domingo, 31 de dezembro de 2006

FELIZ 2007

PONTE DE SOR... MARÇO 2006

MAIS UMA PONTA DO VASTO ICEBERGUE: [parte IV]

"De acordo com os elementos carreados para os autos, verificam-se existirem fortes indícios da prática... de crimes de peculato, peculato e uso e abuso de poder, ilícios previstos e punidos respectivamente pelo disposto nos artigos 375, 376 e 382, todos do Código Penal....
Assim sendo, ... , autorizo a realização de uma busca à Câmara Municipal de Ponte de Sôr, sita no Largo 25 de Abril, assim como a... apreensão de documentos, objectos ou outros elementos que aí se encontrem, relacionados com a alegada prática dos factos ilícitos em apreço e que se revelem úteis como meio de prova para a investigação dos mesmos,..."

In: MANDATO DE BUSCA DA PJ À CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SÔR


MAIS UMA PONTA DO VASTO ICEBERGUE: [parte V]

In: Jornal Diário de Notícias,
Última Página
Sexta-feira,
dia 10 de Março de 2006


NÃO BEBA ÁGUA DA REDE, ESTÁ EM CAUSA A SUA SAÚDE...

O nível do nosso desenvolvimento!

Inquinado


PASSADOS DOIS MESES

A SITUAÇÃO MANTÊM-SE


A maioria das captações de água do concelho de Ponte de Sor, apresentam elevados teores de contaminação de ARSÉNIO e ALUMÍNIO.



ACTAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SÔR AO PREÇO DE DIAMANTES!

A maioria dos municípios portugueses tem as actas das suas sessões publicadas na Internet em formato pdf:

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Acta nº09/06

2006-02-27


Taveira Pinto exigiu esta semana via oficio o pagamento de cerca de € 200,00, por cópia de uma acta municipal a um vereador da oposição.


Na Câmara Municipal de Ponte de Sôr as actas das sessões de câmara são mais caras que os diamantes.



CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR QUER VENDER O PARQUE DE CAMPISMO DE MONTARGIL


A Câmara Municipal de Ponte de Sor, presidida pelo socialista Taveira Pinto, quer vender o Parque de Campismo da Barragem de Montargil, propriedade e construído pela Câmara Municipal, concessionado à Orbitur.


Onde chega a

“grandiosa” gestão do

Taveira Pinto
,

que já vende património municipal.


PONTE DE SOR... FEVEREIRO DE 2006

CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE SOR É ALVO DE:

BUSCAS E APREENSÕES

POR PARTE DA

DCICCEF DA

POLÍCIA JUDICIÁRIA



Uma brigada da Polícia Judiciária esteve ontem todo dia até altas horas da noite, nas instalações da Câmara Municipal de Ponte de Sor, onde procedeu a uma busca e apreensão de documentos referentes à gestão autárquica de Taveira Pinto, desde 1997.
Durante as buscas, os inspectores da área do combate à corrupção e criminalidade económica e financeira procuraram diversos documentos, os quais depois foram apreendidos e levados pelos elementos da P.J., foram igualmente chamados vários funcionários à presença dos inspectores.

O Presidente da Câmara Municipal Taveira Pinto foi notificado e constituido arguido por peculato.




É SÓ A PONTA DO


ICEBERGUE


EU DOU DINHEIRO, MAS QUEM MANDA SOU EU...



O PRESIDENTE DA

CÂMARA MUNICIPAL

DE PONTE DE SÔR

E A

RÁDIO TEMPOS LIVRES


A Alta Autoridade para a Comunicação Social(AACS) enviou à Câmara Municipal de Ponte de Sôr um pedido de esclarecimento acerca dos financiamentos do município à Rádio Tempos Livres.

O ofício da AACS refere expressamente a chamada "Lei da Rádio" que determina a proibição deste tpo de apoios.
Não sabemos até à data qual o teor da resposta enviada, contudo, Taveira Pinto, como já é seu hábito, não se poupou a esforços para provocar e chamar todos os nomes aos membros da actual direcção da rádio.


MAIS UMA PONTA DO VASTO ICEBERGUE:


FUNDAÇÃO

ANTÓNIO

PRATES



LONGE VÃO OS TEMPOS


DA EXPOSIÇÃO NO MEIAC

EM QUE TUDO ERA PAZ E AMOR

Já não existe Fundação António Prates!

O QUE FAZER COM O

"ELEFANTE AZUL"

DOS CELEIROS?


MAIS UMA PONTA DO VASTO ICEBERGUE: [parte II]
FUNDAÇÃO


ANTÓNIO


PRATES

De acordo com o Presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sor, já não existe Fundação António Prates. Aliás, segundo Taveira Pinto, a Câmara Municipal de Ponte de Sor já nem está a pagar o subsídio mensal anteriormente acordado.
Segundo o autarca, António Prates faltou ao prometido porque já não vai trazer para a Fundação o espólio anteriormente acordado.
De referir que no anterior mandato, os vereadores da CDU solicitaram à Câmara Municipal de Ponte de Sor a listagem das obras a incluir no protocolo e nada foi respondido.


Urge perguntar:

- Terá havido algum acordo entre a Câmara Municipal de Ponte de Sor e a Fundação António Prates acerca do espólio?

- O mais provável é não ter havido nada...

Na presente data o executivo do Partido Socialista da Câmara Municipal de Ponte de Sor, anda a puxar pela cabeça, para descobrir a nova funcionalidade que irá dar ao edifício, cujo o montante de obras feitas já há muito ultrapassou os 500 mil contos.


QUE FAZER COM O

"ELEFANTE AZUL"

DOS CELEIROS?



TAVEIRA PINTO SONEGA ACTAS AOS VEREADORES DA OPOSIÇÃO



A pespectiva democrática do presidente da Câmara Municipal de Ponte de Sôr, o socialista Taveira Pinto é tão deturpada que este não fornece aos vereadores da oposição eleitos pelo PSD e CDU as cópias das deliberações onde estes próprios participam.
Os vereadores já solicitaram, mais que uma vez, por requerimento, cópia das actas das sessões de Câmara e nunca obtiveram nenhuma.

Foi ainda tentado solicitar aquelas, por via do funcionário de apoio aos orgãos municipais, o qual entre a gaguez e o atrapalhamento lá disse: ...tem que pedir ao senhor presidente...



A CULPA É SEMPRE...
Taveira Pinto e os funcionários do regime estão a fazer passar dentro da Câmara Municipal de Ponte de Sôr que a investigação judicial é a "alguns funcionários", demitindo-se das suas responsabilidades.
Conforme referiu na última sessão da Câmara, Taveira Pinto culpou ainda a oposição PSD e CDU de perseguir os "pobres e honestos" trabalhadores.


A verdade deve ser resposta:


- O mandato de busca que deu entrada há 2 semanas na Câmara Municipal de Ponte de Sôr, refere-se à efectiva apreensão de documentos e é arguida a Câmara Municipal de Ponte de Sôr, cujo representante é, obviamente, o seu presidente.



CARTA ABERTA AO SR. PINTO

Meu Caro,

Sou daqueles que não pensam que o sr. é um corrupto.
Sou daqueles que ainda têm, cá dentro, um pouco de esperança que o Sr. não seja o que a maioria das pessoas dizem que o Sr. é.

No entanto penso que seja qual seja a sua situação pessoal - do lado de cá ou do lado de lá da honestidade - seja qual fôr o seu lado, algo está evidentemente mal com a equipa que dirige e com a Câmara da qual o fizeram Presidente.
E com isto vem uma responsabilidade, a responsabilidade de serviço público e não púbico como alguns dentro da Câmara Municipal de Ponte de Sôr devem pensar ser, dado as chamadas para números de valor acrescentado que saíram à luz do dia.

As minhas questões em relação a Ponte de Sôr são muitas, começando pelo seu nome: se destruíram a ponte que dava nome à cidade, porque não lhe mudam também o nome?


Porque não fizeram uma segunda ponte deixando a original?



Penso que uma ponte seria mais económica do que as Palmeiras e a iluminação do estádio do Eléctrico - que já agora deveria buscar um patrocínio da EDP -...


