quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

CADA VEZ QUE MANUEL PINHO FALA OU ENTRA MOSCA OU SAI ASNEIRA...





É a bernarda do dia, pois sempre que Manuel Pinho fala ou entra mosca ou sai asneira.
Não é de hoje, é de sempre.


No plano formal, tal deve-se ao facto de Manuel Pinho não dispôr de muito vocabulário, de modo que está circunscrito aos balanços e balancetes que aprendeu no BES e dali não sai; depois é um desastrado nato, na medida em que não consegue distinguir uma avaliação técnica duma declaração política, e o branqueamento feito pelo deputado Vitalino Canas no sentido de atenuar os efeitos daquelas declarações, são a prova disso mesmo: nenhum problema grave, diz.

Em resultado destes dislates, ainda por cima num país que não é uma democracia pluralista como a RPC, Manuel Pinho deveria andar equipado com um mini-semáforo entre a laringe e a testa, de forma a que quando começasse a produzir o enunciado duma declaração lamentável a luz amarela disparasse automáticamente e fizesse disparar uma sirene de molde a avisar Sócrates que nas redondezas teria tempo de evitar a consumação daquelas barbaridades - carregando num botão de controlo remoto que cortaria o pio a Manuel Pinho.
Este seria o dispositivo mais eficiente de controlo de danos que Sócrates poderia implementar a fim de manter sempre Pinho em regime de rédea curta.
Se já não pensou nisso, quando regressar a Lisboa deveria integraressa rúbrica no Plano Tecnológico..

E porquê?
E agora vamos à substância do problema que subjaz a sua lamentável declaração.
Nessa situação política em que um país pequeno procura captar investimentos junto dum imenso país como a China, aquilo que se exige a um responsável político é que ele - não sendo mentiroso também não seja kamikaze, e Pinho - seja intra-muros, seja extra-muros parece concentrar em si ambas as desvantagens em quantidades industriais, fazendo dele aquilo a que já habituou os portugueses: um bronco.
Receio bem que depois desta incursão pelo governo o BES já nem o quererá de volta quando Sócrates o resolver dispensar.

Seria legítimo que Manuel Pinho seduzisse o empresariado chinês, que continua a não respeitar os direitos humanos, a desconhecer os direitos sociais e pensa que o homem só nasceu para trabalhar, empregasse outros conceitos nessa estratégia de sedução empresarial.
Como referir o facto de Portugal ser uma pequena economia europeia e muito aberta, que pode ser criativa e inovadora, adoptar um eficiente design nos seus produtos e um marketing na comercialização dos mesmos, enfim, que os portugueses podem representar uma boa aposta económica para os chineses e que, a prazo, a economia nacional faria o retorno dos investimentos feitos com imensas vantagens para os seus investidores.

Mas Pinho só se lembrou do vector salários baixos, como se os tugas fossem uns mamecos de Cantão disponíveis para trabalhar 18h por dia ganhando uma tuta e meia.
Os mais distraídos que tivessem captado o discursos de Pinho pensariam que se trataria dum ministro do Trabalho de Cabo Verde ou de São Tomé ou mesmo de Moçambique.

Em rigor, uma leitura extensiva das declarações de Manuel Pinho obriga-nos a pensar que vivemos com um sentimento contraditório e conflituoso dentro de nós, dado que podemos alimentar a máquina mundial do sistema capitalista porque somos uma espécie de chineses versão europeia, equipados com um bi-turbo e cabeça de motor rebaixada a fim de fazer a admissão e a explosão mais rápido.
O objectivo, segundo Manuel Pinho, é uma contratualização de investimento estrangeiro por via de mão-de-obra baratucha, pouco refilona e bem adestrada, logo obediente a trabalhar as tais 18 h. per day.

Este pareceu-me ser o modelo de globalização predatória e pelintra eleito por Manuel Pinho quando discursa abroad.
É assim que ele julga que a melhoria de vida dos portugueses se faz no seio da economia global...
A não ser que Pinho e o governo português tenham visto aquilo que mais ninguém ainda viu: é que por cada posto de trabalho de investimento chinês em Portugal o nosso País consiga criar mais dois na China.
Se assim for Manuel Pinho está de parabéns, apesar das calinadas crónicas, se não fôr bem pode Sócrates ir já pensando num substituto que consiga ser ao mesmo tempo um bom técnico de macroeconomia e um político eficiente.
Mas se calhar isso já é pedir muito nos tempos que correm.

Tanto mais que os economistas baseiam o seu optimismo relativamente à globalização e aos postos de trabalho nas teorias comerciais correntes da vantagem comparativa, ao tempo do velhinho Ricardo e Adam Smith.
Tais teorias estabelecem que à medida que os PVD com grandes populações passam a desenvolver actividades que usam uma grande quantidade de mão-de-obra não especializada, os países europeus terão maiores vantagens em actividades que requeiram um uso mais intensivo de capital e operários com um bom nível de preparação.
O problema é que aqueles economistas clássicos já começaram a reconsiderar as suas velhinhas teorias, vq., até os trabalhadores mais especializados nos países avançados (EUA + Europa) poderiam vir a perder face ao desenvolvimento da pujante economia chinesa, a nova fábrica do mundo que cresce cerca de 7 a 10 % ao ano.

Mas duvido que Manuel Pinho tenha equacionado todas estas variáveis quando disse aquelas bacuradas que nele já vão sendo tão crónicas que nem os chineses ligam.
Até agradecem...


Pedro Manuel

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

OS DEFENSORES DO “NÃO”


E O CÓDIGO PENAL

Os defensores do Não já se esquecera da defesa da vida e a sua estratégia passa por deixar a coisa como está e esforçam-se por convencer os portugueses que há uma lei que não é para aplicar, a pena só lá está para assustar.

Isso significa que não faz mal abortar, desde que isso se faça fora das vistas das suas consciências.

Trata-se de uma enorme mentira, de um golpe baixo onde se esquecem valores e princípios numa tentativa desesperada de aumentar a abstenção entre os eleitores cuja opção tende para o Sim.

À menina com ar de boa cristã que vi numa das televisões defender que o Código Penal serve apenas para efeitos pedagógicos recomendo que vá ler o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica [Link]:

«468. Para que serve uma pena?
A pena, infligida por uma legítima autoridade pública, tem como objectivo compensar a desordem introduzida pela culpa, preservar a ordem pública e a segurança das pessoas, e contribuir para a emenda dos culpados.
469. Que pena se pode aplicar?
A pena infligida deve ser proporcionada à gravidade do delito. Hoje, na sequência das possibilidades do Estado para reprimir o crime tornando inofensivo o culpado, os casos de absoluta necessidade da pena de morte «são agora muito raros, se não mesmo praticamente inexistentes» (
Evangelium vitae). Quando forem suficientes os meios incruentos, a autoridade deve limitar-se ao seu uso, porque correspondem melhor às condições concretas do bem comum, são mais conformes à dignidade da pessoa humana e não retiram definitivamente ao culpado a possibilidade de se redimir. »


Deixem-se de golpes baixos e tenha a coragem de defender o que pensam.


JER

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

ESTE "ARTISTA" JÁ FEZ ALGUMA COISA PELO DISTRITO QUE O ELEGEU?

As deslocações ao estrangeiro dos dez deputados mais viajados, ao serviço da Assembleia da República, implicaram em 2006 uma despesa total de quase 291 mil euros em transporte e alojamento, um acréscimo de 35 por cento face aos cerca de 215 mil euros despendidos em 2005.
No pódio dos parlamentares mais viajados surge:


Miranda Calha - PS


N.º de viagens - 12

Transporte - € 17.310,00€

Estada - € 11.123,00

Total - € 28.433,00

Agora já percebi quem é a

musa inspiradora

das viagens
do




Taveira Pinto

e dos seus apaniguados
.


