quinta-feira, 31 de agosto de 2006

SERÁ O PROBLEMA DO RELÓGIO?

A Suíça descobriu o relógio de cuco. A Inglaterra tem o Tempo Médio de Greenwich. Em Portugal o relógio tem uma função mais relevante: como enfeite. Como não olham para o relógio, nem para o calendário, os portugueses nunca foram ao dicionário descobrir o significado da palavra "prazo".


Cumprir prazos é uma fábula: Com uma diferença: os que não cumprem fazem geralmente de Capuchinhos Vermelhos. E há sempre um Lobo Mau, alguém a quem apontam a dedo, que não os deixou cumprir o que o cronómetro previa.


O que está a acontecer no túnel do Rossio exemplifica a cultura contra-relógio dos portugueses: os prazos prometidos são para se cumprir, mas daqui a uns dias, semanas ou anos.
Não é um caso isolado.


Alguém se lembra de quando começaram as obras do Terreiro do Paço por causa do Metro?
Só os que, todos os dias, há alguns anos, têm de palmilhar um trajecto que só não causa problemas a quem não tem de o fazer.
Os prazos em Portugal fizeram-se para não se cumprir.

E isso faz parte do ADN dos portugueses.
O túnel do Rossio é o relógio de Portugal: atrasa-se por todos os motivos possíveis e por todos os outros que só acontecem nos países que não têm calendários.

Não é, lamentavelmente, um caso isolado.
Em Entre-os-Rios, se não tivessem existido atrasos na inspecção, a ponte não teria caído. Em muitas florestas, se não tivesse havido atraso nas limpezas, pouco teria ardido. O problema, claro, é do relógio. Estava atrasado. E Portugal não deu por isso.

F.S.

FESTIVAL DE MÚSICAS E DANÇAS DO MUNDO


centro de artes do espectáculo de Portalegre.

quarta-feira, 30 de agosto de 2006

NOVA VIAGEM...

DESTA VEZ É À FINLÂNDIA

A comitiva da Câmara Municipal de Ponte de Sôr tem como líder o vereador Luís Laranjeira objectivo da visita: escolas pré-primárias filandesas.



Depois do grande sucesso que está a ser a Implantação/Funcionamento (que nunca foi sentido pelas crianças) do Aquecimento nas Escolas do Ensino Básico do concelho de Ponte de Sôr, agora com esta visita, é que vai ser tudo importado (novas salas, novos equipamentos, novo aquecimento, novos docentes, são como o Sócrates...)



Até vão trazer uns tanques lava skis

para a neve do concelho de Ponte de Sôr...

MAS LÁ OS ORDENADOS NÃO SÃO MAIS ELEVADOS?

Portugueses pagam mais IRS do que os espanhóis

As taxas nominais do Imposto sobre o Rendimento das pessoas Singulares (IRS) são mais elevadas em Espanha do que em Portugal, mas quando a comparação é feita em termos implícitos verifica-se que estas são mais pesadas por cá. Esta é uma das conclusões a que chega a Direcção-Geral de Estudos e Previsões (DGEP) do Ministério das Finanças numa análise comparativa do sistema fiscal dos dois países desde a adesão à UE.

Em Portugal, a taxa nominal do IRS estava fixada em 40% (para este ano foi criado um escalão adicional taxado a 42% para rendimentos superiores a 60 mil euros), enquanto em Espanha aos rendimentos superiores a 45 900 euros anuais é aplicada uma taxa de 45%. Apesar desta diferença, na prática, a taxa de IRS implícita aplicada aos espanhóis ronda os 29,4% enquanto que para os portugueses é de 29,8%.

Relativamente à tributação sobre o consumo - onde o IVA surge como o imposto mais relevante -, verifica-se que Espanha tem um conjunto de impostos especiais mais vasto do que Portugal mas, mais uma vez, quando chega a hora de pagar, os dados mostram que os espanhóis o fazem de forma mais suave porque, de uma maneira geral, a fiscalidade que incide sobre o consumo tem taxas mais reduzidas. Nesta matéria, o IVA é o exemplo mais notório (a taxa máxima em Espanha é de 16% contra os nossos 21%), mas não é caso único.

Já no IRC (imposto sobre o lucro das empresas), a comparação permite concluir que apesar de terem taxas nominais diferentes (sendo mais baixa a portuguesa), o peso da receita deste imposto no Produto Interno Bruto é semelhante nos dois países. Ainda assim, este rácio tem subido no país vizinho, enquanto por cá tem descido.


L.T.
J.N
.

BOMBEIRÊS...

Como se sabe, Plutão foi despromovido, deixando de ser considerado um planeta do Sistema Solar.


Provavelmente em protesto contra essa decisão, o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil teve durante breves minutos (corrigiu entratanto) a seguinte descrição dos meios usados no incêndios de Proença-a-Nova:


Aerotanque pesado Canadair, Beriev,CODIS, 2ºCODIS, GRIF Santarém, GRIF Portalegre, GRIF Leiria, Coluna Nacional, Veiculo de Comando e Comunicações.
Posto de Comando no CMA Proença-a-Nova.
4 Plutões militares.


P.A.V.

terça-feira, 29 de agosto de 2006

POBRE PÁTRIA A NOSSA... ENTREGUE A TAL GENTE...

Por estes dias José Sócrates vai olhar-se ao espelho. E perguntar: daqui a uns anos serei demasiado velho para ser primeiro-ministro?
Afinal Portugal vive num dilema temível: as reformas surgem cada vez mais tarde e, a partir dos 40, é-se velho para conseguir um emprego.