Uma ponte, construída pelos romanos, violada em nome do progresso...


Meu Caro Pinto,


Deixe-se de Caritas, Caretas, Mentiras e Petas e ponha ordem aí dentro, isto é, se estiver do lado de cá da honestidade.
Se tiver do lado de lá desejo-lhe muita sorte e espero que a água que o sr. diz, com toda a mentira, que bebe lhe cause o que causou já a muitos pontessorenses.

Com os melhores cumprimentos,



Gin Tónico

PONTE DE SOR... JANEIRO DE 2006

ESTÁDIO MUNICIPAL É ALVO DE...


INSPECÇÃO ÀS CONTAS

DAS OBRAS A MAIS

POR PARTE DA

UNIÃO EUROPEIA


NA CÂMARA MUNICIPAL DE

PONTE DE SÔR


ÁGUA DO CONCELHO DE PONTE DE SOR, UM PERIGO PARA A SAÚDE DOS SEUS CONSUMIDORES



ÁGUA CONTAMINADA

Os habitantes do concelho de Ponte de Sor, estão a beber água contaminada. Segundo dados divulgados pelo Instituto Regulador de Águas e Resíduos, a maioria das captações de água do concelho de Ponte de Sor, apresentam elevados teores de contaminação de ARSÉNIO e ALUMÍNIO.
Esta situação já vem de longe, tal como foi notíciado pelo Jornal EXPRESSO do último sábado.

Uma notícia ao nível do nosso desenvolvimento.
Inquinado.


sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

CARTA AOS DILECTOS

Acusam-me de mágoa e desalento como se toda a pena dos meus versos não fosse carne vossa, homens dispersos, e a minha dor a tua, pensamento

Carlos de Oliveira


O ano não foi bom.
As incertezas quanto ao nosso destino acentuaram-se.
Falam em números quando deviam falar em pessoas.
O vezo de uma mentalidade que se exprime numa tirânica incompreensão das angústias colectivas, parece haver adquirido carta de alforria.
As palavras, medula de uma civilização de que me orgulho, perderam o sentido, de tanto ser desonradas.
Mentem-nos, numa aterradora avalancha, e celebram a injustiça com a exigência segundo a qual temos de nos sacrificar ainda mais.


O ano não foi bom. E muitas vozes se calaram, numa submissão a antever servidões ainda mais desprezíveis.
O prodigioso relato da indignação, que é o bragal da nossa cultura secular e a celebração da resistência aos poderes iníquos, foi interrompido por adoradores de si mesmo ou por estrategos de pequenas glórias pessoais.
A pedagogia elementar, que devia estar no bojo de todas as frases que se dizem, de todas as palavras que se escrevem, foi preterida, em nome de um impulso errático e insano, por essa infâmia da neutralidade.

A neutralidade das palavras é a emasculação do pensamento;
a fuga às imposições do quotidiano;
o desdém pelo enganoso fatalismo com que as classes possidentes costumam tatuar a nossa ideia de nação.
Somos não só legatários de uma cultura que assombrou o mundo, como herdeiros dos milhares e milhares de portugueses, cuja ideia de imortalidade era defender o berço comum, ora empunhando o montante, ora sulcando a terra com o arado, ora enriquecendo o idioma com a pena e o talento criador.


Quando visitamos a História preservamos aquilo que ela nos indica como futuro. E o futuro será sempre levantado no conhecimento do lastro traçado por aqueles que, enfrentando as falsas razões do tempo, fizeram inflectir para outro perímetro o que parecia ser uma tendência sem alternativa.

O que perdura não é a ressurreição de mitos nem a subserviência a um fadário inexistente.
Nada disso.
Mas querem fazer-nos crer que perdemos o fôlego criador e que esta espécie de europeus está irremediavelmente condenada a uma melancólica periferia mental.
Não somos aquilo que pretendem sejamos. E a nossa aventura como povo está pejada de circunstâncias terrivelmente adversas, que desafiámos e vencemos com a força da insatisfação e a grandeza de nada exigirmos em troca, senão a honra de sermos quem somos.


O embuste não é bom sismógrafo das emoções e dos desprezos que sentimos.
A mentira nunca sustentou o poder por muito tempo. Incansável e obstinadamente a esperança sempre habitou o corpo da pátria e mobilou a consciência colectiva com o pendão das grandes determinações.
Não há política sem ética, cansaram-se de dizer três dos nossos maiores: Herculano, Antero e Sérgio.
A propensão de servir, a rectidão de carácter, a vocação para a fidedignidade, a instância de comportamento cívico foram ensinamentos desejadamente ecoantes, mas lamentavelmente desprezados por Governos vergonhosos
.

No plano do espírito, temos uma literatura de autores que escrevem com evanescências gramaticais e enjeitam o compromisso.
Por outro lado, somos instrumentalizados por uma informação que se esqueceu do seu estatuto de dignidade.
Nada, ou quase nada do que jovens cientistas investigam, em laboratórios esconsos, autênticos vãos de escada, vai para as primeiras páginas da Imprensa ou abre os telejornais.
Livros medíocres, ou mesmo obscenos, recebem ampla divulgação em jornais que o não deviam fazer, ou, quando o fazem, deveriam proceder a resenhas veementemente críticas. Abandonados, os autênticos criadores, aqueles que recusam as imposições do mercado e enfrentam as sinuosidades dos medos, continuam, apesar de tudo, as plurais lições antigas, modernizando-as e afeiçoando-as aos seus pessoais critérios.


Não: o ano não foi bom.
O Governo fecha os olhos à realidade e, com gélido cinismo, procede a uma das mais afrontosas arremetidas sociais, sob a falaciosa argumentação de ser reformista.
Vivemos um período lutuoso da nossa História, e muito do que as gerações anteriores conquistaram com brio e com risco está ameaçado.
Tornámo-nos no mimetismo servil de sociedades economicamente poderosas, mas não sei se culturalmente influentes.


Muitos daqueles que prometiam o resgate social e a redenção mental estão a impor-nos o pesadelo de uma existência sem virtude nem esperança.
Há quarenta anos, íamos a salto para os países de maior desafogo: areávamos os metais aos alemães, limpávamos a merda que os franceses faziam, ou perdíamo-nos nos matos e nas savanas, em demanda do sustento que só o desterro possibilitava.
Éramos a hipótese dramática do que havíamos sido, e estávamos à mercê dos caprichos de empregadores gananciosos e de grandes empresas sem escrúpulos nem humanidade.
Porém, alimentávamos a fé, porque de fé se tratava, de um dia regressar e acender o fogo do nosso lar com a dignidade finalmente conquistada
.

Dilecto:
Por vezes, sinto-me um pouco anacrónico quando reverto para um horizonte não muito longínquo e dele assomem os rostos dos que formularam, através das palavras e dos actos, da régia gravidade e da decência inabalável, um ideal de pátria que a dimensão do português bem merecia. Quais as nossas relações actuais com Portugal?
Em que ponto estamos com o tempo?
Quais as associações que fazemos, ou não, com a História, o espaço, a palavra, a ambição e o desejo?

Por vezes, tudo parece perdido; tudo parece que os padrões, os princípios e os valores foram irreparavelmente aniquilados.
Por vezes.
Todavia, resistimos a todos os desgastes, defrontámos todos os estafermos, suportámos todos os déspotas, arrostámos com todos os perigos – apenas apoiados pela razão que, embora tenuemente, nos assistia e incitava.

Somos a certeza evidente de um povo que se perpetua num idioma insubmisso, falado em vários tons e belíssimos outros registos do Alto Xingu às avenidas de Paris, das florestas do fim do mundo aos portos norte-americanos, dos confins africanos às frias ruas de Berlim.

Somos apenas isto.
Mas ser apenas isto é, já em si, o bastante.

Dilecto: bom ano e boa sorte!

B.B.

BALANÇOS...

Nevou em Lisboa, uma semana após a eleição de Cavaco Silva.
Mas nem deu para fazer bonecos de neve.
Nas Presidenciais, para além da vitória de Cavaco, conseguindo para a direita o primeiro inquilinato em Belém, ficou para a história a derrota de Mário Soares e do PS.
Sócrates ganhou com a vitória de Cavaco.