Xico C.

A PROPAGANDA OFICIAL NO SEU MELHOR


O primeiro-ministro apresentou o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) e a ministra da Educação as 50 medidas de política com que diz estar a melhorar a escola pública.
Foi a propaganda oficial no seu melhor, a merecer análise.
Durante os próximos sete anos, Bruxelas transferirá para Lisboa, diariamente, oito milhões, quatrocentos e catorze mil, oitocentos e setenta euros! Um milhão, seiscentos e oitenta e dois mil, novecentos e setenta e quatro contos em cada um dos próximos 2555 dias!
Sem surpresa, a qualificação dos portugueses e a educação juntaram-se à ciência e ao desenvolvimento tecnológico para preencherem os objectivos propagandísticos de Sócrates, anunciados com uma convicção que não convence.
Por duas razões, uma de passado, outra de presente.
Comecemos pelo passado.
É cansativo, pelo menos para quem tem memória, ouvir o mesmo discurso há décadas, quando nada acontece senão o contrário do que se apregoa. Os enormes fluxos financeiros que arribaram ao país nos tempos de Cavaco e Guterres deram o quê?
O chavão da qualidade, do segundo ciclo da governação cavaquista, que sucedeu à época do betão da primeira maioria, deu o quê? A paixão pela educação, de Guterres, deu o quê? O choque tecnológico de Sócrates deu o quê?
A mais alta taxa de abandono escolar da Europa, o último posto em todas as medidas de proficiência cognitiva, a menor taxa de frequência e conclusão de estudos secundários e superiores, a população activa menos qualificada e que menos se quer qualificar. Já que tanto lhes agrada falar de resultados, estes são os resultados das estafadas prioridades para a educação. Visível, o betão e a corrupção, os jipes, as negociatas, a impunidade das criaturas que nos têm governado, sem competência nem talento. Virtual, a miragem do desenvolvimento dos outros: a Irlanda primeiro, agora a Finlândia, daqui a pouco a Eslovénia.

Mas a razão do presente não é menos relevante.
O que deram as políticas de Sócrates, até hoje?
Uma noção de desenvolvimento assente no definhamento dos que trabalham e no enriquecimento dos grupos dominantes, com dois milhões de assalariados a empobrecerem desde que ele é governo. Um desprezo nunca visto pelas pessoas, cujos direitos são imolados sem piedade em nome de um darwinismo económico que as leva a parir em Espanha, morrer em Odemira, porque os cuidados estão em Lisboa, ou aprender as primeiras letras a duas horas de autocarro de casa. De que qualificação e de que portugueses fala este neoliberal empedernido, que nos habituou a esperar o contrário do que diz, que sovieticamente centrou tudo nele e já reservou mais de metade do pecúlio para as suas obras faraónicas (Ota e TGV)?

Ao mesmo nível propagandístico e sem crédito estão as 50 medidas com que a ministra da escola mínima se auto-elogia.
Li e tive pena de nós, portugueses.
Umas medidas têm relevância para merecerem o nome, embora sejam de coveira e não de ministra, embora piorem em vez de melhorar.
Outras são simplesmente ridículas.
Veja-se, por exemplo, como corriqueiras iniciativas de gestão menor, corrente, ganham foros de medidas de política no reino duma criatura que perdeu o sentido do caricato: homologação das cartas educativas; isenção do imposto automóvel para viaturas de transporte escolar de câmaras municipais; organização de uma conferência sobre ensino artístico; edição de um guia de acesso ao ensino secundário.

Um comentário ao expoente máximo da demagogia e da bazófia quando se destaca a criação de 500 cursos profissionais com 20.000 novos alunos.
Está a falar de quê, senhora ministra?
De novos planos de estudos de cursos tecnológicos, de cariz profissional relevante, servidos por novas oficinas e laboratórios, modernamente equipados e assistidos por técnicos competentes para ensinar a fazer, ou está a falar da cosmética que aplicou aos anteriores curricula alternativos, de má memória e eduquês lógica? Como sabe que são 20.000 novos alunos?
Ora revele lá donde vem essa gente. E diga-nos também que formação têm os professores que mobilizou e que equipamentos comprou.
Não esqueça uma palavrinha para caracterizar o impacto que a sua medida teve nas escolas profissionais sérias, que estoicamente vão resistindo
.

Santana Castilho

domingo, 28 de janeiro de 2007

DEBATE DE PONTE DE SOR DÁ PROCESSO

Médicos pela Escolha processam judicialmente Alentejo pelo Não

O movimento Médicos pela Escolha (MMPE) vai processar judicialmente o movimento Alentejo pelo Não (MAPN), bem como os seus mandatários, na sequência de uma nota de imprensa enviada às redacções por parte do MAPN e que consideram "caluniosa".

O Alentejo pelo Não acusa o médico Bruno Maia, do MMPE, que recentemente participou em Ponte de Sor na Biblioteca Municipal num debate sobre a IVG e que, segundo o MAPN, durante a sua intervenção, terá dito que "caso o 'sim' ganhe, a solução para dar resposta à situação de filas de espera nos hospitais seria proceder não ao aborto cirúrgico de sucção do feto mas a um procedimento médico que levaria à prescrição do Citotec e/ou Ru486 para que as próprias mulheres os colocassem, não implicando internamento e que só caso fosse necessário uma raspagem, então recorreriam ao hospital".

Segundo o MAPN, "perante esta postura de total desconsideração pela vida das mães e seus filhos ocorre dizer que ao representante dos MMPE caiu-lhe o véu".

"Vamos processar esses senhores, neste momento os nossos advogados já estão em campo. É uma acusação que prejudica a credibilidade do médico Bruno Maia", disse ao DN Sérgio Vitorino, do movimento MMPE.

"Em primeiro lugar são falsas essas palavras, nunca disse isso", sublinha por sua vez Bruno Maia. "Durante o debate expliquei os procedimentos do aborto médico, mas nunca nesse contexto que o MAPN refere nessa nota de imprensa", sublinha.

Por seu turno, Pedro Paixão, um dos mandatários do MAPN, reafirma a posição do movimento neste processo e atesta que as declarações de Bruno Maia "estão gravadas, não temos nada a temer".

No debate de Ponte de Sor, onde Bruno Maia é acusado de ter proferido essas declarações, participou ainda Cláudia Muller, da Plataforma Não Obrigada, que disse ao DN que "assim foi dito pelo doutor Bruno Maia". "Fico satisfeita pelo facto de o senhor reagir e que tenha recuado na sua postura", sublinha. O caso segue para os tribunais.


Hugo Teixeira

GUANTÁNAMO OU O ESPLENDOR DA HIPOCRISIA

É preciso, pelos vistos, começar por lembrar o óbvio: Guantánamo não foi nem é uma prisão como outra qualquer. Guantánamo é o território zero dos direitos humanos, maravilha fatal da nossa idade. Os que lá estiveram e estão presos não foram condenados por qualquer tribunal, não foram mandados prender por nenhum juiz, não foram interrogados por qualquer magistrado, não foram defendidos por nenhum advogado, não recebem visitas da família nem de ninguém. Não são presos comuns nem gozam do estatuto de prisioneiros de guerra e também não são sequer presos políticos, ao abrigo de uma qualquer legislação de excepção. Juridicamente, os presos de Guatánamo inauguraram uma nova condição penal de que não havia registo desde os mais fundos tempos da barbárie, incluindo os «goulags» estalinianos: são não-existentes. O Exército e o Presidente dos Estados Unidos reservam-se o direito de não dizerem, nem às famílias, quem é que têm preso, desde quando, por que razões e por quanto tempo. O fundamento ético e jurídico para isto é a “luta contra o terrorismo” - essa infinita nebulosa do direito inaugurada após o 11/9. Mas, pelo menos de acordo com as regras fundadoras da democracia, tal como as conhecemos, isto não é uma forma de luta contra o terrorismo: é, sim, uma luta entre terrorismo de um lado e terrorismo do outro lado.

