quinta-feira, 29 de novembro de 2007



este blogue estará em greve

mas garante os serviços mínimos

porque não se pode dar


descanso

à corja!

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A PARTIDOCRACIA

CORRE O RISCO DE SE TORNAR NUMA FEDERAÇÃO ENTRE CACIQUES, LOCAIS E REGIONAIS, E UMA CASTA DE POLÍTICOS PROFISSIONAIS

Luísa Mesquita diz que, desde anteontem, deixou de ser comunista, só porque foi formalmente expulsa do PCP, isto é, continua tão comunista que até admite o monopólio da causa pela instituição de que se desligou.
António Costa ameaça demitir-se se os deputados municipais do PSD não apoiarem uma proposta que apresentou. Um novo acordo de regime parece concretizar-se, depois de um encontro entre um ex-chefe do governo e um ex-ministro da reforma do estadão, duas excelentes carantonas do regime a que chegámos, naquilo que parece querer retomar o estilo da ignóbil porcaria.

Isto é, para além do folclore das reivindicações e do apoios, um redivivo rotativismo decidiu entrar em ditadura sistémica, procurando feudalizar, em bipartidarismo, mas sem bipolarização, o monopólio da representação política, numa altura até em que o PS e o PSD são secções nacionais das principais multinacionais partidárias da Europa.


Por outras palavras, já não serão precisos mais golpes violentistas de chapelada para que, no futuro, tudo continue como dantes.
O anunciado gentleman's agreement do vira o disco e toca o mesmo vem, assim, garantir, através da lei, que todas as futuras mudanças eleitorais serão alternâncias sem possibilidade de alternativa.
Belém, naturalmente, lavará as mãos como Pilatos, dado que seria feio aplaudir.


Desta forma, os tradicionais inputs do sistema político ficam cada vez mais reduzidos ao situacionismo oficial e ao oposicionismo oficioso das duas faces do Bloco Central.
As outras forças políticas estão condenadas à residual dimensão de vozes tribunícias, cada vez mais prenhes de demagogia, para forçarem o agenda setting.

Todos vão deixar o campo do dinamismo interventivo aos grupos de pressão das velhas forças vivas, dado que se desiste da mobilização cívica de uma maioria de indiferentes e de abstencionistas.

Corremos assim o risco de a chamada sociedade civil perder as pontes de ligação à black box do sistema político, onde passa a circular, quase impune, uma classe política bipartidocratizada. E esta corre o risco de se tornar numa federação entre caciques, locais e regionais, e uma casta de políticos profissionais, face à qual apenas temos que referendar e plebiscitar as respectivas propostas.
Logo, as eleições, assim rigorosamente vigiadas, poderão ser limitadas às canalizações representativas de um sistema que parece temer a voz directa dos povos.

O ambiente é propício à criação de um mainstream que retome os vícios do rotativismo dos monárquicos liberais e da ditadura sistémica do afonsismo durante a Primeira República.

Não tardará que o mesmo caia na tentação de condicionar ou punir o dissidente ou de procurar estigmatizar a heresia.
Até pode acontecer que os serviços oficiais de espionagem comecem a comunicar, a grupos políticos, a lista dos infiltrados, ou que os partidos dominantes abram uma secção de renovação com blocos de bons desinscritos dos partidos marginais.

Aliás, se consultarmos um desses engenheiros de sistemas políticos e eleitorais, ele dir-nos-á, em termos técnicos, que o bipartidarismo é mau para os pequenos e médios partidos, mas que é bom para o sistema, até porque um parlamento ou uma assembleia municipal que fosse uma fotocópia do país, ou da autarquia, conduziria à ingovernabilidade.
Por mim, preferiria que os engenheiros sistémicos, representados por Alberto Martins e Santana Lopes, cedessem lugar aos repúblicos que se preocupam com a crescente falta de participação cívica, para todos tratarmos de reinventar a cidadania.
Por isso, continuo do contra!


J.A.M.

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O PODER DA MEMÓRIA

Os que esquecem o passado estão condenados a repeti-lo

George Santayana


A memória, a falta ou o excesso de memória, motivaram, no sábado, uma intervenção de Mário Bettencourt Resendes, no DN, e uma afirmação da historiadora Irene Flunser Pimentel, na revista Única, do Expresso. No dia seguinte, domingo, também no DN, Mário Soares, em entrevista a João Marcelino e José Fragoso, reverte, igualmente, para a memória histórica. De um modo ou de outro, qualquer deles alude ao silêncio que envolve muitos dos factos determinantes do nosso destino ou que marcaram datas da nossa época. E os três sugerem que essa ausência de memória acaba por ser factor de desumanização. O que Kierkegaard designou de o passado presente deixou de constituir a reserva ética da Imprensa. Na sociedade, o exercício de recordação passou a ser um incómodo, para não dizer uma maçada. Na política, o apagamento da memória associa-se à carência de moral e corresponde à estratégia do pragmatismo, eufemismo inesgotável das traições mais vis.

Irene Flunser Pimentel, autora de A História da PIDE, propõe uma tese, consignada nesta afirmação: Acho que durante algum tempo, em Portugal, até por razões de pacificação a seguir ao PREC, acabou por cair-se numa espécie de esquecimento, o que fez com que algumas pessoas tivessem excesso de memória por estarem sempre a viver no passado. Há quem saúda os erros com aplausos. Neste caso, creio que a pressa em pacificar o País originou amolgadelas na própria recepção do ideal democrático, afinal servido por gente que nada tinha a ver com os fundamentos desses ideais.

Em nome dos interesses e das necessidades do momento, o projecto político saído do 25 de Abril morreu 19 meses depois. Os episódios de reabilitação que se lhe seguiram comportam muito de abjecto. E não esqueço as responsabilidades incumbentes a jornalistas estipendiados.


Encontram-se todos muito bem na vida.Foi num governo do dr. Cavaco que a viúva de Salgueiro Maia viu recusada uma pensão.
O mesmo governo atribuiu-a a torcionários da PIDE, por distintos serviços prestados à pátria. George Steiner: O irreparável é a coisa dita.
Poderemos imaginar que a contradição mereça a absolvição?
Nem por um segundo.

A prática democrática não é, somente, a procura do justo equilíbrio entre as partes.
É, antes de tudo, uma questão ideológica.


Quando Mário Soares repete que tem vindo a dizer: Gostaria que o PS se voltasse um bocadinho para a Esquerda, ele sabe, muitíssimo bem, que a viragem é impossível com esta gente. Ela não se nutre na moral, despreza a ética, tripudia sobre a ideologia, está ferida de autoritarismo grosseiro. Sobretudo, não tem memória e combate quem a ilumina.


Ter memória e defender o seu património é extremamente perigoso.


B.B.

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terça-feira, 27 de novembro de 2007

ELES ESTÃO DOIDOS!

A meia dúzia de lavradores que comercializam directamente os seus produtos e que sobreviveram aos centros comerciais ou às grandes superfícies vai agora ser eliminada sumariamente.
Os proprietários de restaurantes caseiros que sobram, e vivem no mesmo prédio em que trabalham, preparam-se, depois da chegada da fast food, para fechar portas e mudar de vida.
Os cozinheiros que faziam a domicílio pratos e petiscos, a fim de os vender no café ao lado e que resistiram a toneladas de batatas fritas e de gordura reciclada, podem rezar as últimas orações.
Todos os que cozinhavam em casa e forneciam diariamente, aos cafés e restaurantes do bairro, sopas, doces, compotas, rissóis e croquetes, podem sonhar com outros negócios.
Os artesãos que comercializam produtos confeccionados à sua maneira vão ser liquidados.



A solução final vem aí.
Com a lei, as políticas, as polícias, os inspectores, os fiscais, a imprensa e a televisão.
Ninguém, deste velho mundo, sobrará.

