domingo, 31 de julho de 2005

ISTO VAI DE MAL A PIOR... [ parte II ]

ISTO É MELHOR QUE O "EURO MILHÕES"

Orçamento da Assembleia para 2005 disponibilizou uma verba de 1,350 milhões de euros para o pagamento de subsídios a deputados

A Assembleia da República vai gastar mais de um milhão de euros em susbsídios de reintegração profissional para 56 ex-deputados, que, ao cessarem funções este ano, solicitaram este regime especial. Como o orçamento do Parlamento para o subsídio de reintegração de deputados ascende a 1,350 milhões de euros em 2005, esta verba será praticamente esgotada só com estes 56 parlamentares beneficiados. Neste momento, encontram-se ainda a aguardar uma decisão 19 ex-parlamentares.

Para já, a Assembleia da República pagou, este mês, cerca de 380 mil euros. Uma pequena ‘fatia’ de um total de 1,145 milhões de euros que serão pagos aos 56 ex-deputados. O antigo ministro da Educação, David Justino, e o ex-governador do Banco de Portugal, José Tavares Moreira, ambos sociais-democratas, são dois dos parlamentares beneficiados com este regime especial.

Os valores dos subsídios de reintegração a atribuir a cada deputado variam entre 63 447 e 3524 euros, sendo estes valores pagos de forma faseada. De acordo com a Lei n.º4/85, “é atribuído um subsídio de reintegração, durante tantos meses quantos os semestres em que tiverem exercido esses cargos, de montante igual ao vencimento mensal do cargo à data da cessação de funções [3 524,85 euros]”. Assim, uma legislatura completa (quatro anos) renderá ao deputado 28.198 euros. Já no caso do deputado ter permanecido apenas um ano no Parlamento, só poderá receber duas vezes 3 524,85 euros.

Nos últimos cinco anos o Estado gastou no pagamento de subsídios de reintegração cerca de 3,5 milhões de euros.

A bancada social-democrata foi a que sofreu mais alterações depois da dissolução da Assembleia da República, com 56 deputados a recorrer ao subsídio de reintegração. Em seguida surge a bancada do PS com apenas dez deputados , do CDS-PP com sete e do PCP com dois. No total foram 75 parlamentares a solicitar este regime especial.

Dos 56 ex-deputados que começaram a receber o subsídio este mês, 46 são do PSD, cinco do PS, quatro do CDS-PP e um do PCP. Dos restantes 19, 12 estão em fase de despacho, em que aguardam a decisão, sete estão em fase instrutória, onde o processo ainda está em avaliação.


Ana Dias

sábado, 30 de julho de 2005

ISTO VAI DE MAL A PIOR...

"Guterres deixou o país de tanga, Barroso mentiu ao eleitorado e desabou, Santana foi um intermédio penoso e Sócrates mentiu como Barroso e vai a caminho de um mau fim".


Vasco Pulido Valente

MANIFESTO

Manifiesto firmado por Noam Chomsky, Rigoberta Menchú, Adolfo Pérez Esquivel. Nadine Gordimer y Salim Lamrani.
El proposito es difundirlo, no se piden adhesiones.




Piden que EEUU abandone Guantánamo


Rebelión
"LOS ESTADOS UNIDOS DEBEN RETIRARSE DE GUANTANAMO AHORA"



Durante más de un siglo los Estados Unidos han intervenido, hecho la guerra e impuesto tratados imperialistas contra los derechos del pueblo cubano a la soberanía.


En 1897, cuando Cuba alcanzaba la victoria en la Segunda Guerra de Independencia contra España, Theodore Roosevelt alentó al presidente de los Estados Unidos McKinley a intervenir.


En 1898, los Estados Unidos declararon la guerra a España para impedir que Cuba alcanzara su independencia.


En 1901, entre otras medidas forzozas para codificar el control de Cuba, incluso que: "los Estados Unidos puedan intervenir militarmente en cualquier momento", se encontraba el igualmente ultrajante decreto que estipulaba que Cuba tiene que vender o arrendar a una potencia
extranjera, los Estados Unidos, "las tierras necesarias a carboneras o bases
navales en ciertos puntos específicos". Ultrajante porque siempre terminó o quiso terminar con una invasión o anexión del territorio del país a una potencia extranjera.


Guantánamo era un "punto específico", donde se construyó una base naval estadounidense con las consecuencias que todos conocemos. La pobreza de un antiguo país colonizado fue explotada de manera vergonzosa por los Estados Unidos democráticos a cambio del arrendo anual de 2 000 dólares en oro, sobre el principio basado en que una potencia rica tiene el privilegio moral de comprar cualquier cosa, incluso parte de otro país. Desde 1959, Cuba se ha negado a cobrar el arriendo.


El uso que se le ha dado a un territorio soberano producto de este robo probado es, en fin de cuentas, un motivo de vergüenza y de desgracia para los Estados Unidos y también para el mundo contemporáneo quien, intimidado por el poder estadounidense, se hace él de la vista gorda con respecto a la prisión implantada de manera flagrante en un país ajeno.
Las horrendas condiciones de aislamiento, privación y tortura existentes en esta cárcel medieval y condenadas por Amnistía Internacional y un número creciente de organizaciones de derechos humanos, siguen vigentes a causa de Estados Unidos, una potencia extranjera que no tiene derecho a estar allí.


Constantemente se profanan los derechos humanos en nuestro mundo. Lo que implica a menudo conflictos de gran complejidad religiosa, de facciones; es inmensamente difícil encontrar soluciones justas a éstos.


Guantánamo es la excepción clara.


La solución justa es sencilla.


Todos los Estados, comunidades y ante todo cada persona en este mundo con responsabilidad a nivel mundial comprometida con la verdad de que la verdadera humanidad entre naciones y pueblos sólo puede existir en la justicia, debe pedir, en su nombre, que los Estados Unidos abandonen Guantánamo incondicionalmente.


Ahora


Nadine Gordimer, Salim Lamrani, Noam Chomsky,

Rigoberta Menchú, Adolfo Pérez Esquivel.

TGV DO PARTIDO SOCIALISTA

A CANDIDATA DO PS A VEREADORA ÀS COMPRAS

PARABÉNS, COMPADRE



O Sexo dos Anjos

Blogue pessoal de

Manuel Azinhal

sexta-feira, 29 de julho de 2005

GERAÇÃO FALHADA

A geração que, em 1974, tinha entre 25 a 30 anos, presumivelmente destinada a assumir o poder, estatelou-se ao comprido. É uma geração nula. Demos-lhe a liberdade num belo prato de júbilos e esperanças. Atolou-se na competitividade infrene, o contrário da emulação; naufragou na frivolidade ...

Atolou-se na competitividade infrene, o contrário da emulação; naufragou na frivolidade do carro de forte cilindrada, na casa própria, no fato de marca, na standardização dos maus hábitos e dos piores costumes. Lê pouco, lê mal ou, pura e simplesmente, não lê. Foi tomada pelos donos do tempo.

Não todos, claro; mas quase todos. No memorial de César Oliveira, «Os Anos Decisivos», lê-se quem eram, vê-se quem são. A extensão das abjurações é assustadora. Não só a viragem da casaca, o que, já de si, é sórdido. Mas a indiferença, a inépcia camuflada, a astúcia transformada em norma, a falta de probidade e de escrúpulo, a ânsia de poder e de fortuna – são, também, enunciações da abjuração.

É a geração do beautiful people, retratada nas revistas cor-de-rosa: uma gente hórrida, feiíssima, a viver muito acima dos seus meios, tocada de idiotia, marcada pela ociosidade. Mente, faz trapaça, finge com a arrogância o que lhe falta de sabedoria, promete e não cumpre, expõe uma falsa cultura e um falacioso conhecimento, perdeu a paixão trocando-a pela salvação da «vidinha». Não todos, insisto; mas quase.

Os primeiros-ministros dessa geração constituíram-se como um sinédrio de incompetentes. E ajeite na lista o nome do fúnebre dr. Cavaco, já reconhecido como fautor inicial do descalabro. E o dr. Soares?, perguntará a malvada curiosidade do pio leitor. Também não foi um grande primeiro-ministro; porém, terá a seu favor a circunstância de ter mantido a falua a navegar num mar de escolhos e de imprevisibilidades.

Ao contrário do que possa parecer, não curto o desespero incontido, nem cultivo o defumar do passado. Numa linguagem, talvez plebeia e chã, todavia sincera, direi que Portugal tem sido governado por fieiras de incapazes – e, pessoalmente, só desejava que eles respondessem, em tribunal, pelas consequências dos seus actos.

Esta geração não conseguiu produzir um Presidente da República. E o estado actual das coisas leva a que um velho político, acaso impelido por imperativos de consciência moral, se candidate a um lugar difícil, num período extremamente complicado da sociedade portuguesa. Estamos todos cansados e fartos do António Vitorino e da sua representação de génio da garrafa; do Sócrates, do Guterres, do Durão, do Santana, do Marcelo, do Marques Mendes, gente de raso estofo e rasteiro estilo. Coloco à margem deste texto o nome de outros tantos, por ainda mais desprezíveis.

O recurso do PS a Mário Soares é a notícia de uma geração que capitulou. E o resto do panorama – literário, jornalístico, cinematográfico, artístico – é, por igual confrangedor. Salvam-se os nossos cientistas, ignorados pelos «media», que vão somando êxitos atrás de êxitos, perante o silêncio e a indiferença das «autoridades responsáveis». De vez em quando, Sampaio pespega-lhes uma medalha no 10 de Junho, e eles regressam a minúsculos laboratórios, falhos de recursos quanto cheios de talento e de virtude, ou vão para o estrangeiro, realizar um trabalho que os governos lhes negam.