E foi assim que, após a neve de Janeiro, começaram a gelar as esperanças do eleitorado que levara o PS a São Bento. Em Março, foi o fecho das maternidades. As populações, e até mesmo autarcas socialistas, viriam a saber mais tarde que aquele era só o início do assalto fundamentalista ao SNS, em primeira linha, e em geral aos direitos sociais da população.
O assalto final chegaria com a nova Lei de Bases da Segurança Social, aumentando a idade da reforma e a Lei da Mobilidade reduzindo salários e criando quadros de supranumerários.


Na outra economia, sucederam-se as OPA. Por
muita massa - expressão de Belmiro de Azevedo - surgiu a OPA da Sonae sobre a PT, depois a do BCP sobre o BCI.
A Operação Furacão entrou na velocidade de cruzeiro.
A justiça espanhola desmantelou o negócio dos selos e entrou em bancos portugueses sedeados em Madrid.
Soube-se, entretanto, que o MP abria uma média de 13 processos por dia por crimes económicos diversos.

No desporto, uma jovem portuguesa, Vanessa Fernandes, ganhou tudo o que havia para ganhar numa modalidade desconhecida, o triatlo.
Mas foi o futebol que animou todas as paixões.
Não por qualquer vitória especial mas pela sucessão de porcaria que foi surgindo à superfície do pântano.
A nomeação de Maria José Morgado deu novo fôlego ao Apito Dourado. E foi assim: o ano de 2006 começou com a Balada da Neve e acabou com histórias do
Calor da Noite.

João P.Guerra

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

JOSÉ LUÍS PEIXOTO NO JL

























DUELO ARTÍSTICO

Que importa se morrem?
Que importa se crianças,
de barriga grande, deitam espumas,
de tantas cores, pelas bocas?
Só as cores importam.
Qual será a cor das espumas angolanas?
Será castanho frio no zinco castanho quente?

Que importa?
Só o amor importa.
O nosso amor,
o nosso amor pela nossa vizinha.
Nasce-me água na boca,
(água, não espuma),
porque a nossa vizinha é óptima.
A nossa vizinha é soberba.
Certamente existe um Deus, senão,
Como poderia existir a nossa vizinha?

José Luís Peixoto, 17 anos
(Ponte de Sor)

MENSAGENS DE NATAIS

"Ramos Horta pede compaixão ao irmão Bin Laden".
Assim vinha a chamada do jornal, assim vim a saber que o Nobel da Paz e primeiro-ministro timorense foi uma das personalidades convidadas pela BBC a endereçar uma mensagem de Natal a alguma outra personalidade, e que a personalidade escolhida por Ramos Horta foi Osama Bin Laden, e que o chamou de irmão.
Assim fiquei chocado, primeiro.

Depois, pensei num livro de um pensador católico italiano de cujo nome (ai, esta memória... nunca serei um erudito) não me lembro, chamado (o livro) O Diabo. E começava o autor por dizer que, católico que era, acreditava na existência concreta, e não apenas simbólica, do Diabo – tanto quanto na de Deus. E que tudo o que sabia de Deus e do Diabo, à luz da Bíblia e da doutrina católica, o levava a amar o Diabo. Não, nada de satanismos e de cruzes queimadas ao som de heavy metal. Amor cristão. Compaixão. Vigoroso e genuíno ódio ao mal. Amor pelo mau. E perdão.

Não sou lá muito católico – sê-lo-ia se me fosse dado crer em Deus – mas não deixo de ver algum valor – embora vão – no infinito amor da doutrina católica (oh, tão distante da prática da generalidade dos católicos). A ideia de um amor redentor, de um perdão que regenera, de um abraço que irmana inimigos é vã, claro, pela simples razão de o amor ser um estado (mais ou menos permanente, não importa), que pouco depende do esforço de quem o tenha ou deixe de ter. Posso esforçar-me para ser justo, equilibrado ou até generoso, mas não para amar ou para deixar de amar. Uma sociedade que dependa do amor para sobreviver estará... em maus lençóis. Não porque o amor seja um mau lençol. Muito pelo contrário, é o melhor de todos, mas não é fabricável – vem ou não vem, tem os seus humores próprios, e temo que a maior parte da população mundial, desde sempre, não saiba o que fazer quando ele vem... nem quando ele se vai.

É vão acreditar que Bin Laden se comova com o apelo de Ramos Horta à compaixão. Mas é válido que Ramos Horta apele à compaixão de Bin Laden e que o chame de irmão – é, aliás, a única coisa que um católico que mereça esse epíteto pode querer, sob pena de trair a doutrina que diz professar (a compaixão – ingrediente que distingue o cristianismo das religiões que o antecedem – é pedida por um lado e, por outro, oferecida a Bin Laden no acto de o chamar de irmão). É válido porque não é ideia que precise de triunfar para ter o seu valor. Porque há um valor intrínseco no amor e no perdão. Por mais estropiados que estejam ambos – em grande medida, pela acção maligna do irmão Osama Bin Laden.



M.N.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

O NATAL TRANSFORMOU-SE NO CARNAVAL DO CONSUMO...

No país com um poder de compra 30 por cento abaixo da média da União Europeia a 25 onde, nos últimos três anos, o nível de vida mais se deteriorou, no país campeão europeu do endividamento das famílias, o dinheiro de plástico estava a voar a uma velocidade de cruzeiro de perto de 6,3 milhões de euros à hora - 106 mil por minuto, 1800 por segundo -, sem contar com os derradeiros dias das compras de Natal.

Recentes indicadores também apontam para o disparo dos empréstimos concedidos para consumo e, simultaneamente, das cobranças duvidosas. Mas isso não impede a voragem das ofertas e facilidades de acesso ao crédito por todos os meios ao alcance dos cidadãos e para todos os fins.
Um dia destes bastará desejar ter dinheiro na conta e ele já lá está. E depois?
Bem, depois há sempre a possibilidade, pelo menos, de contrair novos empréstimos para pagar os anteriores e continuar a consumir, consumir sempre e mais.
O mercado está feito a contar com isso.

O carácter artificial e ilusório da sociedade em que vivem os portugueses - país onde a degradação do poder de compra dos salários se tem vindo a acentuar todos os anos - começa por aí, pelo permanente incitamento ao consumo de tudo, desde logo pelo consumo de dinheiro, mesmo quando e onde ele não existe.
Nem a mensagem do primeiro-ministro escapou de algum modo a uma certa euforia que estimula o consumo desenfreado.
O País está a melhorar.

O consumismo, numa sociedade desprovida de verdadeiros valores, transformou-se no sentido único da vida e da felicidade das pessoas: consomes e ostentas, logo existes. E foi assim que a celebração do aniversário de Jesus Cristo, o Natal, se transformou no Carnaval do consumo.

João P. Guerra

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

O FUNDAMENTALISMO DA IGREJA CATÓLICA DE PORTUGAL


D. João Miranda: ignorância e fundamentalismo

Alguns prelados, por desespero ou por raiva, estão a descuidar-se e a exceder-se, evidenciando uma mentalidade obscura que ao longo do tempo tentam esconder, porque no mundo de hoje não convém parecer tão fundamentalista como um Mulah das montanhas do Afeganistão.

Depois de D. José Policarpo não ter resistido à tentação de transformar a sua mensagem de Natal em tempo de antena do debate do referendo, foi a vez de D. João Miranda que no Porto tentou fazer concorrência aos vídeos do Bin Laden, mostrando uma faceta medieval que há muito não se via num eclesiástico da Igreja Católica.

Comparar os abortos com os meninos da roda dos mosteiros medievais é absurdo porque o que menos convém à Igreja são as práticas medievais, e ainda por cima é porque muitas mães não desejam entregar os filhos na roda que optam pela péssima decisão de fazer um aborto em condições essas humilhantes.
Mas as condições medievais em que são feitos os abortos clandestinos, nem esta prática generalizada alguma vez levaram D. João a dizer asneiras.