Quem não quer funcionar como uma empresa, quem não usa os computadores tão generosamente distribuídos pelo país, quem não aceita as receitas harmonizadas, quem recusa fornecer-se de produtos e matérias-primas industriais e quem não quer ser igual a toda a gente está condenado. Estes exércitos de liquidação são poderosíssimos: têm Estado-maior em Bruxelas e regulam-se pelas directivas europeias elaboradas pelos mais qualificados cientistas do mundo; organizam-se no governo nacional, sob tutela carismática do Ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho; e agem através do pessoal da ASAE, a organização mais falada e odiada do país, mas certamente a mais amada pelas multinacionais da gordura, pelo cartel da ração e pelos impérios do açúcar.

Em frente à faculdade onde dou aulas, há dois ou três cafés onde os estudantes, nos intervalos, bebem uns copos, conversam, namoram e jogam às cartas ou ao dominó.
Acabou!
É proibido jogar!
Nas esplanadas, a partir de Janeiro, é proibido beber café em chávenas de louça, ou vinho, águas, refrigerantes e cerveja em copos de vidro.
Tem de ser em copos de plástico.
Vender, nas praias ou nas romarias, bolas de Berlim ou pastéis de nata que não sejam industriais e embalados?
Proibido.
Nas feiras e nos mercados, tanto em Lisboa e Porto, como em Vinhais ou Estremoz, os exércitos dos zeladores da nossa saúde e da nossa virtude fazem razias semanais e levam tudo quanto é artesanal: azeitonas, queijos, compotas, pão e enchidos.
Na província, um restaurante artesanal é gerido por uma família que tem, ao lado, a sua horta, donde retira produtos como alfaces, feijão verde, coentros, galinhas e ovos?
Acabou.
É proibido.
Embrulhar castanhas assadas em papel de jornal?
Proibido.
Trazer da terra, na estação, cerejas e morangos?
Proibido.
Usar, na mesa do restaurante, um galheteiro para o azeite e o vinagre é proibido.
Tem de ser garrafas especialmente preparadas.
Vender, no seu restaurante, produtos da sua quinta, azeite e azeitonas, alfaces e tomate, ovos e queijos, acabou.
Está proibido.
Comprar um bolo-rei com fava e brinde porque os miúdos acham graça? Acabou.
É proibido.
Ir a casa buscar duas folhas de alface, um prato de sopa e umas fatias de fiambre para servir uma refeição ligeira a um cliente apressado? Proibido.
Vender bolos, empadas, rissóis, merendas e croquetes caseiros é proibido.


Só industriais.
É proibido ter pão congelado para uma emergência: só em arcas especiais e com fornos de descongelação especiais, aliás caríssimos.
Servir areias, biscoitos, queijinhos de amêndoa e brigadeiros feitos pela vizinha, uma excelente cozinheira que faz isto há trinta anos?
Proibido.

As regras, cujo não cumprimento leva a multas pesadas e ao encerramento do estabelecimento, são tantas que centenas de páginas não chegam para as descrever.
Nas prateleiras, diante das garrafas de Coca-Cola e de vinho tinto tem de haver etiquetas a dizer Coca-Cola e vinho tinto.
Na cozinha, tem de haver uma faca de cor diferente para cada género.
Não pode haver cruzamento de circuitos e de géneros: não se pode cortar cebola na mesma mesa em que se fazem tostas mistas.
No frigorífico, tem de haver sempre uma caixa com uma etiqueta produto não válido, mesmo que esteja vazia.
Cada vez que se corta uma fatia de fiambre ou de queijo para uma sanduíche, tem de se colar uma etiqueta e inscrever a data e a hora dessa operação.
Não se pode guardar pão para, ao fim de vários dias, fazer torradas ou açorda.
Aproveitar outras sobras para confeccionar rissóis ou croquetes? Proibido.
Flores naturais nas mesas ou no balcão?
Proibido.
Têm de ser de plástico, papel ou tecido.
Torneiras de abrir e fechar à mão, como sempre se fizeram?
Proibido.
As torneiras nas cozinhas devem ser de abrir ao pé, ao cotovelo ou com célula fotoeléctrica.
As temperaturas do ambiente, no café, têm de ser medidas duas vezes por dia e devidamente registadas.
As temperaturas dos frigoríficos e das arcas têm de ser medidas três vezes por dia, registadas em folhas especiais e assinadas pelo funcionário certificado.
Usar colheres de pau para cozinhar, tratar da sopa ou dos fritos? Proibido.
Tem de ser de plástico ou de aço.
Cortar tomate, couve, batata e outros legumes?
Sim, pode ser.
Desde que seja com facas de cores diferentes, em locais apropriados das mesas e das bancas, tendo o cuidado de fazer sempre uma etiqueta com a data e a hora do corte.
O dono do restaurante vai de vez em quando abastecer-se aos mercados e leva o seu próprio carro para transportar uns queijos, uns pacotes de leite e uns ovos?
Proibido.
Tem de ser em carros refrigerados.

Tudo isto, como é evidente, para nosso bem.
Para proteger a nossa saúde.
Para modernizar a economia.
Para apostar no futuro.
Para estarmos na linha da frente. E não tenhamos dúvidas: um dia destes, as brigadas vêm, com estas regras, fiscalizar e ordenar as nossas casas.
Para nosso bem, pois claro.


António Barreto

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segunda-feira, 26 de novembro de 2007

ELES É QUE SABEM


Pois claro... e por isso o smn (salário de merda nacional) deve descer para um valor muito próximo de zero.

O que importa é ter os escravos todos empregados e, como escravos que são, a trabalhar de borla...

L.

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domingo, 25 de novembro de 2007

EU PREFIRO CHÁVEZ

Se as coisas, como as pessoas, fossem sempre lineares, não me custaria nada reconhecer que Hugo Chávez não é o tipo de democrata que eu recomendaria nem a Venezuela é o tipo de democracia em que eu mais gostaria de viver. Mas as coisas não são lineares: se o fossem, ninguém concederia a George Bush o epíteto de democrata. Aliás, na comparação, ele só sai a perder.

Chávez chegou ao poder por golpe de Estado, mas fez-se eleger e reeleger em eleições cuja credibilidade ninguém contestou, assim como ninguém pode seriamente contestar que ele tem o apoio efectivo de uma maioria consolidada de venezuelanos. É certo que vai fazer plebiscitar uma emenda constitucional que lhe permitirá fazer-se reeleger e perpetuar indefinidamente no poder - coisa que não é bonita, mesmo se plebiscitada, mas que tantos outros fazem, sem necessidade de emendas constitucionais: veja-se Alberto João Jardim na Madeira ou Jardim Gonçalves no BCP. Também é verdade que fez com se calasse uma televisão privada que lhe era politicamente desafecta (não a mandou calar, como os críticos gostam de dizer, limitou-se a não renovar a licença) e que domina amplamente os meios de informação venezuelanos. Mas ainda funciona uma estação de televisão, jornais e rádios da oposição e não consta que haja presos políticos.

Em contrapartida, Bush não chegou ao poder por golpe de Estado - pelo menos com armas na mão - mas chegou por batota eleitoral (a menos que se queira acreditar que os negros da Florida votaram maciçamente por ele, contra Al Gore). A seguir, fabricou uma guerra e todas as provas necessárias a arrastar para ela os Estados Unidos e os aliados, de modo a fazer valer a tradição americana de que um Presidente em guerra é sempre reeleito. Não fechou órgãos de informação, mas falsificou a informação sempre que isso lhe conveio para esconder a verdade e conduzir políticas ocultas do Congresso e da opinião pública. Também não tem presos políticos internos, mas tem-nos, de outras nacionalidades, mantidos em prisão em Guantánamo, sem quaisquer direitos, nem prazo, nem acusações, naquela que é uma das situações mais vergonhosas de direitos humanos em vigor no mundo de hoje e a mais vergonhosa em qualquer democracia.