Quando sair de São Bento, Sócrates terá demasiada experiência para qualquer cargo.


Será velho para ser caixa de um hipermercado.
Mas é isso que acontece a todos os que são chamuscados pela sua política: too young to die, to old to rock’n’roll.
Portugal está a desprezar a faixa de especialistas: porque são caros e são velhos.


Há dias conheci um: trabalhava como soldador sem contrato.
Porque os jovens não sabem soldar como ele. E ele não é contratado porque já ultrapassou os 55 anos e, apesar do seu saber, é caro.
Sócrates sabe do que fala: qualificação e rentabilidade.

Mas, depois, temos os casos Mateus para mostrar o outro lado do espelho de Portugal.
Sócrates fala de um sítio que parece o de Alice no País das Maravilhas. E temos um jogador, internacional angolano, que trabalhava sem contrato em Portugal, até que alguém tentou regularizar a situação.
A lei criou o caos digno do futebol que temos.
Sócrates é um actor. E acredita que Portugal é um palco à altura das suas potencialidades.
Mas o problema é que este país é habitado.
Vivem por aqui pessoas.
Antigamente tinham um sonho para o futuro.
Hoje apenas tentam sobreviver.
Face a isto de que é que a oposição está à espera?


F.S
.

segunda-feira, 28 de agosto de 2006

O VENTRÍLOQUO...

Há alguns momentos em que o Governo parece o célebre pato de um ventríloquo português.


Os ministros abrem a boca mas é Sócrates que fala.

Há líderes governamentais que governam com mão de ferro todo o País.
Há quem pretenda que a mansidão se espalhe por todo o Governo.
No Governo do PS, exceptuando um ou dois casos, há uma ceara uniforme.

Sócrates ceifa-a à sua altura.
Manuel Pinho falava muito?
Coloca-se uma mordaça na boca.
Isabel Pires de Lima tinha ideias para o CCB e para a colecção Berardo?
Sócrates decide e envia o documento para a ministra da Cultura assinar.
Sócrates gosta de motins.
Mas só os que louvem o silêncio enquanto decide na pacatez do seu gabinete.

O líder do Executivo gosta de governar sem dor, custo ou uma realidade circundante que o obrigue a mudar as suas ideias.
Quando tiver de mudar alguma coisa, Sócrates não alterará nada na sua forma de exercer o poder: mudará os ministros.
O célebre músico James Brown era conhecido por multar os seus músicos quando desafinavam nos concertos.
Sócrates nem os deixa tentar desafinar: dá-lhes um disco pré-gravado que eles se limitam a pôr a tocar enquanto abrem a boca sem dizer nada.
Há um Portugal desconhecido governado por Sócrates.

O de um líder que gere na sua solidão e que detesta ruídos dos vizinhos ou dos ministros.
Fala sempre mais alto do que os que estão à sua volta.
Espera que o País fique surdo.

E que assim ele possa tomar decisões sem ser importunado.


F.S.

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

POBRE PAÍS O NOSSO...

O político português típico acredita num princípio da idade do Paleolítico: o mundo muda e ele continua igual.
Há quem tenha uma visão ainda mais preguiçosa da sociedade: a de que o país roda à sua volta.

É esta visão umbilical que leva a que a ideologia central reinante no país seja a da incineração.
À falta de adrenalina, a incineração é a maquilhagem perfeita para a sua frugal dieta de falta de ideias.
O político português não actua às claras: incinera às escuras.
Jerónimo de Sousa, à falta de estrelas da ex-URSS, apresenta como cabeça de cartaz do piquenicão da Festa do Avante o autarca Carlos de Sousa. Transformado, dentro dos profundos conhecimentos de incineração do partido, em torresmos.
No PSD há quem, em vez de exercitar os músculos contra a corrente, prefira incinerar o líder Marques Mendes.
A incineração interna é sempre uma forma de combate político mais fácil do que debater com o feiticeiro do fogo, José Sócrates.
Este, aparentemente, só tem uns autarcas que, em sussurro, vão tentando garantir fundos para adquirir uma incineradora que um dia os vingue das humilhações.
Mas, até lá, vão ter de viver com o líder do forno governativo.
O CDS de Ribeiro e Castro comprou uma incineradora para se ir torrando a si próprio, num exercício de masoquismo que poderia ser estudado por académicos de todo o mundo.
Na política portuguesa é mais fácil incinerar quem está à volta do que acender os neurónios.
É por isso que este país vive na penumbra da fuligem.


F.S.

ALGUÉM INFORME O CAMARADA...


Não conheço Carlos Sousa nem tenho simpatia por ele. Sobretudo depois da forma como reagiu ao "anúncio" da sua saída da Câmara de Setúbal, feito pelo PCP: não teve coragem para assumir a divergência com a direcção do partido, que o correu a pontapé (primeiro foi a fuga de informação, segundo a qual o PCP estava a "analisar" a sua obra à frente da autarquia; depois o comunicado do partido anunciando a sua saída, antes da conferência de imprensa que Sousa havia marcado).
Uma vergonha!

Não sei analisar as implicações dos actos que, alegadamente, estão por trás da investigação que a IGAT está a fazer na Câmara. E que pode acabar na sua dissolução (o grande receio do PCP).
Mas há uma coisa que faz muita impressão (para além da falta de coluna vertebral do autarca): a forma como o PCP põe e dispõe dos seus eleitos. E não se diga que, numa eleição, concorrem partidos e não cidadãos.
Se isso é verdade para instituições como o Parlamento, não o é para a Presidência e autárquicas.
Aqui a personalidade tem um peso determinante: na grande maioria dos 308 municípios do país, quem ganha as eleições são, primeiro, as pessoas... depois os partidos.
Razão bastante para que o PCP, ou outro partido, não reivindique direitos de propriedade sobre a presidência de uma Câmara.