A luta pela Presidência da República é uma imagem desfocada, por viciada à nascença. Nenhum dos eventuais contendores tem nada a oferecer de novo, que não o já saibamos. Talvez haja um pouco de barulho. E serão inevitáveis as artigalhadas do José Manuel Fernandes, do António Barreto, do Vicente Jorge Silva, de um daqueles directores do «Diário de Notícias» cujos nomes não decorei – sem rasgo, sem risco, sem incentivo às nossas melancólicas meninges.


Baptista Bastos

AUTÁRQUICAS 2005



Candidatos do Partido Socialista de Ponte de Sor
às eleições autárquicas de
9 de Outubro de 2005

Câmara Municipal

João José de Carvalho Taveira Pinto

Joaquim Louro Semedo Carita

José Fernando de Almeida Coelho

Maria do Carmo da Silva Fortes



Assembleia Municipal

José Manuel Fernandes e Fernandes




CANDIDATOS PRESIDENCIAIS E FUNÇÃO PRESIDENCIAL

Quando soube que Mário Soares se preparava para ser candidato presidencial, a notícia surpreendeu-me. Não devia. Várias vezes perguntado, durante o período de activismo anti-Bush mais agudo de Soares, sobre se “será que ele quer mesmo ser Presidente outra vez?”, eu respondia qualquer coisa como isto: “se achar que pode ter um papel decisivo, como seja tirar agora a GNR do Iraque, ele concorre de certeza”. Agora vejo que me enganei não na possibilidade mas sim no “decisivo”. Ou seja, Soares concorre não porque haja qualquer coisa “decisiva” que justifique a sua candidatura, mas para servir uma vontade de poder e pretensões intervencionistas, que deviam incomodar em primeiro lugar Sócrates e o seu governo.

Soares concorre porque não lhe passa pela cabeça qualquer partilha do poder socialista. Ele é um homem de partido, com uma cultura jacobina do poder, quer no estado, quer no partido, e pouco propício a partilha-la com quem acha que não é da família ou da tribo. Nesta pulsão reconhece-se o mesmo Soares que empurrou o grupo socialista do Parlamento Europeu para uma estratégia do “tudo ou nada”, e que o levou ao “nada”. Depois, quando perdeu, chamou com despeito “dona de casa” à sua concorrente, que ainda por cima era uma mulher. O mesmo tipo de atitude existe para um Cavaco que ele achará sempre que é um parvenu na “sua” democracia. Para ele seria uma quase afronta que Cavaco fosse Presidente, no lugar que foi o seu, e “mandasse” no PS. Irritava-o o que achava ser uma complacência dos socialistas perante a inevitabilidade de Cavaco. Convenceu-se que só ele o pode impedir, e não desdenha mostrar essa capacidade salvífica combatendo para o evitar, o que aliás é mérito seu, porque combativo será sempre.

Mas, se este factor, quase de repulsa por poder ter um estranho na “sua” casa, o motiva, ainda mais o motiva poder pôr na ordem o PS e encaminha-lo para uma esquerda mais radical, “social” no sentido anti-capitalista, anti-globalizadora, anti-americana e gaullista-europeista extremada, que é o núcleo duro do seu pensamento actual. Ironicamente, para quem meteu o socialismo na “gaveta”, o seu pensamento económico, ou melhor, a sua ideologia económica, é hoje claramente anti capitalista e o apoio que dá aos movimentos anti-globalização, simbolizados no fórum de Porto Alegre, e que representam hoje o “socialismo terceiro-mundista” que combateu no passado, tem poucas nuances. Soares é hostil às políticas de liberalização da OMC, combateria aquilo a que chama “capitalismo selvagem” e a “dominação” do globo pelo “pensamento único”, pelo “neo-liberalismo”, ou seja, a mundialização da economia de mercado que o fim do “socialismo real” permitiu.

Soares apoiaria um eixo Paris-Berlim-Moscovo e deseja uma Europa federada, uns Estados Unidos da Europa mesmo que sem este nome, uma Europa que se dotasse dos meios de defesa e intervenção que lhe dessem capacidade para se medir com a super potência americana. O seu ideal seria uma Europa armada que substituiria o lugar da URSS como a outra super potência, e com uma política externa essencialmente de contenção anti-americana. Faria tudo para combater o “império”, ou seja os EUA, e para o isolar e condenar sob todas as formas nas instituições internacionais, apoiaria a retirada imediata ou quase das tropas da coligação e da NATO do Afeganistão e no Iraque. Por aí adiante.

Ora, quem tem este programa em Portugal é o Bloco de Esquerda e não o PS e se isso não soa o alarme no governo, é porque perderam qualquer capacidade analítica e não têm ouvido e lido Mário Soares nos últimos anos. Nestes anos, Soares não tem feito outra coisa que não seja tentar influenciar o PS com todos os meios ao seu alcance. Apoiou a candidatura de João Soares, elogiou Alegre, atacou Guterres, Gama e Sócrates, manifestou múltiplas vezes o seu descontentamento com todas as políticas seguidas que lhe pareciam ir noutro sentido diferente do seu. Os elogios ao BE não foram circunstanciais, mas substantivos. Não é concebível, a não ser por fraqueza ou por má fé, a convicção da derrota de Soares, que Sócrates não tema um Soares intervencionista, como o será mais que nunca, na Presidência.

Contrariamente ao que se ouve por aí, penso que a candidatura de Mário Soares é uma boa notícia para Cavaco Silva, saiba este e os seus perceberem que a dicotomia que a candidatura do PS suscita é a da estabilidade / instabilidade. Cavaco Silva pode ser, de forma bem mais credível, o referencial de estabilidade para a Presidência que Soares não será. Para o ser não precisa de abdicar nem de um átomo, do seu pensamento sobre a função presidencial, formado exactamente em resposta ao intervencionismo de Soares. Quando Soares, no seu segundo mandato, se comportou como Eanes, fazendo tudo para derrubar o governo e para criar um ambiente de usura e hostilidade, Cavaco reagiu falando de “forças de bloqueio”. A expressão tinha ambiguidades, mas a verdade é que tudo aquilo que na altura o PSD apontou como “forças de bloqueio” veio mais tarde a ser entendido por todos, a começar pelo PS e pelos seus governos, como sendo de facto “forças de bloqueio”, embora nunca as nomeando como tal.

Cavaco Silva, sendo o primeiro a governar Portugal com um governo de maioria, e pelo seu perfil executivo, desenvolveu uma compreensão dos problemas de governabilidade de que ele foi sempre um defensor activo, contra as contínuas perturbações que Soares instigava todos os dias. A sua frase, às vezes incompreendida e mal interpretada, de que a ganhar as eleições preferia que um partido qualquer, o PS inclusive, o fizesse com maioria absoluta, vai nesse sentido. Ele sempre defendeu governos de maioria parlamentar, que cumprissem os tempos plenos do seu mandato e que pudessem, no respeito da lei e das instituições equilibradoras, cumprir os seus programas eleitorais. Num momento de crise económica e social como o que atravessamos, será sempre avesso a introduzir factores de perturbação, mesmo que não concorde com as políticas do governo socialista. Ele sabe, melhor do que ninguém e certamente melhor do que Soares, que nesse teste já chumbou, que na Presidência não se governa.
Duvido que o seu pensamento quanto ao exercício das funções presidenciais seja diferente destas suas posições no passado, e que as suas posturas mais recentes só o confirmam. Se tivermos Soares versus Cavaco, será este o dilema central das eleições.


José Pacheco Pereira

IMPASSES E CONTRADIÇÕES NA GESTÃO DO TERRITÓRIO


A gestão de um território assenta na sua divisão administrativa e é ao Estado, à sua estrutura política, que compete definir o modelo a prosseguir.
Por princípio, quando se atravessa uma fronteira terrestre, apesar da provável continuidade física, logo se depara com uma nova realidade feita de uma população diferente, uma outra história e seus efeitos ao longo do tempo na modulação desse território.

Esta percepção atenua-se à medida que percorremos a superfície de um mesmo país, em particular os de menor dimensão – os acidentes geográficos dão-nos conta da diversidade, mas é difícil identificar as regiões na sua individualidade (mesmo as consideradas naturais), sem recorrer a uma série de indicadores complementares, não visíveis a olho nu.

À medida que a área se reduz, o problema agudiza-se: onde começa e acaba cada concelho, porquê aquela delimitação territorial e não outra, fará sentido existirem freguesias de maior dimensão do que alguns municípios, e outras tão diminutas?

São razões históricas, o trajecto de um território constrói-se e reconstrói-se quotidianamente, de forma pontual surgem afloramentos de bairrismo que podem encorajar ou desencorajar novas atitudes, mas a questão é sobretudo política.

É que a gestão de um território assenta na sua divisão administrativa e é ao Estado, à sua estrutura política, que compete definir o modelo a prosseguir.

Isto coloca uma questão que está em aberto desde sempre: qual é a escala adequada para governar, como partilhar poder e competências de forma equilibrada, aos diversos níveis – as freguesias têm poderes quase simbólicos, os municípios têm poderes efectivos (iguais para todos, independentemente da realidade que enfrentam), mas alegam ter competências e dinheiro a menos, e depois, um imenso vazio até ao nível da Administração Central.

As freguesias reivindicam dos municípios o equivalente ao que estes aspiram da Administração Central, a regionalização só existe na Constituição da República, as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional exercem o seu poder de forma discreta, na expectativa que vingue o ciclicamente anunciado processo de descentralização que lhes vai retirar espaço de manobra, as comunidades urbanas parecem ter fim anunciado mal acabam de nascer, as Áreas Metropolitanas há muito que bloquearam entre o que gostariam de ser e o que são de facto.