Para transportar os presos americanos com destino a Guantánamo, desde o Afeganistão ou outros países da Ásia e do Médio-Oriente, os aviões da CIA tiveram de sobrevoar e fazer escala pelo caminho em território europeu. O que o Parlamento Europeu tentou apurar nos últimos meses é quais foram os governos europeus que concederam autorização para tal, em que condições e com que fundamento. Porque a ninguém passa pela cabeça que pelo menos 1245 voos da CIA já detectados tenham sobrevoado e aterrado em aeroportos europeus sem que os respectivos governos tivessem tido a curiosidade de indagar qual era a sua missão. Queria-se, pois, apurar o que terá levado governos europeus - entre os quais, o português, que autorizou pelo menos 118 voos da CIA - a tornarem-se coniventes com a infâmia de Guantánamo. E, já agora, queria-se também uma explicação para o facto de o terem feito em total secretismo, longe da vista e da opinião pública, depois de alguns deles, entre os quais o português, já se terem tornado também no passado coniventes do embuste montado pelo «staff» de Bush para justificar a desastrada invasão do Iraque.

Dêem-se as voltas que se derem ao texto, não há questão mais política e mais pertinente do que esta. Eu sei, todavia, que há sempre lugar para invocar as ‘razões de Estado’ a fim de silenciar o que não convém e apelar ao silêncio sobre as ‘questões sensíveis’. Na argumentação sibilina e subliminar utilizada contra os dois deputados portugueses que no Parlamento Europeu tentaram forçar o Governo português a contar o que se tinha passado, não faltou mesmo a insinuação de falta de patriotismo. Eu sei que é bem mais conveniente que os terroristas islâmicos nuca venham a conhecer a fundo a verdadeira dimensão do envolvimento de Portugal com algumas coisas que, justamente por isso, foram mantidas secretas. Mas há outra maneira de ver as coisas, a maneira democrática: Portugal, sob a liderança leviana de Durão Barroso, comprometeu-se, quer com a invasão do Iraque quer com os voos da CIA para Guantánamo, muito para lá do que era do interesse nacional e da opinião da maioria dos portugueses: isso, sim, pôs em perigo a nossa segurança, para já não falar da independência da nossa política externa. Vi há tempos Durão Barroso ser confrontado, numa entrevista televisiva, com o seu papel na aventura do Iraque. Naquele seu tom de ‘estadista’ que sabe e alcança muito mais do que o comum dos mortais, respondeu, em tom displicente que, de facto, nem tudo no Iraque tinha corrido como ele tinha previsto e que se sabem hoje coisas que então se não sabiam. Mas, concluía ele, para salvar a face, com as informações então disponíveis hoje teria decidido comprometer-nos por igual. Ora, isto, como sabemos, é falso: Durão Barroso jurou então ter visto “provas” conclusivas sobre, nomeadamente, a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Mas essas “provas” foram então negadas pelas inspecções no terreno, pelas Nações Unidas e pela grande maioria dos governos. E hoje sabemos que, pura e simplesmente, não havia armas, pelo que não podia haver “provas”. Afirmar hoje - depois de centenas de milhares de mortos, com o Iraque numa situação sem saída, o Médio-Oriente pior do que nunca e a ameaça terrorista tornada exponencial devido ao Iraque - que decidiria da mesma maneira com as “informações” que então tinha é de uma leviandade absoluta. E é a prova, essa sim, decisiva, de que o secretismo das tão invocadas ‘razões de Estado’ serve muitas vezes para esconder a incompetência, a leviandade ou a agenda pessoal e inconfessável dos governantes. Por isso é que a questão da cumplicidade europeia com Guantánamo não é uma questão menor nem uma questão que deva ser remetida ao silêncio em nome dos “superiores interesses nacionais” ou europeus. É, antes, uma questão determinante em termos de política externa e reveladora em termos de conhecimento do carácter de quem nos governa. Perguntem a Luís Amado, enquanto cidadão, o que acha ele de Guatánamo, e ele vai responder que acha intolerável; mas perguntem-lhe o mesmo, enquanto ministro dos Estrangeiros, e ele vai jogar com as palavras, vai deliciar-se em jogos florentinos de linguagem diplomática e vai acabar a mentir de óptima consciência. Porém, face ao que se passou no Iraque e não só, sabemos já que isto não faz parte da inevitabilidade da natureza da política: faz parte da consequência natural da política que se oculta por ser má.

Contra Carlos Coelho e, sobretudo, contra Ana Gomes, levantou-se um coro hipócrita do ‘patrioticamente correcto’ que conseguiu inverter os termos da equação: estava certo, não quem queria saber a verdade, mas quem queria ocultá-la. Socialistas eternamente disponíveis para todo o serviço, medíocres e carreiristas de todas as horas, caíram em cima de Ana Gomes como se ela fosse um vende-pátrias ou uma louca inimputável. O relatório do Parlamento Europeu, esta semana divulgado, vem dar razão a Carlos Coelho e a Ana Gomes. Mas fica, como ele próprio reconhece, claramente aquém do apuramento de toda a extensão dos factos. Por ora, ficámos a saber apenas que uma série de governos europeus foram consciente e voluntariamente cúmplices dessa ignomínia que é a prisão de Guantánamo. O que quer dizer que apregoam valores e princípios que, na hora das escolhas, não perfilham. Dormem tranquilos, obviamente indiferentes à sorte de um qualquer Ahmed capturado algures no Afeganistão e sepultado vivo em Guantánamo: uma simples abstracção, que não lhes tira o sono. Mais tarde, talvez quando forem desclassificados os documentos da CIA, eu suspeito que ficaremos a saber que a conivência de Portugal foi muito para além do que até agora se descobriu.

Miguel Sousa Tavares

sábado, 27 de janeiro de 2007

RAMALHO EANES


Não tenho heróis.
Quando tinha nove anos, morreu Salazar.
De férias, nas termas do Vimeiro, lembro-me do funeral a preto-e-branco na sempre oficiosa
RTP e de toda a gente de pé, na sala onde estava a televisão, quando tocou o hino.
Marcello foi-me mais familiar pelas
conversas que ouvia religiosamente, tal como aprendia com O Tempo e a Alma de José Hermano Saraiva.
O
25 de Abril de 1974 apanhou-me com treze anos.
Gostava vaga e romanticamente do Spínola - aquelas primeiras deambulações épicas pelo
país real de um PR fardado a preceito e de pingalim impressionavam - e só com Soares e com Sá Carneiro percebi que havia política para além da tropa.
Em trinta anos, no entanto, houve um homem que sempre respeitei e que me habituei a ver como, passe o
cliché, um modelo de seriedade.
Por ocasião do seu doutoramento, Jorge Miranda, que também foi meu professor por três vezes, chamou-lhe
herói da democracia.
De facto, se tivesse de escolher um grande português contemporâneo, o meu voto ia para o
General António Ramalho Eanes.
Atípico - não jacobino nem
educado na oposição intelectual pequeno-burguesa e da classe média alta ao Estado Novo, como Cunhal ou Soares, ou liberal, como Sá Carneiro -, formado para a democracia no terreno duro de África onde aprendeu a ser um patriota sem ser reaccionário, refractário aos dictames e jargões do regime que ajudou a construir depois do 25 de Novembro de 1975, discreto, solitário e irrepreensível em matérias de interesse público, o General Eanes é, nos dias que correm, um exemplo de probidade que deve ser constantemente recordado.
Andou bem o Expresso ao entrevistá-lo por ocasião do seu 72º aniversário
.
Conheci-o em 1980 e posso considerá-lo um amigo da mesma maneira que a História, um dia, o recordará com um dos grandes amigos do país.