Odiado pelos Estados Unidos e por meio mundo, Chávez tem feito mais pelo seu povo do que muitos dos seus antecessores, enquanto que George W. Bush o que fez foi gastar o dinheiro que Clinton lhe deixou nos cofres a financiar os ricos e a tirar aos pobres, fez os Estados Unidos regredirem em todos os capítulos económicos, científicos e ambientais, desprestigiou a América aos olhos do mundo e tornou este um lugar bem mais perigoso para viver graças à sua irredutível ignorância e arrogância. Até já o amigo Durão Barroso, que nos tempos épicos da cimeira das Lages gostava que se soubesse que o tratava por George, acha mais prudente agora cavar distâncias e dizer-se enganado. Só mesmo o director do Público - que tão entusiasta foi da justa guerra do Iraque e que conseguiu ver nas imagens da estátua derrubada de Saddam uma espécie de reinvenção das imagens dos marines a desembarcar em Omaha Beach, em nome da liberdade - é que pode achar agora que perigoso é ficar à mercê de demagogos mediáticos como Hugo Chávez.

É verdade que um demagogo é sempre perigoso, mas um demagogo no poder num país como a Venezuela, mesmo com o petróleo, não pode fazer grande mal ao mundo. Um mentiroso, no poder num país como os Estados Unidos, pode fazer e faz.

Por uma vez, a nossa habitual diplomacia de não fazer ondas com ninguém até teve razão de ser. Por que razão, de facto, haveríamos de ter Chávez como inimigo ou alvo a abater? Porque isso agradaria ao embaixador dos Estados Unidos em Lisboa? É ele que está em condições de garantir que, se hostilizássemos Chávez, em nome de uma estúpida solidariedade ocidental de espécie confusa, os Estados Unidos estariam de braços abertos para acolher a comunidade lusa de 400.000 almas que vive na Venezuela? E em nome de que coerência de princípios disse Luís Filipe Menezes esperar que Sócrates não deixasse de abordar o tema dos direitos humanos com Chávez? Será que espera o mesmo nas relações com Angola ou com a China - essas, sim, verdadeiras ditaduras - onde o bloco central dos empresários tem ou espera vir a ter negócios milionários, garantidos pela cobertura do Estado e por relações sem ondas com as nomenclaturas locais? O dr. Menezes sente-se capaz de explicar ao sr. Américo Amorim que, se um dia for primeiro-ministro, vai pôr o tema dos direitos humanos no topo da agenda das relações com Angola?

Eu prefiro Hugo Chávez a George W. Bush. Para começar, porque se fosse venezuelano ou latino-americano e se houvesse um Bush na Casa Branca, eu também seria ferozmente antiamericano. Depois, porque acho mais saudável alguém que diz a verdade que lhe vem à boca, ainda que muitas vezes disparatada e inconveniente, do que alguém que lê frases feitas no teleponto e por trás dos microfofones faz o oposto do que diz e promete. E, finalmente e não menos importante, porque preferia mil vezes jantar com Chávez do que com Bush. Mesmo que, a certa altura e cansado de o ouvir, tivesse de o mandar calar, como fez, e bem, o rei de Espanha.

PS - Há mais de dez anos que vivemos com esta espada suspensa sobre a cabeça: quando não têm mais nada com que se entreter para exibir a sua importância, os senhores da Academia das Ciências e os ministros dos Estrangeiros gostam de nos ameaçar com o acordo ortográfico, cujo objectivo único é por-nos a escrever como os brasileiros, assim lhes facilitando a sua penetração e influência nos países de expressão portuguesa. Como disse Vasco Graça Moura, o acordo é um diktat neo-colonial, em que o mais forte (o Brasil) determina a sua vontade ao mais fraco (Portugal). Alguém imagina os Estados Unidos a ditarem à Inglaterra as regras ortográficas da língua inglesa? Ou o Canadá a ditar as do francês à França ou a Venezuela as do espanhol a Espanha?

Dizem que isto vai facilitar a penetração da literatura portuguesa no Brasil, mas ninguém perguntou a opinião aos autores portugueses. Há quatro anos atrás, publiquei um livro no Brasil e, contra a opinião de alguns sábios e as várias insistências da editora brasileira, o livro reza assim na ficha técnica: A pedido do autor, foi mantida a grafia da edição original portuguesa. Apesar dos agoiros de desastre que essa teimosia minha implicaria, o livro vendeu até hoje cerca de 50.000 exemplares no Brasil. Perdoem-me a imodéstia, mas orgulho-me de ter feito bem mais pela nossa língua no Brasil do que todos esses que se dispõem a vendê-la como coisa velha e descartável.


Miguel Sousa Tavares

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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

O CANTINHO DO HOOLIGAN

Scolari destemperou e abandonou uma conferência de imprensa no final do Portugal-Finlândia.
Vá lá.
No jogo com a Sérvia acabou à pêra.


Luís Felipe Scolari, leitor dos teóricos do militarismo chinês, devoto de Nossa Senhora de Caravaggio e admirador do ditador Augusto Pinochet, não é homem para admitir que o critiquem ou afrontem.
Reconhecido mundialmente como treinador de futebol e como teimoso, o Felipão ou Sargentão, como é também conhecido, destempera com facilidade.
O sérvio Ivica Dragutinovic que o diga. E na noite de quarta-feira Scolari destemperou mais uma vez.


O caso deu-se quando Scolari foi questionado, na conferência de imprensa após o jogo, sobre a desnecessidade de sofrer tanto para garantir o apuramento para o Euro 2008, jogando com 5 defesas e 2 trincos para garantir o empate a zero, em casa, frente ao 44º país do ranking da FIFA, onde Portugal ocupa o 8º lugar.
O Sargentão destemperou.

Falando sozinho, que é como gosta de falar, desfiou um rosário de lamúrias contra a ingratidão dos portugueses em geral e dos jornalistas desportivos em particular.


Provavelmente, o Sargentão esperava, para além do salário, prémios e contratos de publicidade, que lhe erguessem uma estátua como descobridor do futebol em Portugal. E, acima de tudo, que o isentassem de qualquer tipo de crítica ou reparo, em nome do eterno reconhecimento por ter levado a selecção a um 2º lugar num europeu, realizado em Portugal, e a um 4º num mundial.

Entendeu Scolari que as críticas à sua proverbial teimosia sugeriam que o estavam a tratar por burro.
Para mostrar que os jornalistas não tinham razão não deu dois coices: limitou-se a sair da sala.

No jogo com a Sérvia foi pior: acabou à pancada.


J.P.G.

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REPÚBLICA DAS BANANAS [ 2ªParte]


O MINISTRO E O

DESBOCADO




Teixeira dos Santos deu razão à inspecção da Provedoria de Justiça que aponta irregularidades no funcionamento da Direcção-Geral dos Impostos.
É pena que o ministro, e o seu emotivo secretário de Estado (dos Assuntos Fiscais), tenham esperado pela inspecção para fazerem mea culpa.



Bastava terem levado a sério alguns dos casos que a Imprensa vem denunciando, para perceberem que algo estava mal na cobrança fiscal.
Quer isto dizer que as Finanças desconheciam a situação?
Não. O Fisco anda numa cruzada para eliminar um problema crónico da sociedade portuguesa: a evasão fiscal.
Objectivo meritório, sem dúvida.

Só que quando se quer fazer em 3 anos aquilo que devia ser feito em 10, acontecem atropelos.