As mudanças sociais e tecnológicas das últimas décadas, têm que ter um impacto óbvio nos modelos contemporâneos da gestão do território.

A evolução tecnológica reduz as distâncias e o factor tempo, a globalização e a competitividade associada precisam de escala – quando a este nível se reflecte sobre metrópoles e regiões, não se está a pensar na nossa organização territorial, todavia subsistem problemas de planeamento e de gestão no domínio do micro, que podem ir ao nível do bairro ou do quarteirão.

Quase trinta anos depois, após tantos estudos, debates e reflexões, causa perplexidade que ainda se tente implantar o mesmo modelo de organização do território de então, o qual, recorde-se, obteve o consenso necessário para figurar na lei fundamental do país, mas nunca foi concretizado.

A sublimação do poder local, o peso social e político-partidário de várias fornadas e milhares de autarcas, justa ou injustamente, traduziu-se na rigidez do sistema que funciona e no bloqueamento da parte restante.

Como é que a velocidade da vida quotidiana se compagina com a lentidão dos processos de análise e de decisão?

Que modelo de gestão para assegurar que a ocupação do território não implique a exaustão dos terrenos, afiance a prestação dos serviços necessários, actue na escala apropriada e concilie expectativas?

Será possível conceber e implantar algo em termos prospectivos, quando florescem conceitos que se esgotam em maquilhar com outras designações o crescimento urbano sem limites, ou aqueles que se apresentam na montra das novidades, o fazem com a ambição de substituir «as velhas políticas», pela miraculosa aplicação de novas estratégias de gestão e de marketing territorial?

Isto conduz, inevitavelmente ao processo de decisão e ao cumprimento das regras numa democracia representativa – até que ponto a dependência do voto permite fazer cumprir o que se decide (legitimamente), de que forma aquele processo considerado de decisão a este nível deve ser participado, qual o percurso que vai da participação pública convencional até «aos amplos e participados debates» que alguns defendem?

Vejamos o que se passa na vetusta Inglaterra, segundo o ex-ministro da Saúde, Alan Milburn, em recente depoimento publicado na revista Fócus, significativamente intitulado «A Sociedade do Futuro».

Segundo ele, as apostas deverão ser:

«Uma nova organização do poder local, prevendo novas formas de consulta pública e de associação dos cidadãos, uma renovação cívica, dando às pessoas uma fatia da responsabilidade nas suas comunidades locais».

Descodifiquemos: cidadãos, cidadania, responsabilidade, participação no processo de decisão, renovação do poder local.

E quem percorre o Reino Unido, facilmente se apercebe que há uma lógica comum e uma escala adequada na gestão do território.

Por que é que nós não somos capazes de chegar lá?


Luís M. Sousa

quinta-feira, 28 de julho de 2005

NO FINANCIAL TIMES DE HOJE...

DO CORREIO...

DIGA LÁ,

OUTRA VEZ?



Há uma candidatura à Câmara Municipal de Ponte de Sor, que têm como lema:

«Não precisamos de marketing: temos a fraude»

Jorge Martins

ELES GOSTAM MUITO DE "DINOSSAUROS" NAS AUTARQUIAS


PS e PSD medem forças para aprovar limite de mandatos


PS e PSD mantinham até ontem à noite um intenso braço-de-ferro, com propostas e contra-propostas à volta da limitação dos mandatos dos autarcas, matéria que hoje, último dia dos trabalhos parlamentares, vai ser votada pelos deputados. Durante todo o dia a 'bola' esteve do lado do PSD, depois do PS ter aceite votar separadamente a limitação para os autarcas, com efeitos práticos a partir de 2009. Mas, à noite, seriam os sociais-democratas a responder, com uma contra-proposta, mediante a qual a lei só terá efeitos em 2013 (daqui a duas eleições).

Os dois lados garantem que querem ver a lei hoje aprovada e prometem todo o empenho nesse sentido.

filme do dia. O fascísculo de ontem começou com o embaraço causado pelo PS ao PSD, na Comissão de Assuntos Constitucionais, ao final da manhã. Depois de uma década de discussões políticas sobre a limitação de mandatos, sem que nunca PS e PSD (que perfazem os dois terços dos votos necessários) se tenham entendido, ontem, véspera do final dos trabalhos parlamentares, e sabendo-se que o tema vai ser hoje levado a votos, o PS recuava na sua posição de sempre, aproximando-se das teses sociais-democratas. E deixando por momentos sem resposta.

O porta-voz da carta na manga foi Vitalino Canas "Apresentamos uma proposta que altera um pouco a lógica desta discussão, dividindo em dois blocos o diploma do Governo. Um relativo aos presidentes dos governos regionais e primeiro-ministro, outro relativo aos presidentes de câmara e de junta". Isto é, para que se vote de um lado a limitação a três do número de mandatos sucessivos de um autarca à frente do mesmo município. E, do outro, a limitação a 12 anos seguidos do tempo no cargo de primeiros-ministro e líder dos governos regionais.

O PSD sempre defendeu a limitação de mandatos apenas para os autarcas e parecia encontrada a solução. Votava com o PS a parte dos autarcas e contra na restante lei. Consequência a lei entrava já em vigor e nas autárquicas de 2009 (que se seguem às de Outubro deste ano) todo e qualquer presidente de câmara que tenha estado no lugar por mais de 12 anos seguidos já não se poderá apresentar.

Ou seja, nomes como o de Mesquita Machado (PS), que acaba de anunciar a recandidatura em Braga, ficariam impedidos de o voltar a fazer dentro de quatro anos.

Estava-se em cima da hora de almoço, a reunião da Comissão foi interrompida até às cinco da tarde. Só que, nessa altura, Já Marques Guedes tinha ido para a sede nacional do partido - onde esteve com Marques Mendes - pedindo aos deputados para adiarem para hoje as votações.

Na Comissão ficava apenas o social-democrata Paulo Rangel, defensor da limitação, e que até acha que "não há problemas com a retroactividade". Isto é, com o facto de a lei não começar agora a contar do zero o tempo de permanência de um autarca no lugar (o que faria com que os efeitos só fossem sentidos dentro de 12 anos). Rangel admitia que o voto do PSD, hoje em plenário, acabará por ser favorável.

Horas depois, o PSD avança com a contra-proposta.
Hoje conhece-se o desenlace deste filme.

Martim Silva


Rui Pimentel/Visão

quarta-feira, 27 de julho de 2005

O ENVELHECIMENTO PRECOCE DAS POLÍTICAS PARA A JUVENTUDE

Talvez seja oportuno repensar a lógica das políticas estabelecidas para a Juventude, agora que os seus intérpretes, em muitas situações, começaram a substituir a irreverência e o inconformismo, pelo fato e gravata ou o blazer cuidado.

Vem de longe a preocupação das sociedades e dos Estados em enquadrarem os seus jovens, aqueles que vão despontando para a vida activa, sobretudo através das políticas educacionais e sociais mas também formativas e normativas.

Doutrinariamente, consoante os países, tradições, épocas e cotação dos valores, essa é uma das prioridades para a propagação e consolidação de ideologias e religiões, a capacidade de atrair os mais novos para uma certa visão das grandes causas da humanidade.

O Estado Novo para atingir esse objectivo, confiou na Mocidade Portuguesa e noutras organizações acessórias, apostando uma relação distendida com a Igreja Católica também para colher frutos da sua capacidade de atracção e integração desta faixa etária, o que, como se sabe, foi definhando à medida que o regime se esboroava.

«É proibido proibir», foi um dos slogans de Maio de 68, que perpassou fronteiras e uma época – anos mais tarde, já adultos e pais, muitos foram os que se entregaram de corpo e alma aos sonhos que comandam a vida quando da implantação da democracia em Portugal, mal se dando conta que naqueles anos vertiginosos despontava uma nova fornada de jovens, «os filhos da revolução».

Com a estabilização da democracia, normalizou-se a participação da juventude na vida política através da constituição das respectivas organizações partidárias, emergiu a sua natureza rebelde ou inconformista, das manifestações estudantis às grandes causas como a protecção do Ambiente e outras, mas também se recuperaram os antigos postulados libertários, de indiferença ou à margem das regras estabelecidas.

É neste contexto que se dá a integração europeia e com ela uma renovada atenção às questões da Juventude e sua tradução política, ganhando autonomia e peso próprio, que se exprime sucessivamente, ao nível de secretarias de Estado e de ministérios, mas também no poder local, nos municípios, com a individualização do pelouro, respectiva gestão política e a criação própria nas orgânicas municipais de estruturas para a Juventude.

Como acontece em situações idênticas, os novos desafios e a energia dos protagonistas associada, trouxe algo de novo, mas no essencial, as políticas para os jovens tiveram por base a junção de competências afectas a outros sectores, como o Ambiente, a Cultura, o Desporto, a Saúde e até as modernas tecnologias da informação, as podemos compartimentar na Ciência e/ou na reforma da Administração Pública.

Em rigor tudo isto era um pouco previsível, a necessidade da gestão política acompanhar a evolução das coisas, de criar em determinados momentos, modificações e rupturas, faz parte da sua essência.

Já é mais difícil, em jeito de primeira avaliação, concluir se é mais acertado dar às políticas um sentido transversal, por grandes áreas de intervenção ou segmentá-las em função dos grupos sociais e dos interesses.