Eanes gostou sempre mais desta terra do que Portugal, alguma vez, gostou dele.
De facto, esta choldra piolhosa não merece homens de carácter como Ramalho Eanes.
Fez, como poucos, o que pôde
.

João G.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O DEBATE DO REFERENDO DO ABORTO

Havendo referendo, ou seja, uma escolha com significado político, é natural que haja debate público, que haja um contraditório a favor do convencimento das decisões e do voto. No entanto, nunca como agora eu desejaria que este referendo fosse silencioso, que este debate fosse quase inaudível, que ele pudesse ser feito quase por telepatia, por gestos subtis, sem voz, nem escrita, nem imagem. Tomem isto como uma metáfora, ou seja, não à letra, mas serve para dizer outra coisa que me parece mais importante.

Esta absurda cacofonia em que partidários do sim e do não esgrimem argumentos, opiniões, acusações, cada vez num tom mais alto, mais agressivo, mais descuidado, mais displicente, mais para se ouvirem do que para serem ouvidos, parte do princípio de que o essencial neste referendo é convencer. Duvido que alguém se convença nesta matéria, a não ser por rejeição - votava duma maneira mas ficou tão indignado(a) com uma frase ou uma atitude que passou a votar doutra. Talvez todos estes excessos possam servir marginalmente para mobilizar para o voto, embora duvide muito da sua eficácia, penso até que favorece mais a abstenção do que a mobilização. Posso estar enganado, são só impressões, não servem para nada.

Fique já bem claro que eu gosto do som e da fúria da política. Não tenho nenhuma das manias elegantes e preciosas de quem pensa que a política é só cumprimentos amáveis e frases subtis. Não sou dessa escola, nem me apanham na defesa de salamaleques de salão ou na condenação de compromissos e dedicações de quem está activamente nesta campanha. Não me esqueço nunca de uma tarde na Assembleia da República em que, depois de eu e mais dois ou três deputados termos passado uma hora de quezília parlamentar até conseguirmos que um respeitado deputado do CDS pudesse falar numa matéria que desejava e para a qual a maioria do PS fazia obstrução, a primeira coisa que o respeitado parlamentar disse no tempo que lhe tínhamos arrancado a ferros depois de uma cena pouco edificante de requerimentos, interpelações e outras guerrilhas parlamentares, foi manifestar o seu desgosto e enfado com a discussão a que tinha acabado de assistir. Fiquei, digamos, para o furioso, com a afronta de quem nos fez meter a mão na massa, para depois aparecer com luvas brancas acima do vulgo. Não é isso que pretendo dizer, se é que me faço entender. É o tom. E aqui o tom é quase tudo.

O que me desagrada nesta campanha - feita mais para os homens do que para as mulheres - é que ela passa ao lado, mais do que isso, desrespeita, ignora, menospreza, o carácter essencialmente existencial, vivido, do problema do aborto. É por isso que o aborto é mais uma questão das mulheres, como é a maternidade, e não é totalmente extensível e compreensível aos homens. Este é um dos casos que esquecemos muitas vezes, quando achamos que a igualdade é algo de adquirido sob todos os aspectos, e que tem a ver apenas com a sociedade, a economia, a cultura e o direito. Não, pelo contrário, há desigualdades, diferenças no dizer politicamente correcto, estruturais entre os seres humanos, uma das mais fundamentais é a que a maternidade introduz entre homens e mulheres. E para as mulheres, que, quase todas, ou abortaram ou pensaram alguma vez em abortar, ou usam métodos conceptivos que à luz estrita do fundamentalismo são abortivos, o aborto de que estamos a falar neste referendo não é uma questão de opinião, argumento, razão, política, dogmática, mesmo fé e religião. Também é, mas não só. É uma questão de si mesmas consigo mesmas, íntima, própria, muitas vezes dolorosa e nalguns casos dramática. Não é matéria sobre que falem, se gabem, argumentem ou esgrimam como glória ou mesmo como testemunho. Não é delas que vem esta estridência, nem é por elas que vêm os absurdos do telemóvel, do pinto, do ovo, do Saddam Hussein, do coraçãozinho. É mais provável que sintam tudo isso mais como insultos do que como argumentos que lhes suscitem a atenção. No seu silêncio votarão ou abster-se-ão, mas é por elas, por si, pelo seu corpo, pelos seus filhos, pelo seu destino, pela sua vergonha, pela sua dor, pela sua miséria, pelas suas dificuldades económicas, pela sua vida, pelos seus erros, pelas suas virtudes.

É verdade que, como em todas coisas, há irresponsabilidades, há mulheres irresponsáveis nos abortos que fazem, como nos filhos que fazem, mas duvido muito que sejam a regra. A regra é que aborto é sofrimento, físico e psicológico, e é sobre esse sofrimento que vamos votar. Eu vou votar sim, mas admito que, exactamente com a mesma consciência do mesmo problema, haverá quem vote não. Mas os moderados, estranha palavra rara no meio desta estridência, não podem deixar de recusar este folclore que infelizmente nalguns casos torna príncipes da Igreja iguaizinhos ao Bloco de Esquerda e vice-versa. Se percebêssemos esse silêncio interior da maternidade, mesmo quando dilacerada pelo aborto, seríamos menos arrogantes, menos estridentes, menos obscenos nas campanhas.


José Pacheco Pereira

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

TERRENOS DA BARRAGEM DE MONTARGIL

Mais-valias e crimes urbanísticos na agenda política do concelho de Ponte de Sôr?

Em comunicado divulgado hoje, após uma audiência com Cavaco Silva, a Ordem dos Arquitectos defendeu a criação de legislação sobre crimes urbanísticos.

Helena Roseta, presidente da Ordem dos Arquitectos, disse à Agência Lusa que os arquitectos querem que passem a reverter para o Estado as mais-valias geradas pelas alterações de estatuto de terrenos agrícolas para urbanos, que valorizam as propriedades e fazem com que os seus donos enriqueçam sem ter feito nada. A arquitecta afirmou que a medida se destinaria a combater e a evitar pressões de particulares sobre a administração local e central para que se alterem regras dos PDM de modo a valorizar os seus terrenos apenas com uma decisão administrativa.

Pretendem também que passe a ser considerado crime económico a apropriação abusiva de mais-valias através da alteração de estatuto de terrenos em desrespeito pelas regras dos planos de ordenamento, como os Planos Directores Municipais (PDM).

E por cá, como estará a ser tratado este tema das mais-valias urbanísticas no PDM do Concelho de Ponte de Sor?

Por aquilo que se vai lendo nas entrelinhas as declarações do

Dr.Taveira Pinto, o PDM baniu a perequação das mais valias, ou encerrá-la num método ineficaz, o que vem a dar no mesmo.