O ministro diz ainda que, apesar da inspecção, não hesitará em recuperar dívidas.
Ficam-lhe bem estas preocupações.
Espera-se que, além destas, tenha outras.
Como proteger os contribuintes de ilegalidades. E que leve mais a sério a sua função de ministro, puxando as orelhas a Amaral Tomás, que acordou subitamente para a fuga aos impostos, protagonizada pelas maiores empresas.
Que há empresas que fogem aos impostos, ninguém duvida.
Mas se o Fisco tem provas dessa fuga, que publicite o seu nome.
Sugerir que se compare as empresas da Operação Furacão com quem foge aos impostos é roçar a ilegalidade.
E se alguma delas for absolvida?
Processa o governante?


C.L.

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ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE

O advogado João Pedroso é homem de múltiplos talentos.
Professor de Protecção de jovens em perigo no Centro de Direito da Família da Universidade de Coimbra, é igualmente especialista em protecção de adultos em perigo, advogando no caso de seu irmão, Paulo Pedroso, abusado por jovens em perigo da Casa Pia que lhe assacaram coisas feias e perigosas.
Assistente ainda da Faculdade de Economia de Coimbra, é ao mesmo tempo especialista em direito da educação, ou como tal o tem o Ministério da dita, que - noticiou o Rádio Clube Português - o contratou, a troco de 1 500 euros por mês, para compilar a legislação existente sobre educação, trabalho hercúleo que Pedroso deveria ter concluído até Maio de 2006, mas que, justamente por ser hercúleo, não concluiu.
A remuneração não era, no entanto, hercúlea, pelo que terá sido devidamente embolsada.
O Ministério, compreensivo, decidiu contratá-lo de novo para fazer a mesma coisa, mas agora a 20 mil euros por mês.
Por este andar não é, pois, de excluir que, se o trabalho voltar a não se feito, o ME o contrate mais uma vez, agora a 40 mil euros, e depois, se não resultar, a 80 mil, e eternamente por aí fora até que a morte os separe.
Ou até mudar o Governo (dando-se o caso de o Governo não ser também eterno).


M.A.P.

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quinta-feira, 22 de novembro de 2007

REPÚBLICA DAS BANANAS

Finalmente, tornou-se oficial vivemos na república dos bananas. E os bananas somos nós, que trabalhamos por conta de outrem e pagamos impostos sem ter hipótese de entrar na fraude fiscal ou no branqueamento de capitais.

Vem isto a propósito da reiterada acusação feita pelo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Amaral Tomás. O senhor governante jura a pés juntos que alguns empresários [quais?] deviam ter vergonha da sua actuação. Porquê?
Porque roubam o Estado (todos nós) cometendo fraude fiscal e enriquecem lavando dinheiro sujo.


Na república dos bananas mandam as lavadeiras e, tanto quanto sabemos, o Governo de todos nós limita-se a dizer- -lhes que sabe o que se passa, na esperança de que a denúncia leve a mudanças de comportamento.
Mais ou menos como quem publica na Internet a lista dos devedores ao Fisco.
Sistema, aliás, há séculos utilizado, sem recurso às novas tecnologias, pelos comerciantes do fiado.


Pois, senhor secretário de Estado, nós contribuintes pagadores exigimos mais de Vossa Excelência.
Não nos basta que os cofres do Estado continuem a engordar à nossa custa, que pagamos cada vez mais, nem à custa dos criminosos da fraude e da lavagem, que pagam, apenas, quando são apanhados.


Se o senhor diz o que diz - e já o disse por duas vezes - é porque sabe do que fala e a sua obrigação é denunciar todos os casos que conhece à Polícia. Fraude?
Lavagem de dinheiro?
Esta não é, apenas, uma questão fiscal.


Como está sempre a falar da Operação Furacão, aguardamos que as suas declarações produzam, pelo menos, uma aragem, um ventinho.
Para que possamos voltara a ser a República de Portugal.


P.B.

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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

ACHO QUE NÃO LHE CHAMARIA "OS PUTOS", MAS SIM "OS FILHOS DA P..."

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PEQUENA CRÓNICA DO BANAL

A vida pede pouco mais que vida.
RUY BELO
Meditação Anciã

Os pais portugueses são os menos brincalhões da Europa: apenas 6% divertem--se com os filhos. Nenhuma interpretação semântica escapa a esta evidência. O sentimento de pertença, corolário de um conceito de relação, e este como vector da ideia de cidadania, está a mirrar. O sistema aniquilou as redes de comunicação que permitiam a troca de valores e a difusão dos afectos. E está a dissolver o amor.

As dificuldades dos portugueses são crescentes, os direitos diminuem, os deveres e as obrigações aumentam. Os jovens casais são empurrados para as periferias. As rendas de casa são altíssimas; a compra de apartamentos insuportável pela subida inclemente dos juros; os salários não suportam as oscilações dos preços das coisas elementares. Na impossibilidade de possuírem dois automóveis, ou mesmo nenhum, um casal, habitando (habitar não é viver) no subúrbio é coagido a servir-se de transportes públicos desconfortáveis, cheios de fedores, de tristeza, de pobreza e de passado.

O cenário é aquela fronteira densa e excessiva, sem enigma nem segredo, que todos conhecemos. A mulher sai do emprego, corre às compras no supermercado, coloca-se, desanimada e democrática, na bicha do autocarro. O autocarro está pontualmente atrasado. As pessoas consultam os relógios de pulso. Começam as conversas, desencadeiam-se as lamúrias, cruzam-se os queixumes. As mulheres entram carregadas. Observam-se, formais e cristãs; atentas ao penteado, aos sapatos, às roupas da outra. O autocarro, já muito cheiroso, fica invadido de bafos.

Os homens enfiam-se no carro. Antes, haviam comprado o jornal "desportivo de sua preferência. Cada um dos jornais desportivos cultiva, com discrição e reserva, uma tendência clubística, por todos conhecida. Os homens estão desejosos de chegar a casa. Até lá, hora, hora e meia de caminho: as bichas, os pequenos e grandes acidentes diários, as chuvas, os calores, o dia que escureceu mais cedo, o dia que se prolonga até mais tarde. Os homens consultam os relógios de pulso. Almejam chegar a tempo de assistir a um dos 122 programas sobre futebol que todas as televisões transmitem, com pedagógica alegria. Chegam, ligam os aparelhos, sentam-se.

A mulher apareceu finalmente. O homem ouve-a: está concentrado no que afirma um comentador. Nem olha para a mulher, a mulher dá-lhe um beijo rápido, rotineiro e indiferente. Que é o jantar?", pergunta ele. Pergunta por perguntar. Os seus plurais interesses resumem-se a ouvir a palavra culta e eloquente daqueles sábios acerca do jogo que ainda se não realizou. Intervalo. O menino?, pergunta o pai. Ficou em casa da avó", diz a mãe.

Ah!, responde ele.


B.B.

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terça-feira, 20 de novembro de 2007

REBALMARIA

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A ESCOLA COMO DEPÓSITO DE CRIANÇAS

AQUI ESTÁ TUDO!


Clique na imagem para ler na integra

Este caso, que circula na net, ilustra com toda a dimensão aquilo que se vive nas escolas do interior. 90% dos pais são analfabetos funcionais.
Praticamente 100% (senão mais...!) vêm a escola única e exclusivamente como um armazém das crianças que têm.
O que se lá passa pouco importa e quanto mais tarde fechar, melhor.
De preferência que lhes dessem lá o jantar...


A esmagadora maioria dos pais do interior não faz a mais pequena ideia de quais são os objectivos da Escola. Mandam para lá os filhos porque é assim que toda a gente faz. E porque dá muito jeito, durante o dia. É menos uma grande preocupação.

