todo o dia devido à greve e exigiu à administração da empresa mais seriedade.

Ao dizerem isso [administração], estão a abandalhar toda a seriedade e credibilidade que deveriam ter. Uma administração que gere uma empresa tem que ter seriedade e honestidade, senão engana-se a si própria, argumentou.

A administração da Delphi, em comunicado enviado à Lusa, garantiu também que a proposta de indemnização apresentada aos trabalhadores [dois salários por cada ano de trabalho] é justa.

A Delphi confia que os trabalhadores, e todas as partes envolvidas, reconheçam isso e acredita que a mesma é do interesse de todas as partes de forma a chegar-se a um acordo o mais breve possível, acrescenta o comunicado.

Para José Simões, tais afirmações não passam de aldrabice.

Acredito que a proposta é justa para a administração, mas não é justa para os trabalhadores e seus representantes sindicais, afiançou.

Os mais de 400 operários da fábrica realizam hoje a segunda greve de 24 horas devido ao impasse no processo negocial com a empresa em torno das indemnizações e outras eventuais compensações.

A fábrica de Ponte de Sor, que emprega 439 operários efectivos, além de cerca de 80 a contrato, produz apoios, mecanismos para portas de correr automatizadas e sistemas de protecção de ocupantes para vários modelos de veículos automóveis.

Os operários defendem indemnizações de 2,8 salários, enquanto a administração propõe dois salários por cada ano de trabalho.


RRL.

Lusa

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PONTE DE SOR PJ NO CENTRO DE EMPREGO


BUSCAS E APREENSÕES

POR PARTE DA


DCICCEF

DA


POLÍCIA JUDICIÁRIA

NO

CENTRO

DE

EMPREGO

DE

PONTE DE SOR


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FARTOS, FARTOS, FARTOS DE...


Andam por aí uns tipos fartos de recibos verdes.
Não é a cor do recibo que os incomoda, é a discriminação a que tresanda.
Cumprem horário, como o parceiro do lado.
Estão, como ele, sob cutelo disciplinar.
Podem até ser mais competentes.
Mas são descartáveis, provisórios.
Estão de passagem, quantas vezes para o desemprego.

Quando ouviram o Governo garantir que iria combater a precariedade, acalentaram a secreta esperança de que a sua vida melhoraria.
Os que trabalham para o Estado, então, devem ter pensado que a vontade política proclamada se converteria em letra de forma. Se a uniformização entre os regimes privado e público era apontada como a chave das mudanças legislativas em curso, abria-se uma janela.

Pura ilusão!
O Governo, que via Código do Trabalho quer limitar a três anos a contratação a termo no sector privado - penalizando até, fiscalmente, o recurso a esta modalidade - propõe-se reservar para o Estado o direito de deixar os seus trabalhadores precários a penar durante seis anos.
Sem qualquer perspectiva de virem a conquistar um vínculo estável.

Porquê o tratamento diferenciado?
Arrisque-se uma resposta.
Cruzando esta medida com umas quantas aposentações (o despedimento puro e simples - ainda - não é possível) pode o Governo apresentar os resultados da dieta de emagrecimento que tem vindo a impor.

Mantendo os que só dispõem de recibo verde no limbo laboral, o Estado compõe o ramo, no que toca ao número de funcionários.
Afinal, eles não passam de um anexo das estatísticas.
Trabalham, mas nem um contrato possuem.
São mais ou menos clandestinos, mesmo se indispensáveis ao funcionamento dos serviços.
Ficam é mais em conta.
É isso que importa.

P.M.

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

OBRIGADO A TODOS



Leitores

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ÚLTIMAS: PONTE DE SOR DELPHI ENCERRA: 500 TRABALHADORES PARA O DESEMPREGO [ XVIII ]

Delphi/Ponte de Sor: Trabalhadores iniciam às 00h00m de quinta-feira nova greve de 24 horas



Ponte de Sor, 14 Maio (Lusa) - Os trabalhadores da Delphi em Ponte de Sor vão recorrer de novo à greve, na quinta-feira e durante 24 horas, em protesto contra o impasse no processo negocial com a empresa em torno das indemnizações.

A convocação da greve, com início às 00:00 de quinta-feira, foi aprovada, a 06 de Maio, durante um plenário dos trabalhadores da fábrica, que deverá encerrar no primeiro trimestre de 2009.