Se assim for, resulta que:
- os proprietários de solos que vejam os seus terrenos agrícolas classificados com urbanizáveis verão os seus terrenos valorizados dezenas ou mesmo centenas de vezes, sem necessidade de qualquer investimento;

- os proprietários de solos que vejam os seus terrenos classificados para vias, espaços verdes ou equipamentos públicos ou outra restrição pública, não terão qualquer valorização e poderão até ver os seus terrenos desvalorizados.

Declinar a exigência de distribuição de benefícios – perequação – entre os proprietários de solo em contexto urbano, será uma decisão de extrema descriminação, que viola o princípio da igualdade de tratamento do Estado a todos os cidadãos. Enquanto uns ganham uma fortuna sem ter feito nada, outros ficaram indiferentes ou são virtualmente expropriados, situação mais perniciosa que uma expropriação efectiva.

O toque de Midas que converte em Ouro o Património Imobiliário já está acontecer nos terrenos da Barragem de Montargil.

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PORTUGAL É UM PAÍS OPACO ONDE NÃO ACONTECE NADA

Corrupção?

Voos da CIA?

É só fumaça!


É uma atitude que vem do antigamente, quando a Censura moldava a opinião pública às chamadas verdades convenientes. Não se passava nada a não ser o que a Censura queria que se passasse. E o tique mantém-se, sem censura e com ligeiras diferenças, após 32 anos de democracia.

Por regra, em Portugal não se passa nada.
A corrupção em geral é uma mania do engenheiro João Cravinho, tal como a corrupção no futebol é uma extravagância da procuradora Maria José Morgado e os voos da CIA são uma ideia fixa da eurodeputada Ana Gomes. De maneira que os projectos de João Cravinho passam à história e fazem-se já apostas no fracasso do voluntarismo de Maria José Morgado. Agora, é uma maçada imensa para o status quo que o Parlamento Europeu tenha acolhido várias propostas de Ana Gomes sobre os voos da CIA.

O relatório encoraja as autoridades de Lisboa a investigarem casos de eventuais vítimas de prisão arbitrária e de tortura transportadas pela CIA através de Portugal.
Mas neste País de brandos costumes não há encorajamento que chegue para ir ao fundo de questões melindrosas.
Já foi assim, em 1990, quando o Parlamento Europeu encorajou os estados-membros a investigarem as actividades da chamada rede Gládio e Portugal assobiou para o lado. Ou quando a Espanha investigou o terrorismo anti-terrorista dos GAL e Portugal disfarçou quanto ao ramo português do banditismo de Estado.

É possível que se passem umas coisas sombrias mas o povinho e a opinião pública não têm nada com isso.
Portugal é um estado opaco e discreto que vive no sobressalto das excepções à regra.
Às vezes acontecem.

João P. Guerra

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

SIM OU NÃO / DEBATE

INTERRUPÇÃO

VOLUNTÁRIA

DA GRAVIDEZ

SIM OU NÃO?

- O DEBATE -


Com a participação de representantes de 2 movimentos de cada um dos lados:


Jovens pelo Sim,

Médicos pela Escolha,

Plataforma Não Obrigada,

Alentejo pelo Não


A nível de estrutura do debate, o que se pretende é que cada movimento faça uma pequena intervenção (maximo 5 minutos) onde apresente o movimento e as suas ideias gerais, depois o debate continuará com as eventuais participações do público ou com questões que o moderador colocará, onde será dada a oportunidade de cada um dos lados esclarecer a questão sob o seu ponto de vista.

25 de Janeiro de 2007

Quinta-feira

às 21 horas

Biblioteca Municipal de

Ponte de Sor


Organização: Associação Arrão XXI

DIA DAS MENTIRAS?


O governo acaba de publicar o resultado oficial das cobranças fiscais de 2006 e logo pela manhã somos surpreendidos por mais um recorde digno de constar no Guiness ao lado do maior bolo-rei ou mesmo do recorde para a maior sandes de courato do mundo:

Espantado como uma cabra com tão grande feito, Portugal acabava de bater o seu recorde de receitas fiscais e quando já me preparava para ir a Fátima requerer uma missa de acção de graças para dar início ao processo de canonização do nosso Francis Obikwelu dos impostos, já que não há medalhas de ouro para tais feitos, ao menos ficaria com lugar cativo entre a Jacinta e o Francisco.

Mas como era cedo para ir comprar uns ténis Nike, apropriados para uma caminhada até Fátima, fui dar uma olhadela à página da Direcção-Geral do Orçamento [Link], onde constam as marcas dos nossos atletas do fisco.

Foi um erro, tive que desistir da minha peregrinação pessoal, afinal Portugal não tinha direito a mais um santo e em matéria de Guiness teria que me contentar com o bolo-rei e a sandes de courato, todos os anos Portugal bate o recorde das receitas ficais.

Aliás, nem sequer pode ser considerado um milagre, todos os anos a economia cresce qualquer coisinha, a inflação dá sempre um pequeno empurrão e com os anabolizantes dos aumentos das taxas dos impostos o recorde está sempre no papo. Vejamos a evolução da receita desde 1996, segundo os dados da Direcção-Geral do Orçamento:

  • 1996-1995: + 7,6% [Dados da DGO]
  • 1997-1996: + 10,4% [Dados da DGO]
  • 1998-1997: + 10,1% [Dados da DGO]
  • 1999-1998: + 8,1% [Dados da DGO]
  • 2000-1999: + 7,7% [Dados da DGO]
  • 2001-2000: + 4,4% [Dados da DGO]
  • 2002-2001: + 9,4% [Dados da DGO]
  • 2003-2002: + 1,6% [Dados da DGO]
  • 2004-2003: - 0,2% (Dr. Paulo Macedo) [Dados da DGO]
  • 2005-2004: + 5,1% (Dr. Paulo Macedo) [Dados da DGO: ]
  • 2006-2005: + 7,2% (Dr. Paulo Macedo) (* Receitas fiscais) [Dados da DGO]

Os dados referem-se à receita corrente excepto no ano de 2006 o que implica alguma imprecisão, ainda que as receitas ficais sejam dominantes e nalguns casos os resultados até sejam favorecidos por esta imprecisão.

Com mais tempos faremos as contas certinhas.

Afinal o único milagre que podemos atribuir aos actuais responsáveis do fisco foi terem conseguido o impossível, em 2004 as receitas baixaram 0,2% e no IVA a descida foi de 2%! O mais curioso é que nesta coisa dos crescimentos percentuais quanto maior é a queda maior será a subida, os crescimentos percentuais dos últimos dois anos são empolados pela desgraça de 2004. O último triénio é o pior na história das receitas fiscais.

Afinal ou as contas do governo estão todas erradas ou eu não percebo nada disto ou estou a ser enganado, é que se leio bem as contas, nos dois mais importantes impostos em termos de receitas fiscais o nosso Francis Obikwelu dos impostos falhou estrepitosamente:

  • A receita do IRS ficou aquém do previsto no Orçamento de Estado em 0,4%.
  • A receita do IVA ficou aquém do previsto no Orçamento de Estado em 1.5%.

Só nestes impostos o nosso Francis Obikwelu dos impostos contribuiu para o agravamento do défice das contas públicas em mais de 1%.

O problema é que no IRS nos cortaram benefícios fiscais como nunca e no IVA todos nos lembramos que o governo aumentou a taxa de 19% para 21% contra todas as promessas eleitorais. E 2% numa taxa que era de 19% significa um aumento percentual dessa taxa na ordem dos 10,53%, e se considerarmos que durante o mandato (do ponto de vista dos resultados da cobrança) do nosso nosso Francis Obikwelu ocorrerem dois aumentos de 2% ( a que corresponde um aumento de 25,53% da taxa) o resultados são ainda mais desastrosos, em 2004 o IVA desceu 2%, em 2005 cresceu 12,8% e em 2006 cresce apenas 6,2%.