C.L.

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

TAVEIRA PINTO, VIGARICES & COMPANHIA,LDA... CORRUPÇÃO


«MAIS UMA GRANDE VIGARICE



DOS “XUXALISTAS

DA CÂMARA MUNICIPAL DE
PONTE DE SÔR

Há um vereador da Câmara Municipal de Ponte de Sôr da cor política do presidente Taveira Pinto, com uma caravana no parque de campismo de Montargil [desde do 1º mandato do Taveira Pinto] que até hoje nunca pagou um cêntimo de taxa pelo espaço que a caravana ocupa, além disso tem chave do parque de campismo de Montargil, para poder entrar fora de horas e sem pagar nada.



O vereador é:



Joaquim Carita »


Deixamos aqui uma explicação simples de corrupção segundo a Wikipédia.
Sabemos que as autarquias, alguns deputados, o meio partidário, a construção civil, o futebol, ou seja, a futebolítica - são hoje os canais por onde passa boa parte da corrupção política em Portugal.
Por isso valerá a pena precisar alguns conceitos, recordar algumas articulações desta nossa sociedade cancerosa que ameaça fazer desabar os pilares da própria democracia e os fundamentos do Estado de direito.
A palavra corrupção deriva do latim “corruptus” que, numa primeira acepção, significa “quebrado em peças” e numa segunda acepção, “apodrecido”, “pútrido”.

O verbo corromper significa tornar pútrido, podre.

Numa definição ampla corrupção política significa o uso ilegal - por parte de governantes, funcionários públicos e agentes privados - do poder político e financeiro de organismos ou agências governamentais com o objetivo de transferir rendimentos públicos ou privados de maneira criminosa para determinados indivíduos ou grupos de indivíduos ligados por quaisquer laços de interesse comum – como, por exemplo, negócios, localidade de moradia, etnia ou de fé religiosa, laços familiares e muitos outros etc...

Em todas as sociedades humanas existem pessoas que agem segundo as leis e normas reconhecidas como legais do ponto de vista constitucional.

No entanto, também existem pessoas que não reconhecem e atacam essas leis e normas para obter benefício pessoal.
Essas pessoas são conhecidas sob o nome comum de criminosos.
No crime de corrupção política, os criminosos – ao invés de assassinatos, roubos e furtos - utilizam posições de poder estabelecidas no jogo político normal da sociedade para realizar actos ilegais contra a sociedade como um todo.

A corrupção ocorre não só através de crimes subsidiários como, por exemplo, os crimes de suborno (para o acesso ilegal ao dinheiro cobrado na forma de impostos, taxas e tributos) e do nepotismo (colocação de parentes e amigos aos cargos importantes na administração pública).
O acto de um político se beneficiar de fundos públicos de uma maneira outra que a não prescrita em lei – isto é, através de seus salários - também é corrupção.

Um exemplo clássico de corrupção é utilização por um político de seu conhecimento e de seu poder de tomada de decisão sobre fundos públicos na realização de um investimento particular (ou de seus companheiros políticos) para a compra de terras ou propriedades baratas que ele sabe que se irão valorizar em função de obras (como estradas e avenidas) que ele – enquanto governante - sabe que o governo fará com dinheiro público.

Todos os tipos de governos são afetados por crimes de corrupção, desde uma simples obtenção e dação de favores como acesso privilegiado a bens ou serviços públicos em troca de amizade até o pagamento super facturado de obras e serviços públicos para empresas privadas em troca do retorno de um percentual do pagamento para o governante ou para o funcionário público.

O acto considerado crime de corrupção e o acto não considerado crime de corrupção podem variar em função das leis existentes e, portanto, depende do país em análise.
Por exemplo, obter ajuda financeira de empresários para uma campanha política é um acto criminoso em países em que todos os valores gastos nas eleições necessariamente têm de vir de fundos públicos (de maneira a que grupos políticos mais ricos não possam fazer valer a sua riqueza para o convencimento dos eleitores em favor de suas teses).
Em outros países, este acto de doação financeira pode ser considerado totalmente legal.

A corrupção política implica que as leis e as políticas de governo são usadas para beneficiar os agentes econômicos corruptos (os que dão e os que recebem propinas) e não a população do país como um todo.
A corrupção provoca distorções económicas no sector público direcionando o investimento de áreas básicas como a educação, saúde e segurança para projectos em áreas em que as propinas e comissões são maiores, como a criação de estradas e empresas hidroelétricas.
Além disso, a necessidade de esconder os negócios corruptos leva os agentes privados e públicos a aumentar a complexidade técnica desses projectos e, com isso, agravar o seu custo.
Isto distorce ainda mais os investimentos.
Por esta razão, a qualidade dos serviços governamentais e da infraestrutura diminui.
Em contrapartida, a corrupção aumenta as pressões sobre o orçamento do governo.
Em seguida, esta pressão reflete-se sobre a sociedade com o aumento dos níveis de cobrança de impostos, taxas e tributos.
Valerá a pena consultar a tabela para se ficar a conhecer as modalidades e sub-modalidades da corrupção que se vai fazendo no mundo inteiro, e também em Portugal.