O secretário-geral do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Afins (SIMA), José Simões, explicou à agência Lusa que a administração da multinacional norte-americana já demonstrou alguma abertura, mas não a suficiente para responder às reivindicações dos trabalhadores.

Além da greve de quinta-feira, os trabalhadores decidiram realizar outra paralisação, também de 24 horas, na próxima terça-feira
.


Caso a administração da multinacional norte-americana não der uma resposta mais efectiva, depois destas duas greves, os trabalhadores poderão avançar para uma greve mais continuada, segundo o dirigente sindical.


Na altura, se for caso disso, iremos decidir como é que será essa greve mais continuada ou quantos dias poderá durar, limitou-se a acrescentar José Simões.

Em causa está o processo negocial entre os representantes da empresa e dos trabalhadores para acordar o valor das indemnizações e outras eventuais compensações pelo fecho da unidade fabril.


Os operários defendem indemnizações de 2,8 salários, enquanto a administração propõe dois salários por cada ano de trabalho.

Os trabalhadores da Delphi já rejeitaram o valor apresentado pela administração, apesar de terem baixado a sua proposta de 3 para 2,8 salários por cada ano de antiguidade.


A administração da multinacional norte-americana tinha subido o montante das indemnizações a atribuir aos trabalhadores de 1,8 para dois salários por cada ano de trabalho.


A fábrica de Ponte de Sor, que emprega 439 operários efectivos, além de cerca de 80 a contrato, produz apoios, mecanismos para portas de correr automatizadas e sistemas de protecção de ocupantes para vários modelos de veículos automóveis
.


RRL.

Lusa

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PINÓQUIO!



O DIA DAS PROMESSAS

FOI ONTEM...



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OS DOIS DISCURSOS

Há muito que nos ausentámos do exercício da moral e da prática do civismo. Não prestamos atenção ao que vemos e ouvimos, como se tudo ocorresse longe do nosso quotidiano banal. A desordem, a picuinha, a confusão interior campeiam e parecem situar-se para lá da razão. Há dias, um enfatuado guru da direita causticava, severamente, a RTP, pela circunstância de, numa entrevista de Judite de Sousa a Manuela Ferreira Leite, o realizador ter filmado grandes planos da senhora, cujo rosto estava (naturalmente) sulcado de rugas. A recriminação seria grotesca se não assumisse a insinuação inquietante de que tudo aquilo configurava um preconceito de ordem política. Entende-se o que subjaz à delação; mas entramos nos domínios da indecência.

A pretensa exigência ética de certos preopinantes corresponde, afinal, à sua negação e apenas merece um registo de repulsa. Aplausos, sim, devemo-los a Fernando Nobre, presidente da AMI, pelo magnífico artigo publicado no Notícias Magazine [11. Maio, p.p.], no qual verbera a indiferença com que assistimos ao genocídio pela fome, designado de tsunami silencioso, e afirmando a irreversibilidade dos danos já causados. Assumo a minha especial admiração por este homem de carácter, que nunca se fechou sobre as grandes tragédias do nosso tempo, num compromisso moral admirável.

Há tempos, no Jornal das Nove, da SIC Notícias, foi exibida parte do programa 60 Minutos, sobre o sistema de saúde norte-americano, no qual se narrava a história de um indivíduo sem recursos, que percorrera centenas de quilómetros a fim de ser assistido por um médico generoso. Não dispunha de seguro de saúde, o seu rosto exprimia um atroz infortúnio. Fernando Nobre, entrevistado por Mário Crespo, não calou a indignação que a história lhe causara. É isto que não quero para o meu país!, numa clara referência ao empreendimento de destruição do Serviço Nacional de Saúde, programado pelo sr. Correia de Campos.

Não há equivalência entre o discurso que propõe, como princípio essencial, a conciliação da verdade com a liberdade, e aquele que corresponde a uma ausência de norma civilizacional, em nome de meras estratégias partidárias. A regra do jogo democrático reclama-se de uma cultura política e cívica, cuja formação pode ser entravada por um processo de intriga permanente, que retira ao cidadão toda a possibilidade de o pensar e rejeitar.

O fosso entre os graves conflitos do nosso tempo e a indiferença que por eles demonstramos não se coloca, unicamente, em termos de generalidade. É uma questão crucial do debate democrático - que não fazemos. E o ruído sonega o essencial e impõe a fatuidade como norma. O insistente discurso de Fernando Nobre constitui um paradigma. O outro somente retém o acessório.


B.B.