Isto é, os portugueses são sujeitos a uma carga fiscal crescente para compensar o aumento da evasão fiscal, já que o imposto que melhor reflecte os níveis dessa evasão é precisamente o IVA, se as suas taxas aumentam e a receita fica aquém do esperado é porque a evasão aumentou.

O único sucesso foi no IRC o que não foi surpresa pois ao longo do ano sucederam-se as notícias sobre aumentos dos lucros dos bancos e de grandes empresas, precisamente os contribuintes que pagam a grande fatia deste imposto. Numa economia em que as crises se superam com transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos este resultado não surpreende ninguém, não podendo ser atribuído ao esforço de algum atleta de excepção.

E depois dizem-me todos os dias que o Dr. Macedo aumentou as receitas do Estado como nunca e merece os 25.000 Euro mensais e que o governo não pode prescindir dele! Não estou a inventar, nem isto é uma mentira de 1 de Abril. O mínimo que o governo deveria fazer era analisar os dados e em vez de dar ouvidos aos apóstolos a quem o Millennium/Opus Dei paga para que divulguem os milagres do Dr. Macedo no Expresso, Sol, SIC e Diário Económico indemnizar os anteriores directores-gerais dos Impostos, tendo em conta a comparação dos seus resultados e vencimentos com os resultados e o vencimento do Dr. Macedo.

No dia da missa de acção de graças o Dr. Macedo convidou os seus dirigentes e levou-os a almoçar ao Ritz.

Não sei o que o Dr. Macedo comeu, mas com estes resultados e a ganhar 23.000 euros não merecia mais do que uma sandes de courato no bar da estação Sul-Sueste.

PS: da leitura do relatório da execução orçamental subsistem duas dúvidas que importaria esclarecer:

  • Como estão a ser contabilizadas as dívidas ao fisco que foram vendidas ao Citibank e que não poderão ser contabilizadas de forma a serem consideradas receitas ficais a considerar na determinação do défice?
  • Qual o montante dos reembolsos do IVA que deveriam ter sido processados em Dezembro de 2006 e que só foram processados em Janeiro de 2007, empolando a receita daquele imposto?


JUM

DEBATE E SESSÃO DE ESCLARECIMENTO

PONTE DE SÔR
Biblioteca Municipal Ponte de Sôr, Quinta-feira . 25 de Janeiro de 2007 às 21h
Debate: Organizado pela Associação Arrão XXI
Orador do Movimento Jovens Pelo SIM: Paulo Jorge Vieira


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Movimento Jovens Pelo SIM

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

HABITUEM-SE...


Um ano disto...

domingo, 21 de janeiro de 2007

PORTUGUESES

Para combater o envelhecimento e a desertificação humana, uma junta de freguesia do interior instituiu um prémio de 500 euros a cada casal que ali tivesse um filho. A televisão foi ouvir a primeira candidata ao prémio, uma jovem grávida de sete meses, e perguntou-lhe o que achava desta medida. Resposta imediata: “Acho pouco”.

A resposta traduz exemplarmente aquilo que é o sentimento dominante entre os portugueses de hoje: tudo lhes é devido. Um ditado antigo garante que, quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Mas isso era dantes: agora, acha pouco. Por isso é que pensionistas que nunca descontaram para a Segurança Social acham-se no direito a ter uma pensão de reforma igual à daqueles que descontaram uma vida inteira; por isso é que os trabalhadores do Metro de Lisboa acham que poder ter 36 dias de férias úteis por ano é um direito adquirido e inegociável, mesmo que para tal tenham de deixar apeadas todas as semanas umas dezenas de milhares de pessoas e todos os anos deixem uma conta de prejuízos de dezenas de milhões de contos para os contribuintes pagarem; por isso é que os professores, que se declaram incompetentes para substituir os colegas que faltam, já aceitam as aulas de substituição se lhas pagarem como trabalho extraordinário, mesmo que dentro do seu horário normal. OK: tudo é devido. Mas quem paga a conta?

É a minha opinião e apenas isso: a ideia de ‘eleger’ por voto telefónico de valor acrescentado os ‘maiores portugueses de sempre’ é simplesmente idiota e só pode chegar a conclusões constrangedoras. Alguém me consegue explicar por que motivo aquela ‘tia’ que foi episodicamente ministra da Educação do Governo Santana Lopes está entre os 100 maiores portugueses de sempre?

Já a escolha de Salazar e Cunhal entre os ‘10 mais’, devo reconhecer que faz todo o sentido e corresponde ao sentimento profundo que uma larga parte dos portugueses tem sobre a liberdade: um bem acessório. Salazar governou em ditadura durante quarenta e tal anos; Cunhal só não o fez porque foi impedido pela parte sã da nação. Salazar fez de nós o país mais retrógrado e subdesenvolvido da Europa; Cunhal tentou o que pôde para nos transformar numa Albânia. Ainda hoje pagamos a factura, económica e intelectual, das suas heranças. Que uma grande parte dos portugueses ache que eles são dos maiores de sempre entre nós explica a razão pela qual somos actualmente o mais atrasado país da Europa. Mas escusavam de nos relembrar isso, com a grande fanfarra de um programa ‘de serviço público’.

Ray-Gude Mertin não consta, obviamente, da lista dos ‘100 mais’, e, aliás, não era portuguesa mas sim alemã. Nunca, também, constou da lista dos condecorados do país, reservada a militares, empresários e à quota do politicamente correcto - desportistas profissionais, artistas variados e ‘especialistas de género’. Mas ela, sozinha, fez mais pela divulgação da literatura portuguesa no estrangeiro do que todos os organismos públicos encarregues do mesmo. A Ray traduziu, agenciou, fez editar e divulgou pelo mundo o que entendeu que de melhor Portugal tinha escrito nas últimas décadas. Muitos, entre os quais tenho a honra de me incluir, têm para com ela uma dívida incobrável. Mas o que mais falta nos vai fazer é, acima de tudo, o seu entusiasmo, a sua alegria, o seu amor por Portugal e pelas coisas portuguesas. A mim, pessoalmente, vão-me faltar os seus regulares ‘«mails» de manutenção’, a apoiar, a incentivar, a dar notícias e a pedir notícias. E vai-me custar esse gesto último e terrível de apagar o seu endereço electrónico da lista do computador.

Ao entrar no ciclo do «countdown» eleitoral, o PSD sente que o tempo joga contra ele e a favor de Sócrates. Não é um problema de liderança de oposição, mas um problema, mais simples e mais complexo, de circunstâncias. Nem a liderança do partido, a cargo de Marques Mendes, nem a liderança do grupo parlamentar, a cargo de Marques Guedes, podem ser seriamente contestadas. Mas eles sentem que nenhum dos dois lhes assegura a derrota de Sócrates daqui a dois anos. Não se trata de ideias nem da forma de fazer política: trata-se de dar espectáculo e promover a demagogia. E, assim, vai germinando a fantástica tentação de apelar a Santana Lopes para a direcção do grupo parlamentar. Não porque ele tenha alguma coisa de novo a dizer ou propor, mas porque assegura a agitação, a confusão, a Feira da Ladra e a abertura dos telejornais. É melhor do que nada. E é a demonstração de que há coisas que nunca se aprendem.