É nisto, grosso modo, em que devemos pensar quando ouvimos, lemos e sabemos de certos casos em que a paleta da corrupção em Portugal é já uma mala preta recheada de cores esfusiantes e a fervilhar lá dentro.
É contra esse cancro social que o aparelho de Justiça - se Justiça houvesse em Portugal - deveria aplicar-se.
Até lá - e enquanto esses criminosos da política andam a soldo corrompendo tudo e todos para se governarem ou se manterem no poder por mais uns meses, semanas ou dias - a blogosfera - que é o instrumento mais maduro e perfeito da Word Wide Web - deverá manter-se vigilante para denunciar esses indícios que aquecem este Verão - de par com os fogos da época.
Sugira-se aos impressores de notas que passem a contemplar/estampar as imagens faciais de deputados, autarcas e demais corruptos, assim a sua imagem seria publicitada quase em directo...
Medida que talvez os inibisse de cometer mais actos de corrupção de futuro.
Talvez...
Mas pelo menos sentiriam a pressão da opinião pública em tempo real.

Oferenda a todos os corruptos que vão para a política para se servirem dela e não o País.
Pensem duas vezes:
pois dantes sabiam que o aparelho de Justiça nada fazia: era laxista e cego no carreamento das provas, agora existe essa inteligência conectiva que é a blogosfera que acelera processos, troca informação comprometedora à velocidade da luz - o que poderá constituir mais um obstáculo a esses caciques de palmo e meio (alguns nem um mail sabem ainda enviar...) que estão na política.
Não - para atender ao bem comum - mas para jogarem o jogo da mala.
O problema é que a mala da corrupção por vezes pode lá ter dentro uma serpente que se engana e faz Justiça...
Pensem nisso srs. corruptos!!
Pensem nisso!


Pedro Manuel

terça-feira, 22 de agosto de 2006

O "DOWNLOAD"...

Blair criou a «terceira via».
Guterres tornou-a um sorriso electrónico sem conteúdo.
Sócrates vai ficar na história.
Criou a política iPod. O «download» distribuído a cada contratado pela Administração Pública passa a ser secreto.

Sócrates substituiu a geração «baby boomer» pela geração «PIN».
Só números secretos dão acesso à chave do Multibanco dos lugares públicos.
Na sua fúria de transparência Sócrates tornou o território das contratações mais opaco.
Paulo Pinto de Carvalho Freitas do Amaral

Se o «Diário da República» era um «resort» do turismo contratual de massas, disponível à classe média, agora tudo mudou.

Vera Ritta Branco de Sampaio

A nova política do Governo torna as contratações o turismo elitista de St. Tropez dos seus melhores tempos.

Susana Isabel Costa



É certo que o executivo tem liberdade para contratar assessores de confiança para certos cargos e pode haver nomeações de forte pendor político.
Mas a essência da democracia é que uma sociedade seja informada do que se passa.
Se Portugal não souber quem foi contratado para certos cargos na Administração Pública, São Bento torna-se o Kremlin e a Gomes Teixeira uma espécie de Cidade Proibida.
Portugal não pode ser governada por uma geração «PIN» que tem direito a códigos exclusivos de acesso a lugares da administração.
Até porque a geração «baby boomer» tinha sentido de humor, necessidade de descoberta e tanto cantava The Who como lia Jack Kerouac.
A geração «PIN» portuguesa é diferente: veste fatos cinzentos e nem sequer lê os ensinamentos de John Le Carré.

F.S.

AQUÍ NA TERRA TÃO JOGANDO FUTEBOL ...

A PT tem participações em mais de 20 empresas e, na prática, o monopólio do negócio da rede fixa de comunicações telefónicas em Portugal. Consultado o sítio institucional na Internet, em www.telecom.pt, ficamos a saber que o gigante das telecomunicações tem uma óptima ideia a seu próprio respeito, apesar do pouco respeito que vai tendo pelos clientes.


Doze anos após criação do grupo empresarial, a PT gaba-se na «montra» da Internet - «Hoje a empresa tem capitais 100% privados, uma referência no sector a nível internacional e lidera o mercado português em todos os negócios em que está presente. Sucessos passados são muitos e devem-se sobretudo a um espírito de liderança, de inovação, competência e determinação».


No «armazém» onde os clientes ficam esquecidos, o cenário é um pouco diferente. Independentemente da questão dos capitais privados (o cidadão não quer saber se o negócio é público ou privado, quer serviço de qualidade e prestado a tempo e horas), ficam na memória termos como liderança, inovação, competência e determinação.


Pela parte que nos toca e tendo em conta a experiência recente com uma linha RDIS, ficamos a pensar que liderança significa que outras empresas estão impossibilitadas de entrar no mercado, inovação quer certamente dizer que inventaram «call centers» que só servem para dar cabo da paciência aos clientes e competência parece ser termo antigo e com tendência para cair em desuso. Resta, portanto, a «determinação». E aqui, tendo em conta a experiência acumulada após cinco avarias e outras tantas reclamações, em três meses, só podemos atestar que a PT actuou de forma determinada (marcada; decidida, resoluta; expedita – segundo os dicionários) mas para manter a linha com funcionamento deficiente.

A PT, que até fez gala de evidenciar o patrocínio à selecção nacional de futebol, tem naturalmente o direito de mostrar a todos o que considera ter de melhor, mas tem também o dever de assumir responsabilidades perante os clientes que deixa «pendurados» devido à ineficácia dos serviços.