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terça-feira, 13 de maio de 2008

EM PORTUGAL AS LEIS NÃO SÃO IGUAIS PARA TODOS?

O primeiro-ministro, José Sócrates, o ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, e vários membros do gabinete do chefe do Governo violaram a proibição de fumar no voo fretado da TAP que ligou Portugal e Venezuela e que chegou às cinco horas da manhã de ontem a Caracas. O supervisor do voo, a segunda autoridade a bordo logo após o comandante, disse não ter dúvidas de que era proibido fumar a bordo e, embaraçado, falou em “situações de excepção”. Um assessor do primeiro-ministro disse que “é costume” e que as pessoas “não se importaram”.

Claro que as pessoas não se importaram.

O respeitinho pelo poder é muito bonito.

As ferozes leis anti-tabaco são para todos, menos para quem as aprova.

D.O.

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segunda-feira, 12 de maio de 2008

AINDA HÁ SOCIALISTAS?

Vitorino Magalhães Godinho é uma referência inquestionável da democracia e do socialismo democrático, acima das vis partidarices a que assistimos.


Aos 90 anos continua lúcido, muito mais que a maioria dos que têm metade da sua idade!

Em entrevista à revista do Expresso, eis (abreviadamente) o que disse, entre outras coisas dignas de reflexão:

Há um declínio da democracia em todo o mundo. Hoje, ela está reduzida a aspectos formais (...) A democracia não é o direito de voto nem o estado de direito. O resultado é o afastamento dos cidadãos da vida política.

O bem público é uma noção que tem vindo a desaparecer. É um erro total alienar hospitais, bancos, empresas (...)

O Estado abandonou a direcção da economia (...) A corrupção é inerente ao sistema económico que temos (...)

Não temos uma classe dirigente competente e com ideias inovadoras (...) Morreram as ideias, os valores e os ideais. Não é de bom tom ter ideias e ideários – é-se considerado lunático.

Lamento que em Portugal e no mundo os socialistas estejam a contribuir para este estado de coisas!

Um PS com 30 anos de sócio e que decidiu sair por vergonha.


M.

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domingo, 11 de maio de 2008

POR FAVOR, NÃO GOVERNEM MAIS!

Alguém que eu muito amei e que aprendi a admirar ao longo da vida dizia que não há nada mais perigoso do que políticos sem ideias mas cheios de iniciativas. Cada vez mais me convenço de que é uma grande verdade, confirmada dia a dia pela observação da vida política portuguesa: não há nada mais assustador do que os decisores desatarem a tomar decisões que ninguém lhes pediu e cuja necessidade ninguém sente. Apenas porque acham que assim estão a mostrar serviço.

Alguém sente necessidade de um acordo ortográfico, de matar as consoantes mudas (excepto as que os brasileiros usam)? Alguém o reclamou, tirando os especialistas da língua da Academia das Ciências que, de outro modo, não teriam maneira de justificar a sua importância e as viagens de estudo que fazem ao Brasil e aos PALOP? Quem, de entre os que fazem da língua portuguesa a sua ferramenta diária de trabalho - escritores, editores, professores, jornalistas - pediu a normalização ortográfica com o Brasil, Timor ou a Guiné-Bissau? Porque hão-de então os sábios impor-nos a sua vontade e a sua expertise - a língua não é nossa?

E quem sentiu a necessidade urgente de mais auto-estradas a rasgar todo o interior já deserto, de um novo aeroporto para Lisboa, de um TGV de Lisboa para Madrid, outro do Porto para Vigo e de uma nova ponte sobre o Tejo para o servir? Quem foi que andou a gritar gastem-me o dinheiro dos meus impostos a fazer auto-estradas, pontes, aeroportos e comboios de que não precisamos? Porque razão, então, o lóbi das obras públicas, os engenheiros, projectistas, banqueiros e advogados que os assessoram, mais a ilusão keynesiana do primeiro-ministro, nos hão-de impingir o que não pedimos?

Fomos nós, porventura - ou os autarcas, os especuladores imobiliários e os empresários do turismo - que reclamámos a legislação de excepção dos Projectos PIN para dar cabo da costa alentejana e do que resta do Algarve? Foi nossa a decisão que a Comissão Europeia classificou como uma batota para contornar as normas de protecção ambiental e ordenamento do território?