Exemplificando de outra forma – se um município dispõe de um pelouro e serviços culturais, deverão todas as actividades relacionadas com esta temática estar concentradas neste sector, ou, porque coexistem com um pelouro e serviço de Juventude, as actividades culturais para esta faixa etária deverão ser programadas e desenvolvidas por esta estrutura, sobrepondo-se a vocação à aparente racionalidade?

Noutro registo – é aceitável um qualquer município prosseguir políticas de prevenção do consumo do álcool e de drogas, com especial incidência junto dos mais jovens, ao mesmo tempo que promove espectáculos para a juventude onde as bebidas alcoólicas jorram e o cheiro intenso no ar, não é do tabaco convencional?

Talvez seja oportuno repensar a lógica das políticas estabelecidas para a Juventude, agora que os seus intérpretes, em muitas situações, começaram a substituir a irreverência e o inconformismo, pelo fato e gravata ou o blazer cuidado, que o cinzentismo de uma carreira a construir aconselha e a que a opinião publicada começa a dar atenção crítica, na perspectiva da crescente profissionalização da política por elementos provenientes das juventudes partidárias que começam a ascender na vida pública em cargos de relevância, sem outra experiência ou atributos que não sejam os de uma vertiginosa carreira político-partidária.

Valerá a pena continuar a fazer mais do mesmo, perdidas as ilusões (se chegaram a existir) de que se cerceia ou doma os jovens conferindo-lhes importância política, ou será de apostar numa orientação menos fácil e efémera mais exigente, sobretudo formativa, de projecção dos valores civilizacionais e da prática efectiva de cidadania, de preparação para os desafios do mercado de trabalho, conferindo maior responsabilidade e exigência às políticas educacionais e ao papel social das famílias?

Preparar o futuro, uma expressão recorrente dos políticos, não deve significar a nível local, a municipalização estrita de iniciativas e actividades; seguramente o contraponto, não é a distribuição fácil do dinheiro pelas «várias capelinhas», mas, tal como noutros sectores, apoiar iniciativas dos e para os jovens, com critério, mérito e progressão da qualidade.

Quando, por esse mundo fora, de diversas latitudes e regimes políticos, nos chegam exemplos objectivos de patriotismo dos mais jovens, quando é noticiado que os filhos de pais imigrantes oriundos do leste da Europa, obtêm as melhores notas nas escolas portuguesas porque esse é um imperativo da sua cultura e enquadramento familiar, e perante isso pouco mais se consegue rebuscar do que a distribuição em escolas, um pouco envergonhada, há anos atrás e sem sequência visível, de um Kit patriótico, então resta reagir a esta desoladora impotência que nos assola.

Luís M. Sousa

"INVESTIMENTO PÚBLICO NÃO FAZ MILAGRES"

Manifesto de economistas alerta para risco das grandes obras públicas

Um grupo de 13 economistas publicou hoje no «Diário de Notícias» um manifesto contestando a eventual concretização de grandes obras publicas - «projectos sem comprovada rendibilidade económica e social» - que dizem, «poderá ser desastrosa para o país». Não mencionam a Ota e o TGV, mas são essas as polémicas que estão em discussão pública.

Alguns destes economistas estiveram com José Sócrates nas Novas Fronteiras. Entre eles encontram-se Nogueira Leite, Miguel Beleza, Medina Carreira, Augusto Mateus e Ferreira do Amaral.

Para este grupo, «parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes.»

Recordam por isso, que «Portugal vive uma profunda crise». Sem referir expressamente a Ota e o TGV, os economistas reunidos neste manifesto concluem que a concretização de grandes projectos de obras públicas «poderá ser desastroso para o país».

O manifesto publicado no «Diário de Notícias» tem como título «Investimento público não faz milagres»

«Parece ter emergido uma corrente de pensamento que acredita que a superação da crise pode estar no investimento em obras públicas, sobretudo se envolvendo grandiosos projectos convenientemente apelidados de estruturantes». «Porque a situação é séria e o País não pode, sem grandes custos, embarcar em mais experiências fantasistas, importa dizer (...) que a sua eventual concretização poderá ser desastrosa para o País».

Os economistas enumeram as várias razões para defender a não realização das grandes obras públicas. «Primeiro, porque, numa situação de excesso de despesa, mais investimento em obras públicas irá favorecer sobretudo as economias de onde importamos, sem efeito sensível na capacidade produtiva da economia portuguesa, agravando o défice externo (pois só há financiamento parcial de fundos comunitários). Segundo, porque o tipo de emprego mobilizado pela construção pouco efeito terá na absorção do desemprego fabril gerado pela perda de competitividade da nossa indústria e mobilizará sobretudo a imigração. Terceiro, porque tais investimentos irão agravar ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, seja pela despesa directa, seja pelos custos de exploração futura, seja, como aconteceu nas SCUTS, pelas inevitáveis garantias para assegurar a mobilização do sector privado».

«Porque o momento é grave; porque continuar com tergiversações à volta do essencial (onde se inclui a reforma do próprio Estado), apenas ajudará o País a afundar-se numa senda de definhamento; e porque é altura de a própria sociedade civil se deixar dos brandos costumes do conformismo e dizer o que tem que ser dito; os signatários entendem dar este seu contributo à reflexão da sociedade e dos poderes políticos», referem.

terça-feira, 26 de julho de 2005

MAIS UMA DA GESTÃO DO TAVEIRA PINTO...[das muitas...]

Algum tempo atrás denunciei os contornos de um concurso interno para chefe de secção, na Câmara Municipal de Ponte de Sor(Não Havia Critérios de Correcção).
Lembram-se?
Alguns duvidaram!
Mas, vou acrescentar mais uns detalhes do referido concurso.
Uma funcionária pediu para ver "in loco" a prova e respectivos critérios no dia 13/07/05, da parte da tarde.
Foi-lhe comunicado pela funcionária do serviço de pessoal - Sra. Fernanda Calhau e pela Dra. Manuela Correia, membro do Júri que não havia critérios de correcção.
No dia 14/07/05 solicitou por escrito, porque não havia critérios de correcção, todos os documentos referentes à prova escrita.
Acontece que a lei prevê 3 dias úteis para uma resposta ao solicitado.
Qual o espanto da funcionária quando, no dia 19/07/05 lhe apresentam os referidos critérios integrados numa acta datada de 30/06/05, por sinal assinada pelos membros do júri, do qual faz parte a Dra Manuela Correia que no dia 13/07/05 lhe disse não haver critérios de correcção escritos, pois as provas tinham sido corrigidas pelo Dr. Normando de acordo com a lei.
O concurso escrito realizou-se no dia 29/06/05.
Por ironia do destino, 2 membros do júri,(Dra Adelaide Feitinha e Dr Normando Sérgio) que se encontravam de férias, foram chamados de urgência no dia 19/07/05 para assinarem documentos na autarquia.
Será que não foi a acta datada de 30/06/05?

Moral da História

Primeiro fazem-se as provas e depois de acordo com a conveniência do Sr. Presidente adequam-se os critérios, numa acta forjada, às respostas dadas pelos concorrentes.

Isto, pelo que julgo saber é mais um caso de POLÍCIA e INSPECÇÃO AUTÁRQUICA!

Ficamos a aguardar por novos episódios!


Nelson Castro

TODOS OS DIAS ELES ROUBAM...

ROUBAR... Roubar... roubar?

DIMENSÕES E REALIDADES DA OBRA AUTÁRQUICA

Em termos estritamente políticos, a obra é o fundamento do exercício do poder – a capacidade de fazer e o uso dessa capacidade, um legado que se produz mas que está sempre incompleto, inacabado.

Apreciar, decidir, votar em função da obra feita, por fazer ou prometida – eis a pedra de toque para as próximas eleições autárquicas. Mas a que obra se referem os autarcas ou os respectivos candidatos, que obra é esta que se assume como factor determinante, incontornável nas pelejas pelos lugares de poder em disputa?

A apreensão imediata do conceito de obra assim referido, transmite uma espécie de evidência física, algo de visível, palpável, as infra-estruturas, os equipamentos.

Esta interpretação pode ser sequencialmente alargada à obra edificada por terceiros, mas para cuja existência o município tem um papel decisivo – os edifícios e urbanizações residenciais, as fábricas, aquilo que, exceptuando as intervenções da Administração Central e do sector público nos territórios concelhios, é geralmente atribuído à dinâmica dos privados.

Mas a elegia da obra não se esgota no seu conteúdo físico – o planeamento, o ordenamento do território e ambiental, as designadas políticas de qualidade de vida, a promoção do emprego e demais políticas sociais, as actividades de lazer multi-sectoriais, tudo isto faz parte da obra enunciada ou anunciada, menos visível mas certamente percepcionável.

A obra é assim algo de permanentemente inacabado, que corresponde à trajectória duma sociedade num determinado momento e respectivas implicações a prazo.

Em termos estritamente políticos, a obra é o fundamento do exercício do poder – a capacidade de fazer e o uso dessa capacidade, um legado que se produz mas que está sempre incompleto, inacabado, que justifica embora possa não ser suficiente, o prolongamento da obra no tempo, até que «o dono da obra» se afaste ou seja afastado: aí, fecha-se um ciclo e inicia-se a construção de uma nova obra, mesmo que no essencial assente nos caboucos da anterior.

É porventura mais consensual nas pequenas localidades, onde se capta melhor mesmo que a sua dimensão física seja diminuta, do que nas grandes urbes, onde os consensos são mais precários e segmentados.

Estas são por excelência, os centros de inovação onde se desenvolve e avalia o pulsar da sociedade, mas são também fautoras de anomia social, de desequilíbrios, vidas marginais e focos de desagregação.