As crianças que D. João deveria comparar com os meninos da roda são os milhões de crianças que não chegam a ser homens, que vivem em condições miseráveis nos bairros da lata, ou que fazem dos cemitérios a sua residência de onde são despejados para que a Igreja Católica cumpra os seus rituais, como sucede nas Filipinas, um país, como outros da América Latina, onde a Igreja Católica consegue impor a sua sharia.

Meninos da roda são as crianças órfãs de África cujos pais morreram com sida e a quem a Igreja Católica negou o uso de preservativos. Medievais são os estudos e conclusões da Igreja Católica segundo os quais os preservativos não são suficientes para evitar a sida por que os vírus passam pelos seus poros.

Meninos da roda foram os filhos dos republicanos espanhóis a quem a Igreja Católica alterou os registos de baptismos para os entregar a famílias de adopção, ou os filhos órfãos porque os pais republicanos foram fuzilados depois de denunciados por padres católicos.


Depois de D. José Policarpo ter afirmado que a Igreja não ia participar na campanha eis que o está fazendo da pior forma, para o debate e para ela própria, está a dar um exemplo de intolerância que há muito não se via.


JUM

domingo, 24 de dezembro de 2006

A TODOS FELIZ NATAL


Infelizmente nasci no tempo de ter que enfrentar a guerra colonial, não me escapei a uma ida a África, desses tempos recordo as horas infindáveis de televisão mostrando filas de militares a dizerem que estavam todos muito bem, a desejar um Bom Natal aos familiares e a terminarem a mensagem com o inevitável adeus e até ao meu regresso.

Eram natais sem esperança, as prendas eram a utilidades do costume, os chocolates repetiam-se de ano para ano, os pequenos bombons nacionais, e os chocolates da Regina, o “coma com pão” as sombrinhas e as barras.


Recordo-me dessa época porque de ano para ano estamos a regressar a natais sem esperança, não há guerras domésticas mas num mundo globalizado não podemos ficar indiferentes, é um mundo onde se multiplica a guerra a miséria, um mundo onde a Guerra Fria deu lugar às guerras da família Bush cujo primogénito decidiu brincar aos cowboys usando o mundo como quintal das suas brincadeiras.


Perante tanta miséria e sofrimento humano à escala mundial, e com tanto português a passar por dificuldades sinto alguma vergonha em queixar-me, afinal faço parte do pequeno grupo de privilegiados, participo no imenso trânsito que nesta semana transformaram Ponte de Sor num inferno, participo nas hordas de compradores de olhar esgazeado que empaturram os corredores dos hipermercados, compro os molhos de grelos que irão acompanhar o bacalhau a dez euros.


Não gosto de resolver os meus problemas de consciência com hipocrisia natalícia, mas reservo para esta quadra para encher as baterias da esperança, um momento em que paro para não pensar e concluir que o mundo ou o país vai ser melhor.
Mas não, nestes anos a ausência de esperança tem-se juntado ao que resta dos hábitos de outros anos, sei que os próximos anos serão maus e, piro do que isso as futuras boas notícias não serão para mim, o meu sapatinho, como o de muitos portugueses, estará vazio de futuro, tenho duas das piores qualidades que um europeu pode ter, sou Português, vivo em Ponte de Sor.

Terei que pagar pelos desmandos dos políticos que temos escolhido, pagar taxas e impostos por tudo e por nada e carregar com anátema de ser o culpado de todos os males que sucederam a este concelho e país.

Ainda assim, há que fazer um sorriso, ter esperança e cumprir com todos os rituais a que a época obriga.



A todos Feliz Natal.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

A TODOS DESEJAMOS FESTAS FELIZES

NATAL?

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terça-feira, 19 de dezembro de 2006

NÃO HÁ GRANDE CIÊNCIA NA POLÍTICA FISCAL...

Não há grande ciência na política fiscal deste Governo: ela praticamente não existe. O que há é uma máquina registadora com um único fito: ter mais receita, pouco importa como.

Crueldade?
Não, resignação.
O contexto é uma restrição absoluta balizada pelo défice orçamental.
Por causa desse constrangimento, o Governo abdicou de políticas orçamentais anticíclicas e o Estado criou uma asfixiante malha de tributação.
É simples: o Ministério das Finanças não vai recuar uma milésima nas taxas porque não pode. Com mais tributação e um fisco hiperactivo (e sem controlo nas cobranças...), o resultado vê-se na execução do Orçamento do Estado deste ano: excelente desempenho na receita, sobretudo no IRS e IRC.


Esta ditadura da receita já não vai funcionar em 2007, ano em que o esforço do lado da despesa será muito superior, com uma factura pesada designadamente para a função pública. Mas enquanto se olha para o deve e haver, perde-se o foco do que deve estar subjacente a uma política fiscal: devemos liquidar impostos não apenas para pagar contas do Estado mas também para estimular crescimento e redistribuir riqueza.
Não é um deslumbramento dizê-lo – está na Constituição da República.


E está à frente dos nossos olhos. Porque a pobreza nas cidades e a penúria nos campos não estão apenas no discurso pela inclusão do Presidente Cavaco. Estão na desertificação de aldeias e na dimensão crescente da fila da sopa dos pobres, que já dá a volta ao quarteirão de Lisboa.
Estão nas estatísticas, pois o PIB per capita sobe escondendo assimetrias de rendimento.


O assunto não é novo, mas agrava-se: Portugal é dos países onde os 20% mais ricos têm um rendimento mais desproporcionado face aos 20% mais pobres (7,2 vezes, contra 4,8 na Europa).
Em 1998 era menos mau.
Em 2007 será pior, dada a ineficiência do Estado neste combate: um em cada quatro (27%) portugueses precisa do Estado para sair da pobreza; mas um em cada cinco (21%) continua abaixo do limiar da pobreza depois das transferências do Estado, que até gasta cada vez mais dinheiro nisso.


Foi perante este diagnóstico e tendência que Vítor Constâncio propôs, no fim-de-semana, uma alteração no sistema fiscal para combater a desigualdade, inspirada no modelo francês: um cheque-emprego que estimula as pessoas de baixos rendimentos a procurarem emprego, quebrando a inércia do subsídio de desemprego que, adicionalmente, os portugueses não usam para criar o seu próprio emprego, como ontem este jornal noticiava.
Hoje, vários economistas debatem a proposta, apontando fragilidades à burocracia portuguesa ou sublinhando a necessidade de medidas em várias áreas.


Dos modelos mais experimentalistas (como o cheque-emprego ou a taxa única, flat rate, de IRS) aos mais puros (simplificação fiscal), passando pela contradição de os benefícios fiscais estarem a beneficiar os rendimentos mais altos, o debate é amplo. Começando pela raiz do sistema: uma corrente mais heterodoxa, que inclui a OCDE, defende cada vez mais que o combate à desigualdade deve ficar de fora do sistema fiscal e centrar-se na subsidiação directa.

Em Portugal, o ministro das Finanças não pode pensar nestas coisas. Nem o ciclo económico ele consegue gerir. Mas é bom que saibamos o que queremos fazer se um dia podermos baixar impostos.
Porque há uma diferença grande entre uma economia que cresce e uma que se desenvolve.
Crescimento é bom para o País, mas só desenvolvimento é bom para quem lá anda.


Pedro G.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

A VOZ DOS CIDADÃOS


A ameaça dos blogues

O deserto de assuntos de relevância eminentemente política leva-me à avaliação da importância crescente dos blogues que, em Portugal, nascem à cadência de cem por dia.
Podemos resumir esta quantofrenia referindo que no último século dispusemos, basicamente, de dois meios de comunicação: de um para muitos (livros, jornais, rádio, TV); e de um para um (cartas, telégrafo e telefone).
Hoje, pela 1ª vez, a Net permite-nos comunicar de muitos para muitos e de alguns para alguns, o que acarreta profundas implicações quer para os antigos destinatários, quer para os actuais produtores de notícias que, sentados nas poltronas dos seus gabinetes editoriais, vêm agora esbatida a velha fronteira entre essas duas categorias. O novel presidente do CDS, o eurodeputado Ribeiro e Castro, espelhando o esprit do tempo novo, disse até que organizou a sua campanha por SMS. Translumbrante.