Este é, infelizmente, o nível de compreensão da maioria do povão do interior (há excepções, claro) relativamente à escola. E, da mesma forma que não se consegue pôr uma foca a falar francês, ninguém tenha a veleidade de explicar o que quer que seja com alguma profundidade aos encarregados de educação desta geração.

Uma coisa, no entanto, é certa e eu tenho vindo a alertar os meus colegas para ela há já alguns anos: a profusão de trabalhos de casa que demasiados professores marcam é absolutamente proibitiva de uma vida social em casa.
E até do tempo mínimo de repouso a que têm direito os (poucos) alunos que os tentam fazer.
Uma coisa é eles não terem tempo para ver as novelas insultuosas para qualquer inteligência mediana que passam nos 3 - três - canais comerciais abertos; nesse sentido os trabalhos de casa são até um elemento positivo para a desalienação progressiva das camadas mais jovens do interior. Mas o que é demais também é prejudicial.
E, os meus colegas que me desculpem, mas marcar diariamente trabalhos de casas aos alunos - a todas as disciplinas - é tão estúpido como a resposta que esta mãe deu à professora.


J.T.

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A MEDIDA DE TODAS AS COISAS

Foi preciso chegar ao fim de uma entrevista congratulatória (ontem, ao DN e à TSF) para que Durão Barroso fosse questionado sobre a Guerra do Iraque e confessasse: Houve informações que me foram dadas, a mim e a outros, que não corresponderam à verdade.

Ouvir estas as declarações, bem como as dos restantes protagonistas da Cimeira dos Açores, é como ouvir as contraditórias desculpas de um grupo de rapazolas sobre uma noitada que correu mal. Cada um se justifica com os outros. Durão diz agora que só organizou o encontro porque os espanhóis lho pediram. É curioso: na altura toda a gente viu as piruetas que deu para poder aparecer na fotografia.



É embaraçoso para Durão, e mesmo escusado. Nós sabemos hoje muito mais do que as suas justificações insinuam. O memorando de Downing Street, publicado pelo Times em 2005, demonstra que quase um ano antes da guerra George W. Bush já tinha decidido invadir o Iraque. As informações e os factos iriam ser amanhados (fixed around no original) para justificar a decisão. Os seus aliados britânicos sabiam. As actas da reunião de Crawford entre Bush e Aznar, que o El País publicou recentemente, demonstram que um mês antes da guerra Bush recusara a ideia de Saddam abdicar e exilar-se no Egipto. Aznar sabia.



Sabemos hoje que Saddam poderia ter sido contido de muitas formas, já desde os anos 80, e que esta guerra deveria ter sido evitada. Perante isto, Durão diz que agora é fácil. Pelo contrário, Sr. Durão: não foi fácil então ser contra a guerra e não é fácil ainda hoje - desde fascistas a apoiantes de Saddam e a pró-terroristas já fomos chamados de tudo -, mas foi demasiado fácil, isso sim, ir na onda e cuidar da carreira.

Se falo em carreira é porque Durão diz na mesma entrevista que não gosta da expressão carreira política. Declarações portentosas vindas de quem, sobre a Guerra do Iraque, diz ainda o seguinte:

Não temos que estar de forma nenhuma arrependidos da posição que tomámos. Portugal não perdeu nada, também na Europa, com isso. Repare, depois das decisões que tomei, fui convidado a ser presidente da Comissão Europeia e tive o consenso de todos os países europeus. O que demonstra que o facto de Portugal ter tomado naquela altura aquela posição não prejudicou em nada, em nada, a imagem de Portugal junto dos seus parceiros europeus.

Durão Barroso pode não gostar da expressão, mas faz da sua carreira política a medida de todas as coisas. Aquelas frases sugerem bem como funciona a sua cabeça e a de tantos políticos como ele. Portugal não tem que estar arrependido do apoio à invasão do Iraque. Porquê? Porque não perdeu nada com isso. Não perdeu o quê: honestidade, credibilidade, autoridade moral? Nada de tais coisas; foi a nossa imagem que não sofreu. E como sabemos que a nossa "imagem" não sofreu? Porque a carreira de Durão o demonstra.

Esta é a mais pura inversão moral. A carreira de um indivíduo é a medida da imagem de um país. A imagem de um país é mais importante do que o seu comportamento. E a opinião dos parceiros - em geral mais ricos, poderosos e brancos - é mais importante do que o destino de gente que é menos qualquer dessas três coisas.

Muitos anos, muitos jornais e muitas crónicas depois, pergunto-me se será demasiado ter uma palavra sobre os quinhentos mil mortos e quatro milhões de refugiados desta guerra. Mas afinal, os portugueses não devem preocupar-se com isso, porque Durão Barroso veio depois a ser nomeado para um cargo importante. Mais alguma coisa interessa?


Rui Tavares

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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

E AOS COSTUMES DIZEM NADA

1. Bento XVI chamou os bispos portugueses a Roma para lhes dar uma reprimenda exemplar e inesperada: Portugal, segundo o Papa, vai mal de verdadeira fé e de militância católica: muito folclore e pouca substância. Esta foi a resposta que a Igreja Católica portuguesa recebeu ao convite para que o Papa viesse a Fátima para a inauguração da nova (e lindíssima) basílica do Santuário. Menos Fátima e mais Evangelho, respondeu-lhes Bento XVI. Menos multidões nas datas marcadas no Santuário e mais gente nas igrejas e na vida das paróquias.

Sob a chefia de João Paulo II, a Igreja portuguesa viveu anos pacíficos, adormecida à sombra de verdades imutáveis e tranquilas: 95% de baptizados, logo de católicos; um código consistente de direitos e privilégios garantidos pelo Estado e cujo núcleo duro nunca foi posto em causa; e uma crescente reanimação pelo chamado culto mariano, que todos os anos arrasta multidões até Fátima, numa demonstração de fanatismo religioso que nada fica a dever às de outras religiões para que costumamos olhar com a sobranceria de quem contempla manifestações de selvagens fanatizados. João Paulo II - provavelmente o pior Papa que a Igreja teve desde Pio XII - era muito dado a essas manifestações de fé colectiva e irreflectida, ampliadas pela televisão e os media. Verdadeiramente, ele acreditava que, afinal, o reino de Deus era deste mundo e que aqui é que se travava a batalha decisiva: tudo o que lhe cabia fazer, enquanto representante de Cristo na terra, era viajar quanto pudesse, arrastando atrás de si as televisões e as legiões de fiéis.

O Papa Ratzinger é diferente. Ocupou-se da doutrina enquanto Woytila se ocupava da fé. Teólogo, intelectual brilhante, com uma noção da intemporalidade da Igreja que vai muito além dos fenómenos passageiros de histeria de massas, ele sabe que 300.000 peregrinos em Fátima não significam 300.000 cristãos no dia-a-dia da Igreja e das suas próprias vidas. Sabe que há católicos, e a grande maioria, que é capaz de viver 364 dias por ano ao arrepio da moral e dos mandamentos da Igreja e um dia por ano a conquistar a absolvição dos seus pecados numa excursão a Fátima, mais ou menos penosa. E sabe que a fé e a religião são coisas diferentes disso.

Penso que nem mesmo o mais disponível dos católicos é capaz de olhar para o Papa Ratzinger e ver nele o representante de Deus ou o enviado de Cristo a este mundo. Mas, em contrapartida, o seu pontificado é capaz de vir a resultar mais útil para a igreja católica do que os longos anos de papado do seu antecessor. A sua mensagem vai-se tornando progressivamente clara: mais substância e menos aparência.