É cíclico na história das urbes, independentemente da sua dimensão, a períodos de desenvolvimento e de euforia sucederem-se períodos de declínio, de retrocesso, reflectindo o princípio do esgotamento da obra produzida.

A exigência, o pensamento e a capacidade crítica são maiores nas áreas urbanas mas mesmo aí, se suscitar continuada adesão, a obra protagonizada por alguém, pode prolongar- se no tempo.

Os protagonistas sabem ou intuem que têm que produzir discurso associado à obra, captar energias e vontades que engrossem o núcleo dos fazedores e legitimem o percurso traçado, sancionando-o publicamente.

Mas o caminho a fazer não está por natureza atapetado – a obra a construir será sempre mais ou menos negociada, um somatório de delicados equilíbrios que escapam ao olhar comum, entre os interesses a satisfazer e os que por eles se sentem afectados.

As cidades globais, onde emerge o desenvolvimento tecnológico acelerado, assumem-se como a obra de última geração e panaceia para atrasos crónicos, mas, seguro é, o aumento progressivo dos excluídos, o lado negro da obra que a pode converter em impasse ou implodir.

Nas suas múltiplas vertentes, a obra é publicamente assumida como um todo uno e coerente, mas o que significa, como é entendida em cada momento pelos cidadãos que vivem num determinado território, por aqueles que lá trabalham ou o visitam, como atrair e compatibilizar a perspectiva histórica e sentimental dos lugares com a frieza dos investimentos?

Vem nas primeiras páginas de qualquer manual – fixar os objectivos, definir e obter os meios humanos, técnicos e financeiros adequados, seduzir a envolvente q.b. (vulgo participação pública), avaliar por sistema e com rigor – o tempo presente é o de apresentar resultados, contar com os conquistados, aproximar os afastados, convencer os indecisos, suavizar os críticos.

A matriz partidária da obra local, reduz-se à cor da camisola dos respectivos líderes, é encenada e acenada em campanha eleitoral, deve estar presente sem ser omnipresente – apesar do reduzido reconhecimento público da actividade política, é factor que individualiza e identifica, de agregação.

A obra autárquica vai a votos – tempo de angústia perante a incerteza dos resultados, a tentação de dar mais um passo que não seja em falso, para pôr em evidência o que foi feito ou o que vai ser feito, pelo menos a intenção deve valer alguma coisa.

A dimensão escatológica da obra, humaniza-a, permite oscilações e variações de rumo, a dramatização de momentos com significado na vida local, mas na hora da escolha o somatório de estados de alma, não se confina a esta lógica.

Caso a caso, em que medida o agitar da obra vai produzir frutos ou equívocos, de que forma vão convergir ou dissociar-se as dimensões real, percepcionada ou política, da obra autárquica?

Luís M. Sousa

segunda-feira, 25 de julho de 2005

AUTÁRQUICAS 2005

Candidatos da CDU às eleições autárquicas de 9 de Outubro de 2005


Câmara Municipal

Isidro Carvalho da Rosa
João Pedro Amante
Vitor Morgado

Assembleia Municipal

José Amante


ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS


E o Ramalho Eanes pá, ninguém lhe liga?

Vá lá, telefonem-lhe.

Sabe-se lá...

POESIA...


Morra o bispo e morra o papa.
maila sua clerezia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram frades, morram freiras.
maila sua virgaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra o rei e morra o conde.
maila toda fidalgula.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram meirinho e carrasco.
maila má judicaria.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morra quem compra e quem vende,
maila toda a usuraria.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!
Morram pais e morram filhos.
maila toda filharia.
Ai rosas de sangue e leite.
que só a terra bebia!
Morram marido e mulher.
maila casamentaria.
Ai rosas de leite e sangue,
que só a terra bebia!
Morra amigo, morra amante.
mailo amor que se perdia.
Ai rosas de sangue e leite,
que só a terra bebia!
Morra tudo, minha gente.
vivam povo e rebeldia.
Ai rosas de leite e sangue.
que só a terra bebia!



Jorge de Sena
in: Visão Perpétua
Maio de 1964

OS PRECÁRIOS EQUILÍBRIOS DO DESPORTO MUNICIPAL

As políticas desportivas municipais devem ser sólidas, publicamente conhecidas e reconhecidas, aceites, com instalações e equipamentos adequados em função das disponibilidades e com a necessária animação que lhes dê uso.
Há décadas atrás, quando o tempo parecia passar mais devagar, em especial na periferia da capital, eram, o associativismo cultural e em particular o desportivo, os pólos agregadores dessas identidades locais.

As idas ao cinema eram mais ou menos esporádicas, a frequência da igreja cingia-se aos devotos, o café da terra também era ponto de encontro, mas o clube local tinha um misticismo especial, que os horários alargados e tolerados, permitiam aglutinar em torno do bar, dos jogos e festas de salão.

Quando uma das equipas desportivas sobressaía, a mística alimentava-se de novo fôlego (agora é que vai ser?), o bairrismo tomava corpo e as direcções das agremiações obtinham os seus momentos de glória.

Ser sócio da colectividade da terra e dos bombeiros voluntários, era ponto de honra para quem não estava de passagem, assim, em relativa calmaria, se consumiam dias, anos, e se as receitas apuradas não permitiam descolar da persistente pobreza de meios, tudo se fazia com a glorificada arte do desenrasca e com o «amor à camisola», que não gerava despesa por aí além.

A entrada de Portugal na Europa desenvolvida, a livre circulação de pessoas e a generalização do profissionalismo à prática desportiva, abalaram irreversivelmente este equilíbrio.

O exercício da democracia autárquica implicou que as sociedades locais se organizassem e que as respectivas estruturas sociais, de forma mais ou menos corporativa, se posicionassem face aos poderes estabelecidos.

Ser presidente ou membro dos corpos directivos do clube desportivo, confere hoje como no passado, um estatuto perante os associados (porventura mais táctico de que anteriormente), que é sublimado nas relações com o poder local.

«Primus inter pares», cada colectividade vale pelo seu peso específico na comunidade, mas também pelas relações cordiais ou de rivalidade que estabelece com o seu município.

Com a exigência de mais e melhores sedes sociais, campos desportivos, pavilhões, piscinas, vieram as múltiplas solicitações para subsídios, dos equipamentos às deslocações das equipas para competir, financiamentos diversos de toda a ordem, que alimentam no fio da navalha esta relação conspícua: a inevitabilidade dos concelhos se afirmarem na sua individualidade através do desporto, e a sobrevivência dos pequenos clubes locais, cuja existência depende da competição e para a qual não têm capacidade de gerar os meios necessários.

Contudo, provindo muitos dos apoios de dinheiro público, o mínimo exigível é a existência de regras claras, assentes em objectivos progressivos, mérito e avaliação de facto, da conformidade entre o esperado e o obtido.

Hoje, quando até a generalidade das secções dos partidos políticos apenas se anima em períodos eleitorais, e fora disso, quando de portas abertas, assumem o papel convivial do antigo associativismo local, é tempo de perceber que a estrutura tradicional dos pequenos clubes locais está ultrapassada, exaurida.

É inquestionável a sua liberdade de subsistir, desde que no essencial através de meios próprios, pela redefinição de objectivos, ou, quando se justifique, através de processos amadurecidos de fusão com outras colectividades, uma abordagem que os municípios podem desenvolver, ajudando a ultrapassar bairrismos residuais.

O desporto é intemporal, tem uma grande aceitação na vida moderna, uma gestão desportiva equilibrada tem de atender à realidade e esta é composta pela promoção da vida saudável, prática e competição desportiva.

As políticas desportivas municipais devem ser sólidas, publicamente conhecidas e reconhecidas, aceites, com instalações e equipamentos adequados em função das disponibilidades e com a necessária animação que lhes dê uso.

Apoiar por simples ambição ou compromisso político, sem regras pré-estabelecidas, os pequenos clubes cuja vertigem competitiva sem sustentação é o caminho para o abismo financeiro, tal como investir em clubes profissionais ou em provas de alta competição, sem o adequado retorno, é caminho a evitar.

A competição proporciona momentos inesquecíveis, «vende» ilusões, mas aos municípios pede-se que construam a realidade, para além das vitórias, empates e derrotas de cada jogo

Luís M. Sousa

domingo, 24 de julho de 2005

PORTUGAL PORTUGALIZADO


«A terra [Portugal] é pequena, e a gente que nela vive também não é grande»

Almeida Garret

Em 1957, o grande escritor francês Roger Vailland publicou, na Gallimard, o romance «La Loi». É um texto menor, no conjunto de uma obra significativa que influenciou, em Portugal, autores como Augusto Abelaira, José Cardoso Pires e António Alçada Baptista. Em «La Loi», Vailland, na voz de uma personagem, Dom Cesare, criou um qualificativo, «portugalizar», que nos reduzia a subnitrato. O francês estivera três vezes em Portugal, as duas primeiras em reportagem; a terceira como membro da Resistência à ocupação da França pelos exércitos de Hitler.

A história desta última estada no nosso país é um momento fascinante e pouco conhecido da história das fraternidades cimentadas durante a luta contra o nazi-fascismo. Parte dela contei-a no «Diário Popular», jornal onde então trabalhava.

Vailland, enviado de De Gaulle, estabelecera contactos com Cândido de Oliveira, Vasco da Gama Fernandes e José de Freitas (estes dois últimos confirmaram-mos), a fim de se estudar a possibilidade da organização de uma rede de combate armado à previsível invasão da Península pelas tropas nazis. Aliás, Franco, à revelia de Salazar, afirmara a Hitler a submissão da Ibéria.