Se atentarmos na paisagem virtual em Portugal, verificamos que emergiram dezenas de blogues de qualidade excepcional. São sistemas ricos, complexos e de retorno, como formigueiros, que nos explicam que o todo é mais inteligente do que a soma das partes. Na prática, os blogues permitem individualizar a comunicação, falar alto sem ficar rouco, e, por milhares de interacções, criar um sistema de comunicação global que cresce, como cogumelos, da base para o topo. O que só sucede com sistemas digitais.

Eis o diamante da comunicação: o blogue, que se expande à velocidade da luz permitindo que todos nos tornemos editores, fazendo pequenos jornais online, tecendo hiperligações e notas que engrossam o caudal da (in)formação/opinião por uma ordem cronológica invertida, uma vez que o último blogue é sempre o 1º da página. Portanto, o velho jornalismo é agora desafiado pelo admirável mundo novo que já não depende só de profissionais da comunicação, mas em que os amadores são admitidos no clube. E hoje, pelo que sei, creio que são os bloggers os pilotos da maior máquina do mundo.

Primeira consequência desta transmutação: o núcleo da autoridade no jornalismo clássico está a mudar, deslocando-se para a plataforma dos blogues. Que, por serem mais rápidos, ágeis e criativos na recolha, produção e manipulação de informação (e contra-informação), passam a vigiar as velhas “raposas” do jornalismo de poltrona. E ninguém gosta de ser vigiado na opacidade da sua caixa negra. Daqui decorre uma 2ª consequência: é que a comunidade bloguista não hesita em atacar os jornais, as revistas e outros media tradicionais devido à violação, real ou imaginária, dos princípios da verdade e da justiça. Ora para as velhas raposas, com baixa cultura científica mas com elevada tarimba, isto é uma heresia na sala das máquinas. É como se os soldados enfrentassem os generais numa paisagem virtual.

Portugal goza já de inúmeros desses blogues de excepcional qualidade, que marcam o ritmo e formatam a opinião pública. Outros há, ao invés, que vivem numa relação parasitária com o seu autor. Refiro-me, por exemplo, ao Abrupto (de José Pacheco Pereira) que é um blogue-celebridade e reconhecidamente fraco pela comunidade dos bloguistas.

Mas o ponto é este: o jornalismo profissional, tarimbado, que se fecha em fortaleza porque sabe que é mais vulnerável, compreendeu os skills superiores vindo das margens que galgam para o centro. Questionando a hierarquia vertical do moderno jornalismo, já que foi notório que os directores dos jornais não souberam aceitar a pujança dessa mega-máquina. Tal como jamais conceberam que os leitores pudessem estar na vanguarda em matéria de produção de informação.

Mas logo que os media perceberam o que estava a suceder, a cobertura arrancou. E os grandes meios de comunicação também quiseram acompanhar o ritmo reconhecendo, tacitamente, que algum do melhor jornalismo político estava no viveiro dos blogues, i.é, fora das fileiras do jornalismo de poltrona.

Porque era aí que eles eram mais eficazes no enquadramento/tratamento dado às notícias do que as agências noticiosas. Talvez não tenha sido por acaso que os militares de elevada patente tenham concedido grande importância a certos blogues (repositórios de ideias políticas) no âmbito da guerra do Iraque. Mostrando que o valor desse nicho de jornalismo de ideias já não se confinava às folhas de papel de jornais e revistas. Qualquer dia Marques Mendes sabe disto, faz um blogue e ganha as eleições.


*Fazemos tudo isto de borla, e há quem diga que é serviço público. E eu já não só acredito nos outros, como também acredito em mim. Que ando há dois anos a repetir-me...


Pedro Manuel


Republicamos aqui um texto do P.M. que foi publicado em Maio de 2005 na imprensa, na revista Tempo, entretanto extinta.

VOCÊ É ESTREBARIA

Há momentos assim, decisivos na vida das instituições e nas relações entre os homens, e foi isso o que aconteceu na passada quinta-feira, 14 de Dezembro de 2006, na Assembleia da República: o presidente do Parlamento proibiu o tratamento por você no hemiciclo.


A decisão veio a propósito de uma querela entre o ministro das Finanças e um deputado do PSD. O ministro tratou o deputado por você, a bancada reclamou a defesa da honra, o presidente pôs fim à discussão. O mais que poderá admitir-se, e mesmo assim poderá levantar reservas, é um apressado vosselência ou vossência. Você é que não. Vossa Excelência.

Convenhamos que o ministro terá usado de uma familiaridade que talvez não tenha com o deputado. Você é um quase tu e tratamentos desses não serão compatíveis com a elevação do debate e a honra das bancadas, tanto mais quando o diálogo é do alto da tribuna do Governo para o fundo da trincheira da oposição. Por este andar, qualquer dia teríamos os deputados a tratarem-se por vossemecê, o que é linguagem dos meios rurais. Os antigos diziam por isso que você é estrebaria. Mas a verdade é que os ainda mais antigos diziam vossa-mercê.

Mas, com a decisão de Jaime Gama, pelo menos passa a haver um normativo para o português parlamentar, que não é necessariamente o mesmo que o português publicitário - Com a TAP você é TOP - ou mesmo algum português institucional - Você está aqui.

Aliás, talvez você não saiba - ou será que quem não sabe é vossência? - que o pronome pessoal você (pronome pessoal, por enquanto) tem diversas outros sinónimos como amecê e vosmecê. O melhor será informar-se, agora, sobre tudo o que você - aliás, VExa - sempre quis saber sobre gramática e etiqueta e nunca ousou perguntar.


João P. Guerra

BRINQUEDOS DE NATAL



Chicken, Senhor, Magnânime, Rei, Excelso, Imperador, Divino, Doutor, Crista Real, Governador do Galinheiro, Monarca Despótico e Essencialmente sem Pruridos no Bico

FANTASMA ESCRITOR

Não tenho dentes. E depois? Esse facto simples não deveria servir de critério para avaliar absolutamente nada. Não tenho dentes, mas tenho muitas outras coisas. Tenho, por exemplo, uma dentadura postiça maravilhosa. Com ela, já abri nozes e garrafas de cerveja. Sou velho, mas não estou cansado. Fermentei com os anos que passaram e, hoje, sou uma condensação sofisticada daquilo que era quando tinha trinta anos. Não em termos físicos, mas em termos filosóficos. Posso não ter dentes, mas tenho uma mobília completa de quarto, quase nova, que uso todos os dias/noites, durante o meu descanso de consciência, completamente, literalmente, qualquer-coisa-mente, tranquila. É verdade que não tenho dentes, mas tenho pacotes de cereais no armário sobre o lava-loiças. Mesmo sem dentes, mastigo-os de manhã. Não tenho dentes, mas tenho uma televisão que apenas ligo em momentos raros para assistir ao meu Belenenses. Não tenho dentes, mas tenho Internet. E sou velho, oitenta e nove anos em Março, mas não estou cansado. Ou, melhor, estou cansado.

Se não há objecções a que, por uma vez, faça uso da sinceridade, estou cansado deste indivíduo que assina os textos que escrevo, que assina este mesmo texto e que tem o desplante de fazer acompanhar a sua assinatura por uma fotografia da sua cara, como se não fosse óbvio na sua cara, na sua expressão, que nunca poderia ser ele o autor de qualquer um dos textos que lhe são atribuídos. Como é evidente, escrever uma linha decente é uma ventura impossível para um indivíduo com piercings. Acho que não é preciso justificar esta afirmação demasiado.

Quando me foi proposto este negócio, no início, já era velho e já não tinha dentes. Na altura, não tinha sequer dentadura postiça, nem televisão, nem pacotes de cereais, nem mobília de quarto. E pareceu-me uma boa ideia. Depois de anos, décadas, a enviar manuscritos para editoras, pareceu-me que era uma proposta razoável. Foi-me dito que era um procedimento habitual e aceitei. Afinal, seria eu que escolheria as palavras, aquilo que realmente importa. Quando se juntassem congressos inteiros de académicos para discutirem aquele estilo, seria o meu estilo que estariam a discutir, as minhas opções, as minhas ideias. Aquele indivíduo que assinava, que assina, seria pouco mais do que um ícone. Na verdade, eu tenho o nome que tenho, mas poderia ter outro. Por pouco, o meu rosto poderia ser completamente diferente. Que diferença faz um reflexo? Que diferença faz um nome? Faz muita diferença.