2. Um tribunal de primeira instância de Madrid condenou a revista satírica espanhola El Jueves a uma pena quase simbólica por ofensas aos príncipes das Astúrias, cometida através de uma caricatura onde Filipe e Letizia eram retratados em acto sexual explícito em posição que não era a nº 1 do catálogo. Lá, aqui e além-fronteira ibérica, levantou-se uma série de vozes indignadas contra este atentado à liberdade de expressão e ao sentido de humor, não faltando até quem fizesse a comparação entre este cartoon e o célebre cartoon sobre Maomé de um jornal dinamarquês. Escreveu-se que, em Espanha, a liberdade de imprensa parece acabar quando toca à família real e outras coisas semelhantes. Parece que a ninguém ocorreu que os príncipes das Astúrias por o serem, não gozam de menos direitos do que qualquer outro cidadão. E que a qualquer cidadão assiste o direito de não ver a sua vida conjugal ou sexual retratada em caricaturas explícitas nos jornais. E não ocorreu que, mesmo que por absurdo se quisesse reduzir tal matéria ao exercício da liberdade de expressão, ela deverá sempre terminar onde começa o mau gosto.

3. Há uma circunvalação em Viseu, com vários quilómetros de comprimento, separador central e duas a três faixas de circulação em cada sentido, onde absurdamente o limite de velocidade está fixado em 50 km/hora. Como tal limite é quase impossível de cumprir, a polícia gosta de montar ali os seus radares e operações stop, com profícua caçada às multas garantida. Na madrugada do último sábado, lá montaram uma operação, com direito a assistência do sr. governador civil do distrito. Mas, para azar de todos, o primeiro condutor parado por excesso de velocidade (89 km/hora) foi nada mais nada menos do que o presidente da Câmara e da Associação de Municípios Portugueses, Fernando Ruas. Depois de uma breve conversa entre este e o governador civil, o infractor seguiu livremente o seu caminho, sem ter sido identificado nem multado pela polícia. Uma descoordenação, justificou esta quando interpelada por um jornalista.

Dias depois, Fernando Ruas voltou a recusar um pedido já diversas vezes encaminhado para a Câmara de subir o limite de velocidade naquela estrada para os 80 km/ hora, declarando que ninguém se podia aproveitar do seu caso para reclamar tal alteração. Aliás, o autarca estranhou tanto interesse no seu caso e concluiu que se procura arranjar argumentos para abater este cidadão. Eis a sua moral: Façam como eu mando, não como eu desobedeço, porque nem todos são iguais perante a lei. Realmente, não se percebe tanto interesse no assunto.

4. Depois de tratar dos fumadores, o grupo parlamentar do PS propõe-se agora tratar da saúde a quem abusa do sal. Há um deputado que anda entusiasmado a preparar uma lei que vai regulamentar ao decigrama o teor máximo de sal permitido nos alimentos dos restaurantes. Não imagino que a fiscalização de tão minuciosa legislação se possa fazer sem um exército reforçado da ASAE, com aparelhos sofisticados e actuações espectaculares ao vivo ("O sr. cliente importa-se de esperar, antes de comer o seu peixe, que eu proceda à medição do teor de sal, para verificar se está legal?").

Eu sempre disse: primeiro o tabaco, depois o sal, a seguir o álcool, depois as gorduras e os fritos e a seguir, quem sabe, talvez saia uma lei a regulamentar o perigo que representa para a nossa saúde o facto de ainda estarmos vivos.


Miguel Sousa Tavares

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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

GRANDES AMIGOS

O prestígio internacional e uma maior aproximação aos Estados Unidos da América foram dois dos principais argumentos invocados pelos defensores do alinhamento português na guerra do Iraque.
Os resultados estão à vista.


George Bush acaba de vetar uma proposta orçamental do partido democrata, utilizando as aulas de português como segunda língua como o exemplo das despesas inúteis a que pretende pôr cobro.

No período em que esta proposta legislativa esteve em discussão, José Sócrates e Cavaco Silva visitaram os Estados Unidos da América.
O primeiro-ministro encolheu-se e não reagiu quando ouviu Bush agradecer-lhe "a sua decisão de ajudar o povo do Iraque e do Afeganistão a perceber a bênção da liberdade”.
George Bush é pouco amigo dos seus amigos.
Pelo menos daqueles que percebe que pode tratar e destratar como lhe apetece.
Foi uma visita bem sucedida, disse o primeiro-ministro, mas não para os portugueses a viver nos EUA.
Não só ficam sem aulas para os seus filhos, como ainda são gozados por um presidente que é bem capaz de não saber onde fica Portugal.

P.S.

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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

PORTUGUÊS, CONTRIBUINTE...

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CARTA AO MINISTRO DAS FINANÇAS

Ex.mo Senhor Ministro das Finanças

Victor Lopes da Gama Cerqueira, cidadão eleitor e contribuinte deste País, com o número de B.I. 8*********, do Arquivo de identificação de Lisboa, contribuinte n.º15******* vem por este meio junto de V. Ex.ª para lhe fazer uma proposta:

A minha Esposa, Maria Amélia Pereira Gonçalves Sampaio Cerqueira, foi vítima de CANCRO DE MAMA em 2004, foi operada em 6 Janeiro com a extracção radical da mesma.

Por esta "coisinha" sem qualquer importância foi-lhe atribuída uma incapacidade de 80%, imagine, que deu origem a que a minha Esposa tenha usufruído de alguns benefícios fiscais.

Assim, e tendo em conta as suas orientações, nomeadamente para a CGA, que confirmam que para si o CANCRO é uma questão de só menos importância.

Considerando ainda, o facto de V. Ex.ª, coerentemente, querer que para o ano seja retirado os benefícios fiscais, a qualquer um que ganhe um pouco mais do que o salário mínimo, venho propor a V. Ex.ª o seguinte:

a) a devolução do CANCRO de MAMA da minha Mulher a V. Ex.ª que, com os meus cumprimentos, o dará à sua Esposa ou Filha.
b) Concomitantemente com esta oferta gostaria que aceitasse para a sua Esposa ou Filha ainda:
c) os seis (6) tratamentos de quimioterapia.
d) os vinte e oito (28) tratamentos de radioterapia.
e) a angustia e a ansiedade que nós sofremos antes, durante e depois.
f) os exames semestrais (que desperdício Senhor Ministro, terá que orientar o seu colega da saúde para acabar com este escândalo).
g) a ansiedade com que são acompanhados estes exames.
h) a angústia em que vivemos permanentemente.

Em troca de V. Ex.ª ficar para si e para os seus com a doença da minha Esposa e os nossos sofrimentos eu DEVOLVEREI todos os benefícios fiscais de que a minha Esposa terá beneficiado, pedindo um empréstimo para o fazer.

Penso sinceramente que é uma proposta justa e com a qual, estou certo, a sua Esposa ou filha também estarão de acordo.

Grato pela atenção que possa dar a esta proposta, informo V. Ex.ª que darei conhecimento da mesma a Sua Ex.ª o Presidente da República, agradecendo fervorosamente o apoio que tem dispensado ao seu Governo e a medidas como esta e também o aumento de impostos aos reformados e outras...

Reservo-me ainda o direito (será que tenho direitos?) de divulgar esta carta como muito bem entender.

Como V. Ex.ª não acreditará em Deus (por se considerar como tal...) e por isso dorme em paz, abraçando e beijando os seus, só lhe posso desejar que Deus lhe perdoe, porque eu não posso (jamais) perdoar-lhe.

Atentamente


Victor Lopes da Gama Cerqueira

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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

TAVEIRA PINTO, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR, NOVAMENTE ARGUÍDO EM MAIS DOIS PROCESSOS [2ª Parte]



O Funcionário Municipal dr. Normando José Pereira Sérgio, pediu hoje, Licença Sem Vencimento, à Câmara Municipal de Ponte de Sor.