É certo que «aqui na terra tão jogando o futebol …» mas, nem que seja nos intervalos da bola, também há quem deseje e necessite ver na PT uma empresa (ou um grupo de empresas) de referência na prestação do serviço público de telecomunicações.

Carlos Trigo

segunda-feira, 21 de agosto de 2006

NO VERÃO... SARJETAS

Portugal é um país vulnerável onde a prevenção dos desastres não existe ou, existindo, falha. E falha em aspectos tão elementares como a limpeza das matas ou o desentupimento das sarjetas.

Ainda há poucos dias o ministro da Administração Interna se queixava do estado de abandono das florestas, apontando o facto como responsável pela proliferação e devastação dos fogos.
Mas dias depois choveu e as chuvadas que apagaram os incêndios inundaram as cidades onde as sarjetas estão entupidas e as linhas de escoamento das águas estão bloqueadas com betão. Toda a gente sabe que determinadas causas produzem determinados efeitos e o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, entre outros, anda há décadas a pregar no deserto contra os perigos da desordem na paisagem.

Portugal é muito dado a fatalidades, sinas e desgraças apontadas como naturais, como fogos, inundações e secas. E isso acontece não apenas por questões de laxismo, incompetência e irresponsabilidade mas também por uma postura mental de resignação, uma atitude intelectual de reserva perante os meios para prevenir e combater os desastres, uma sujeição a agouros e superstições.
É como se o entupimento das sarjetas fizesse parte de um destino pré-determinado, um fado colectivo ou uma conspiração de forças ocultas.

Num ciclo que se repete todos os anos, as florestas ardem, as cidades inundam-se, os campos secam e os portugueses lamentam- se.
Antigamente rezavam, encomendando a protecção civil à Divina Providência.
Agora, havendo oportunidade, aproveitam para choramingar por alguns subsídios. Tudo isto acontece também, e acima de tudo, porque a cidadania é uma matéria tão entupida como as sarjetas.

J.P.G.

UMA DEPRESSÃO CONTROLADA

O país da maionese


Nesta altura do ano há sempre um choque entre o Velho e o Novo Mundo.
Um representa o Governo.
O outro a leal oposição.
A oposição bate à porta do Governo e ameaça a sua pacatez com uma picareta.


Este diz que somos um exemplo para todo o mundo, apesar das dificuldades conjunturais.
O despique entre Governo e oposição na «rentrée» é uma versão da patinagem na maionese. Todos se alimentam da sua própria euforia.
Esta é uma época em que Governo e oposição costumam tentar surpreender os eleitores: apresentam os seus grandes temas de debate político para os próximos meses.
Normalmente os assuntos são tão surpreendentes que apenas conseguem estimular os próprios partidos proponentes.
Nada que leve o país a sair do jogo de bilhar às três tabelas onde finge criar soluções para a vitória.
A oposição vai confrontar o Governo com as questões sociais.
O executivo, com o auxílio da sua caixa de ressonância parlamentar, vai falar da União Europeia.
O país não sabe que fazer: se esperar as propostas inovadoras dos partidos ou aproveitar para ver os últimos episódios de «Floribella» ou dos «Morangos com Açúcar».
É uma escolha difícil.
Os portugueses são sentados à força para ver a peça de teatro estilo Parque Mayer em que a política nacional se tornou.
Antigamente havia um «compère» que alinhavava umas graçolas para a plateia rir.
Hoje Governo e oposição prometem uma depressão controlada.
Como «rentrée» política não poderíamos ter melhor aperitivo

F.S.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

FAZER HOJE OS ERROS DE AMANHÃ

Os planos florestais

A política pode ser a nobre arte de fazer hoje os erros de amanhã.
Isto é, decidir mal agora o que nos vai ser cobrado com juros num futuro próximo.
Muitos políticos em Portugal licenciaram-se nesta actividade.


E continuam a praticá-la militantemente como se a experiência não servisse para nada.
O país, por exemplo, arde.


Num ano descobre-se que era por falta de meios de combate às chamas.
No outro descortina-se que foi por falta de prevenção.
O resultado é simples: o país desertifica-se.
Da sua riqueza natural. E dos homens e mulheres que ainda estavam no interior.
O Estado, condoído, compra «kleenex» cada vez que o fumo das chamas lhe faz comichão nos olhos.


Nem os crocodilos choram tanto. Compreende-se a farsa em que se tornou esta história.


Depois de se perder a mais salutar riqueza florestal do país descobre-se que a utilização de meios para a reflorestação da área ardida não foi cumprida.
Por falta de dinheiro?
Não.


Havia fundos.
Mas como mudou o Governo, alterou-se a política florestal. E aí estamos a fazer os erros de que nos vamos queixar amanhã.
A floresta portuguesa está cansada de planos paradisíacos.
Tem pesadelos cada vez que se apresenta um.
Porque eles são como as flechas de Guilherme Tell: acercam sempre nas maçãs erradas.

F. S.

NO VERÃO... NOTÍCIAS DE VERÃO!!!

As notícias de Verão valem o que valem, como costuma dizer-se.
Por exemplo, quanto vale a notícia segundo a qual o CDS tem o PP aprisionado na cave?