O verbo portugalizar falava de um país adornado, no qual os jornalistas não faziam jornais, os escritores não escreviam livros, os políticos não exerciam – enfim: um povo que o não era. Portugalizar constituía a anestesia geral de um corpo enfermo de mal endémico. Uma informe massa, indolente, resignada, trágica, inactiva, embalada por um passado de glória duvidosa, que não cuidava de si nem do futuro de todos.

O paralelismo comparativo com o que hoje ocorre na nossa terra é terrível, por evidente. Políticos de baixo estofo que gerem o destino da pátria; deputados que somente ambicionam cumprir dois mandatos para auferirem avultadas reformas; direcções de jornais que, ainda não há muitos anos, apenas serviriam para atender os telefonemas; escritores pedâneos que gozam dos benefícios de marquetingues insultuosos à inteligência ainda livre; entrevistadores de televisão que revelam o grau zero das meninges e uma impante e desavergonhada ignorância; empresários analfabetos inabilitados para administrar empresas dependentes dos favores do Estado, e que lançam para o desemprego milhares de pessoas. No meio desta desgraça, os partidos constituem agências de empregos, assegurados a todos aqueles de dizem «sim».

A situação não é só grave em termos de economia; é gravíssima na relação moral e ética das exigências públicas e privadas.

Estou convencido de que corresponde a uma estratégia muito bem pensada, na qual o laxismo provocado é uma componente fundamental. Estariam criadas as condições para um golpe de Estado, semelhante ao de 1926.

Todavia, não há Exército, as multinacionais não estão, de momento, interessadas, e a União Europeia não deixa. A União está periclitante, as multinacionais existem do lucro pelo lucro, e a tropa pode reorganizar-se, desde que os grandes grupos, sobretudo financeiros, assim o entendam.

Um país onde um futebolista, Miguel, e seu contrato dominam os noticiários televisivos, e suscitam graves comentários de austeros comentadores, é um país irremediavelmente condenado à farsa. Contudo, estas «prioridades» noticiosas não são inocentes. O fundamental trocado pelo dispensável tornou-se numa prática banalizada pela insistência. Neste caso, a insistência cloroformiza até à narcose. Portugal existe entre o adormecimento e a imbecilização.

Ouvimos os discursos dos dirigentes políticos e não acreditamos. Lemos os editoriais dos principais diários e somos levados a crer que respiramos em outro país. Assistimos ao programa «Um Contra Todos» e, não fora o Malato (cuja jovialidade, cultura e informação merecem a nossa simpatia e a nossa admiração), os participantes, quase todos, fundamentam a singular ideia de que representam uma galeria de matóides, alguns deles com formação académica.

Pedem-nos «esforços colectivos», «patrióticos envolvimentos», aqueles que auferem salários volumosos, ao mesmo tempo que declamam a necessidade de baixar os ordenados e aumentar os impostos – aos outros, bem entendido.

Estamos, outra vez, portugalizados. Lenta e perseverantemente vão-nos roubando tudo; sobretudo, os sonhos e as esperanças.

Portugal é uma deriva de governo para governo, de mentira em mentira, e começa a ser um aditamento insignificante e hílare da Europa. Não é por acaso que os franceses residentes na Mauritânia dizem que Portugal é o país mais desenvolvido de África.


Baptista Bastos

NO ÍNTIMO DOS MUNICÍPIOS

Noutros países, em que a emoção não se sobrepõe tanto à razão, a tendência é separar com clareza a gestão política da gestão funcional das autarquias, mas, entre nós, isso parece ser entendido como uma forma inaceitável de erosão do poder.

Quando Cavaco Silva catalogou à época, os secretários de Estado como ajudantes dos ministros, querendo dessa forma realçar que não têm competências próprias, tão só as que lhes forem delegadas, estaria longe de imaginar o fragor que as suas palavras suscitariam nos meios político e mediático.

É possível estender este raciocínio, com uma pequena nuance, aos vereadores dos municípios – também eles não têm competências próprias mas, ao contrário dos ministros e dos secretários de Estado que não são eleitos para o desempenho da função, os vereadores (exceptuando os que são cooptados para substituir outros) são directamente eleitos em listas completas, de acordo com o método em vigor.

É impossível saber-se qual é o peso eleitoral específico de cada um, já que o cabeça-de-lista, na qualidade de candidato a presidente do município, concentra em si, para o bem e para omal, as referências sobre as quais o eleitorado vai ter de se debruçar.

Mas esta legitimidade eleitoral indiferenciada a que acresce a sempre duvidosa relação entre competência e aparelhismo político, alimenta um foco de tensão duradouro na relação que estabelecem com o quadro técnico-administrativo das autarquias, em especial com as respectivas chefias.

Convém lembrar que estas também são escolhidas e de confiança do presidente da autarquia, avaliador em primeira e última instância do seu trabalho, factor decisivo para uma carreira que urge construir ou proteger.

Os vereadores que chegam, com vontade de se impor durante o mandato para «mostrar serviço» e ganhar peso político para o futuro, as chefias que já lá estão e as que se iniciam, cada uma com o seu séquito de funcionários por detrás, o domínio dos dossiers e da gestão financeira sectorial, desconfiadas por natureza, perante novos protagonistas e métodos.

No essencial, os funcionários estabilizam na instituição, os vereadores vão mudando ao sabor dos ciclos políticos, o que constitui um contratempo para aqueles, reabrindo disputas de resultados incertos, acentuando a ideia de que vereadores há, que se comportam como chefes de serviço e vice-versa, e quando o tempo se encarrega de encaixar «as peças desavindas», chega um novo acto eleitoral e com ele o reavivar desta tensão.

As relações humanas e funcionais no interior dos municípios, em especial dos de maior dimensão, são assim uma espécie de segredo bem guardado, a que alguns não atribuirão significado especial – afinal não há quem defenda que as estruturas das organizações são uma espécie de caos regulado e contido?

Este é um ângulo de apreciação possível, vale a pena emparelhar para distinguir, as organizações públicas das privadas – se os seres humanos que as compõem e a sua natureza, são à priori idênticos, o factor «política» e em particular os efeitos de proximidade da política local, modificam decisivamente as regras comportamentais e de funcionamento no interior dos municípios, quer por comparação com a Administração Central cujo distanciamento físico e funcional face aos «inner circles» dos ministros e secretários de Estado é evidente, quer perante os organismos privados onde a disputa interna pelas melhores posições obedece a lógicas distintas.

Não é este um problema que se resolva com a mudança de leis orgânicas, ou sequer de competências, mas sim com regras entendidas e aceites: o contrário de ruído, de competição interna desregulada, com enormes custos não contabilizados, a bem da coesão dos municípios.

Noutros países, em que a emoção não se sobrepõe tanto à razão, a tendência é separar com clareza a gestão política da gestão funcional das autarquias, mas, entre nós, isso parece ser entendido como uma forma inaceitável de erosão do poder.

Emergem assim as qualidades e dons dos Presidentes dos municípios, os mais intuitivos chamando a si esta delicada gestão de poderes e de modos de afirmação interna, ora assumindo-se com o farol que baliza os limites de quem se pode sentir tentado em excedê-los, ora afagando com mestria os mais diversos egos em prol da entropia interna, ou, noutro posicionamento, os mais frios e racionais que só intervêm de forma contida e com algum enfado perante os despojos das refregas, na presunção de que o exercício do poder está, e pode fazerse por de cima e se necessário contra os aparelhos instalados.

Os dirigentes e funcionários municipais, apenas operacionalizam ordens superiores, ou devem ser parte integrante e como, do ciclo das políticas públicas locais? – da forma de encarar esta questão, projecta-se o estado anímico de cada município, com evidentes repercussões por osmose, nas sociedades locais.

Eis o terreno adequado ao todos contra todos, jogos de sedução e aniquilamento efémeros, e quando se dá põe ela, zás, a realidade envolvente já não é controlável.

Dizem os entendidos que as equipas de futebol se começam a construir a partir da sua organização defensiva, que a Comunicação deve ser estruturada a partir de uma adequada gestão do silêncio (como se acaba de comprovar), e os municípios a partir do seu interior mais íntimo.

Organizações complexas, carecem de lideranças adequadas, capazes de lidar com as incertezas e a adversidade, com uma permanente visão actualizada sobre a gestão municipal.

Gerir com equilíbrio as expectativas de centenas, milhares de funcionários, fazer fluir a energia vital de cada um ou de muitos, é trilhar o terreno onde sonhos muito diversos podem confluir e ter lugar.


Luís M. Sousa

sexta-feira, 22 de julho de 2005

LUIZ PACHECO NA RTP 2, A NÃO PERDER...

LUIZ PACHECO - MAIS UM DIA DE NOITE
Documentário

"Luiz Pacheco é um paradoxo de duas pernas". Esta é apenas uma das definições atribuídas ao homem/ escritor/ editor/ crítico literário que, tal "como um meteorito, passou pelo céu de Lisboa, rebentou e ficou em milhares de pedaços incandescentes, que foram caindo, e ainda hoje caem..." Mas qualquer definição que se atribua a Luiz Pacheco será sempre insuficiente face a um percurso que se pode considerar simultaneamente trágico e cómico.