Lembramos aos nossos leitores, que o funcionário Municipal dr. Normando José Pereira Sérgio, foi constituído arguído, na passada sexta-feira, pelo M.P., num processo de Falsificação de Actas das Sessões da Câmara Municipal, conjuntamente com o dr. Taveira Pinto, presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor.



Para ler a Parte I deste post veja (AQUI)



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O ACUSADOR ACUSADO


Diz o Expresso, austero e minucioso, que o dr. Paulo Portas, patriota de si mesmo, mandou copiar 61 893 páginas do Ministério da Defesa quando tutelava a pasta. O conhecidíssimo semanário esclarece, ainda, que alguns documentos tinham escrita a palavra 'confidencial' . Adianta: O Ministério Público sabe, mas não investigou. Investigou o Expresso, muito dado ao varejo para resguardo e defesa da moral pública.

Até recordo, com enternecida emoção, aquele gracioso texto sobre o Rosa Casaco, e as fotografias acompanhantes, junto da Torre de Belém, emblema da pureza nacionalista. Casaco, para quem não sabe e, também, para os que preferem ignorar, foi um torcionário da polícia política, cúmplice demonstrado do assassínio do general Delgado. Estava fugido, procurado com afã, mas toda a gente sabia onde se aboletava. E o Expresso, numa fina e nunca assaz louvada iniciativa, apresentou-se com uma cacha monumental: trouxe o pide a Lisboa e com ele se passeou, imperial na sua vasta glória. Demonstrava, desta forma, as infinitas possibilidades de que dispunha para enganar as autoridades e, também, levemente embora, para proceder a umas amolgadelas na ética e na deontologia que ardorosamente clama defender.

O dr. Portas, acusado, agora, de incomensurável vileza, sobressaltou-se, legitimamente, e diz-se inocente no propósito e casto na matéria. No recolhimento do Caldas declarou que o poderoso volume de fólios era constituído por notas pessoais e breves anotações acerca do CDS-PP. O dr. Portas sempre apreciou anotar. N'O Independente anotava tudo o que representasse malefícios para a República. Serviu-se do adjectivo como de um aríete. Contornava, com lenta obstinação, a verdade dos factos, se é que os factos contêm alguma verdade, a fim de preservar as públicas liberdades. O Independente foi leve, fresco, farsante e bailarino. Diz quem sabe que o dr. Portas resguardou um feixe incalculável de notas. A pecha nasceu, segundo se suspeita, no jornal. Acontece um porém: no jornal, quem pagava eram os proprietários; no ministério, somos nós quem esportula os euros.

Com timidez admito que o dr. Portas esteja a preparar um livro cruel, um ensaio arrasador, um depoimento exaltante, um testemunho arrebatado, um memorial contundente ou um documento faiscante sobre a imbecilidade, a intriga, o desleixo, a ignorância dos políticos portugueses - e para isso precise de milhares de apontamentos.

Mas o varejo das coisas e dos outros ou das coisas dos outros quando começa não consegue parar. A tineta do dr. Portas para a anotação poderá ter um reverso mais condenável do que o cândido exercício mnemónico. Quem nos diz que ele próprio não está anotado em outros ministérios?

B.B.

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terça-feira, 13 de novembro de 2007

VERGONHOSO PROFESSORES DAS ACTIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR NÃO RECEBEM

As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), há quem as designe de Actividades de Empobrecimento Curricular, nasceram algo tortas e, como diz a sábia voz do povo, aquilo que nasce torto, tarde ou mal se endireita.
Não querendo tomar a parte pelo todo, não me atrevo, para já, a juntar-me ao exército, que tem visto as suas fileiras engrossarem, daqueles que diabolizam as AEC.
Apesar de não ser novidade para ninguém que me conheça que não concordo com o modelo adoptado nem com os objectivos (se é que estes existem) que estas se propões alcançar.
Todavia, posso afirmar, convictamente, que este modelo contribui para o empobrecimento dos professores envolvidos no projecto.
A trabalharem desde Setembro sem receberem um cêntimo pelos seus serviços é absolutamente inaceitável.
Não esqueçamos que estes profissionais trabalham a Recibo Verde, portanto há uma boa parte do ano em que não recebem coisa alguma. Isto já é preocupante.
Pensar que estas pessoas desde Julho que não auferem qualquer vencimento suscita-me algumas questões:
Quem paga a renda / prestação da casa?
Quem paga a alimentação?
Quem paga a água, a luz, o telefone?
Como é que se vive assim?
Não esqueçamos que muitos têm que se deslocar em transporte próprio para a (s) escola (s) onde leccionam.
Não sei se esta situação se está a passar em todo o país.
Em Viseu esta é uma realidade dramática.
Parece que os vencimentos estão a ser processados…estavam…estarão…
Ninguém sabe ao certo.
O que sei é que há gente a vivenciar situações dramáticas.
Um amigo disse-me que não sabe se o dinheiro que ainda lhe resta será suficiente para o combustível que lhe permita deslocar-se às várias escolas em que trabalha.
Aqui está outra aberração: contratam imensa gente e depois atribuem apenas 12 horas a cada professor, horas distribuídas por distintos locais, obrigando a várias deslocações diárias.
Se não expusesse esta situação vergonhosa e lamentável hoje, tenho a sensação de que nem dormiria em paz.
Outros há que estão, dado o adiantado da hora, tranquilamente a sonhar com a cabeça na almofada.
Enquanto isso, muitos fazem das tripas o coração, encetando majestosos malabarismos, para fazerem face às necessidades básicas do quotidiano.

Que vergonha!!!


José Carreira

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segunda-feira, 12 de novembro de 2007

PARABÉNS AO PRIMEIRO MINISTRO

As últimas previsões da Comissão Europeia (CE) sobre a evolução da situação económica e social em Portugal - que se juntam a todas as outras conhecidas - confirmam um quadro bem mais pessimista que aquele que o Governo tem usado para emoldurar a proposta orçamental actualmente em debate.

Os números de Bruxelas são mesmo preocupantes.
A inflação esperada para 2008 é de 2,4, quase 15% acima do que prevê o Governo (2,1).
A taxa de desemprego atingirá 8,0% contra os 7,6 governamentais.
A criação de emprego ficará pelos 0,6, bem abaixo dos 0,9 do Governo.
O investimento global no País poderá atingir 2,3% contra os 4% inscritos pelo Governo, pouco mais de metade do que Sócrates prevê. E mesmo as exportações - a explicação mais usada para o pífio crescimento dos dois últimos anos - sofrem um golpe assinalável nas previsões da CE (5,6) relativamente às expectativas governamentais (6,7).

Perante esta generalizada revisão em baixa dos principais indicadores que sustentam a proposta de Orçamento para 2008, seria legítimo esperar que o Governo utilizasse o debate em curso para ponderar, e eventualmente rever, pelo menos alguns desses indicadores.
Por exemplo, o valor da inflação que, como se sabe, determina de forma decisiva os salários, a forma de actualizar os escalões de IRS e o valor das deduções e abatimentos neste imposto, podendo assim reflectir-se num menor agravamento fiscal para centenas de milhares de portugueses.

Pelo ar da carruagem da reacção de Teixeira dos Santos não parece que o Governo esteja disponível para aceitar esta hipótese, mostrando mais uma vez uma evidente ausência de flexibilidade política e uma inexplicável indisponibilidade para concertar ou ponderar algumas propostas construtivas e lógicas que tem sido feitas, em especial a da descida do IVA para 20% já em 2008.