Contra a despenalização do aborto milita uma estrutura chamada ‘Plataforma Não, Obrigado’, que reúne nomes sonantes da direita e, ao que dizem, apoios financeiros bastantes. Presumo que sejam a favor daqueles ‘valores’ sólidos como a vida humana e a família. Se assim é, pergunto-me, todavia, por que razão aceitam o apoio instrumental da agência de publicidade Partners - a responsável por aquela campanha de publicidade da TV-Cabo em que o filho e a mãe saem de casa porque o pai não tem a assinatura da TV-Cabo? Acharão que isso é um modelo dos valores de família que propõem, ou acharão que uma coisa são os valores e outra os contratos?

De entre as vaguíssimas e piedosas intenções do Governo na aplicação dos 21,5 mil milhões de euros do terceiro e último Quadro Comunitário de Apoio, houve uma que me chamou a atenção, pela sua requintada hipocrisia: a ‘valorização do território’. Mas, qual território? O pouco que restar, depois de toda a Reserva Agrícola, Reserva Ecológica e Rede Natura terem sido sacrificadas aos projectos PIN - que, agora, já não abrangem apenas urbanizações turísticas mas também pisciculturas e fábricas de móveis? Ora, deixem-se de hipocrisias e concentrem-se, ao menos, em alguma coisa de concreto: querem valorizar o território que resta, depois de terem vendido tudo o que interessava preservar? Então, devolvam-nos o Terreiro do Paço. Corram com os tapumes dali, desistam daquela impossível via subaquática e voltem lá a pôr o Cais das Colunas. Dez anos depois, é o mínimo exigível.

Miguel Sousa Tavares

sábado, 20 de janeiro de 2007

DEMOCRACIA, OPUS DEI E PUBLICIDADE


Toda a gente sabe que a Opus Dei é a Obra de Deus, mas de que Deus?
E interpretada por quem?
Com que objectivos, métodos e propósitos?
Eis as questões mais delicadas que a maior parte das pessoas desconhece.
A Opus Dei é, assim, representada pela Prelatura pessoal da Igreja Católica, uma espécie de igreja dentro da própria igreja (tal como a Direcção Geral dos Impostos ante o ministério das Finanças/Estado) mas composta por leigos comuns e padres seculares, que podem ter filhos e ter uma vida profana.

Ou seja, que fazem negócios, metem-se nos copos, têm mulheres, filhos, amantes, uns são hetero outros são homosexuais que se congregam em torno da tal prelatura de livre vontade.
A filosofia que preside a esta reside no trabalho, deve ser por essa razão que o líder do bcp, Paulo Teixeira Pinto só trabalha (e antes dele Jorge Jardim Gonçalves - que só consome Opus Dei, como em tempos um familiar seu me dizia).

E é com base na tanga desta filosofia geral, agiornada com alguns rituais sem avental, que não mulheres foram discriminadas no bcp em matéria de relações de trabalho no bcp, os homens trabalham mais do que o devido e se cometem um conjunto de arbitrariedades quotidianas ao abrigo desta filosofia geral - supostamente superior à Ética calvinista do trabalho - teorizada no final do séc. XIX pelo maior sociólogo da modernidade que foi, indiscutivelmente, Max Weber.

É evidente que as pessoas da Opus Dei não leram Weber, nem interessa lê-lo para assim terem a seiva para continuar a alimentar aquela doutrina cega que manieta as pessoas e prende os espíritos mais fracos às hierarquias de que dependem. Infelizmente, é seguindo essa doutrina da santificação do trabalho que a Prelatura da Opus Dei controla as pessoas nas coisas terrenas.
Mas como se trata duma organização que aprisiona mais do que liberta, as pessoas mais esclarecidas vêem nela um polvo, um universo de fantasmas, uma instituição que evoca mistérios e comportamentos estranhos, uma confraria secreta que adestra a mente das pessoas para depois as intrumentalizar como bem entende e seguindo os propósitos da Opus Dei, apenas substituindo o avental da maçonaria pela cruz...

Em síntese, o que aqui dizemos é que a Opus Dei cheira a enxofre, um cheiro que foi amplificado com duas circunstância de natureza, timing, localização e âmbito diferentes: o êxito mundial do livro O Código Da Vinci - cujo livro e filme valem a pena ser vistos (sempre é preferível aos programas e concursos manhosos das tvs que andam por aí); e ao estranho e insólito caso dum Director Geral encomendar uma missa de acção de graças para santificar o valor do trabalho na colecta dos impostos em Portugal.
É óbvio que o sr. Paulo Macedo apenas quis gerar o efeito de jogada de marketing para dar uma projecção e amplitude nacionais à sua modesta pessoa, e para o efeito serviu-se e instrumentalizou a Igreja, a religião, os orçamentos do bcp e a influência da Opus Dei, além da manipulação das crenças e tudo o mais que ela representa em Portugal.
Foi lamentável a todos os títulos.

Mais recentemente emergiram novas interpretações acerca da Opus Dei - cujos experts
É óbvio que nestas leituras há sempre um quantum de ficção, senão mesmo de loucura e obsessão por partes deses especialistas, alguns dos quais dissidentes da própria Opus Dei - que saem com as suas vidas completamente destruídas na sequência de se terem submetido aos métodos e ao controlo espiritual sobre eles exercidos pela Obra.
Mas há sempre um fundo de verdade em muitas dessas histórias narradas pela realidade manipulada por este ramo oficial especial da Igreja que dá pelo nome de Obra de Deus.

Quanto a esta imagem, à publicidade subjacente e ao facto de o bcp/millenium ter dado uma avultada verba em dinheiro para suportar o Não ao Aborto no referendo de Fevereiro, só temos de lamentar essa forma de manipular vontades e votos à americana, posto que sabemos como o dinheiro corrompe as almas, e mais corrompe se essas almas forem fracas.
A democracia pluralista e o Estado de direito também não saem fortalecidos com isto...

Depois o nível de publicidade feita por aquele rapaz é das coisas mais estúpidas jamais feita em publicidade em todo o mundo.
Essa seria uma campanha cujo nível deveria pagar para não ir para o ar, mas foi, o que revela bem o bom gosto da direcção de Marketing e da administração do banco em questão.

O texto e a narrativa são péssimos, é longo, imperceptível, incongruente, não é assimilável.
Uma trapalhada pegada.
Tudo aquilo é mau.
Com a agravante do rapaz da imagem não ter sido avisado que o banco que o contratou agora também financia o Não ao Aborto.
Enfim, é muita coisa má ao mesmo tempo...



Pedro Manuel

PARA OS DEFENSORES DA EXCOMUNHÃO

Na sequência da afirmação do deputado do CDS, João Morgado, em Abril de 1982, de que o acto sexual é para fazer filhos.

A poetisa/deputada Natália Correia repondeu-lhe com o seguinte poema:


Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –
uma vez. E se a função
faz o orgão – diz o ditado –
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

O Morgado, ofendido com a dedicatória, rispostou que tinha dois filhos.
Ao que Natália Correia respondeu que bastava substituir truca-truca por truca-truca truca-truca.

Xico C.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

EXCOMUNHÃO AUTOMÁTICA


E nem com o arrependimento lá vão.

ANA GOMES E O SEU TEMPO

Não me parece que o entusiasmo de Sócrates tenha alguma substancial razão.
A não ser, porventura, os milhões de milhões que aí vêm, destinados, pelo Governo, sabe-se lá a quê.

É cansativo tocar na mesma tecla, mas tornou-se exaustiva a incompetência com que, há três décadas, criaturas desprovidas de senso, se talento e de gramática gerem os nossos destinos. Aguardámos, após o Abril de todas as esperanças, que a capacidade portuguesa fosse encaminhada para um novo e redentor perímetro.
As colectivas emoções, os regozijos que levaram o povo a oferecer um dia de trabalho para a nação foram aniquilados por uma casta sem ideais, sem convicções e desprovida do mais leve resquício de grandeza.