Não foi uma situação que se tornasse intolerável de um dia para outro, tornou-se intolerável de forma gradativa. Como as minhas costas. Não foi num único momento que me começaram a doer as costas das horas que passo sentado em frente deste computador. Foi depois de semanas, meses e anos. Primeiro, quase nada: uma mão pousada sobre as costas. Depois, um pouco mais. Depois, uma pedra sobre os ombros e a coluna vertical dobrada num ângulo. Assim foi também este fastio. Primeiro, até achava graça. Tinha notícias da forma desastrada como o indivíduo lidava com as reacções àquilo que escrevia, e achava graça. Tinha uma certa pena de não mostrar a minha caligrafia barroca nas dedicatórias dos romances, «com saudações cordiais», mas achava graça. Até me ria, de manhã, no duche. Depois, houve um dia em que percebi que continuavam a tratar-me no supermercado como se fosse ninguém. Eu chegava à caixa, dizia «bom dia», era bem educado, e não havia quem me respondesse. A pessoa que estava à minha frente, apressava-se a colocar a barra que diz «cliente seguinte» entre as suas e as minhas compras, como se tivesse medo de pagar algum dos meus iogurtes, como se eu estivesse a querer enganá-la. Em mais do que uma dessas ocasiões, me apeteceu dizer o nome do indivíduo que assina os meus textos, os meus livros, e dizer que tinha sido eu a escrevê-los. Sem dentes, velho, mas mestre de sintaxe. Contive-me sempre. Como em todas as vezes que assim acontece, a injustiça alastra-se em todas as direcções. A injustiça é como a noite. Qualquer coisa serve para maculá-la e, por isso, o seu poder de acumulação é indefinido. A injustiça é como o silêncio.

Até hoje. Hoje, é o dia em que todos os que lerem isto ficam a saber. Hoje, é o dia em que termina a farsa. A ironia é que este texto passará pelas mãos do indivíduo que o assina e que, assim, se faz passar por escritor. De duas em duas semanas, envio-lhe estes textos para o email e ele limita-se a fazer forward para o jornal. No início, respondia-me com duas ou três linhas que correspondiam a duas ou três observações. Dizia que não queria textos tão tristonhos, que as repetições o maçavam, exigia menos adjectivos. Eu respondia-lhe que sim e, depois, como sempre, escrevia tudo o que me apetecia. Passados alguns meses, poucos, deixou de responder. Eu abria o jornal, via o texto assinado por ele e sabia que não lhe tinha tocado. Cumpria a sua parte do acordo. Eu, de gabardina, ia aos lançamentos dos livros e constatava que cada página era impressa tal e qual como eu a tinha terminado.

Se este texto chegar ao jornal, se for impresso, se alguém estiver a ler este texto nas páginas do jornal, é porque o indivíduo nem sequer o abriu. O título do ficheiro deve tê-lo remetido para as questões metaliterárias que me fascinam e que ele, de certeza, não compreende, nem vê razão para que existam, mais entretido em avaliar o brilho dos piercings no espelho do corredor. E pronto. Assim ficam a saber. Enquanto esse indivíduo anda a saltar de livraria em livraria e de biblioteca em biblioteca, a espalhar beijinhos nas bochechas das criancinhas e dedicatórias com péssima caligrafia nas folhas de rosto de livros que não escreveu, existe um homem sem dentes, velho, que está encerrado num pequeno apartamento, talvez próximo de vós, a transformar as suas memórias e as suas ideias em palavras. Existo. Por conveniência metafórica, há uma sombra que me cobre. Mas existo. Pouco importam as veias das costas das minhas mãos, pouco importam os pêlos que me saem de dentro dos ouvidos, pouco importam as varizes. Existo e tenho o meu próprio nome. Tenho uma lâmpada fundida pendurada do tecto por um fio. Tenho plantas na varanda. Tenho uma estrada que, depois da minha janela, passa lá ao fundo, atravessada por carros durante todo o dia e durante toda a noite. Tenho caspa miudinha. Admito que não tenho dentes e sou velho, mas tenho a certeza de que esses factos simples não deveriam servir de critério para avaliar absolutamente nada.


José Luis Peixoto
JL

Foto de Daemoon

sábado, 16 de dezembro de 2006

EM PONTE DE SOR, ESPERA APARIÇÃO...


A MOAGEM - Cidade do Engenho e das Artes é o novo equipamento cultural da cidade do Fundão, que foi hoje inaugurado pelo Presidente da República, Cavaco Silva.


Moagem - Cidade do Engenho e das Artes
Fundão




História
É o único relevo histórico da indústria fundanense do séc.xx, surge formalmente em 1922 e encerra no final dos anos 80.
Em 2003 é adquirida pela Câmara Municipal do Fundão.

A Moagem - Centro de Engenho e das Artes
É um equipamento cultural assente na recuperação do complexo edificado da antiga empresa Moagem do Fundão, que contempla valências diversificadas que interagem na criação de uma oferta cultural integrada.

Núcleo distribuidor e estruturante da oferta cultural do Município do Fundão, eleva o potencial da mesma numa afirmação em contexto regional e nacional, cruzando eixos de intervenção cultural, actividades temáticas e linguagens artísticas.

Objectivos

Aproximação entre a comunidade e as linguagens artísticas;
Oferta Cultural diversificada;
Criação de plataforma pedagógica artística e cultural;
Dinamização de redes externas de programação (Itenerâncias);
Afirmação oferta cultural local a nível regional e nacional;
Envolvimento das comunidades.


Valências

Auditório
Com lotação de 150 lugares encontra-se plenamente equipado para a realização de espectáculos de música, teatro e dança, exibição regular de cinema, bem como semanários e conferências.

Serviço Educativo
Aproxima a programação dos seus públicos;
Actividades de valorização das experiências culturais enquanto estímulo à criatividade, à imaginação e à comunicação;
Pretende tornar familiares os principais conceitos de arte contemporânea, reconhecendo-a como arte dos nossos dias.

Sala de Exposições de Arte Contemporânea
Antigo armazém destinado ao acolhimento de exposições de arte contemporânea, alternando entre exposições de reconhecido mérito cultural em parceria com outras actividades e entre a exibição de criações próprias e originais que partem da própria programação.

Núcleo de Arquelogia Industrial
Reconstituição do circuito de maquinaria de processamento do cereal, evidenciando o encadeamento de processos, reflectindo a própria evolução arquitectónica, económica e social da Empresa Moagem do Fundão.
O discurso expositivo incidirá tanto na componente tecnológica e científica como na dimensão humana e social do trabalho industrial.

Laboratório de Tecnologias Criativas
Centro de recursos multimedia destinadas à criação artística, no âmbito do som e da imagem, disponibilizando ao público material de edição profissional que permita criadores atingir os mais elevados padrões de qualidade técnica das suas obras, contemplando igualmente a produção de conteúdos audiovisuais associados à própria Moagem - Cidade do Engenho e das Artes.

Lounge
Bar panorâmico que ocupa o piso superior do edifício da Moagem, dispõem de equipamento de som e vídeo que permite acolhimento de uma programação específica centrada nas vertentes mais contemporâneas da cultura urbana, com contraponto em acções informais de comunicação, que assim alternam os registos de um espaço onde se vai ficando entre a exibição de documentários, videoclips, performances,djs e vjs, lançamento de edições e conversas informais com artistas, autores e criadores.

Centro do Visitante
Ponto de recepção e acolhimento da Moagem, é igualmente a porta da entrada no território do Município do Fundão, traduzindo o seu papel enquanto pólo distribuidor da procura e oferta de um território, aqui se disponibilizando toda a informação relativa à oferta turística e cultural existente, valorizando as experiências individuais de visita.