O “quem” da notícia é Manuel Monteiro, ex-dirigente do CDS, co-fundador do Partido Popular, dedicado agora à causa da libertação e devolução do PP. E Monteiro diz “o quê”?
Monteiro diz que o actual presidente do CDS, Ribeiro e Castro, tal como o anterior, Paulo Portas, aprisionaram o PP na cave embora, de vez em quando, o tirem da gaveta.
Daqui se presume que há uma gaveta na cave do CDS, o que não será suficiente para uma acusação de encarceramento privado.
Engavetar só em português de baixa extracção é sinónimo de aprisionar.
Mário Soares também fechou o socialismo numa gaveta, o que não foi suficiente para que o PS deixasse cair o S da sigla.
Mais: sem a gaveta de Mário Soares não haveria no PS um cacifo do qual saiu a esquerda moderna de José Sócrates.

Mas, quanto ao CDS, Monteiro vai mais fundo que a cave, nas suas acusações, e diz mesmo que o PP está encerrado nas catacumbas. E aqui o caso de algum modo muda de figura.
Uma gaveta numa cave não passa de uma gaveta.
Mas a gaveta das catacumbas é um sarcófago onde se conserva o ossário.
Pelo que Monteiro não está apenas a dizer que o PP está engavetado mas a insinuar que estará morto e enterrado. E assim, quando o co-fundador do PP exige que lhe devolvam os restos do Partido estará a referir-se a restos mortais.
Ou seja, Monteiro quer a exumação do PP.

E é com os restos mortais do PP que Monteiro quer dar vida à Nova Democracia.
Os surrealistas chamariam a isto um cadáver esquisito, o jogo de papel dobrado, um delírio da imaginação.
Mas o surrealismo não tem lugar na política portuguesa.
Ou terá?
Ou será apenas porque no Verão as notícias valem o que valem?


João P. Guerra

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

ISTO VAI CADA VEZ MELHOR!!!

Défice orçamental sobe

para os 4,31 mil milhões de euros


O défice provisório do subsector Estado, em Julho de 2006, apurado na óptica da Contabilidade Pública, cresceu para os 4,31 mil milhões de euros, acima dos 4,09 mil milhões de euros verificados em igual período do ano anterior, segundo números divulgados pela Direcção-Geral do Orçamento (DGO).

quarta-feira, 16 de agosto de 2006

PORRA, É BUGALHEIRASIMPLEX




Sítio em construção



ANOS, MESES, DIAS...



A CÂMARA MUNICIPAL

DE PONTE DE SOR


É A ÚNICA DO DISTRITO

DE PORTALEGRE

SEM PÁGINA NA INTERNET

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

LIXO NA BARRAGEM DE MONTARGIL



Como vosso vizinho vou com frequência à barragem de Montargil.
Fico sempre espantado e triste com a quantidade de lixo que aí encontro, em zona de grande afluência de pessoas, próximo do paredão.
Sabendo que o civismo não abunda entre os portugueses, pois onde podem parar o carro e fazer piquenique invariavelmente ficam os vestígios, ou seja o lixo.
Aqui acontece o mesmo, as pessoas não são capazes de pegar no seu lixo e leva-lo no carro e deixa-lo num contentor.
Mas sabendo deste comportamento, as autarquias de Ponte de Sor, Câmara ou Junta de Montargil, não deviam colocar aí nesses locais contentores e fazer a recolha periódica?
O Lixo acumula-se junto aos troncos dos Chaparros, até que o vento rompa os sacos e o espalhe pelos campos.
Aqui fica o meu alerta.


Mora

O ALENTEJO ESTÁ A ARDER CADA VEZ MAIS



O Alentejo arrisca tornar-se um inferno de chamas nos próximos anos, caso se mantenha a tendência de agravamento dos últimos cinco anos. O recente incêndio da serra de Ossa - que terá queimado mais de seis mil hectares - apenas veio confirmar que esta região, praticamente imune aos fogos até finais da década de 90, começa a figurar cada vez mais no mapa dos incêndios devastadores de Portugal.


Para já, os três distritos alentejanos (Portalegre, Évora e Beja) ainda estão longe de estar no topo dos mais incendiáveis do País, mas a evolução dos últimos anos é terrível. Com efeito, olhando para as estatísticas oficiais, o distrito de Portalegre sofreu um agravamento da taxa média anual de 2891% quando se compara o período 2000-2005 com a década de 90. Os distritos de Évora e Beja atingiram agravamentos de 617% e 866%, quando em termos nacionais o incremento foi de 264%, já em si um valor elevadíssimo.


Apesar de esta tenebrosa evolução estar ainda longe de colocar o Alentejo no topo das regiões mais incendiáveis do País, certo é que, de entre os 20 maiores incêndios do último quinquénio, seis iniciaram-se no Alentejo. O maior incêndio de sempre - em Nisa, que queimou 41 mil hectares - é algo assombroso a nível nacional e sobretudo regional, sabendo-se que antes de 2003 o pior ano neste distrito tinha sido 2001, com apenas 2461 hectares queimados.


Os outros dois distritos ainda não tiveram anos tão avassaladores, mas Beja já registou dois anos acima dos 10 mil hectares ardidos (em 2003 e 2005), quando o máximo nos anos 90 tinha rondado os dois mil hectares (em 1994). Em Évora, onde raramente ardiam mais de mil hectares nos anos 90, já arderam quase 10 mil hectares em 2003, valor que deverá ser ultrapassado este ano. Nos últimos anos, destacam-se na zona os incêndios em Almodôvar, Portel e Odemira, que devastaram milhares de hectares.


Do ponto de vista meteorológico, o Alentejo é potencialmente a zona mais susceptível aos incêndios em Portugal: temperaturas elevadas e humidade relativa baixa e praticamente sem chuva durante o Verão. No entanto, tem a seu favor a baixa incidência de fogos - somente 0,8% do total nacional -, para além de o coberto vegetal ser dominado por montados de sobro e azinho, que se tiverem uma boa gestão são quase imunes aos fogos, a que acresce uma menor densidade do arvoredo que dificulta a propagação do fogo.