Ao longo de 58 minutos temos a oportunidade de ouvir o testemunho do próprio Luiz Pacheco e o daqueles que com ele conviveram ou ainda convivem de perto. José Saramago, Mário Soares, Rui Zink, Eduardo Ferro Rodrigues, Vítor Silva Tavares e os próprios filhos, entre outros, falam da sua experiência e da sua opinião acerca de um homem que está longe de gerar consensos.
Episódios únicos, relatados na primeira pessoa, com frontalidade, humor e emoção, intercalados com a representação dos seus próprios textos.
Oriundo de uma família da burguesia rural, Luiz Pacheco sempre contrariou todas as regras de uma vida estável e confortável, chegando mesmo a viver de esmolas. Tanto na vida como na obra, ele viveu sempre no limite, afrontando, sem hesitação, as regras impostas pela sociedade.
Numa época em que a censura não permitia a liberdade de expressão, Luiz Pacheco foi um dos escritores portugueses que abordou a homossexualidade na literatura.
Chocou muita gente ao passar para texto uma cena de engate com um magala, durante a guerra colonial, naquele que ficou conhecido como um dos textos mais badalados da sua obra.

Foi preso diversas vezes, pelos textos que publicou e pelas mulheres menores com que se envolveu.
Teve três mulheres oficiais e oito filhos.
Mas o facto de ter posto a literatura acima da própria família levou à desagregação daquilo que ele chamava a sua "tribo".
Os textos de Luiz Pacheco são considerados na sua grande maioria autobiográficos, reflectindo muitos deles as suas vivências diárias. Um dos mais notáveis é a "Comunidade", considerado unanimemente como uma obra-prima.
Mas a importância de Luiz Pacheco vai muito além daquilo que ele escreveu.
Considerado o "Sacristão do Surrealismo", Luiz Pacheco teve um papel fundamental na literatura portuguesa enquanto editor.
Publicou obras de Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Herberto Helder, Natália Correia, Vergílio Ferreira, entre muitos outros.
Luiz Pacheco foi ainda o primeiro editor do Marquês de Sade em Portugal e de muitos outros autores não divulgados anteriormente.
Uma das suas facetas mais polémicas é a de crítico literário.
Por diversas vezes gerou verdadeiras ondas de consternação no meio literário português, ao publicar a sua opinião sobre autores e obras.
Um dos seus folhetos mais célebres ó que denuncia uma situação de plágio entre dois conhecidos escritores portugueses.
Depois de ter vivido em inúmeras casas e quartos e de ter percorrido o país de lés a lés por diversas vezes, Luiz Pacheco "assentou" num lar em Lisboa, de onde não sai há mais de dois anos.
Mas apesar de debilitado fisicamente, Luiz Pacheco mantém um espírito perspicaz e muito atento.

Na RTP 2 - 22:35h

A INFORMAÇÃO PÚBLICA «FAZ DE CONTA»


Um rápido passar de olhos pela imprensa nacional ou regional basta, para verificar que muitos desses anúncios estão tecnicamente incorrectos, não são legíveis e, frequentemente, a própria assinatura do responsável pelo organismo emissor é formalmente apresentada como ilegível, a relação custo-benefício é esquecida e os novos «media» também.
Primeiro surgiu a Alta Autoridade para a Comunicação Social a pronunciar-se sobre os boletins municipais num momento de intervenção parcial e excessiva, esquecendo-se convenientemente dos boletins produzidos por organismos da Administração Central, Institutos Públicos e empresas em geral.

Anos depois, com base nesse parecer, veio a Comissão Nacional de Eleições apelar ao bom senso dos presidentes dos municípios, desaconselhando o que, no seu entendimento, podem ser excessos de protagonismo, mas sobre os quais não existe qualquer instrumento legislativo aferidor.

O anterior governo, num arroubo justiceiro que passou despercebido, entendeu produzir alterações ao Código da Publicidade, proibindo a inserção de publicidade comercial nas publicações de informação periódica das autarquias locais, enquanto se esquecia ou não teve tempo de tomar idêntica medida (e com a mesma base de fundamentação encontrada), em relação às Rádio Difusão e Rádio Televisão Portuguesa, convenientemente protegidas na sentenciação legislativa: a publicidade do Estado (com excepção das autarquias locais) é um assunto à parte!

A debilidade de formatação e conteúdo dos diplomas legislativos é endémica e prolongada no tempo. A enorme falta de cultura democrática do Estado e da sociedade, leva a que se adoptem com facilidade princípios formais e se esqueçam, convenientemente, os fundamentos associados; por isso, as regras longe de serem universais, surgem de forma enviesada e reflectem o sabor dos momentos.

O Decreto-Lei nº 100/84, durante muito tempo, foi o instrumento legislativo que regulou as Atribuições e Competências das Autarquias Locais e nele se previa que «as deliberações dos órgãos autárquicos? destinadas a ter eficácia externa? seriam publicadas em boletim da autarquia quando exista, ou em edital?»

Os boletins municipais já eram nesse tempo e são, instrumentos (mais ou menos conseguidos, de maior ou menor qualidade), de divulgação das políticas e actividades dos municípios, pelo que a essência dos seus conteúdos tem/exerce alguma influência sobre os respectivos munícipes.

Mas as decisões com eficácia externa dos municípios são tantas, que a sua publicação extensiva em suporte adequado configura um repositório à escala, do Diário da República ou do Diário das Sessões, como o entenderam um ou outro município que criaram publicações específicas com esta finalidade.

Entre a opção por editar uma publicação exclusiva para este fim (com duvidosa exequibilidade e eficácia), ou fazer, como a maioria, uma interpretação ampla do legislado, ignorando a sua aplicação, sobressaiu o bom senso daqueles que foram divulgando em boletim municipal, as decisões tomadas de maior relevância para as comunidades locais que servem.

Mudam os anos, mudam as vontades, refinou-se a pertinácia legislativa. Revisto aquele diploma agora sob a forma de lei, em 1999, e mantendo nesta matéria articulado semelhante, seria alvo de uma nova revisão três anos depois, agora de forma substancial no que a este particular se reporta – assim, no seu artigo nº 91, titulado Publicidade das Deliberações, depois de referir a publicação em Diário da República e em edital, determina no seu ponto 2: «Os actos e decisões? destinados a ter eficácia externa são ainda publicados em boletim da autarquia local e nos jornais regionais editados na área do respectivo município, nos 30 dias subsequentes à tomada de decisão, que reúnam acumulativamente as seguintes condições:

a) sejam portugueses?;
b) sejam de informação geral;
c) periodicidade não superior a quinzenal;
d) tiragem média mínima nos últimos seis meses de 1500 exemplares por edição;
e) não sejam distribuídos a título gratuito».

Prevê-se ainda, previdentemente, no citado diploma, que, «por consenso entre as partes», serão anualmente estabelecidas as tabelas de custos, presume-se que para a publicitação destas decisões dos municípios na imprensa regional.

Como lhe competia, em extenso parecer à época, a Associação Nacional dos Municípios Portugueses, pronunciou-se contra este articulado, tendo mostrado disposição de defender a respectiva revogação. Certo é que, cinco anos depois, o artigo não foi revogado mas também não foi levado à prática?

Mas, se se ler bem o articulado, a simples falta de uma vírgula coloca em paridade os boletins municipais com alguns jornais regionais, isentando-os da publicitação enunciada? por serem distribuídos a título gratuito.

Será que, mais uma vez, terá andado por aqui «conveniente mãozinha» (será lobby?) da imprensa regional escrita? E porque é que os meios audiovisuais ficaram de fora?

E porque será que paladinos da imprensa livre, entendem que é condição dessa liberdade, a imprensa regional ser obrigatoriamente financiada com publicidade pelas autarquias locais? E, se assim é, qual a razão ou razões que impedem, ao contrário do que sucede, por exemplo, em Espanha, que as autarquias participem no capital dessa imprensa?

E, se não existe um controlo de tiragens generalizado e indiscutível da imprensa de grande expansão, como é que tal se pode assegurar, como prevê a lei, a nível local ou regional?

Demasiadas questões para tanta ambivalência.

É muito interessante constatar que a lei que estabelece o quadro de competências, assim como o regime jurídico de funcionamento dos órgãos dos municípios e freguesias, foi, pela sua natureza, produzida e aprovada pela Assembleia da República, onde têm tido assento na sua qualidade de deputados, variadíssimos autarcas da maioria dos partidos políticos ali representados.

Não se sabendo se a intervenção desses representantes flutua consoante desempenham funções de deputados ou de autarcas, verifica-se, pelo menos, que o peso específico desses autarcas dentro dos seus partidos políticos não é tão acentuado como parece, ou então, estas matérias são secundarizadas face a interesses prioritários do poder local.

Seguro é, que frequentemente se legisla tipificando a publicitação dos actos com eficácia exterior, agora nos boletins municipais, quase sempre nos media, em qualquer dos casos não salvaguardando a respectiva eficácia, isto é chegar à generalidade dos cidadãos, assegurando o melhor uso dos dinheiros públicos.

Um rápido passar de olhos pela imprensa nacional ou regional basta, para verificar que muitos desses anúncios estão tecnicamente incorrectos, não são legíveis e, frequentemente, a própria assinatura do responsável pelo organismo emissor é formalmente apresentada como ilegível, a relação custo-benefício é esquecida e os novos «media» também!

Há uma outra atitude que o Estado deve ponderar – começar por dar o exemplo a partir de cima, assegurando pressupostos semelhantes para os dois níveis da Administração Pública, assumindo formalmente que, no âmbito das suas obrigações e competências, tem o dever, que advém da natureza do regime e dos fins que prossegue, de dar pública informação e explicação das suas actividades.

Ao fazê-lo, deve criar um quadro de referências apropriado, com a maleabilidade necessária, mas com a obrigação subjacente, de que cada organismo público deve adoptá-lo como um compromisso, declarado em função das circunstâncias de cada um, cabendo ao Estado transpor para esse código, valores e fundamentos da informação pública partilhada, assumindo a função supletiva e persistente de sensibilização, pedagogia e formação dos diversos intervenientes.