Estúdio
Sala com lotação de 50 lugares, contempla um uso diversificado que acolhe conteúdos multimedia de natureza turística associada aos pontos de interesse do território do Fundão, bem como as instalações multimedia e vídeo-arte, acções no âmbito de residências artísticas de sessões de formação e de iniciação criativa.

Restaurante
Implantado em torno da velha chaminé e do forno da antiga padaria.
Este restaurante pretende celebrar o ciclo do pão enquanto elemento nobre da alimentação, constituindo-o como elemento central de um compromisso entre a tradição culinária.

Loja
No piso superior do restaurante instala-se um ponto de venda do melhor que tem a região do Fundão para apresentar, valorizando os produtos tradicionais sob inovadores formas de packaging e distribuição, bem como edições da responsabilidade da autarquia e da Moagem, disponibilizando igualmente produtos culturais de qualidade, em estreita associação com os ciclos de programação desenvolvidas e acompanhando os eventos realizados.

A Moagem - Programação

Eixos Fundamentais:

Produção de eventos, espectáculos e objectos artísticos;

Acolhimento de projectos externos;

Exposições de arte contemporânea;

Actividades pedagógicas;

Registos criativos.


Ligações
Tradição VS. Contemporânea

Arte - Vida

Local - Global


Partilhas, trocas, confronto entre gerações, geografias a saberes diversos.

Produções Próprias

Ciclo " Saber das Mãos"
Olaria - Cestaria - Tecelagem - Embutidos

Formato base:

Designer / Artesão

Diálogo

Espectáculo

Registo "Documentário"

Ciclo de Cinema

Exposição ( Lugar, pessoas, objectos, utensílios, produtos)


Espectáculos

Com pré - escolar - A partir de oficinas de objectos e histórias locais
Com o pré - escolar e maiores de 65 - A partir das experiências de cada grupo
Com o 1º Ciclo - "Uma hist´ria para continuar...", Com a Este

Actividades

Chocalhos - Oficina "Tricotar para vestir as ovelhas friorentas
Cale - Laboratórios criativos e mostra de trabalhos
Olhares - Programa de registos criativos ( filme, escrita, audio, fotografia...)

Projectos em acolhimento

Festival Y

Festival Imago

Teatro Agosto

Espectáculos ( música, dança, teatro, perfomance)


Exposições de Arte Contemporânea

Exposições de produção própria, em relação aos conceitos da Moagem;

Exposições em parceria com instituições como a Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu do Serralves.

Serviços Educativos

Actividades Permanentes
Visitas às exposições
Visitas ao edifício

Diálogos / Formação / Ciclos
Artistas e / ou conceitos em exposição
Iniciação às linguagens artísticas contemporâneas
Contacto com os processos de criação
Encontro com as escolas
Workshops

Actividades em Férias
Natal
Carnaval
Páscoa
Verão

Actividades Contínuas

Mensalmente
"Oficina dos mins" - Expressão plástica - familias
"As memórias na mala" - Expressão plástica - Séniores
"Derivas" - Conversas a partir da arte - >14
"Mil coisas num Som" - Som - >14
" As histórias que somos" - Movimento - Séniores
"Conforme é o toque assim é a dança" - Baile

Workshops

Semanalmente
Ateliers Plásticos Criativos - desenho, escultura e pintura (3ªs Feiras) - >12

Actividades Contínuas

Escolas - Oferta permanente mediante marcação

Visitas às exposições;

Visitas ao edifício;

Formação para professores;

Projectos pedagógicos;

Iniciação às linguagens artísticas contemporâneas;

Espectaculos e Oficinas.



sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

MAIS UMA...


O PDM DO CONCELHO DE PONTE DE SOR É ILEGAL?

Artigo completo do Jornal Público

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

ESTE ANO NÃO VAI HAVER PRESÉPIO!...


- O menino passa todo o tempo na escola.
- O burro foi dar aulas de substituição.
- A vaca foi para o ministério.
- Nossa Senhora e S. José estão a avaliar o burro.
- Os Reis Magos lançaram uma OPA sobre a manjedoura.
- Os camelos estão no governo.
- Os cordeirinhos andam tresmalhados.
- Até a estrelinha de "Belém" perdeu o brilho...

Nota:
O estábulo fica devoluto para o Congresso dos "Alinhados" e posteriores Conselhos de Ministros!...

Enviada por:João Afonso

PURO VENENO...


Rui Pimentel/VISÃO

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

CORRUPÇÃO

Estando a corrupção na ordem do dia, muito se tem falado e escrito da funcionamento da justiça em Portugal, ou melhor, do seu mau funcionamento. E ainda bem que se fala, porque as leis e a sua aplicação, os tribunais e o seu papel, não podem eximir-se aos olhos da opinião pública.

Seria, no entanto, um erro pensar que a corrupção é apenas uma matéria do foro judiciário, que isso seria apenas assunto dos tribunais e nada mais.
Há uma dimensão cultural e ética no problema que não deve ser esquecida.
Se não houver uma condenação social da corrupção, se os corruptos não sentirem que são mal vistos, continuarão a corromper e a amontoar dinheiro.
Exigir que as polícias e os tribunais combatam eficazmente a corrupção e ao mesmo tempo aceitar socialmente e até admirar quem enriquece à custa da corrupção é esquizofrenia moral. E não é isso porventura o que acontece?


No sofá frente à televisão clama-se contra os políticos, polícias e magistrados, que não combatem a corrupção, mas fica-se muito honrado por um convite de um Senhor X, pessoa de muitíssimo sucesso, de quem se sabe que paga luvas, que compra este e aquele.

Alguém já viu ser rejeitado socialmente quem servindo-se de um cargo público exige comissões, às vezes a pessoas que manifestamente têm dificuldades em pagar?

Que há a dizer aos dois pesos e duas medidas que as pessoas utilizam, ora em público, contra a corrupção, ora em privado, com os corruptos, a não ser que elas próprias estão de algum modo corrompidas?
Sim, corrompidas pelo brilho da riqueza e do sucesso dos corruptos.
Ora isto é que é extremamente grave.
É muito grave que a justiça não actue eficazmente contra quem infringe a lei, que deixe prescrever prazos, mas mais grave ainda é a corrupção da própria sociedade.


Entendo por sociedade corrompida uma sociedade que arvorando pública e legalmente um conjunto de valores, como a honestidade, a isenção, a imparcialidade, a defesa do interesse público, os esquece à medida das suas próprias conveniências particulares.
Os princípios são gerais e as conveniências são particulares.
Esta é uma verdade simples, como é simples a verdade de que as conveniências se devem sujeitar aos princípios.
Uma sociedade corrompida é aquela em que se misturam princípios e conveniências, em que as regras são para se abrirem excepções, em que interesse público e proveito próprio se confundem, a tal ponto que as fronteiras entre o legal e o ilegal, o certo e o errado, se diluem numa permissividade geral.


O combate à corrupção não pode confinar-se à cena política nem a um tema bombástico da comunicação social.
Esse combate é também uma questão de higiene social e moral, de colocar as coisas no seu devido sítio, os princípios no princípio e as conveniências, por mais legítimas que sejam, muito depois.
O que claramente se trata de uma tarefa de cada um no seu dia a dia.


Se há repulsa social por quem rouba e viola, porque não há por quem corrompe e se deixa corromper?

Enquanto a sociedade concreta, eu, tu, este e aquele, não sentir repulsa pela corrupção e pelos corruptos concretos, o problema de fundo fica.

A.F.