Contudo, a repentina alteração na incidência de fogos destrutivos deve-se, exactamente, ao progressivo abandono rural e florestal, que permitiu criar matagais por entre o arvoredo, o que constitui autênticos "barris de pólvora". Essa situação, embora afectando mais os pinhais e eucaliptais desta região, começa também a evidenciar-se nas manchas de montado de sobro. Aliás, o sobreiro começa a ser uma espécie florestal ameaçada, dado que no último quinquénio cerca de 80 mil hectares já foram afectados pelas chamas, embora uma parte significativa tenha ocorrido nos distritos de Faro e Santarém.


No entanto, existem ainda outros motivos para que os incêndios no Alentejo sejam bastante destrutivos: esta região é das menos vigiadas por postos fixos e com a pior cobertura de corporações de bombeiros e brigadas de primeira intervenção. Por isso, não surpreende que no ano passado, dos 196 fogos nesta região, 15 chegaram a ultrapassar os 10 hectares. Uma taxa de quase 8%, cerca de quatro vezes superior à média nacional. Ora, quando um destes incêndios "sobrevive" e atinge uma área vegetal contínua e com tempo seco, acontecem as desgraças. E milhares de hectares de floresta ardem, como palha.

Pedro Vieira de Almeida
D.N.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

OS DITADORES "CHUCHALISTAS" SÃO TODOS IGUAIS


O director do jornal Linhas de Elvas, em comunicado a que a agência Lusa teve acesso, João Alves e Almeida, demitiu-se do cargo, alegando "perseguição pessoal" por parte da Câmara Municipal de Elvas, mas continua à frente da empresa proprietária do semanário.

Num documento em que anuncia a decisão, João Alves e Almeida argumenta que a "perseguição pessoal" tem-se traduzido em "comunicados emitidos pelo município local, onde é invocado o jornal, o último dos quais distribuído no dia 05 de Agosto".

"Tenho sido perseguido publicamente através de uma série de comunicados, que são uma constante há uma década", alega o director demissionário.

Para o director demissionário, o último comunicado da autarquia "ultrapassa as marcas", por misturar uma empresa, da qual é sócio, que tem 117 anos e que "não merece ser beliscada", a Linhas de Elvas-Empresa Gráfica.

João Alves e Almeida manifesta ainda desagrado pelo facto do nome do seu pai, Ernesto Alves e Almeida, fundador do Linhas de Elvas, ter sido invocado, num dos comunicados do município local.

"Trata-se de uma pessoa que está morta, que não se pode defender e que nada tem a ver com a salutar troca de galhardetes entre instituições e pessoas", sustentou.

Contactado pela agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Elvas, Rondão Almeida (PS), escusou-se a comentar o caso.

Gabriel Nunes in Rádio Portalegre
Nota de Redacção: Igual ao Taveira Pinto/Rádio Tempos Livres.
A escola é a mesma "chuchalistas" no seu pior...

PURO VENENO


Rui Pimentel/VISÃO

quarta-feira, 9 de agosto de 2006

A BUROCRACIA E OS BUROCRATAS...

HISTÓRIAS DO MONSTRO


A burocracia do Estado não pára de surpreender: a entidade responsável pelos estudos de construção do novo aeroporto da OTA convidou um banco falido para alinhar num concurso público.



A culpa não é da dita entidade (a Naer), nem é do Ministério das Finanças, que criaram o mecanismo. É do sistema - e enquanto o país não perceber que o sistema se transformou num monstro, absurdos como este continuarão a ser notícia.


A história é picante.
Envolve um banco de investimento que foi encerrado e um ex-governante do PSD que foi pronunciado pela justiça.
Nome do banco?
Central Banco de Investimento (CBI), falido depois de suspeita de falsificação de documentos e manipulação de contas para esconder um prejuízo de 25 milhões de euros.
Nome do Governante?
Tavares Moreira, ex-Governador do Banco de Portugal, antigo administrador da Caixa geral de Depósitos, secretário de Estado do Tesouro no Governo de Sá Carneiro (e de Cavaco Silva depois) e que o Banco de Portugal inibiu de práticas financeiras durante sete anos na sequência desta história.
Pois bem: foi este acontecimento que a burocracia do Estado ignorou, enviando uma circular para este banco (que não existe) e para este administrador (impedido de práticas financeiras).


Podia dizer-se: está a culpar-se a burocracia quando o problema é dos governantes. Melhor seria, porque a solução era fácil.
Mas não é.
O que aconteceu nesta história é bem simples: o Ministério das Finanças, para impedir que os departamentos públicos encomendem trabalhos aos amigos, criou um mecanismo que convida automaticamente todas as empresas do sector.
Esse mecanismo (um pró-forma) só é revisto de quatro em quatro anos.
Neste caso, a circular que a Naer enviou para os bancos de investimento só será revista em 2007.
Portanto, o impossível era aqui possível: se nenhum dos bancos presentes nessa lista existisse hoje (como acontece com o BCI), o convite teria seguido na mesma.