Fomos nós que reclamámos a privatização da electricidade para depois a pagarmos muito mais cara ou que, inversamente, protegemos até ao limite o monopólio da PT nos telefones fixos, em troca de termos o pior e o mais caro serviço telefónico da Europa?

Fomos nós que nos revoltámos contra o queijo da Serra feito em mesas de mármore, a galinha de cabidela ou o medronho da Serra de Monchique? É em nome da nossa vontade e da nossa cultura que o ayatollah Nunes e a sua ASAE aterrorizam e enfurecem meio país?

Fomos nós que estabelecemos uma sociedade policial contra os fumadores, que quisemos encher Lisboa de radares para controlar velocidades impossíveis e ajudar a fazer da caça à multa o objectivo principal da prevenção rodoviária?

Fomos nós que concordámos em que os agricultores fossem pagos para não produzir, os pescadores para não pescar, as empresas para fazer cursos de formação fantasmas ou inúteis, alguns escritores para terem bolsas de criação literária para escrever livros que ninguém lê, os privados para gerir hospitais públicos com o dobro dos custos?

Fomos nós que aceitámos pagar por caças para a Força Aérea que caem todos sem nunca entrar em combate, helicópteros que não voam por falta de sobressalentes, submarinos que não servem para nada, carros de combate que avariam ao atravessar uma poça de água?
Fomos nós que decretámos que o Euro-2004 era um desígnio nacional e, para tal, desatámos a construir estádios habitados por moscas, onde jogam clubes que vegetam na segunda divisão ou se aguentam na primeira sem pagar aos jogadores, ao fisco e à Segurança Social? E é a nossa vontade colectiva que anda a animar uns espíritos inspirados que já por aí andam a reclamar um Mundial de Futebol ou mesmo uns Jogos Olímpicos?

Ah, e a regionalização, essa eterna bandeira de almas ingénuas ou melífluas, que confundem descentralização com jardinização? Esse último disparate nacional que falta fazer e com o qual nos ameaçam ciclicamente com o argumento de que está na Constituição, embora nós já tenhamos respondido, clara e amplamente, que dispensamos a experiência, muito obrigado?
Será que não se pode acalmar um bocadinho os nossos esforçados governantes? Pedir-lhes que parem com os projectos estruturantes, os “desígnios nacionais”, os “surtos de desenvolvimento”, os PIN, os aeroportos, pontes e auto-estradas, que deixem de se preocupar tanto com o que comemos, o que fumamos, o que fazemos em privado e o que temos de fazer em público? Eu hoje já só suspiro por um governo que me prometa ocupar-se do essencial e prescindir do grandioso: um governo que prometa apenas tentar que os hospitais públicos funcionem em condições dignas e que não haja filas de espera de meses ou anos para operações urgentes, que os professores e alunos vão à escola e uns ensinem e outros aprendam, que os tribunais estejam ao serviço das pessoas e da sua legítima esperança na justiça e não ao serviço dos magistrados ou dos advogados, que as estradas não tenham buracos nem a sinalização errada, que as cidades sejam habitáveis, que a burocracia estatal não sirva para nos fazer desesperar todos os dias. Um governo que me sossegue quanto ao essencial, que jure que não haverá leis de excepção nem invocados interesses nacionais que atentem contra o nosso património: a língua, a paisagem, os recursos naturais.

Mas não há dia que passe que não veja o eng.º Sócrates a inaugurar ou a lançar a primeira pedra de qualquer coisa. E encolho-me de terror perante esta saraivada de pedras, que ora ajuda a roubar mais frente de rio a Lisboa, ora entrega mais uma praia a um empreendimento turístico absolutamente necessário para o desenvolvimento, ora lança mais uma obra pública inútil e faraónica destinada a aliviar-me ainda mais do meu dinheiro para o dar a quem não precisa. Vivo no terror dos sonhos, dos projectos, das iniciativas de governantes, autarcas e sábios de várias especialidades. Apetece dizer: Parem lá um pouco, ao menos para pensar no que andam a fazer!

Além de mais, já não percebo muito bem o que justifica tanto frenesim. Já temos tudo o que são vias de transporte concessionado para as próximas gerações: auto-estradas, pontes, portos, aeroportos (só falta o comboio, mas os privados não são parvos, vejam lá se eles querem ficar com o negócio prometidamente ruinoso do TGV!). Já temos tudo o que é essencial privatizado (só falta a água e palpita-me que não tarda aí mais esse imperativo nacional). É verdade que ainda faltam alguns Parques Naturais, Redes Natura e REN por urbanizar, mas é por falta de clientes, não por falta de vontade de quem governa. Já faltou mais para chegarmos ao ponto em que os governos já não terão mais nada para distribuir. Talvez então se queiram ocupar dos hospitais, das escolas, dos tribunais. Valha-nos essa esperança.