Tão simples como isto: é a bitola da maturidade do Estado que está em equação!



Luís M. Sousa

ISTO VAI DE MAL A PIOR...

“Quando se avançar com o Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias, o défice externo português vai ‘saltar’ para os 11 por cento”

Medina Carreira

COMEÇA BEM...

quinta-feira, 21 de julho de 2005

NOVAS VIAGEMS... [ desta vez a Espanha ]




Castril de la Peña - Granada
29 de Julho a 3 de Agosto de 2005



Tavernes de la Valldigna - Valência
11 a 16 de Agosto de 2005


Nestas viagens promovida pela Agência de Viagens da Câmara Municipal de Ponte de Sor, os felizes contemplados para as duas viagens são:


- Dr. Taveira Pinto

- Dr. António Gomes

UM JÁ LÁ VAI... «CANSADO» NO FIM DE 130 DIAS!!!


Campos e Cunha abandona Governo ao fim de 130 dias

Ao fim de 130 dias Campos e Cunha abandonou o Governo por «motivos pessoais» e por estar «cansado???».
A primeira demissão do Governo Sócrates será concretizada ao meio-dia, a hora agendada para o presidente da República empossar o novo ministro, Teixeira dos Santos.

O novo responsável pela pasta das Finanças vai ser Fernando Teixeira dos Santos, antigo secretário de Estado das Finanças e do Tesouro, nos Governos de António Guterres.

São ainda desconhecidos os nomes dos futuros secretários de Estado. Teixeira dos Santos poderá, no entanto, conservar algum ou alguns dos secretários de Estado de Campos e Cunha.

Além do cansaço, o ministro das Finanças demissionário alegou «motivos pessoais e familiares». Antes de ter ocupado o lugar, Campos e Cunha disse um dia na TSF que nunca teve a ambição de ser ministro.

Contradições ainda antes da posse

A 5 de Março, ainda antes de ter tomado posse como ministro, Campos e Cunha admite na TSF que o aumento de impostos era quase inevitável.

«A subida dos impostos é uma possibilidade, a encarar não como primeira medida, mas, se necessário for, pelo menos no médio prazo, o que é provavelmente quase inevitável», disse.

Uma declaração que José Sócrates desmente de imediato. No debate do programa do Governo, o primeiro-ministro garante que a prioridade é conter a despesa e combater tanto a fraude como a evasão fiscal.

A promessa não se cumpre e em Maio, Campos e Cunha anuncia o aumento da carga fiscal, a começar pela subida do IVA.

Campos e Cunha diz que não brinca com os portugueses

Depois dos impostos a polémica da reforma. A 4 de Junho o ministro chama os jornalistas para garantir que é legal a acumulação do ordenado de ministro com a pensão de vice-governador do Banco de Portugal.

O Governo prepara alterações à lei da reforma dos políticos. Campos e Cunha garante que nada tem a opor.

«O Governo definiu alterações que visam alterar a situação actual, a elaboração da lei está a ser realizada com a minha própria participação, não é uma questão moral, mas de cumprimento da lei, que obriga a todos», disse.

O ministro das Finanças fala em ataques pessoais para afirmar que não vai desistir. «Não admito portanto que se levantem questões morais sobre mim. A situação do país exige a contribuição de todos os portugueses. Os ataques pessoais não me impedirão de dar o meu contributo», acrescentou.

Poucas semanas depois, Campos e Cunha é obrigado a reconhecer erros no Orçamento Rectificativo, mas considera que essas falhas não colocam em causa o essencial do documento.

No início deste mês, José Sócrates garante na SIC que os impostos não vão voltar a subir. No dia seguinte, o ministro das Finanças esclarece que tudo depende.

«Se o sucesso da consolidação orçamental, assim o permitisse daqui a uns anos poderíamos baixar impostos, mas devo dizer que infelizmente não penso que o sucesso esteja acima das nossas previsões e portanto no horizonte vejo com dificuldade baixar impostos, mas também não vejo necessidade de os aumentar», acrescentou.

Artigo polémico no jornal Público

O clima de desconforto agrava-se com o artigo de Campos e Cunha no último domingo no Público. O ministro das Finanças escreve que «nem todo o investimento público é necessariamente bom».

Na terça-feira o responsável diz no Parlamento que os projectos da OTA e do TGV ainda precisam de nova avaliação.

Sob as críticas da oposição, Campos e Cunha adianta que é preciso seriedade quando se fala em determinados investimentos públicos. «Eu não brinco com os portugueses, posso fazer erros, cometer asneiras, porque tomo decisões», garantiu.

Ontem de manhã também no Parlamento, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, garantiu que a decisão sobre o TGV e a OTA já está tomada. Uma contradição que pode ter sido a gota de água na decisão de Campos e Cunha abandonar o Executivo.


VAMOS TODOS PARTICIPAR...

Constâncio à presidencia

Portugal precisa de dois candidatos de superior qualidade que levem a disputa eleitoral até ao dia da votação e garantam dez anos de excelência. Cavaco Silva é um. O outro só pode ser Vítor Constâncio.
Passado o tempo dos militares (com Spínola, Costa Gomes e Ramalho Eanes), passado o tempo dos «advogados» (com Mário Soares e Jorge Sampaio), Portugal precisa agora de entrar no tempo dos «economistas».

Para os partidos de direita, e em especial o PSD, as próximas eleições presidenciais são decisivas. A derrota mergulhará a direita numa profunda depressão. Uma vitória significará, menos de um ano após uma traumática derrota, o levantar da cabeça e o início do caminho de volta ao poder.

Cavaco Silva é, neste sentido, o candidato certo no momento certo. Em si transporta prestígio e respeito, experiência e maturidade, autoridade e sentido de Estado, conhecimento da política e domínio da agenda fundamental do país: a economia. Cavaco Silva, tendo atravessado o deserto, não só conservou intacta a sua base de apoio como conquistou apoios à esquerda. Face a Cavaco, nenhum outro candidato de direita se poderá erguer e, mesmo à esquerda, a alternativa parece difícil.

Vitorino saiu de cena, Guterres ainda não está pronto. Freitas do Amaral é apenas um entretém noticioso, Manuel Alegre é uma solução à PCP. E até o sempre candidato Mário Soares seria um absurdo no plano do auto respeito pessoal, uma caricatura no plano político e uma alucinação no plano do PS.

A verdade é que, tal como a direita, o PS julga decisivas as próximas presidenciais. O desgaste do Governo será muito acentuado e Sócrates sairá muito diminuído se o PS não tiver candidato à altura de Cavaco, capaz de pôr em causa uma vitória aparentemente certa da direita.

Vítor Constâncio é, desta forma, o verdadeiro candidato do PS. Pois possui todos os atributos de Cavaco Silva: prestígio, respeito, experiência, maturidade, autoridade, sentido de Estado, domínio da economia.

E com estes dois candidatos, quem quer que seja o eleito, Portugal ficará a ganhar.


Eduardo Moura

quarta-feira, 20 de julho de 2005

NOVOS MEALHEIROS A PARTIR DE 2006

DO CORREIO...




UM CONTRIBUTO PARA O PROJECTO INTEGRADO DE SAÚDE BEM-ESTAR SOCIAL E DESENVOLVIMENTO HARMONIOSO E SUSTENTÁVEL DE PONTE DE SOR


Natação obrigatória


Viemos do fundapique
passámos no tudasaque
não há mal que mal nos fique
nem há cu que não dê traque
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo

Andámos no malsalgado
brigámos no daceleste
e o escorbuto mal curado
com tratamento indigesto
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo

[refrão=]
Natação obrigatória
na introdução à instrução primária
natação obrigatória
para a salvação é condição necessária
não há cu que não dê traque
não há cu que não dê traque
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo

Pusemos a cachimónia
em papas de sarrabulho
e quando as noites são de insónia
damos voltas ao entulho
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo

Aprendizes da política
só na tática do "empocha"
vem a tempestade mítica
e s cabeça dá na rocha
mal a gente vem ao mundo
logo a gente vai ao fundo

Música: Nuno Rodrigues
Letra: António Avelar Pinho
In: Banda do Casaco: "No Jardim da Celeste" (1980)



Enviado por: Manuel João

ENTRE A ROLETA E A MONTANHA RUSSA

O Governo pensa que o país é uma discoteca. O ministro das Finanças considera que é uma tasca. Sócrates parece considerar que Portugal está entre o Lux e a Ota. Campos e Cunha supõe que estamos entre a sopa dos pobres e um lar remediado.

Há dois Governos. Um que vive na montanha russa: toda a alucinação é possível. Outro sobrevive à espera do fatal tiro da roleta russa. Não se percebe se há um Governo único. Ou se Sócrates é uma espécie de Gardel entre os seus pares: dança ao ritmo do momento.

O TGV pode ser uma orquestra de rumba, a Ota poderá mesmo ser um grupo de samba, mas Campos e Cunha é definitivamente um mestre das canções sem ritmo. Não se percebe como Sócrates e Cunha fazem um «can can» conjunto em São Bento. Gostam de estilos musicais e financeiros diferentes. Sócrates dança à volta do Estado. Campos e Cunha circula pela austeridade tentando que ela seja o ritmo ideal.

Todos os Governos gostam de transformar-se em centros comerciais que apelam ao consumo. O problema é quando é preciso poupar. Há quem considere que substituir o cartão de crédito pelo porta-moedas é um sinal de fraqueza. Mas esse é o erro dos Governos que só pensam durante o espaço de uma legislatura. E é por isso que Portugal está assim.

Fernando Sobral