O que permite uma única reflexão: este diabólico sistema de escolha pública tem de ser alterado rapidamente.
Não é possível que um sistema financiado pelo dinheiro de todos se permita esta cegueira.
Mas ele será cego enquanto o país não perceber que tem de o matar pela raiz.
Os esforços deste Governo são bons, como eram bons os desejos de outros executivos.
Mas a reforma não vai lá apenas com decisões governativas - vai lá quando país se cansar destes absurdos e exigir ao Governo que execute a reforma. E depressa.
O Presidente da República, Cavaco Silva, tem razão: uma grande parte do futuro de Portugal está nas mãos de quem vive fora da arena política.

M.A.F.

DESPIR AS ÁRVORES

EM S. DOMINGOS


O Ti Agostinho é um homem "amarotado". Quem o afirma é o seu compadre José Maria e não consta que tenha sido algum dia desmentido. No Monte dos Alhos, perto da aldeia de S. Domingos, Agostinho não perde a ocasião de fazer uma piada e quando pode deita-lhe picante. Conta-a e é o primeiro a rir dela, com uma gargalhada para dentro, limpando depois a boca com o lenço que traz debaixo do boné e que às vezes vai ao bolso.


Vive em Foros de Caiada, ali bem perto, tem 75 anos e é o manageiro dos tiradores de cortiça. "O que faz um manageiro?", pergunta quem não sabe. Agostinho responde, mas só por ele e sem hesitar: "Nadinha de nada", de tal modo que nem há "vagar para uma sesta", assegura sem esperar que os outros troquem esse "nada" por miúdos. Mas eles trocam, apesar de quererem "moer" o chefe. "O Ti Agostinho é o capataz, e de primeira", adianta-se António, um homem que veio de Ponte de Sôr ajudar a despir estes sobreiros "amaciados pela maresia" e pelo abrigo do estuário do Sado, numa herdade entre Santiago do Cacém e o Cercal, "propriedade valentíssima", segundo descrição do compadre José Maria.


Passa pouco do meio-dia e meia. O pessoal junta-se num "fogão", nome que se dá naquelas paragens ao sítio onde se come. Cláudia fez arroz de marisco e guisou coelho no lume onde agora ferve a água para o café. Come-se em silêncio, entre pequenas pausas para conversas curtas, quase sempre à volta do tempero. O grupo é grande. "Quinze tiradores, um tractorista, um manageiro, um molheiro (que faz o molho da carga); um marcador (que pinta a data da tiragem em cada tronco); uma taqueira (que apanha as sobras) e uma coqueira, que sou eu." Cláudia segue a lista dos nomes, atribui a cada um uma função e deixa para o fim a sua, como uma espécie de revelação. Porque afinal "a coqueira é a pessoa que cozinha".


Todos pegaram "ao serviço" às oito e hão-de continuar até às seis, depois da pausa de uma hora para almoço e de uma "cervejinha" pelas quatro. Há nove dias que tiram cortiça aos sobreiros com uma machada "tão afiada que até dá para fazer a barba", e a cada pausa afiam a lâmina com uma pedra e a ajuda de água que trazem no "coxo", "tão coxo como o manageiro", ironiza Cláudia continuando o jogo das comparações e indicando o "alguidar" de cortiça à volta do qual se reúne um grupo de tiradores. Amolam as machadas depois do arroz de marisco e do café, de joelho no chão e em gestos que imitam os das lavadeiras num rio. Cada machada custa um dia de trabalho, coisa relativa, que depende do ano e da empreitada. "Este é bom de cortiça, mas o ano passado não deu nada", diz Agostinho, antes de revelar a jorna que por ali se paga. "Falta um euro para serem 20 contos por dia". Mistura moedas mas nunca se engana nas contas. É um manageiro "no último ano de trabalho", diz ele. "Conversa", atiram os outros. Ele ganha mais cinco euros, ou como prefere, "passa quatro euros dos vinte contos", o que "em cinco dias dá..." Os cálculos levam tal rumo que os homens se baralham empoleirados nas árvores, mas cá em baixo ele não se perde nem perde o olho deles.


Os homens tiram a cortiça e Fernanda segue-os, apanhando os tacos, pedaços pequenos que ficam no chão. É prima de Agostinho e taqueira há três dias. Não se queixa do trabalho nem do calor, mas dos cardos que picam as pernas. Andam em "parelhas de dois" e sobem às árvores num equilibrismo de circo, retirando a casca dos troncos onde estão pintados os números "6" ou "7", código a indicar cortiça com dez ou nove anos, a jeito de apanhar.


Despem-na e a árvore deixa a cor cinzenta para passar a amarela, o mesmo amarelo torrado do cereal que cobre o chão, o tom dos bois que ali pastam. Agostinho gosta de ver a cortiça a descolar-se e o som que faz a cair na terra. Gosta também de ver os troncos "assim", em cores às fatias. E como Fernanda, também Soraia, a filha do "primeiro capataz" segue os tiradores, espera que eles saltem dos sobreiros. É a pintora das árvores. Pinta-lhes um novo "6" em tinta nova e sempre "de costas para a chuva, evitando o apagar do tempo", como explica o marido de Cláudia. O "6" que Soraia pinta é a terminação do ano em que se retirou "cortiça de primeira", igual ao pedaço que Agostinho traz nos dedos e manuseia num malabarismo inconsciente, perdido numa conversa de mágoa. É que Agostinho conta piadas, mas também chora. Só que isso nenhum dos homens vê.

Soraia pinta o "6", ano de terminação e hão-de ser contados dez anos a partir desse "6" que Soraia agora pinta, até que venha outro "6". Agostinho olha-a e esquece-se das lágrimas. Vai seguir os homens em mais dez dias a despir árvores porque para o ano logo se vê.

Isabel Lucas