Miguel Sousa Tavares

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sábado, 10 de maio de 2008

10 DE MAIO DE 1958 - 10 DE MAIO DE 2008


Obviamente demito-o


Em 1958, acedendo ao convite da oposição democrática, apresentou-se como candidato independente às eleições presidenciais.


O mote da campanha eleitoral foi lançado pela célebre frase Obviamente demito-o, numa conferência de imprensa no Café Chave D'Ouro em Lisboa , a 10 de Maio de 1958, em resposta a um jornalista da France Press que lhe pergunta qual o destino que daria a Salazar no caso de ganhar as eleições.


A vasta movimentação popular que se seguiu permitiu criar pela primeira vez em três décadas de ditadura uma dinâmica de unidade da oposição contra o regime salazarista.

O carisma do General sem medo surgiu como um fenómeno inesperado, bem como a erupção de massas no processo eleitoral.
O candidato da oposição anunciou o então facto inédito de não desistir da ida às urnas.
O povo do norte de Portugal concentrou-se numa gigantesca manifestação no Porto - a fim de o receber poucos dias após a sua declaração contra o ditador. Esta jornada a 14 de Maio de 1958 reacordou um velha tradição de liberalismo que a ditadura de Salazar não conseguira extinguir após mais de trinta anos de ditadura. Receando que a popularidade de Delgado se espalhasse de Norte a Sul do país, Salazar proibiu a deslocação deste a Braga - um baluarte do catolicismo e berço da revolta militar do 28 de Maio de 1926 que instaurara a ditadura militar. A cidade foi ocupada por cinco mil membros da Legião Portuguesa - medida preventiva de intimidação e de exibição do poder que todavia não impediu vastas concentrações de pessoas pela região aclamando o candidato da democracia.


Apanhadas de surpresa pelo levantamento espontâneo do entusiasmo popular por todo o país, o regime tomou medidas de emergência destinadas a evitar mais demonstrações em Lisboa. Assim, após a chegada de Delgado à estação de Santa Apolónia a 16 de Maio de 1958 as forças da Guarda Nacional Republicana e os agentes da PIDE exerceram repressão sobre a população lisboeta que acorrera em massa para receber Delgado. As notícias dos tumultos e dos ataques das forças para-militares contra a população de Lisboa apareceram na imprensa estrangeira que começou a dedicar mais atenção a Portugal, país habitualmente pacato.


Após os incidentes e tumultos ocorridos no Porto e em Lisboa, a 14 e 16 de Maio, a polícia política (PIDE) aumentou a repressão contra a população que participava espontaneamente na campanha apelidada de "subversiva" pela imprensa controlada. Apesar do mecanismo eleitoral ser manipulado desde o recenseamento, apesar das dificuldades intransponíveis na cópia dos cadernos eleitorais e na distribuição por parte da oposição dos boletins de voto, ainda assim o Estado Novo, temendo um enorme desaire eleitoral, decretou a proibição da fiscalização do escrutínio por parte da oposição. Os números oficiais deram quase 25% dos votos a Humberto Delgado, contra 75% do candidato oficial, Américo Tomás, não sendo possível ainda hoje apurar os resultados reais dada a amplitude da fraude.
Com medo de no futuro passar por um outro "golpe constitucional" que representava a possibilidade de a oposição voltar a lançar-se numa campanha eleitoral como a de 1958, Salazar promove, em Agosto de 1959 uma revisão constitucional na qual se suprime o sufrágio directo sendo substituído por sufrágio indirecto proporcionado por um colégio eleitoral de total confiança do Governo.


Que linda foi a campanha em Ponte de Sôr...
Passados estes anos todos não poderiamos esquecer os homens e mulheres livres de Ponte de Sôr que participaram na campanha eleitoral do General Humberto Delgado, para eles o nosso obrigado pela vossa luta em defesa da LIBERDADE.