O que os grandes liberais de Oitocentos haviam pensado, assim como os projectos da Geração de 70 malograram-se, degenerando, progressivamente, numa beata apatia e numa fúnebre desistência aparentemente sem remédio.
Quem nos dirige não possui aptidão para nos dirigir.
Vem de trás a decadência. E de cada vez que alguém ergue a voz e contraria o comportamento consuetudinário imediatamente surgem os perseguidores, os caluniadores, para quem a proeminência dos outros ameaça o conservadorismo das suas mediocridades.

Ana Gomes tem sido, nas últimas semanas, objecto e alvo dessa gentalha, pela singela razão de querer saber se a CIA utilizou a base das Lajes como plataforma de transporte de prisioneiros políticos das autoridades norte-americanas.
Carlos Coelho, do PSD, agitara o assunto, tentando o mesmo através de outras fórmulas.
Fez o que pôde ou, acaso, o que o deixaram fazer.

Ana Gomes tem ido mais longe: afirma possuir testemunhos e documentos. E não entende a verdade como um conceito derivativo. Na base do que declara, somente exige que tudo seja esclarecido. O assunto configura gravidade extrema. E os atacantes de Ana Gomes entraram num mundo muito parecido com o da esquizofrenia.
Ela não trai a lealdade devida ao seu tempo e à sua geração. Os outros ignoram o que seja esse princípio.

Não conheço, pessoalmente, a nossa antiga embaixadora em Jacarta.
Admiro a inteligência de que dá provas constantes, o destemor, a eloquência do verbo, a alegria com que mobila os seus combates, e a utilização de uma lógica que está a tornar-se acessível, até entre aqueles que sofrem de astenia social e desdenham da cidadania.
Aquela triste frente unida em torno de José Sócrates zurze-a com a violência dos que não têm razão, não assustam nem intimidam.

Ana Gomes não é antiamericana, como alguns asseveram; não é tola, como outros desejam fazer crer; não acordou, agora, do pesadelo da História, porque possui o lastro de um passado que a descreve e a sustenta.
Ao contrário dos que tropeçam, mentalmente, nas realidades actuais, por industriosos organizadores das suas pessoais vidinhas, ela interpreta as ambivalências e as ambiguidades dos seus camaradas de partido com o sarcasmo que impede a aceitação das propostas de silêncio.

Escolhendo bem as palavras, e sem pedir desculpa a ninguém, o que os aparatchiks do PS tecem, em redor de Ana Gomes, é uma fétida nojeira. O risco que a deputada europeia corre é bem maior do que se julga. E a dimensão da sua peleja sobrepuja o vulgar jargão político, embora adquira a assunção de uma específica ideologia: a que não cobre a omissão nem concorre para a cumplicidade. Governos anteriores, e este, de Sócrates, estão moral e civicamente, obrigados a esclarecer o que pretendem manter na penumbra.

Esta gente que nos governa não está, mansamente, a perder o juízo. O culto da conivência instalou-se na sociedade portuguesa há muito tempo. E a partilha das subserviências advém da circunstância de se submeterem às ordenanças do Império. A subalternidade dos dirigentes portugueses perde-se num atroz narcisismo, aliás já em tempos assinalado por Carlos Amaral Dias, o qual se transforma na coisa mais importante do que a própria política.

Quando se trata de cometer o mais ligeiro ponto de vista contrário aos norte-americanos, logo os trompetistas dos EUA afinam o solfejo e cobrem de injúrias o desavisado. Ana Gomes está a sofrer o trato de polé, comum aos dissentes. Carlos Coelho também foi atingido, mas o seu discurso era suave como um milagre.
Chega a ser desprezível a hilariante campanha contra a deputada.
Houve, inclusive, um preopinante a atrever-se a apontá-la à execração partidária, sob a espantosa alegação de que a sua campanha antiamericana (sic), servia os interesses dos inimigos.
Dos inimigos de quem?, quais?, onde estão?

A convicção de Ana Gomes é uma nota dissonante na mansuetude dos hábitos, e na bovina admissão dos acontecimentos. Ela deseja o que desejamos: esclarecimentos, assunção de responsabilidades. E, queiram ou não, tornou-se no porta-voz da adormecida consciência moral do PS.

Um pouco a propósito do estado actual das coisas, transcrevo parte do prefácio a As Farpas, cuja edição, em seis volumes, organizada pelo prof. dr. Ernesto Rodrigues, o Círculo de Leitores, vai editar, e cuja compra vivamente recomendo. Muito daquilo que somos está escrito, numa prosa admirável, nos textos de Ramalho Ortigão, um dos maiores jornalistas portugueses de sempre e, por isso mesmo, um dos mais originais escritores. Eis, Dilecto, o excerto:

O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. O tédio invadiu as almas (?) A ruína económica cresce, cresce, cresce? O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. A renda diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do País (?) Não é uma existência, é uma expiação.

Há manifestas afinidades entre o cruel retrato de Portugal, feito pelo génio de Ramalho, e a situação em que nos encontramos. O caso Ana Gomes estabelece alguma relação com aquilo que se preza e o que se despreza. E Ramalho demonstra, uma vez ainda, quais as dimensões autênticas do compromisso onde comparece o escritor e o seu tempo. Muitos daqueles que por aí escrevem estão irremediavelmente expulsos do futuro. Ramalho Ortigão continua presente.

B.B.

POBRE PAÍS O NOSSO... ENTRE A GENTE DESTA!

Quem votar sim fica sem funeral religioso

Os cristãos que vão votar sim no referendo serão alvo de excomunhão automática, a mais pesada das censuras eclesiásticas, garante o cónego Tarcísio Alves, pároco há cinco anos em Castelo de Vide (Portalegre).
A excomunhão automática atinge ainda todos os intervenientes na execução do crime, como, por exemplo, médicos e enfermeiros, sublinha, enquanto consulta página a página o Código Canónico.

Se um católico aceitar a liberalização do aborto incorre na censura da excomunhão e não poderá ser reintegrado na comunidade cristã sem intervenção do bispo, sustenta ainda. Doutorado pela Universidade Católica de Salamanca em Direito Canónico, Tarcísio Alves tem distribuído nos últimos tempos, pelos paroquianos, um boletim informativo em que adverte os devotos para os perigos de votar sim no próximo referendo e as consequências, junto da Igreja, que poderão sobrevir. Não fui eu que inventei estas regras, está tudo bem explícito no Cânone 1398 sublinha.

Mas o vigário judicial da diocese de Portalegre e Castelo Branco vai mais longe ao alertar os fiéis para outros perigos que podem surgir, se no próximo referendo o voto recair no sim.
Se votar no sim ou se se abstiver, poderá estar também a cometer um pecado mortal gravíssimo.
No referendo até as irmãs vão sair dos conventos porque senão também incorrem num pecado de omissão, adverte.

Para o clérigo trata-se de um caso grave, porque todos aqueles católicos que violarem as leis da Igreja sobre este ponto não podem casar, baptizar-se e nem poderão ter um funeral religioso - Cânone 1331.

Tarcísio Alves garantiu ao DN que não faz política nem fala do caso durante as missas de domingo, mas no seu boletim paroquial e através de e-mails.
O cónego promete continuar a esclarecer a população e a prova disso passa pela edição, ainda hoje, de mais um boletim que no último parágrafo apela mais uma vez ao voto no não


Hugo Teixeira
Diário de Notícias