quarta-feira, 12 de setembro de 2007

CHINATOWN OU CIDADE ABERTA

Quando, no século XIX, a Union Pacific construiu o caminho-de-ferro que ligava as duas costas dos EUA, abriu um território a uma imensidão de emigrantes: de irlandeses a chineses.
Ao mesmo tempo soltou as pistolas de Billy the Kid ou Butch Cassidy, que não queriam perder a sua liberdade face a tanta concorrência.
Mas, no fundo, a América ficou a ganhar, na sua diversidade.

Lisboa, nesse aspecto, é cada vez mais uma cidade multicultural.
Disparar sobre as lojas dos chineses na Baixa é não entender o óbvio.
Portugal há muito que deixou de ser um jardim da Estrela.
Olhe-se para a selecção de futebol: portugueses das cidades e do que resta do campo, filhos de segunda geração africana, brasileiros.
Veja-se os desportistas que defendem as cores nacionais nos mundiais de atletismo: muitos filhos de segunda, ou mesmo de primeira geração (como Obikwelu) africana.
Escute-se a melhor música que se faz em Portugal neste momento: Mariza, Buraka Som Sistema, Lura (cabo-verdiana, nascida em Lisboa).
Olhe-se para o mundo dos negócios e para o multiculturalismo existente.
Quando se fala da criação de uma Chinatown no Martim Moniz dá vontade de rir.
Toda uma zona comercial de Lisboa só existe porque são emigrantes que ali vendem produtos tão díspares como comida indiana, gengibre fresco, produtos africanos, brasileiros, chineses e japoneses.
Se eles não estivessem ali, essa Lisboa era um deserto, como muita da Baixa e do centro de Lisboa já o é.
Lisboa é um porto.
Fechá-lo é asfixiar Portugal.


F.S.

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