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sexta-feira, 9 de maio de 2008

A DEMOCRACIA AVARIADA

A democracia portuguesa é das piores da Europa.
A informação resultou de um estudo da organização britânica DEMOS, forneceu manchete ao Diário de Notícias e diz-nos que Portugal está em 21.º lugar numa lista de 25 Estados membros da União.
Somos, enfim, uma desgraça democrática.
Poucos ficaram surpreendidos.
Sócrates, não: está firmemente convencido de que vivemos no melhor dos mundos, cívica, social, educacional, política e juridicamente falando.

Pelo menos é o que, constantemente nos quer fazer crer.

Não há democracia sem educação e sem convicções democráticas.
E a esmagadora maioria daqueles que nos têm governado não foi dotada desses atributos, nem procurou obtê-los.
Para essa gente, o exercício da política tinha e tem como objectivo a organização da vidinha.
Os exemplos são tão numerosos que quase se tornaram razão sem argumento.
A nossa época é dominada por uma fraca noção da realidade.
O mediatismo e os desenvolvimentos do virtual e do numérico alteraram, completamente, a interpretação dos fenómenos e criaram uma classe que nos aparece desprovida de todas as determinações, movendo-se num vazio absoluto.

O mundo mudou.
Portugal, desta vez, não escapou ao vendaval.
Não são, apenas, os comportamentos que se modificaram, criando, acaso, uma nova ética e uma outra estética.
A acção cultural é outra.
As exigências políticas são, eventualmente, mais altas.
Pessoalmente, há muitos anos que entendi isso.
Numa entrevista que dei à antiga revista Ler, do Círculo de Leitores, afirmava, sem desânimo, nem a menor nostalgia: O meu mundo morreu.
Ainda bem: o meu mundo estava condicionado por um pensamento ultrapassado e por uma máquina trituradora absolutamente implacável.
A minha geração e as que a antecederam fizeram o que era preciso fazer para acabar com o salazarismo.
Ponto final.
Agora, a História é outra.
Repito: ainda bem.
E não entro no coro de carpideiras que entoam lúgubres cânticos ao passado e ferozes acrimónias aos mais jovens.
Se a democracia portuguesa é o que é não culpem os outros pelo mal que lhes fizeram.
A parte de responsabilidade que nos cabe deve ser admitida sem reservas nem lamúrias.
Porque, na verdade, alguma coisa de muito bem feito foi realizado.

Cavaco Silva, desconhecedor, ainda não há muito, de que Os Lusíadas são compostos de dez cantos, lamentou-se, no discurso do 25 de Abril, do alheamento político e da ignorância cultural da juventude. Não é o melhor juiz desta causa.
Quando primeiro-ministro foi, ideologicamente, culpado do esvaziamento ideológico (inclusive no seu próprio partido) e de uma gestão da coisa pública dominada por uma total ausência de sensibilidade social.
É a década da inocuidade e de uma certa perda da identidade constitutiva da democracia.
Não há que fugir à evidência.
Os mais novos possuem outras prioridades e densas preocupações.

Eu próprio, muito novo, conheci antigos soldados gazeados da Primeira Grande Guerra.
Era pavoroso observá-los: respiração arfante e dificultosa, olhos desorbitados, movimentos pausados e dolorosos.
Alguma coisa eu devia àqueles homens.
Mas a verdade é que pouco me interessava por aquela guerra e passava ao lado da efeméride que a assinalava.
Sabia que a guerra existira. Isso me bastava.
Sentimentos semelhantes ocorrem agora; embora muitos mais jovens se interessem pelo 25 de Abril do que os da geração a que pertenço.
A relativização histórica não é ultrajante nem perturbadora.
Perturbadora, isso sim, é a crise política porque traduz uma crise da realidade.

E essa crise não atinge, somente, o PSD, nascido de ambiguidades várias, entre as quais a absoluta carência de ideologia. Luís Filipe Menezes foi a vítima sequencial dessa lista de líderes devorados pelas ilusões momentâneas.
A barafunda é de tal ordem que uma nulidade como Pedro Santana Lopes ressuscita das cinzas numa patética demonstração de ligeireza e de desconsideração pelos outros.
E Manuela Ferreira Leite aparece como uma espécie de objectora de consciência do PSD.
Transfere-se a palavra para a imagem, mas a imagem não é de molde a criar empatias.
E a palavra é por de mais repetitiva para abrir novos caminhos discursivos a um partido sem doutrina, sem programa definido, sem ideologia, glacial e distante.