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

TLEBS

Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário
Um artigo do Professor Doutor João Andrade Peres, que vale a pena ser lido na totalidade:

Artigo completo

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

URBANISMO, ORDENAMENTO, INVESTIMENTOS E CORRUPÇÃO

Várias têm sido as linhas que tem escrito deprecando a fealdade urbanística que vem desfigurando o nosso país. Lamento, no entanto, que poucas vezes se tenha abalançado a explorar a etiologia dessa maleita - que, contrariamente ao que se pensa, tem causas na Economia Política do nosso país e não na falta de bom-gosto ou bom senso. Tomo por isso a liberdade de lhe sugerir que debruce a sua atenção um pouco mais sobre o nosso desordenamento urbano. Permita-me que use como mote para o efeito a seguinte notícia, veiculada hoje nos jornais portugueses:


"O ministro da Economia foi esta semana a Grândola entregar o alvará de construção do projecto turístico da Herdade de Pinheirinho a Joaquim Mendes Duarte, presidente da Pelicano – Investimento Imobiliário SA, entidade promotora do empreendimento. (...) A história remonta a Novembro de 2001, quanto a Pelicano foi parte num contrato-promessa de compra e venda dos terrenos que integravam o lote n.º 31-17, com uma área de 412,85 metros quadrados, situado na Quinta da SAPEC, freguesia da Quinta do Anjo, concelho de Palmela. A Pelicano terá acordado vender os respectivos terrenos por 288 200 euros, com o preço a ser pago em dez prestações."
Este processo, na essência igual a todos os outros que estão na génese do nosso desordenamento urbano, exemplifica muito bem a Economia Política do nosso país. Não é apenas o sector urbanístico que está em causa: é toda a organização política e económica do país.

Na ausência de alvarás de loteamento e licenças de edificação, um terreno de uso estritamente agrícola naquela zona, não vale mais do que 1 euro por metro quadrado. Porem, como este exemplo bem ilustra, assim que é reclassificado de urbanizável, passa a ser vendido a 288200 €/412,85 m2 = 698,07 €/m2.

São 697 € de mais-valias urbanísticas por metro quadrado. Por outras palavras, são 1.394.000 CONTOS de mais-valias urbanísticas por hectare. Vá lá, se descontarmos uma generosa "área de cedência à administração pública" de 50% do terreno, sobra apenas das mais- valias a exígua bagatela de 697.000 CONTOS por hectare.

Este rendimento não é um lucro, pois não resultou do factor de produção trabalho. Este rendimento não é um juro, pois não resultou da assunção de riscos sobre o capital. Este rendimento é uma RENDA PURA gerada por uma decisão político-administrativa. O pedido de reclassificação de terrenos agrícolas em urbanizáveis é portanto uma clara e manifesta procura de rendas ("rent-seeking" activity). É uma forma de obrigar os cidadãos que procurem habitação a pagar ao promotor uma fortuna por um bem que ele não produziu (o solo) e um serviço que ele não prestou (a concessão de alvará).

Vale a pena recordar as palavras de Anne Krüger, economista pioneira no estudo da grande corrupção:

"If income distribution is viewed as the outcome of a lottery where wealthy individuals are successful (or lucky) rent-seekers [promotores de loteamentos, diria eu], whereas the poor are those precluded from or unsuccessful in rent-seeking, the market mechanism is bound to be suspect. (...) The perception of the price system as a mechanism rewarding the rich and well-connected may also be important in influencing political decisions about economic policy. If the market mechanism is suspect, the inevitable temptation is to resort to greater and greater intervention [criando PDMs, RENs, RANs, PINs, &c, diria eu], thereby increasing the amount of economic activity devoted to rent-seeking [pedidos de desafectação, revisão e suspensão de planos de ordenamento, diria eu]. As such, a political vicious circle may develop."

("The Political Economy of the Rent-Seeking Society", in The American Economic Review 63 (3), 1974)

É para evitar estes fenómenos que a constituição espanhola afirma, no seu artigo 47º
"(...) La comunidad participará en las plusvalías [mais-valias urbanísticas] que genere la acción urbanística de los entes públicos [por exemplo, reclassificando os solos e atribuindo alvarás]."

...E é por terem violado este preceito que em Espanha nos últimos meses tem havido literalmente dezenas de mandatos de captura de autarcas, funcionários públicos e promotores imobiliários. As políticas urbanísticas são, no país vizinho, discutidas com enormes frontalidade e seriedade, dedicando-se ao tema dezenas de colunas de opinião em todos os principais periódicos.

Entretanto entre nós, portugueses, graças a uma legislação escrupulosamente preparada para obnubilar a posse pública obrigatória das mais-valias urbanísticas, os milionários instantâneos que o nosso urbanismo produziu estão em liberdade, ostentando sem qualquer pudor as fortunas que conquistaram à custa do endividamento de todos e da pauperização dos cofres do Estado.

É por isso inútil apontar o dedo somente à empresa Pelicano: esta é apenas um exemplo particular de um fenómeno generalizado e legalizado. Todos os terrenos que foram loteados desde 1965 (ano da privatização dos loteamentos) permitiram essa mesma imoralidade, com todo o amparo e protecção dos órgãos legislativos,executivos e judiciais do Estado Português. Repito, todo o país sofre das mesmas patologias - a Herdade do Pelicano difere apenas por ser mais mediática. Revoguemos pois as Leis que permitem estes cancros.

Poucos tópicos de Economia Política merecem tanto consenso como a posse pública das mais-valias urbanísticas. Entre os seus defensores estão David Ricardo, Stuart Mill, Henry George e, mais recentemente (por surpreendente que pareça) Milton Friedman. Um dos seus defensores mais fervorosos de todos os tempos não foi senão Winston Churchill. Por todo o Ocidente civilizado se procede à sua posse pública, seja por proibição dos loteamentos particulares, seja por cobrança exaustiva de toda a valorização do terreno reclassificado. Em Portugal, nada.

Não obstante estas evidências, os loteadores portugueses que enriqueceram às custas destas mais-valias procuram desacreditar aqueles que se opõe a esta forma de enriquecer, acusando estes últimos de serem "extremistas" e "anti-liberais". É o cúmulo da
desinformação: fazer crer que é liberal uma política de solos que permite enriquecer sem trabalho, pedindo alvarás ao Estado e às Autarquias.

Consagrar a posse pública das mais-valias urbanísticas não é uma opção ideológica de Esquerda nem de Direita. É uma opção que foi tomada por todos os Estados modernos entre os quais, neste capítulo, Portugal não se inclui. É uma pré-condição básica para que o ordenamento do território seja economicamente eficiente, socialmente equânime, tecnicamente sustentável, e esteticamente harmonioso.

Por desconhecimento ou conveniência, os políticos portugueses e seus comentadores jamais debateram publicamente este problema, com rigor conceptual e precisão factual. Uma vez por outra, carpem o horror dos subúrbios. Esporadicamente surpreendem-se com o novo- riquismo dos promotores; espantam-se com a existência de contubérnios entre autarcas, dirigentes futebolísticos e promotores imobiliários; culpam disso o financiamento partidário e camarário, falhando grosseiramente o diagnóstico.


Pedro Bingre do Amaral


De facto, em torno da distribuição das mais-valias geradas por um mero acto político-administrativo (a decisão de aprovação de um plano ou de emissão de um alvará de loteamento), digladiam-se interesses, exercem-se pressões ilícitas, traficam-se influências, corrompem-se instituições.

Num momento em que se anuncia investimentos na barragem em terrenos de todos nós, municípes, parece-nos pertinente a publicação deste artigo de Pedro Bingre Amaral, dada a clareza e a oportunidade que nos dá para compreendermos melhor algumas das prováveis motivações do alargamento das zonas edificaveis e da revogação do mecanismo de repartição equitativa das mais-valias urbanísticas: a perequação.

Será, pois, na proposta de redistribuição das mais-valias produzidas pelo PDM (e apenas dessas) que se poderão separar as águas e ajudar a compreender os interesses a que cada um se subordina: se ao interesse público inerente à gestão do concelho; se ao interesse privado, próprio de alguns (poucos) proprietários de terrenos e promotores imobiliários.

Argumenta Pedro Amaral que “consagrar a posse pública das mais-valias urbanísticas não é uma opção ideológica de Esquerda nem de Direita.
É uma opção que foi tomada por todos os Estados modernos”.
Não defendemos tanto.
Na verdade será suficiente a apropriação pública de uma pequena parte dessas mais-valias (destinadas à criação ou consolidação das infra-estruturas gerais do concelho), devendo as restantes ser redistribuidas entre TODOS os proprietários dos terrenos incluídos na área urbana e não apenas entre uma pequena parte deles.


Manuel...