Teremos então que nos ficar pelos comentários de José Sócrates sobre as últimas previsões da CE.
Directamente do Chile, onde foi fazer figura de corpo presente na Cimeira Ibero Americana, o Primeiro-Ministro considerou os dados de Bruxelas uma boa notícia para Portugal.
Teremos assim que nos limitar a dar os parabéns ao Governo do PS. Parabéns porque Portugal vai chegar ao final deste ano com o mais baixo crescimento económico dos vinte e sete países que agora integram a União Europeia, parabéns ao Governo porque - sejam quais forem os números usados - vamos em 2008 continuar a afastar-nos, pelo oitavo ano consecutivo, da riqueza média produzida nesses países.

Parabéns!

É mesmo obra,

Eng. José Sócrates!

H.N.

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domingo, 11 de novembro de 2007

MAL EMPREGADAS AS QUE FALHAM!



P.

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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

TAVEIRA PINTO, PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR, NOVAMENTE ARGUÍDO EM MAIS DOIS PROCESSOS


O Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, Taveira Pinto, foi hoje constituído Arguído pelo Ministério Público em mais dois Processos Judiciais.

- Um Processo de Ofensas Graves a uma Funcionária da Câmara Municipal de Ponte de Sor;



- Um processo de Falsificação de Acta da Câmara Municipal de Ponte de Sor. Neste Processo foi também Constituído Arguído o Funcionário Municipal dr. Normando.

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MAIS UM TIRO, O "MAR DA PALHA" COMEÇA A FICAR CHEIO DE BARCOS NO FUNDO...

Previsões de Outono

Desemprego vai crescer em Portugal

A Comissão Europeia reviu hoje em alta as previsões para a taxa de desemprego em Portugal este ano e no próximo para os 8 por cento, apesar de ser esperada uma aceleração do crescimento económico.

Nas Previsões Económicas do Outono para 2007-2009, apresentadas hoje, em Bruxelas, a Comissão Europeia revê em alta, para 8 por cento, as estimativas para o desemprego este ano, mais 0,3 pontos percentuais que nas previsões da Primavera.

Em 2008, a taxa de desemprego deverá manter-se nos 8 por cento, contra os 7,5 por cento estimados nas anteriores previsões da Comissão Europeia, divulgadas em Maio.

Estas previsões ficam claramente acima das estimativas do Governo no Orçamento de Estado para 2008.

O executivo prevê que a taxa de desemprego se situe nos 7,8 por cento, em 2007, e nos 7,6 por cento, em 2008.

«A criação de emprego foi lenta, reflectindo a resposta retardada do emprego subjugado à actividade económica», refere a Comissão Europeia, acrescentando que «estes factores deverão continuar em 2008 e 2009, consequentemente dando pouco relevo ao desemprego».

No entanto, os salários deverão manter os actuais níveis de crescimento, mas os custos unitários do trabalho poderão crescer, marginalmente, menos do que nos outros países europeus.

A Comissão Europeia revê em alta o desemprego, apesar das previsões apontarem para que o crescimento da economia portuguesa acelere no próximo ano, mas para um ritmo mais pessimista do que o esperado pelo Governo, mantendo-se a tendência de divergência com a UE até 2009.

O ritmo de crescimento da economia portuguesa continuará a acelerar este ano e nos próximos dois, seguindo a tendência iniciada em 2005, passando de 1,8 por cento em 2007 para 2,0 por cento em 2008 e 2,1 por cento em 2009.


No:Sol

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AS MITOLOGIAS DE SEGUNDA ORDEM

Nenhuma técnica de propaganda determina o êxito de produtos inferiores. Mas pode enganar os incautos inúmeras vezes. O Emídio Rangel disse, em certa ocasião, que as audiências da SIC poderiam impor um Presidente. A afirmação causou rebuliço. Porém, estava escorada na verdade.

Experiências semelhantes, em outros países, serviam de argumento incontestável. Acontece que o Rangel estava sob o fogo de atiradores, acoitados em todos os pontos cardiais. E acresce o facto de ele possuir um talento que escasseava, notoriamente, aos seus inimigos. Abriu um precedente histórico, mais tarde confirmado na RTP: dois políticos da terceira divisão obtiveram imensa popularidade. Ambos treparam a primeiro-ministro, segundo milagres que, como todos os milagres, assentam numa fraude.

A análise desta problemática está feita há muitíssimos anos. No território dos livros (falo de livros, não de literatura) o assunto, então, parece coisa de vudú. Mas não é. O artifício cria a ilusão. Só muito raramente o grande texto chega ao grande público. O epifenómeno das tiragens extraordinárias corresponde à sua própria fragilidade: duram a sombra do momento.

No tempo do Aquilino, cujos livros alcançavam edições médias de mil, dois mil exemplares, os grandes vencedores (ou grandes vendedores, como se lhes queira chamar) eram Albino Forjaz de Sampaio, Manuel Ribeiro, Sousa Costa ou o seráfico Antero de Figueiredo (que se persignava, antes de começar a escrever), com milhares e milhares de livros. Para não falar de Mary Love ou de Sarah Beirão. Gente estimável e, até, com algum mérito, que almejava dizer tudo sem, rigorosamente, dizer nada. Não fizeram mal a ninguém. Nem bem. Tal como os produtos naturais que não curam nem martirizam, apenas despejam um pouco as bolsas dos persuadidos.

Ora bem: um jornalismo sossegado, preguiçoso, ignorante e até patético tem promovido uma série de medíocres, nos mais amplos sectores da sociedade portuguesa. A crítica dos valores suicidou-se com funambulismos verbais. Na política, apenas têm permissão de audiência duas componentes do girassol ideológico português – se há, de facto, “ideologia” no PS e no PSD. O paradigma daquele programa, Quadratura do Círculo, no qual as três vozes soam a uníssono, constitui um pluralismo inventado numa realidade de metáfora.

A imposição de um pensamento imaginado como original e seriamente atendível não passa de uma convocatória para a imbecilidade e para a anestesia geral. A maioria dos que pensam neste país, que sabem pensar e que poderia ajudar-nos a pensar é, sistematicamente, colocada no limbo. Por ignorância, burrice, mas também por orientação deliberada.

Dias a fio as televisões, as rádios e os jornais transformaram o debate parlamentar num caso entre duas criaturas mediáticas. Os enfoques não se dirigiam para o Orçamento de Estado mas, directamente, para o eventual duelo entre o primeiro-ministro e o líder da bancada do PSD. O ridículo chegou ao ponto de se proceder a uma retrospectiva televisiva dos dois senhores, quando ambos paramentavam a vacuidade das ideias com uma pretensa loquacidade. Até hoje, qualquer dos dois não passou de taciturna mediania.

Quem vai ganhar? Perguntava a pátria, induzida, impelida, constrangida pela máquina acéfala dos media. Um enternecedor concentrado de atenções fez incidir a curiosidade para o debate. O resultado só foi decepcionante para os que ainda pensam que aqueles dois pensam. Não pensam coisíssima nenhuma. Eles nunca souberam ser outra coisa se não o que são: triviais enfatuados, com gravíssimas culpas no estado a que Portugal chegou.

Encheram-se as galerias de São Bento. Já não há bilhetes, declamou, impante, uma pivô. Tratava-se de espectáculo de circo. Horas e horas de televisão. Comentadores do óbvio a comentarem o obviamente vazio. Os dois cavalheiros aprenderam a infinita capacidade de falar, só falar, sem dizer coisa alguma. Assistiu-se a um intermezzo cómico e a esse paroxismo de telenovela em que se tornou o Parlamento. As novas mitologias de segunda ordem adquiridas por um país sem sorte, sem norte, sem porte, pertencem à classe do inevitável.

Chegámos a esta pouca-vergonha por ausência de ética, por desfalecimento moral, pela capitulação de uma Imprensa acrítica, que sequer respeita o valor das suas origens. O encontro, no Parlamento, daqueles dois senhores foi mais um golpe na credibilidade da política, e outra manifestação de indigência do jornalismo pós-moderno.


B.B.

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