Claro que não é com esta gente que a juventude se identifica. E a própria evidente circunstância de Manuela Ferreira Leite ir ganhar a presidência do PSD põe em causa a própria natureza do projecto.
Que fez a senhora de notável, quando no exercícios de altas funções governamentais?
Nada.
Pior: de um modo impermanente, incerto e frágil aumentou os nossos problemas nos sectores de que foi responsável.
Perante o cenário, que exigências poderemos fazer aos mais novos?

Andamos, há muitos anos, a viver de realidades cada vez mais virtuais, sem afeição recíproca, afastadas das pessoas, e criando modos de existir não coincidentes uns com os outros.
A ideia de comunidade foi aniquilada, e o conceito de sociedade sofreu um desvio falho de determinações e, por isso, fatal.
Que nos resta?
Tentar compreender os sinais das novas gerações.


B.B.

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É ESTE O PAÍS QUE TEMOS?

Estava eu a ler o jornal quando dei com uma notícia estranha, tão estranha que a li uma segunda vez para ver se não me tinha enganado.
Mas não, de facto era tal e qual a li da primeira vez: o Tribunal de Contas multou os partidos políticos em mais de trezentos mil euros.
Como o que faz o Tribunal é julgar em face da lei e como quem faz a lei são os partidos, quer dizer que os partidos andam a fazer leis que não são capazes de cumprir.
Isto coloca então uma questão interessante: por que razão fazem os partidos leis que os fazem pagar as malditas multas?
Foi ao ponderar esta questão que me lembrei (e revi) no livro de Kucich sobre a sociedade britânica colonial do século XIX, quando o autor relacionava a política imperial com as classes sociais e a hierarquia social. Para este autor merece particular atenção a complexidade da hierarquia social e as tensões sociais que aí se desenvolvem e as implicações que daqui resultam para a formação da identidade social, com as múltiplas características e facetas que a definem.
Não pretende Kucich com isto dizer que as identidades social ou imperial devem ser explicadas por uma disciplina de psicologia colectiva, mas sim que há elementos com paralelo na psicologia que conhecemos que ajudam a compreender e descrever o discurso e a práxis social da Grã-Bretanha de finais do século XIX, tese que aliás sustenta no seu livro Imperial Masochism.

Preparava-me eu para aprofundar a matéria quando me dei conta de que já as minhas ilustres colegas argentinas Eva Cinada e Eva Porosa, da Universidad Datanga, já a tinham estudado longamente, trabalho que deram a conhecer no seu magistral livro Kiss Me or Kick Me: Social Institutions in Tomorrow’s World.
Dizem as Evas que também nas organizações sociais em qualquer país as tensões sociais internas e externas que se acumulam podem levar a desvios ou patologias sociais semelhantes aos que conhecemos da Psicologia para os indivíduos.

A aplicação dos trabalhos destas minhas colegas ao nosso caso concreto é muito simples: na sociedade portuguesa de hoje os partidos políticos sentem o descrédito e a desconfiança de que são alvo por parte do cidadão comum e, incapazes de reconquistar essa confiança, estão progressivamente a desenvolver uma patologia social que lhes permite racionalizar e compensar: o masoquismo social.
Com efeito, o masoquismo social e a vitimização que se lhe segue são um mecanismo que constitui factor de aproximação social na sociedade portuguesa de hoje – uma sociedade dos coitadinhos, entre os modelos de sociedade tipificados pelas Evas.
Os nossos partidos esperam, pois, ao serem castigados por terceiros (neste caso, o Tribunal de Contas), captar a simpatia dos cidadãos eleitores, que assim já não sentem necessidade de os castigar – pelo contrário, apelam até ao instinto de defesa dos fracos.

Por outro lado, o Tribunal de Contas, ao punir deliberadamente e com violência e publicidade a torto e a direito, enquadra-se no que as nossas Evas designam de uma organização social sádica.
Isto revela, pois, uma faceta da organização social, política e administrativa do Portugal de hoje: o seu sadomasoquismo social.
Uns gostam de ser repreendidos e castigados, outros estão muito felizes com o papel de agentes vingadores, castigando os prevaricadores.

Não pensem, meus queridos leitores, que isto de vivermos numa sociedade sádicomasoquista é mau e que nos devemos preocupar.
O que nos deve preocupar é outra coisa, que as Evas bem documentam com evidência histórica: é que qualquer organização social masoquista numa sociedade sadomasoquista, na ausência de qualquer facto externo que o contrarie, evolui inexoravelmente para uma organização social esquizofrénica e os nossos partidos políticos já começam a dar sinais disto.


F.B.

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